Você, Que Era Meu Filho... escrita por Frida


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Escrevi essa história para um concurso, mas a ideia veio de um Drabble que eu já tinha escrito um mês antes. Basicamente, fiz uma história maior, contando mais detalhes, porque gostei muito da ideia.
Espero que gostem de ler, assim como eu gostei de escrever! :D



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Quando você chegou a este mundo, você era tão, mas tão pequenino que encaixava direitinho nos meus braços, feito minhas bonecas. Seus primeiros momentos de existência foram em completo silêncio, como se você não estivesse respirando. Eu fiquei paralisada. Porém, após um instante, você gemeu, e a seguir seu choro preencheu todo o espaço, como uma banda num bloco de carnaval, mas foi meu coração que bateu ao ritmo do samba.

Na primeira vez que pude tocá-lo, tive medo que você se quebrasse no meu colo. Estava assustada e incrivelmente alegre, ao mesmo tempo. Eu olhava para o seu rostinho, sua mãozinha pousada no meu dedo, e não conseguia parar de sorrir e chorar.

Tudo o que era de mais importante para mim, naquele momento, era que você estava vivo.

Todavia, logo os problemas que tinha ignorado até então me atingiram. Durante aqueles seus primeiros dias de vida, eu tive que conversar com vários assistentes sociais e psicólogos diferentes, antes que pudesse prosseguir com o processo.

Foi uma longa jornada, até que eu pudesse sair daquele hospital — sem ter você nos meus braços. Por mais que doesse, sabia que não poderia continuar sendo sua mãe.

A partir daí, parei de ter o apoio da minha família. Tive que resolver todos aqueles problemas de gente adulta sozinha. Eu já tinha passado tempo demais no fundo do poço, gritando por ajuda, e agora estava na hora de usar minhas próprias mãos para escalar e sair.

Mudei minha vida por completo, tendo você como a maior motivação. Comecei a trabalhar como babá. Enquanto os pais saiam de casa para seus compromissos ou encontrar com os amigos, eu cuidava de seus filhos. Dar banho, alimentar, brincar, colocar para dormir. Fiz tudo isso e muito mais, com todo o carinho que deveria ter sido dado ao meu próprio filho.

Assim, os anos foram passando. Algumas vezes, cheguei a ir até a porta do lugar onde estava o registro da sua adoção, pensando em te procurar, mas sempre desistia no meio do caminho. O sentimento de culpa pelo que eu fizera crescia mais e mais dentro de mim. Todas as noites, pedia a Deus para que você estivesse bem. No entanto, ainda me permitia sonhar com uma vida em que teria feito escolhas diferentes.

Então, um dia, tive que encarar minha decisão.

Eu te vi.

Foi quando um menininho veio andando na minha direção, destacando-se em meio às outras crianças no parquinho. Você já estava com quatro anos, tão diferente daquele recém-nascido. Porém, acabei reparando justo naquela marquinha de nascença do lado do seu olho direito, e não tive mais dúvidas que era você. Na minha cabeça, eu ouvi as palavras “meu filho”. Finalmente, eu tinha te encontrado.

Por um instante, achei que seu coração também tinha reconhecido sua antiga mãe, e você viria correndo, pularia nos meus braços, e ficaríamos abraçados um ao outro. Só que, dessa vez, eu não te deixaria ir para longe.

Como você já deve imaginar, não foi o que aconteceu. Você estava era vindo em direção à mulher sentada ao meu lado. Naquele momento, foi ela quem você chamou de “mamãe”.

Pensar naquele nosso primeiro reencontro ainda faz com que as lágrimas surjam. Oh, e quanto eu chorei desde aquele dia, você não acreditaria... Descobri que, mesmo não sendo mais sua mãe, eu te amava como se você ainda fosse meu filho.

Depois daquele acontecimento, eu não parei de pensar em quando veria você de novo. Foi por esse e outros motivos que, por minha opção pessoal, eu aceitei aquele trabalho.

 

< >

 

Na primeira vez em que fiquei com você como sua babá, o tempo passou rápido demais.

Você não tirava os olhos da tv, que passava um daqueles desenhos animados musicais que você adorava. E eu fiquei olhando para você, encantada com aquele menininho sentado na ponta do sofá, que um dia tinha sido meu filho, meu bebê.

Às vezes, você olhava para mim, com aqueles lindos olhos castanhos arregalados — como se estivesse muito assustado, a ponto de começar a chorar — e pedia para ver seu papai e sua mamãe. Minha vontade era de dizer que eu estava logo ali. Porém, o que eu sempre acabava respondendo, de forma quase automática, era que eles estavam fora de casa, e logo estariam de volta. Aí, seria eu quem teria de me despedir.

Depois de alguns minutos, ouvi o som de chaves destrancando a porta, anunciando que seus pais já estavam de volta. Nesse momento, você chegou a correr para os braços da sua mamãe, todo animado por ela ter voltado. Já eu fiquei com o coração apertado no peito, e desviei o olhar.

Lembro-me de que, naquela primeira noite, nós mal trocamos duas palavras. Nós dois ficávamos tímidos com a presença do outro. Naqueles tempos, ainda éramos estranhos um para o outro.

Mas então, voltei a ser sua babá uma segunda vez. E uma terceira, uma quarta, uma quinta... E acabei descobrindo que minha maior dificuldade era não ser sua mãe.

Aos poucos, tentei me aproximar mais de você. Passei a me preocupar com seu bem-estar, mesmo quando estava longe. Ou mesmo, sentia um grande alívio assim que era chamada por seus pais para ficar com você.

Houve uma vez em que lanchamos alguns mini sanduíches de queijo e presunto, os quais sua mãe havia preparado. Você me disse que eram sua comida preferida. Ao perguntar qual era a minha, eu respondi sem pensar duas vezes:

“Qualquer uma feita pela minha vovó Lúcia!”

E prometi que, da próxima vez que nos encontrássemos, levaria um pote cheio até a boca de quebra-quebra, casadinho e broa de fubá, algumas das receitas especiais da minha avó — sua bisavó, mas você não saberia disso.

Em outra vez, ao invés de ficarmos assistindo televisão, sentamos lado a lado no chão do seu quarto e brincamos o dia inteiro. Você não deve se lembrar, mas espalhamos todos os seus animaizinhos e legos para construir o maior-e-mais-incrível-zoológico-de-todos!

Você tinha um montão de brinquedos, todavia, dizia que não gostava de brincar sozinho, que queria porque queria ter um irmãozinho. Porém, naquela família, você era filho único.

Naquela família, você era também o preferido, e o mais especial, netinho, primo ou sobrinho. Isso porque, infelizmente, soube que sua mãe, por mais que quisesse, nunca poderia engravidar e ter seu próprio filho.

Você foi uma pequena dádiva, sabia? Não só para mim, mas para aquela família também.

Cheguei a conhecê-los. Foi quando aconteceu uma festinha de fim de ano na sua escolinha. Eu era a sua única convidada que não era parente, — ou, ao menos, era o que todos pensavam —, porém, mesmo assim, me deixou muito emocionada ao saber.

Ao contrário da sua antiga família, tão grande que eu ainda não conheci todo mundo, a sua atual é bem menor. No entanto, apenas de observar, pude notar o olhar de carinho e amor deles para com você, o mesmo que eles faziam para os próprios filhos biológicos. Com poucos instantes em companhia dessas pessoas, eu já desejaria que essa fosse a minha família. Uma família que agradeço a Deus por você pertencer.

Você ainda era muito novo naquela época para notar esses pequenos detalhes. Porém, sei que daqui a alguns anos, quando for mais velho, seus pais irão começar a responder as inúmeras perguntas que você fará. Do porquê você é tão diferente da mamãe e do papai. Do porquê não há fotos da sua mamãe barriguda, ou de quando você era bebê.

Entretanto, uma pergunta para a qual eles não terão resposta é a de onde está a sua mãe biológica.

Quero que saiba que eu pensei incontáveis vezes em tentar reaver a sua guarda. No entanto, por mais que desejasse — no meu mais profundo ser — voltar a ser sua mãe, como eu poderia fazê-lo, sabendo o quanto isso faria você sofrer? Eu mal suportara a angústia de quando fomos separados pela primeira vez. E essa era uma dor que eu evitaria a qualquer custo infligir a você.

Você era ainda muito novo na época em que eu parei de ser sua babá. Talvez você não tenha as memórias desse tempo, mas sei que eu nunca esquecerei.

Espero que agora, após ler este documento, você encontre as respostas as quais esteja a procura. Pois foi com muito amor e carinho que escrevi essas linhas, depois de viver essa experiência única.

Estou pronta para criar coragem: entrarei naquele prédio público, conversarei com os assistentes sociais e farei com que esta carta possa ser anexada no seu registro de adoção. Quero que possa estar disponível se você quiser saber mais sobre o seu passado.

Não sei se teremos a oportunidade de nos vermos de novo. Se você tivesse me perguntado, eu nunca teria considerado essa possibilidade em primeiro lugar, antes de tudo o que aconteceu. Seja como for, eu nunca deixarei de pensar em você. Nunca.

Pode acreditar em mim quando digo que estive ao seu lado. Te vi crescer. Te amei.

Só que você não soube.


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Notas finais do capítulo

Oie, de novo!
Para saber mais sobre a história, deixo um link para vocês conferirem os bastidores no meu tumblr (https://goo.gl/71xEWo).
Achei que o tema (drama envolvendo família) combinou bastante com outra história que já escrevi, e está postada aqui no Nyah!, chamada Lados Opostos. Se quiser, recomendo a leitura desta também!
No mais, vou me despedir. Até uma próxima! ;)
Bjs, Frida



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