Haviam se passado exatos cinco anos desde que Nico não via Thalia.

Quando a pequena tinha quinze anos, ela chegou com um sorriso radiante no rosto e com uma carta nas mãos que dizia que havia sido convocada para ir treinar com as caçadoras mais famosas da região onde eles viviam. No caso, o grupo consistia em antigas mulheres que assumiam a forma lupina que prezavam-na e odiavam a parte humana de sua vida. E, em um dia sofreram consequências por atos horríveis que cometeram, sendo uma maldição vinda de uma bruxa poderosa que as manteve condenadas a forma humana para sempre.

Era óbvio que o di Angelo havia hesitado claramente em deixar a garota ir para o lugar, pois ela iria se livrar da segurança do vampiro e de Silena, o que não era uma boa com Luke ainda solto por essas bandas. Ainda mais quando os anos foram se passando e ninguém conseguia localizá-lo, nem mesmo com os poderes de Annabeth sendo usados em um feitiço de localização.

Contudo, sabia que Thalia precisava daquele treinamento, já que era justamente para ajudar humanos que, por acaso, vinham parar no mundo sobrenatural a aprender a lidar com ele. O que fez o italiano se perguntar se vinha com um guia de “15 dicas para sobreviver ao mundo sobrenatural”.

 E assim os anos foram se passando. Os encontros entre Bianca e Nico se tornavam cada vez mais frequentes: era o momento que eles mais conversavam sobre o que estava acontecendo, colocando as fofocas em dia e deixando ambos atualizados de tudo.

O di Angelo ficou muito contente quando Hades foi convencido em parar por nenhum motivo evidente, já que a vampira disse que apenas pediu com carinho e, quando negou pela primeira vez, ameaçou fazer voto de silêncio e dar a louca novamente. A última vez que havia feito isso, foi justamente quando Nico havia sido dado como morto, então acabou que ela surtou com tudo e atacou até mesmo Hades.

Portanto, os vampiros acalmaram os ânimos em relação a impedir a caça dos lobos, que começaram uma organização junto da Alpha - que os comandava muito bem, devo acrescentar - para saírem em grupos pequenos e não tirarem a acomodação da outra raça.

A cada dia que passava a matilha estava mais acostumada com Nico ali, solto e andando como se não fosse um refém. O que, considerando que ele já havia brincado de queda de braço com metade dos lobos e só perdido para Silena, não era mais. E, sim, apenas um convidado de longa data. Conhecido também como aqueles parentes inconvenientes que aparecem em horas erradas, sabe?

— Ansioso? — ao seu lado, a voz suave de Silena o fez se sobressaltar, arregalando os olhos minimamente e limpando a garganta para disfarçar que quase havia tido um treco. — E imerso em pensamentos. Por que não estou surpresa?

Ele tratou de revirar os olhos, torcendo o nariz por ter perdido totalmente a linha de raciocínio sobre o que estava pensando.

Thalia havia escrito cartas para eles durante um ano, mas a última foi a três anos, dizendo que ela não poderia escrever com tanta frequência por conta do treino ficar cada vez mais pesado e puxado. Então, dizendo que estava tudo bem, ela encerrou a carta e deixou Nico morrendo de preocupação e ansiedade para reencontrá-la.

Além de que, sua mente não o ajudava na parte de fazer mil e uma paranóias, pensando em como Luke poderia achar a garota lá e fazer um ataque surpresa. E se ele a sequestrasse? E se ele a matasse? Se Thalia se perdesse do grupo? Se matassem ela por ser fraca demais? Na verdade, ela era fraca demais? Ela aguentaria tudo que eles estavam dispostos a dar?

As perguntas eram tantas que às vezes o deixavam sem rumo e ele precisava que Chris, um dos lobos que se aproximou mais dele, lhe desse um tapa na cabeça, apontasse o dedo em seu rosto e falasse “ela tá bem, caralho! Para com isso!”.

— Ei, di Angelo!

A voz masculina veio das árvores que moldavam a entrada da casa dos lobisomens, bem como davam início a floresta. Nico virou-se com uma cara entediada, fitando Chris chutar algumas folhas que estavam à sua frente.

— Você não vai acreditar no que eu achei na floresta! — o tom dele era algo divertido e o sorriso em seus lábios denunciavam que era algo bom.

Luke mortinho da silva? O vampiro questionou consigo mesmo, mas não verbalizou. Apenas deu-se ao luxo de revirar os olhos, cruzando os braços.

— Uma toca de coelho que dá no país das maravilhas?

O sorriso do Rodríguez pareceu se alagar. E quando ele deu espaço, Nico sentiu seu coração que não bate falhar uma batida.

— Eu!

Parada diante dele, estava Thalia Grace.

Os cabelos negros presos em um rabo de cavalo alto caiam por seus ombros e costas por conta dos fios estarem grandes. Um cropped negro que exibia um pouco de sua barriga magra levemente definida, assim como realçava seus seios que, certamente, não eram os de uma garota de quinze anos. A calça camuflada em sua cintura dando mais ênfase no corpo atlético que ela havia desenvolvido com anos de treinamento. Nos pés um coturno negro. E, por fim, o sorriso radiante em seus lábios avermelhados.

Silena sentiu seu queixo bater no chão, lugar onde estava o de Nico a muito tempo. Ambos estavam perplexos em como a garota havia amadurecido, mas o moreno estava mais em choque do que a loba, claro.

— Já podem correr para o abraço… — Chris comentou, rindo.

Não precisou nem falar duas vezes antes que o di Angelo chegasse até em milésimos, abraçando-a de súbito e tirando-a do chão, arrancando uma risada de Thalia, que o segurou nos ombros e sorriu.

— Nico! — a Grace disse com um tom entusiasmado, sentindo seus pés voltarem para o chão e rodeando o pescoço do di Angelo, o abraçando.

— Você cresceu muito! — foi a primeira coisa lógica que ele pensou em dizer, sorrindo com a lembrança de quando a garota o chamou de Nico pela primeira vez, deixando o apelido “Senhor Presinhas” de lado.

— Nico? — Thalia o chamou com o tom duvidoso.

O vampiro arregalou os olhos e virou-se para ela subitamente.

— Você me chamou de Nico?

Ela assentiu meio incerta, com medo de ter errado o nome. Nunca se sabe quando alguém pode ter o nome “Milho”, ou até mesmo “Nito”.

— Mas…, e Senhor Presinhas? — não que o di Angelo estivesse sentindo falta do apelido nem nada, mas foi impactante ela o chamar pelo nome, não poderia negar. — Você passou tanto tempo me chamando assim que até duvidei do meu nome real!

— Não seja bobinho! — Thalia respondeu com um sorriso divertido. — Achei que você não gostasse do apelido…

É claro que esse episódio da sua vida havia o chocado, mas não era nada que poderia superar com o tempo, ainda mais quando decidiu focar seus pensamentos no presente. Focar-se na garota em seus braços, crescida e - pelo menos parecia - cheia de saúde.

— Como você está? Como foi lá? Com quem ficou? Conheceu alguém? Aconteceu alguma coisa? Se machucou muito?... — Nico começou a disparar perguntas para a Grace que sorriu compreensiva, mas havia se perdido a partir da segunda.

— Sai daqui seu saco de ossos!

A voz feminina veio de trás de Thalia, que subiu as sobrancelhas ao sentir os braços do vampiro serem arrancados de sua volta, voltando-se para trás e sorrindo ao ver Silena com as mãos na cintura com um ar acusatório.

— Eu que te criei e você sentiu mais saudades desse dai do que de mim? — a Alpha colocou a mão no coração como se tivesse sido uma ofensa para si. — É isso mesmo, Thalia…

Antes que conseguisse pronunciar o sobrenome da garota, ela pulou em seus braços, envolvendo a cintura de Silena com as pernas, se mantendo agarrada ali.

— Tia Silena! — Thalia sorriu, apertando seu abraço contra ela e rindo alto quando sentiu um tapa leve em sua bunda.

— Eu nem vou te falar nada — a Beauregard reprovou, mas tinha um sorriso de canto nos lábios que mostrava que estava brincando. — Céus, Thalia, você está uma adulta linda!

A Grace sentiu seu rosto esquentar em vergonha, sorrindo sem graça e descendo do colo da loba, que riu e bagunçou seu cabelo.

— E vocês? — foi a vez dela a se sobressair, virando-se para Chris. — Você cresceu mais, está com um ar superior de “sou foda, da licença”.

A primeira reação de Silena ao ouvir Thalia falando um palavrão naturalmente foi querer segurar sua mão e repreendê-la por conta disso, mas agora ela já tinha idade o suficiente para tal, então apenas suspirou. É, sua menina havia crescido.

— Eu sempre tive esse ar, ok? — o Rodríguez se defendeu, sorrindo de canto.

Thalia apenas sorriu divertida, continuando a falar:

— Você... — voltou-se para Silena — Está com uma pose de Alpha. Seu cabelo está maior e mais claro… O que você fez nele?

— Sai no sol por mais tempo do que deveria — respondeu a loba, franzindo os lábios em uma careta e pegando as pontas do cabelo entre os dedos.

— E você… — Thalia voltou-se para Nico, que arqueou uma sobrancelha tendo os braços cruzados. — Está mais sarado. Andou malhando?

O di Angelo preferiu não responder, negando em reprovação com um sorriso contido em seus lábios. Com isso, Thalia suspirou, fechando os olhos por alguns segundos.

— Eu senti saudades — comentou, respirando fundo antes de abrir os olhos e sorrir. — Muita mesmo. Ainda mais depois que o treino começou a ficar tão pesado que eu não tinha tempo para dormir, muito menos para escrever cartas para vocês…, mas isso fica para um almoço, o que acham? Estou com uma fome terrível!

A garota alargou seu sorriso, rumando para dentro da casa e deixando-os para trás. E claro que eles nem hesitaram em apostar uma corrida para segui-la como se fosse uma verdadeira celebridade.