Já falamos sobre momentos, aqueles que definem toda a sua vida e seu futuro. Agora nós vamos falar do ápice destes momentos, a hora em que você se vê totalmente deslumbrado por estar exatamente onde sempre quis. Você provavelmente já sentiu isso, não já? Quando reencontrou alguém que tanto ama, o abraço fervoroso e urgente foi o ápice; Quando finalmente realizou seu sonho de viajar para lugar x, e no momento em que se deu conta de que estava realmente com os pés lá, este foi o ápice; Em sua vida, Kylie já havia sentido isso várias vezes, ou pelo menos era isso o que ela pensava. Até conhecer Adam. Até beijá-lo pela primeira vez. Este, sem sobra de dúvidas, foi o ápice de toda a sua relação com Adam. Conhecê-lo foi um momento que definiu seu futuro, e beijá-lo foi o ápice, o melhor, o mais épico disso tudo.

 Aconteceu duas semanas após eles se conhecerem. Depois de ir todos os dias juntos para a escola, almoçar e estudar juntos, passar horas no telefone trocando mensagens (ela era tímida para fazer ligações, quase não atendia às chamadas dele), eles começaram a perceber que isso era mais. Mais do que esperavam, mais do que queriam, era algo a mais. Uma coisa curiosa sobre os dois: eles eram fãs de How I Met Your Mother. Bom, pelo menos ela era e já havia terminado a série, e Adam estava prestes a terminá-la. Ela pediu para que ele terminasse logo, e assim que terminasse, que a contasse o que ele achou do final e de qual lado ele pertencia: Blue French Horn, ou Yellow Umbrella. Dependendo do resultado, ela iria dar um presente a ele. Óbvio que ela não o disse, mas ela já havia comprado o presente. Era uma blusa com a logo do Yellow Umbrella. Isso foi um tipo de teste pra ela, pra saber se realmente ela o conhecia e se a conexão que ela sentia com ele era real. Parece estúpido, definir se uma pessoa é boa o bastante pra você a partir de um final de série, mas... Era mais do que isso. Pra quem assistiu a série, sabe que tem uma diferença nestes “lados”. O lado do Yellow Umbrella, da Tracy, era o lado dos perdidos de amor, das almas gêmeas que se encontraram a partir de inúmeros acasos e coincidências, que te levaram ao seu tesouro final: a pessoa perfeita pra você. Ela amava a história de Tracy e Ted, pois ela achava que um amor assim era o amor ideal. O urgente, repentino, o encontro das almas gêmeas. E se Kylie bem conhecia Adam, ele também pensaria isso sobre o amor. Ela ficou com medo, afinal, as pessoas são imprevisíveis. E se ela estivesse se precipitando? E se ele não fosse quem ela pensou que ele fosse? Será que duas semanas era o suficiente pra saber o que um pessoa pensa sobre amor? Não, ela só poderia estar maluca, e precipitada, como sempre. Ela guardou a blusa na sua gaveta, e deixou por lá, pro caso de ele escolher outro “lado”, assim ela não passaria vergonha.

 No dia seguinte, ele não apareceu no ponto de ônibus, o que foi estranho, mas Kylie relevou, ele costumava matar umas aulas. No hora do almoço eles se encontraram na mesa de sempre, ele com olheiras, com um copo de café na mão e na outra uma sacola. Kylie riu e perguntou o por quê dele estar assim. E essa foi a resposta dele:

“Eu virei a noite assistindo a série porque queria muito saber o final. Quando o último episódio chegou eu não tinha dúvidas sobre o lado que eu escolheria: Yellow Umbrella, lógico! Mas antes de ouvir sua reação, boa ou ruim, você TEM que saber por que escolhi esse lado. No começo da temporada, um senhor falou com Ted sobre amor e sobre achar seu... deixa eu ver aqui no celular. Ah sim, sobre seu Lebenslangerschicksalsschatz – tesouro do destino ao longo da vida, e... pode parecer loucura falar algo assim após duas semanas, mas eu acho que achei meu tesouro depois de tanta porrada e de tanta decepção na vida. É por isso que hoje de manhã eu faltei a aula, e mandei fazer essa blusa pra você...”

Na blusa, estava escrito: você é meu Lebenslangerschicksalsschatz. Ela mal podia acreditar no que tinha acontecido. Ela olhava pra blusa, olhava pra Adam, e ficava boquiaberta. Antes que ele pudesse terminar seu discurso, sobre como os dois foram sortudos em terem se achado, ela o beijou. E esse foi o ápice. Os dois sentiram o que jamais haviam sentido, pois todos os outros beijos haviam sido apenas beijos, vazios, frios, sem sentimento a não ser o pudor. Ela realmente tinha achado a pessoa certa, e parece coisa de contos de fadas isso de se apaixonar e amar incondicionalmente alguém a partir de um beijo, ou de duas semanas de conversas. Mas é como eu já disse: eles sabiam que isso era mais.