Odds - INTERNATO SALVATORE escrita por Jenniffer


Capítulo 3
Tempo - parte 1.


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo tem 2 partes. :)



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 ~ Lizzie Saltzman ~

— Algum problema Lizzie?

Elijah pergunta olhando para mim do espelho retrovisor. Eu vim num carro com ele. Hope, Josie, Hayley e Rebekah foram no outro . Quis evitar a confusão e o barulho normal do banco de trás, e me ofereci para vir aqui. Ele nunca se importa com meu jeito. Com Elijah estar em silêncio não é constrangedor.

— Não. - Respondo sentando numa posição melhor, endireitando minhas costas. - Está tudo bem. Só tô pensando em algumas coisas, lembrando. Eu tenho uma tarefa de férias para entregar e não estou indo muito bem.

— De que professor?

Ele me olha de novo, com o olhar mais apertado. Elijah sabe que eu vou bem em todas as aulas e me dou bem em todos os deveres de casa.

— Não é de um professor. É de Ekko.

— O psicólogo do internato?

— Sim. Ele nos manda escrever diários. O que já é ruim. Mas tudo bem. Não me importo muito. Mas nessas férias ele pediu que fizéssemos uma linha do tempo. Eu não gosto de escrever minhas coisas num papel, muito menos em ordem cronológica. Qualquer um pode pegar e ler. Tenho medo. E vergonha também.

— Lizzie, eu devo te lembrar que você é uma bruxa e pode enfeitiçar seu diário para só ser lido quando você quiser?

— Uma solução fácil. Josie disse o mesmo quando Hope reclamou da tarefa. Hope ficou animada, pois queria criar um código como o “Mal feito, feito’’ do mapa dos Marotos em Harry Potter.  Mas não fizemos o encantamento, pois elas nem sequer começaram suas linhas do tempo. Hope escreveu meia dúzia de poemas aleatórios que definitivamente não contam a vida dela. E Josie escreveu letras de músicas.  Reviro meus olhos cada vez que me lembro da trilha sonora que ela criou...

— Isso é bem a cara delas. - Elijah diz rindo. - Elas não estão levando a tarefa muito a sério então, mas você sim.

— Ekko é um telepata, Elijah. Se eu mentir, ele pode ver na minha mente. Ele pode entrar na minha cabeça e me fazer reviver memórias junto com ele. Prefiro evitar isso se eu puder. Se fizer a tarefa direito e for honesta, não vai precisar nada disso.

— Mas ele já fez isso alguma vez?

— Comigo não. Mas com a Josie sim. Ela não liga. Até prefere. Para ela é divertido. Eu não entendo. Hope concorda comigo. Pelo menos dessa vez, ela está do meu lado.

— Eu posso te ajudar. Mas acho que o seu pai seria a melhor pessoa para isso. Ele tem um diário sobre tudo o que acontece com vocês.

— O Diário Gemini! - Digo já revirando os olhos de novo. - Sim. Eu tenho lido algumas partes. Mas esse diário é do meu pai, tem as impressões dele e de outras pessoas. Esse precisa ser com a minha impressão, as minhas sensações, e pra falar a verdade, na maioria das vezes eu nem sei direito o que eu senti… Nem tenho certeza se lembro de algumas coisas ou se só sei que aconteceram porque já ouvi as histórias tantas vezes. -Penso um pouco - Mas vamos lá. De novo!

Suspiro e abro o diário decidida a escrever alguma coisa durante a viagem. Sorrio para Elijah, que me deixa em paz com meus pensamentos. As palmas das minhas mãos estão suando. Olhar pro diário me faz sentir na presença do Ekko. Será que ele pode ler minha mente à distância? Saber dos meus segredos. Principalmente do último. Esse de agora. Não quero que ninguém saiba dele ainda. Não por enquanto. Não até mostrar para Kol. Nem contei para Jo e Hope ainda. Esfrego as mãos na calça jeans e volto minha atenção para a paisagem, novamente em silêncio invocando minhas memórias misturadas com algumas passagens do diário do meu pai.

 

~ Flashback - Casa da Valerie Tulle - 4 anos antes ~

— Minha mãe estava muito machucada quando eu finalmente me afastei dela. Muito mesmo. Nunca pensei que crianças podiam machucar adultos desse jeito. Eu pedi perdão. Várias vezes. Foi sem querer. – Explico esfregando as mãos na cabeça e dando batidas secas com as palmas das mãos.  - Eu só estava feliz por ter conseguido canalizar o livro de feitiços da Emily pela primeira vez.  Você sabe, eu vinha tentando com a Bonnie faz tempo, mas nunca dava certo, pelo menos não por tempo o suficiente.  – Levanto a cabeça para olhar nos olhos dela. - Eu cheguei em casa e sai correndo pra contar pra minha mãe e pra Jo. Eu só queria criar uma estrela para a manhã de Natal. Que estúpida! Eu sou tão estúpida! – Levanto o tom de voz encarando o chão de novo. - Minha mãe estava chorando quando acordou. Eu juro que quando percebi que estava canalizando, tentei ajuda - la, mas só piorei as coisas e absorvi mais energia ainda. Ela começou a dissecar nas minhas mãos, - digo olhando aterrorizada pras minhas próprias mãos revivendo aquele momento aterrorizador – a  ficar cinza. Eu fiquei com medo e tudo foi muito rápido, eu não pude fazer nada. – Relaxo os ombros, me dando por vencida, tudo passando como um filme na minha cabeça, se repetindo. -Se não fosse Jo gritar e meu pai me tirar de perto da mamãe, eu teria matado ela, madrinha. Eu teria matado a minha mãe! Dentro da nossa própria casa! Na véspera de Natal! - Eu conto agoniada e atropelando minhas próprias palavras. Valerie me abraça. Sem medo. E eu caio num pranto. Ela me deixa chorar. E continuo soluçando.

— Ela não me abraçou porque não tinha forças. Não disse que me desculpava, porque não conseguia falar. Eu quase matei a minha mãe hoje. Só porque eu tava feliz. Josie está brava comigo. Meu pai está bravo comigo. Minha mãe está triste comigo. E eu estou aqui com você, sentada no chão chorando. Porque? Por que eu não posso ser normal Val? Porquê? Me ajuda. Eu não quero mais aprender magia. Eu quero tirar isso de mim. Eu não quero mais. Por favor. Tira isso de mim. Tira. - peço desesperadamente.

Ela vem na minha direção sorrindo. Eu recuo por reflexo. Me sinto encurralada. Todos dizem que não foi minha culpa. Mas eu sei que foi!  - Eu machuquei a minha própria mãe e eu estou com mais medo do que ela. Eu queria poder tirar esses sentimentos de dentro de mim. Essa magia não mágica que só me faz machucar pessoas quando me distraio ou descontrolo. Eu quero ser uma criança normal. Poder tocar sem destruir. Poder tocar sem medo de drenar a outra pessoa. Poder abraçar apertado. Tudo que eu queria era ser normal. Mas eu não posso. Porque eu nasci assim. Como um dementador de energia.  - Finalizo, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Valerie me levanta e me abraça de novo.

— Está tudo bem Liz. Olha pra mim. Eu achei um jeito. Ia ser um presente de aniversário para vocês, eu estava trabalhando numa runa mais forte. Mas está tudo bem. Vai ficar tudo bem pequena - Ela diz olhando nos meus olhos e passando a mão pela minha cabeça. - Você sabe que essas coisas acontecem, controlar sua natureza não é fácil. Mas controlar a natureza humana também não. – Valerie dá um passo para trás olhando a janela que escorre água como uma cascata. Começou a chover torrencialmente . Ela abre a janela e um tufo de pêlo molhado pula pra dentro a fazendo sorrir. Uma gata. A única das redondezas que não se sente ameaçada pela presença de vampiros. - É uma ótima notícia que você tenha conseguido canalizar o livro de feitiços. Isso é algo tão grande para um sifão, Lizzie.  – Valerie continua dizendo enquanto seca o pelo da gata com cuidado. - Você não entende porque você e sua irmã sempre tiveram ajuda. Minha principalmente, pois também sofri muito com isso. Eu já estive no seu lugar. Eu fui expulsa do meu próprio coven. Da minha família. Considerada uma aberração. Um perigo. Um desperdício. – Ela volta a sua atenção totalmente para mim novamente. - Mas isso nunca aconteceria com você. Sua família te ama. Nunca ninguém fez um esforço para me entender, para me ajudar a fazer alguma coisa com a minha magia. Quando eu me transformei em vampira eu percebi que tudo que eu sabia sobre ser um sifão estava errado. Nós somos veículos de magia. E temos que aprender a conduzi-la. Ser um sifão não é ser deficiente de magia, Lizzie. É só uma forma diferente de acessar energia mágica. – Ela segura a minha mão antes de prosseguir. - Não se culpe. Eu tenho certeza que sua mãe não está brava com você. Foi só um acidente. E nós vamos dar um jeito nisso, eu prometo. Você devia ir descansar querida, pode ir para o seu quarto se quiser, amanhã tudo vai estar melhor. Confia em mim.

— Val? - Eu chamo. Ela olha e acena com a cabeça. – A minha mãe, ela… Eu hesito um instante sem saber como perguntar. - Ela está bem? - Digo, perdendo a coragem de perguntar o que eu tinha verdadeiramente em mente.

— Ela está bem Lizzie. Foi só um susto. Você não a drenou por completo, ela é uma vampira, se cura bem depressa. Não se preocupe.

— Porque ela não está aqui então? Porque não veio me ver? Questionei rápido, mascarando minha dúvida maior.

— Ela e Alaric foram buscar Kol para me ajudar na runa. Eles estão a caminho de Nova Orleans. Você quer ligar para eles? Conversar para se sentir melhor?

— Não! - Eu respondo rápido demais. - Tudo bem. Eu estou bem. Mas porque você precisa do tio da Hope, Valerie?

— Ele estudou artefatos mágicos durante muito tempo. Eu quero que essa runa seja perfeita. Bonnie e eu podemos enfeitiçá-la, mas eu quero ter uma segunda opinião. Você não tem que se preocupar com nada querida. Está tudo bem. Ninguém mais corre perigo.

— Valerie?

— Sim. Diga.

— O anel de proteção da minha mãe não deveria ter me impedido? Ele não foi enfeitiçado para prevenir que ela seja canalizada por bruxas ou drenada por mim?

— Sim. Um erro que não vamos cometer de novo. Não deveríamos ter tentado colocar um talismã protetor na sua mãe, e sim, um feitiço bloqueador em você. Afinal, você também pode canalizar a magia do talismã agora e anulá– la. A magia no talismã era poderosa, mas você é mais forte agora.

Confirmei com a cabeça e entrei para o quarto. Deitei  de costas na cama olhando pro teto e encarando  a pergunta que não fiz para minha madrinha Val. Será que minha mãe me odeia? De noite, no escuro, tudo parece pior, e mais assustador. Tive a impressão de ouvir a voz da minha mãe lá longe antes de pegar no sono. Não sei dizer se foi sonho ou realidade.

Acordei com Josie pulando em cima de mim gritando montada nas minhas costas por cima do edredom me fazendo de touro mecânico e rodando um laço imaginário no ar. Mas o riso dela acalmou meu susto. Ontem ela estava brava comigo, hoje está normal. Essa é Josie… Nunca se preocupa com nada por muito tempo. Ela é sempre tão feliz. Sorri de volta.

— Já acordei. Já acordei. Sai de cima de mim Jo!

Me virei por baixo dela, e me contorci virando de barriga pra cima, trazendo parte da coberta comigo e virando uma espécie de churro. Ela riu e levantou.

— Vambora. Tá todo mundo aí – os olhos dela brilham de entusiasmo. E me contagia imediatamente.

— Todo mundo quem?

— Papai, mamãe, Bonnie, Kol e Valerie. Eles vão enfeitiçar a gente e vamos ter tatuagens !– ela me conta dando pequenos e rápidos pulinhos.

— Tatuagens? Pra quê? A mamãe sabe disso?

— Sim. Ela deixou. Eu escolhi uma bem bonita.  Kol me ajudou. E agora como você não acordava, ele disse pra te chamar. A Bonnie e a Valerie já estão trabalhando no encantamento. Tá ficando lindo. Quero muito entrar lá.

— Entrar aonde Jo?

Eu perguntei confusa, me desvencilhando da coberta e trocando de camiseta, segui ela ainda descalça enquanto amarrava o cabelo num coque baixo. Quando Josie abriu a porta do quarto já consegui ver uma bolha de ar quente no meio da sala. Os móveis foram afastados, Kol estava encarando um desenho ao lado do meu pai, que estava com cara de poucos amigos. Enquanto isso, Valerie e Bonnie estavam uma de cada lado da base da bolha, dizendo encantos em voz baixa e olhos fechados, como se fosse um mantra. A volta do círculo tinham alguns talismãs. Não consegui vê-los de longe, mas Josie me apontou o desenho junto de Kol .

Era uma roda. A representação de uma pedra dos elementos. Achei legal, mas não tive tempo de ver mais de perto. Minha mãe saiu da cozinha e me abraçou tão forte que respirei apertada, com medo de acontecer de novo. Correspondi de forma insegura. De um jeito fraco, deixando meu medo de ela estar me odiando pelo que eu fiz ontem esvair por meus olhos. Ela me acalmou e beijou minha testa. Mas continuei chorando e pedindo desculpa baixinho, ouvindo a dizer que me amava, e que estava tudo bem.

— Estamos prontas. - Bonnie veio avisar.

Ela se aproximou de mim e Josie perguntando se estávamos preparadas. Josie acenou em confirmação, enquanto eu fiquei indecisa sobre o que responder ,porque não sabia exatamente o que íamos fazer.

—Nós vamos enfeitiçar uma runa em vocês duas para que sejam capazes de separar suas emoções dos seus poderes. - Bonnie começou a explicar.

— E vamos expandir o que vocês podem canalizar. Em vez de poder canalizar só pessoas e objetos, essa mesma runa vai permitir que vocês canalizem a natureza. A energia mágica contida em tudo que é vivo. - Kol continuou entusiasmado, vindo na nossa direção com uma estela, que mais parecia uma varinha mágica, para desenhar a runa.

Eu quis a minha no pé. Um lugar escondido, onde ninguém pudesse notar. Já Josie escolheu ter sua marca no ombro esquerdo. Kol traçou firmemente os círculos com os 7 elementos e a estrela élfica em nós as duas. Na hora, tinha ficado com aspecto de queimado, como se tivéssemos sido marcadas com ferro quente, embora não tivesse sentido qualquer dor. Assim que Kol passou a estela pelos traços finais do desenho, nós desmaiamos. Só sei tudo o que aconteceu depois porque li num diário e nunca me esqueci daquelas palavras do meu pai:

“Em todos os meus anos de vida nunca tinha visto nada nem sequer parecido com aquilo que estava acontecendo a minha frente”.

 

Revisão e Edição:

Caroline Azevedo

Drika Landim

Guilherme Rodrigues

Katti Vianna

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por estarem aqui lendo minhas doideiras =)

PS: desculpem por essa imagem GIGANTE, não aceitou a edição da dimensão.



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