Rainha De Copas escrita por Maduquesa


Capítulo 2
capítulo dois


Notas iniciais do capítulo

divirta-se



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Antes de começar a historia creio que devo me dar um nome, não? Hum... Jasmine, não, Main, não...Ive! Sim, será Ive, soa bem melhor. Então por onde começar?

Ah! Minha casa. Ainda me lembro. Pequena e abafada, sem divisórias e com o banheiro do lado de fora. De um lado a cozinha e a cama de meus pais, um amontoado de peles, do outro minha cama, que dividia com meu irmão, Leif, a mesa de jantar e o meu lugar favorito, a lareira.

E lá eu estava, naquele fim de dia frio, sentada em frente às chamas. Meus olhos acompanhavam sua dança que me hipnotizava, levando o tempo com seu movimento. Antes de perceber Ele estava de voltava.

De estatura mediana, cabelos pratas e ombros largos. Seu rosto sempre carregava um semblante sério e carrancudo, seus olhos claros sempre irritados e sua boca em uma linha fina de desgosto. Esse era meu pai. O ex-mercenário mais prestigiado, mas agora o conhecido bebum da vila e pai de um amaldiçoado.

Bêbado, com era agora de costume, entrou em casa tropeçando em seus próprios pés indo até a mesa de jantar, sentou com o corpo pesado na cadeira de uma forma que fiquei surpreendida por não ter quebrado.

—--Ca...dê a...qui..lo?--- sua voz embriagada saia arrastada e com dificuldade. Olhei para ele, sua estava boca em linha reta e o nariz enrugado de desdém, expressão comum quando fala de Leif.

—--Na tia, eu acho...--- minha voz baixa e insegura, forma mansa como se fala com uma animal acuado e ferido,nunca se sabe quando ele vai reagir.

—--Claro! Ela a..da acha q.. tor..na-lo um mer....c...nário v..vai ajudar!

Minha tia era uma das poucas pessoas que não odiava ou temia a presença de meu irmão, acreditava que ele podia fazer parte do nosso povo que ele tinha esse direito. Realmente é necessário dizer que muitos não concordam com a idéia? Mas a tia não era do tipo de deixava os outros dizerem o que ela deve ou não fazer, ela era o tipo de mulher que “não sabia seu lugar”. Sempre admirei sua coragem. Penso que ela estaria orgulhosa de mim agora.

Creio que não expliquei o porquê de tanta animosidade contra Leif, não? Bem, como já disse ele é um amaldiçoado. O povo de prata tinha uma pequena parte da população que carregava a maldição, não sabe o porquê de eles existirem, apenas que é vontade da Vida, lição aprendida de forma dura.

Antigamente os amaldiçoados de sangue, como também chamados, eram aqueles que suportavam infortúnios para que o povo de prata não sofresse, eles costumam sentir dores constantemente e muito cansaço, mas em compensação, se quiser pensar assim, ganhavam mais força e resistência física. Com o passar do tempo se tornaram os bodes expiatórios da população, que começaram a culpá-los quando infortúnios ocorriam na aldeia. Até o dia que o ódio chegou em seu auge e o povo de prata em obvia maioria decidiu exterminar os amaldiçoados de sangue.

O último a morrer foi uma garotinha de sete anos, diz a história que a deusa Vida surgiu irada do lado do corpo da menina, e sem dizer uma palavra se foi no instante seguinte. Muitos nada entenderam, outros encaram como mal pressagio, e era.

Nos dias seguintes a punição da deusa começou. O ar se tornou difícil de respirar, rachaduras na terra surgiam cada vez mais que seca ficava, as árvores nãos davam mais frutas, as comidas estragavam rápido. Entretanto o golpe final foi na água.

Ela tornou-se viscosa e fétida, os peixes morreram contaminados. Chegou um momento que a sede começou a enlouquecer as pessoas e no desespero algumas se aventuraram a beber.

O efeito foi praticamente instantâneo, caídas convulsionando e gritando de dor e desespero, espumas brancas saiam de suas bocas e olhos, até que a vida tinha deixados seus corpos.

Foi nesse período de dificuldade, que a aliança entre o naipe de copas e o povo de prata surgiu, o reino passou a fornecer suprimentos em troca dos serviços mercenários. Mas não era o suficiente, a escassez era forte e muitos morriam de fome e sede, levando vários a se arriscarem com a água viscosa. Até o dia que uma menininha de prata bebeu a água. As pessoas ao redor a viram convulsionar e já sabia o que a esperava, entretanto com ela foi diferente, as espumas que escorriam de seus olhos e boca eram vermelhas como sangue e deslizava em envolta de sua cabeça tocando seus cabelos grisalhos que começaram a absorver, tornando-se ruivos.

Quando a garota parou de contorcer, seus olhos abriram, agora cor de sangue, ninguém quis chegar perto, pois sua feição era de um amaldiçoado de sangue. A água viscosa tinha voltado a sua aparência sadia e foi, assim, que o povo de prata entendeu que a Vida queria dizer “deixem os amaldiçoados em paz”.

Desde então os ruivos começaram a surgir esporadicamente, crianças de prata poderiam se tornar um deles a qualquer momento de sua infância. Era uma situação nada agradável, mas a lição tinha sido aprendida, não queriam que Vida os punisse novamente.

Entretanto uma coisa engraçada em todo ser é a maldade, misturada com a criatividade, pois as gerações seguintes acharam brechas no desejo da Vida, como o suicídio de sangue. Assim uma nova tradição surgiu. O oferecimento da chance do suicídio a criança que se tornar um  “deles”, afinal melhor a morte que viver em desgraça, trazendo tal a todos, né?

Bem, o meu irmão escolheu viver. Ninguém ficou feliz com isso.

Meu pai principalmente, ele foi expulso do bando de mercenários quando meu irmão recusou a “dádiva de morrer”, amigos e companheiros do povoado já não falam mais com a família e tudo piorou com a morte de mamãe, Leif levou a culpa por isso. Minha tia, em meio a tanta intolerância, eu creio que foi a única adulta que gostava de meu irmão, ela convenceu o marido a treiná-lo para ser mercenário, conforme os costumes do povo.

Por isso eu tinha muito cuidado ao falar quando o ruivo estava treinando, não queria deixá-lo bravo, principalmente quando bêbado, mesmo que isso me deixava com um gosto ruim na boca. Entretanto, talvez pela petulância da idade, ou por andar de mais com minha tia, uma coragem traiçoeira surgiu em mim naquele dia, dando forças a meu desejo de proteger Leif e defendê-lo quando ouvi o comentário entre um soluço.

—--louca, va..vai se contam...nar.

—- ela não vai se contaminar, meu irmão não esta doente!—levantei em um pulo em sua defesa, como balde de água fria em seu rosto, ele arregalou os olhos e virou para mim.

—-não d..defen..d.. aquilo!!—gritou já se levantando. Esse já era uma alerta para recuar, mas como tinha dito a coragem que surgiu era traiçoeira e não deixou que percebe-se esse tipo de sinal.

—-por que chama meu irmão de “aquilo”?—na época eu não entendia muito bem o conceito de amaldiçoado. ---- qual é o problema com o cabelo dele? Ou os olhos? Eu acho bonito e queria ter também e...

—--cala a b...boca!

Foi tão rápido, em um segundo estava no chão, meu rosto ardendo e doendo de uma forma que nunca senti, ele tinha me batido com muita força. Atordoada, olhei em sua direção, seu rosto vermelho, sua testa enrugada, gritava coisas incompreensivas em meio a tanta fúria.

Arrastei meu corpo para de baixo da mesa em uma tentativa de me afastar de seus punhos, mas Ele começou a empurrá-la, queria chegar a mim.

—-venha ...cá...s..--- cuspia em meio a fala incoerente enquanto se abaixava tentando me agarrar. Lagrimas escorriam de meus olhos, medo congelava meu peito. Já tinha visto sua fúria, mas nunca foi direcionada para mim. Queria gritar, mas a voz estava engasgada.

Bruscamente fui puxada de baixo da mesa pelos cabelos e empurrada no chão. Suas mãos grossas apertavam meu pescoço, o ar não passava, e desesperada arranhava, chutava e esmurrava, nada adiantava, ele era muito mais forte. Meu pescoço doía, meus pulmões ardiam e minha visão ia cada vez mais escurecendo.

De repente meu pai caiu pro lado de forma violenta, me soltando. “Ar!” tossindo tentava recuperar o fôlego enquanto alguém me puxava para cima.

—---Ive! Vamos ! levanta!

Era meu irmão! Ele finamente tinha chegado. Tentava me levantar e me guiar para a porta, mas nesse meio tempo Ele começou a se levantou. Leif escondeu-me atrás de si.

—--quando eu falar, você corre para fora e vá até a casa da tia. ---sussurrou para mim,enquanto encarava o bêbado se equilibrar em duas pernas.

—--mas...--- a idéia de abandoná-lo não me agradava.

—--apenas obedeça, Ive!---seu tom era de censura, agora eu sei, ele estava com medo, mas na época meu irmão não tinha medo de nada em minha cabeça de criança.

—-você... não é o suficien..te a Lai agora Ive... n..nao vou deixar!---cuspiu as palavras a Leif. Ele veio para cima meio sem balanço. Fui empurrada em direção ao amontoado de peles.

Leif desviou bem na hora fazendo com que o pai bate-se a cabeça na bancada da cozinha, mas isso não o incapacitou, levantou com uma rapidez de um ex-soldado à medida que a bebida permitia. Meu irmão correu para o outro lado da casa em uma tentativa de afastá-lo de mim e dar o espaço para correr.

—-E o que você vai fazer?—zombou. A fúria pareceu queimar mais. E sem pesar investiu contra o garoto tentando dar murros sem nenhum atingindo, Leif era rápido e desvia com maestria, graças ao treinamento da tia, mas o pai era um guerreiro experiente e mesmo bêbado tinha habilidade. Atingiu-o no rosto fazendo cair com força. Não perdeu tempo e chutou na barriga. Leif aproveitou essa força do chute e se afastou rolando fazendo com que o segundo chute atingiu-se o ar. O ruivo levantou com dificuldade sem fôlego e obviamente com dor, mas atento ao agressor.

O bêbado logo investiu contra o garoto, que desviou com dificuldade, batendo as costas na mesa de jantar e se encurralando. O pai não perdeu a oportunidade e agarrou-o pela blusa e começou a desferir socos em seu rosto.

Enquanto meu pai batia em Leif. Ouvi a ordem.

—-vá!— dei uma carreira para a porta sem olhar para trás, mas algo agarrou meu pé e eu caí de cara no chão. Com o coração martelando em minha boca olhei para trás, o bebum tinha caído ao vir atrás de mim e me segurava com muita força.

—-vo..cê não vai a lu..ga.. nenhum!---gritou ao subir em cima de mim.---ele...ele te corrompeu..foi f..ele...---levantando um dos punho em direção ao meu rosto.

Seus olhos cheios de fúria desmedida se esvaziaram, tornaram-se opacos e desfocados. Com um baque surdo ele cai em minhas pernas. E lá estava meu irmão, segurando uma das facas de caça, ensangüentada, seu rosto tampado pela franja ruiva. Leif desceu a faca mais uma vez nas costas do pai e a deixou.

Pareceu horas, enquanto meu irmão empurrava o bebum de mim e agachava diante de mim.

—--Ive..---meu nome saiu engasgado, eu abracei com força e o senti relaxar um pouco, seu coração batia violentamente assim como o meu, mas nós sobrevivemos, estávamos juntos  ninguém ia nos separa. Assim eu acreditava.

Saímos daquela casa de mãos dadas, meu irmão mancava enquanto andávamos a passo lento em direção a casa da tia.


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Notas finais do capítulo

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