O Andarilho e a Inanimada escrita por PatrickTulher


Capítulo 1
Capítulo 1




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 Certo dia uma estrela solitária vagava sobre o gélido espaço extraterreno. Como alguém desgovernado, mesmo as suas chamas indômitas, permutava de posição sem rumo, perdido.
Até que chega em uma galáxia desconhecida. Lá, encontra outros sóis; menores que ele, portanto, vulneráveis. Um deles era sadio e de venturosa beleza. O outro, era robusto, fraco e inanimado.
A estrela abelhuda, sem intrépida vergonha, se aproximou do sol sadio, e apossou-se de suas terras; oferecendo gás hélio. O sol sadio ignorou-a, adquirindo rumo diferente. Pasmo pela reação do sol em questão, a estrela andarilha retomou seus hélios perdidos e partiu buscar contato com a estrela inanimada.
Triste e apagada, a estrela inanimada pouco brilhava; suas chamas estavam serenas, parecia deprimida e desamparada. O sol andarilho se aproximou, e ionicamente ofereceu seus átomos de hélio a pobre estrela. E ela, tomou aquelas partículas com tamanho vigor; se aproveitou da boa vontade do andarilho. Dali em diante, a estrela inanimada, animou-se.
De tempos em tempos o sol andarilho oferecia seu hélio a estrela, agora, animada. Aos poucos ele perdia sua luz e seu foco; mas ficava feliz por revigorar aquele pobre, agora rico, sol. Até que ele deixou de ser andarilho.
Ambas estrelas tomaram o mesmo rumo; agora estavam em órbitas pariformes. A cada dia a antiga estrela andarilha ficava mais feliz de poder contar com a presença da outra; abandonando seu antigo e frio ermo eterno. E a estrela que era inanimada mudou-se por completo, era outra pessoa. Digo, estrela.
Até que em certo ponto, a antiga andarilha estava fraquíssima; já não podia mais doar seu hélio a outra estrela, mas continuava destruindo-se a arrancar seu sangue iônico para entregar-lhe a outra. Ela a amava. Mas a outra passou a buscar rumos diferentes. Ignorando por completo a dedicação e desespero da antiga andarilha, a estrela inanimada desvencilhou-se da órbita, e abandonou a andarilha.
De longe, a andarilha, agora azul e novamente solitária, observava a estrela que ele tanto amava dando o hélio que lhe havia dado a outras estrelas. Sentia uma dor enorme ao ver o seu diligente suor sendo entregue a mãos beijadas a outros sóis distantes. Porém; ainda tinha a sórdida fé de que aquela estrela pudesse voltar para si; para que pudessem dar novamente seus beijos hélicos e pegar suas mãos ferozes.
Mas não. A inanimada desapareceu; e devia estar se auto-mutilando doando os hélios que com carinho o andarilho doou. O próprio andarilho, com profunda e extrema solidão e melancolia, perdeu suas últimas esperanças; e morreu, tornando-se uma supernova imponente e destruidora. Mas que em poucos instantes, tornou-se um buraco negro, obscuro.
A inanimada enfraqueceu-se novamente após doar todos os seus átomos a estrelas que pouco ligavam pra ela; e então voltou a sua fonte principal, buscando mais hélio! Mas ao encontra-la, morta e lúgubre, sentiu em seu peito quente o profundo arrependimento de ter iludido e secado até a última gota e partícula da estrela que mais a amou.
Seria engraçado, se não fosse trágico.


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