Caçadoras de Emoção escrita por Lai Carpe


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey, pipous, tudo bem com vcs? Espero que sim ^^

Bom, essa é uma one que eu escrevi para um concurso do wattpad, mas resolvi postar aqui e no spirit tb, já q eu utilizo os três sites.

Se quiserem ler ouvindo alguma coisa, se for do agrado d vcs e tals, eu recomendo duas músicas: Don't Wait - Mapei e/ou West - Sleeping at Last (deixarei os links das músicas nas notas finais para quem se interessar).

Enfim, espero q tenham uma boa leitura sz



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No rádio do carro tocava Laughter Lines e ao meu lado, no banco traseiro do Jeep que alugamos, a cubana que vinha estando brava comigo durante as últimas semanas, devido à sua incerteza em relação ao nosso futuro juntas, ressonava tranquilamente com a cabeça em meu ombro. E eu, com a cabeça encostada na janela e no conforto que a presença delas me transmitia, apenas pensava em como tudo começou

Pessoas se conhecem todos os dias. Em pleno século XXI, a probabilidade de a cada dia ao menos duas pessoas não se conhecerem, de acordo com as minhas pretenciosas – ou nem tanto – deduções estatísticas, é menor do que a vontade que eu tenho de levantar da cama numa segunda-feira, que pode ser matematicamente traduzida como o infinito negativo. Quanto as formas como as pessoas se conhecem, não tenho ideia de que sejam ou não infinitas, o que não interfere, porém, na minha opinião e conhecimento de causa de que elas podem ser as mais inusitadas e inimagináveis, pois não foi menos do que dessa maneira que eu conheci minhas melhores amigas e o amor da minha vida; Camila Cabello.

No meu conceito, nós éramos um grupo bastante peculiar. Com todo o avanço da tecnologia, principalmente depois do ano 2000, as amizades virtuais não são nenhuma novidade. E foi nesse meio virtual que Ally, Camila, Dinah, Normani e eu nos conhecemos. "O que tem de peculiar nisso se amizades virtuais são tão comuns?", você acabou de involuntariamente se perguntar. Eu respondo: Todas tínhamos em comum o "complexo de diferentona", mas não no sentido egocêntrico desse conceito. Ok, talvez um pouco. Mas ninguém podia nos culpar, principalmente quando não conhecíamos pessoalmente uma mera pessoa que gostasse de aventuras e caças ao tesouro como nós. E foi por isso que, em um fatídico dia, decidi procurar onde seria improvável de não encontrar: na internet.

Era uma sexta a noite, 21 de setembro de 2012. Eu estava no primeiro ano do colegial. Criei um perfil fake num aplicativo de relacionamento que havia sido lançado naquele mesmo ano. Na foto de perfil eu coloquei uma releitura da famosa propaganda do Tio Sam na época da guerra do Vietnã, na foto havia o Radagast, um dos magos em O Senhor dos Anéis, e os dizeres "I Want You For An Adventure", coloquei também outras imagens, como, por exemplo, o print da busca por "suricatos sexy" no google imagens. Na descrição eu disse que procurava por pessoas destemidas, que gostassem de aventuras, caças ao tesouro, acampar, que fossem fãs de Indiana Jones e Moonrise Kingdom.

"Ah, fala sério. Procurar por isso em um aplicativo de relacionamento?". Podem duvidar das minhas intenções, eu não me importo. Mas saibam apenas que eu segui meus instintos, que deu certo e que eu não me arrependo. O primeiro match foi a Camz quem deu, eu gostei dela logo de cara. Ela me chamou no chat enviando o gif de um suricato saindo da toca. A partir daí nós não paramos mais de conversar, nem por um dia sequer. Não foi difícil me apaixonar por ela. Eu ainda lembro de uma ocasião, quando ainda conversávamos pelo aplicativo, em que ela me perguntou se eu havia baixado o aplicativo com aquele objetivo exclusivo, eu respondi que sim, que pelo menos aquele perfil tinha essa finalidade, mas que eu tinha o meu perfil pessoal. Perguntei o motivo da pergunta dela e a Camz me respondeu: "Curiosidade". Cerca de um mês e meio depois, começamos a namorar, e o mais incrível é que ela era da mesma cidade que eu, além de ter descendência cubana, assim como eu também tinha.

E pensar que eu passei anos da minha vida sem conhecê-la e que ela sempre esteve tão perto.

Bom, na mesma semana em que conheci Camila, também conheci as meninas. Normani foi a segunda, e arrisco dizer que a mais animada de todas nós, ela adorava trilhas e praticar exercícios, e não via a hora de colocarmos em prática nossas aventuras. Não via a hora de encontrar um tesouro importante e marcar seu nome na história. Ally veio depois, com ela foi bem engraçado, ela estava preocupada com a possibilidade de eu ser algum pedófilo, e depois de convencê-la de que eu não era e que ela podia confiar em mim, tive que ouvir oitocentas e trinta e sete mil vezes ela enfatizar que era hétero, mas depois disso deu tudo certo. Ally me contou que já estava no primeiro ano da faculdade de arqueologia, e perceber que na prática não se assemelhava muito às aventuras de Indiana Jones foi um baque para ela. Ou seja, ela estava sedenta. Por fim, veio Dinah. Ela definitivamente era a mais pirada do grupo. Ela estava em busca de emoção e adrenalina, em suas formas mais genuínas, ela não queria consumir nada para alcançar isso.

Ah, eu já ia esquecendo da Camz. Minha namorada é a pessoa mais maravilhosa que eu já conheci. O match dela foi resultado único de sua coragem. Por mais que o objetivo dela naquele aplicativo fosse diferente do meu com aquele perfil, ao se enquadrar nos requisitos que haviam em minha descrição, ela arriscou. Afinal, além de tudo o que eu havia especificado, ela também sonhava viajar; queria desbravar o mundo.

E foi isso, nosso grupo estava formado. Outras pessoas deram match também, mas todos uns babacas que não mereciam nem que aquelas meninas fantásticas, que em tão pouco tempo conquistaram minha amizade, dirigissem a palavra a eles. Nosso grupo estava formado e eu me sentia completa como nunca antes.

Nos meses seguintes começamos a planejar. Mas havia um problema. O lado bom da internet é que ela aproxima pessoas que moram longe umas das outras. O lado ruim é que essa aproximação não é física. Nesse contexto, Dinah era de Santa Ana, Califórnia; Normani e Ally eram do Texas – Houston e San Antonio, respectivamente – e Camila e eu de Miami, Flórida. Nós não poderíamos viajar em qualquer época nem para qualquer lugar. Primeiro porque não éramos legalmente responsáveis por nós mesmas, exceto Ally. Segundo porque alguns dos nossos pais eram bastante rígidos, inclusive e principalmente os meus. E por último, mas não menos importante, porque não trabalhávamos e, portanto, não tínhamos como arcar com as despesas, e nossos pais muito menos arcariam com elas. Nós precisamos economizar. No fim, porém deu tudo certo. Nos últimos oito anos, depois de muitas mesadas guardadas, de muitas vendas de garagem, de muitas limonadas vendidas e alguns empregos de verão, nos aventuramos juntas por sete incríveis lugares. Em 2014 fomos para a Califórnia, mais especificamente para o Parque Nacional Redwood, E agora, era a primeira vez que nossa aventura se estenderia até a América Latina. O Brasil era o nosso destino.

— Parece que chegamos, meninas. — Ally constatou, observando a entrada do Parque Nacional de Itatiaia.

— Até que enfim, eu estava me sentindo numa batedeira de tanto que esse carro balançou nessa estrada maravilhosa. — Normani reclamou com ironia.

— Pois é, não duvido nada que meus glúteos estejam parecendo carne moída neste exato momento. — Acrescentou Dinah.

— E não faço a menor ideia de como a Mila conseguiu não acordar, meu Deus, Laur, o que você passou nesse ombro? — Ally perguntou olhando agora para minha namorada.

— Eu não fiz nada, ela é que devia estar muito cansada. — Ponderei fazendo um carinho no rosto do meu amor, que estremeceu sob o meu toque, despertando. Ela esfregou os olhos preguiçosamente e levantou o olhar até encontrar o meu, que admirava a perfeição dela. Durante os milésimos de segundos em que nos encaramos, eu pude notar o espanto e a vergonha em suas feições, que deixaram claro o quão inconsciente havia sido aquele cochilo em meu ombro.

— Já chegamos? — Perguntou um pouco afobada, mesclando o olhar entre as meninas e tentando disfarçar seu constrangimento.

— Já? Você só pode estar brincando, né? Dormiu o trajeto todo, cara de pau! — Normani disse, ainda inconformada.

— Deixe de ser invejosa, Mani. — Camz soltou uma risada gostosa, que me fez rir junto. — Mas então, o que estamos esperando?

— Estávamos esperando sua namorada terminar de babar na Bela Adormecida. — Dinah brincou inconvenientemente.

— Bom, eu já acordei, não precisam esperar mais nada. — Camz fuzilou Dinah com o olhar.

Nós seguimos adiante pela estrada. As meninas engataram em uma conversa repleta de amenidades, compartilhavam suas expectativas para aqueles dias que passaríamos ali. Vez ou outra eu era inserida na conversa por Ally, Dinah ou Normani, mas preferi me abster durante a maior parte do tempo; Camila estava enfim socializando como faz normalmente e, por mais que não fosse comigo que ela estivesse conversando com tanto entusiasmo, eu não quis estragar aquele momento.

O percurso durou aproximadamente uma hora; uns cinquenta minutos até o Posto Marcão, onde deixamos nossa autorização de uso e preenchemos alguns documentos solicitados pelo recepcionista do posto, e mais uns dez minutos até o estacionamento do Camping Rebouças.

— Será que terá mais ninguém por aqui durante esses dias? — Ally indagou ao nos depararmos com o camping vazio.

— Tomara que sim, eu não poderia esperar nada melhor do que estar aqui apenas com vocês. — Camz comentou docemente.

— É o mínimo que esse lugar fique livre só para nós, alguma coisa tem que compensar aquela estrada maldita. — Disse Normani.

— Supera isso, Mani! — Ally, Camila, Dinah e eu incrivelmente exclamamos em uníssono. Nós cinco nos entreolhamos e começamos a rir descontroladamente, antes de procurar a madeira mais próxima em que pudéssemos dar três toques. Felizmente, para mim, havia um chaveiro de madeira na mochila que eu trazia no ombro.

— Acho melhor começarmos a arrumar as coisas, temos que otimizar nosso tempo. — Sugeri já com a respiração controlada.

— Certo, vamos sortear o lugar primeiro. — Eu sorri discretamente com a fala de Ally.

A verdade era que o lugar não seria sorteado, assim como nossos nomes também não foram sorteados para o "amigo oculto" que faríamos, tudo porque eu havia formulado um plano, uma surpresa para Camila. A ideia inicial era fazer um amigo secreto, onde a cada um dos cinco dias que passaríamos no parque, em um dos cinco lugares que constavam em nosso roteiro, a começar pelo Pico das Agulhas Negras, uma de nós revelaria quem tirou no sorteio. Porém, eu enxerguei nessa brincadeira uma oportunidade e então pedi às meninas que deixassem que a minha namorada fosse o meu amigo secreto e, além disso, que fosse ela a começar o jogo, para que tudo corresse bem. Ou seja, exceto Camila, todas sabíamos quem nos tinha tirado e, portanto, as únicas surpresas mesmo seriam os presentes.

Ally tirou uma caixinha de ferro de dentro do bolso lateral da minha mochila, abriu e distribuiu os papeizinhos entre nós cinco. Era esse o motivo do meu riso; ao invés de haver quatro papéis em branco e um escrito — que era como a Camz esperava —, haviam cinco papéis preenchidos com o nome do lugar.

— Eu sou a primeira. — Camila disse mostrando o papelzinho e eu me segurei para não rir.

— Certo, meninas, podemos montar as barracas logo? Eu estou ansiosa. — Mani disse, obviamente não contendo a ansiedade por saber que era a amiga secreta da Camz.

Levamos aproximadamente meia hora para arrumar todas as coisas e, felizmente, ainda não passava das 9h00. Vestimos nossas roupas e calçados próprios para trilhas e partimos em direção ao Pico. Eu guiava as meninas junto de Mani, enquanto eu portava o mapa, ela carregava a bússola. Ally, Camila e Dinah vinham conversando um pouco mais atrás, porém perto o suficiente para que eu pudesse ouvir o que falavam.

— O que houve entre você e a Lauren, Mila? Parecem estranhas uma com a outra? — Ally perguntou como eu outrora pedi que fizesse. Bom, mais ou menos. A questão é que eu queria ouvir como Camila diria a elas o que estava acontecendo.

— Parecem estranhas não, você parece estranha com ela. — Dinah corrigiu.

— É sério isso? Vocês querem que eu acredite que ela já não contou a vocês? — Camila disse, e eu segui sem me surpreender.

— Tem razão, ela contou. Mas queremos ouvir a sua versão. — Ally falou.

— Não tem minha versão, tem uma versão que é a de nós duas. Ela não me quer mais, e foi gentil ao esperar que estivéssemos prestes a nos formar na faculdade para me arrumar um emprego longe dela e não ter que me dispensar diretamente. — Camila disse. Eu amo essa garota, mas devo admitir que às vezes eu não compreendo a mente fértil e traiçoeira dela.

— Você só pode estar louca, Chancho. A Lauren nunca faria isso, você ao menos deixou ela se explicar? — Dinah perguntou.

— Explicar o quê? Ela arrumou um emprego para mim no Havaí sem que eu pedisse. Você sabe a distância entre o Havaí e Miami? Sabe o tempo de viagem entre um lugar e outro? Eu sei, é muito tempo! É muito mais tempo do que alguém viajaria todos os dias para estar com a namorada e eu não quero um relacionamento à distância, mas isso não importa, porque a Lauren não quer nem mais namorar comigo. — Camz disse me deixando ligeiramente chocada.

— Nossa, obrigada pela parte que me toca! — Dinah disse falsamente magoada.

— Ah, pare, Cheechee. Eu não sou você ou a Mani, nunca conseguiria manter um relacionamento como o de vocês, sou carente demais para isso, e não estou dizendo que vocês não sejam carentes uma da outra, apenas que sabem lidar com esse sentimento melhor do que eu, além de não serem inseguras. — Camz disse e eu pude ver quase nitidamente em minha cabeça a figura cabisbaixa da mulher que eu amo. Senti vontade de abraçá-la.

A caminhada não se prolongou muito mais depois disso e logo estávamos na base do Pico das Agulhas Negras. Não levamos equipamentos para escalada, afinal não era esse objetivo, apesar de gostarmos de tal hobbie. Com aquela viagem queríamos apenas aproveitar ao máximo a companhia umas das outras e relaxar. Mas mesmo em baixa altitude, comparada ao topo do Pico, a vista era simplesmente incrível.

— Bom, vamos lá. — Camz iniciou um tanto nervosa. — Eu não faço ideia do motivo que me levou a estar nesse estado, afinal são vocês, minhas melhores amigas no mundo, as pessoas mais importantes da minha vida. Ok, talvez eu saiba. É exatamente por ser vocês. Ter conhecido vocês é tão gratificante, que pensar que depois daqui nada será como antes, embora até mesmo antes as coisas sempre terem sido tão inigualáveis, me emociona, me deixa feliz e me entristece ao mesmo tempo. Eu sei que deveria me limitar à descrição da minha amiga secreta, e que ela vai me estrangular por tanta enrolação quando eu finalmente revelar, mas eu precisei colocar isso para fora. — Camz disse revezando o olhar entre as meninas e parando em mim por alguns segundos. — A minha amiga secreta é a pessoa mais glamourosa que eu conheço e que mesmo usando o presente que eu comprei, poderia facilmente nos superar em qualquer atividade física que nos dispuséssemos a fazer. Não é mesmo, Mani? — Camz concluiu desviando o olhar de mim para Normani no último segundo.

— Ah, sua tanajura lerda! — Mani disse abraçando a Camz com força. — Eu te amo, garota, sabia disso? — Camz sorriu largo ainda entre os braços de Normani. — Agora passa o meu presente para cá! — Exigiu brincalhona. Camila entregou uma caixa média que Normani logo se pôs a abrir até revelar um par de sapatos de cristal. — Meu Deus, são lindos, Mila! Muito obrigada! — Agradeceu apertando minha namorada outra vez, depois de passar seu presente para Dinah.

※ ※ ※

— Eu gostaria de ter palavras bonitas para dizer, como a Mila fez, mas vocês me conhecem e tenho certeza de que melhor do que palavras bonitas, vocês preferem o meu silêncio. — Mani disse, enquanto eu sentava em uma pedra do Maciço das Prateleiras, com os braços esticados para trás e apoiando o peso de meu corpo sobre eles. Uma brisa leve e fria de inverno tocava meu rosto e eu podia ver o céu e a pradaria refletidos no lago mais abaixo. — Quem eu estou querendo enganar? Vocês me amam, amam o som harmonioso da minha voz, mas quem vai me amar mais ainda é a minha amiga secreta depois de abrir o presente que comprei para ela, para minha segurança particular. — Disse caminhando até Dinah com o presente em mãos e o entregando a ela. — E aí, caçadora? Acha que vamos encontrar muita emoção hoje à noite? — Perguntou no tom mais safado que eu ouvi naquela década. Dinah tinha uma expressão admirada e embasbacada no rosto, até que ergueu no ar o vibrador duplo que havia ganhado e o resto de nós pôde compreender suas feições, para então explodir em uma nova gargalhada.

※ ※ ※

Já estava entardecendo quando chegamos na Pedra do Sino de Itatiaia. Era a vez de Dinah e depois retornaríamos ao camping.

— Como minhas melhores conversas acontecem na cama com minha namorada... — Dinah disse, fazendo todas revirarem os olhos, exceto Normani, que ria da palhaçada de Dinah.

— Poupe-nos, querida. — Eu disse.

— Não interrompa meu discurso, branquela recalcada. Como eu ia dizendo, também não estou em uma cama e a Mani muito menos é a minha amiga secreta, já que foi ela quem me tirou, então eu resolvi fazer uma referência cinematográfica muito conveniente. Vocês devem se lembrar daquele filme com a Brittany Murphy e com aquela menina loirinha que perdeu o emprego para a irmã mais nova...

— Dakota Fanning? — Camila perguntou.

— Sim, mas o nome dela não importa. O filme se chamava "Grande menina, pequena mulher" e, nesse caso, em termos literais, o título do filme enquadra perfeitamente a mim e a minha secreta. — Dinah disse, virando-se para Ally que já tinha os olhos marejados antes de ouvir tudo o que nossa amiga tinha a dizer. — Mas no sentido mais honroso que a palavra "grande" possa ter, ela pode facilmente ser substituída por Allyson Brooke.

— Obrigada por me fazer chorar, sua ridícula. — Ally disse ao abraçar Dinah.

— Não foi nada. É para isso quer servem os amigos.

— O quê?!

— Para serem ridículos, não para te fazer chorar. — Dinah esclareceu rindo e entregou o presente de Ally.

A pequena abriu a caixa de porte médio encontrando réplicas de colecionador do chapéu e do chicote do Indiana Jones. Em seguida só vimos o vulto dela pulando alegre nos braços de Dinah e deixando a caixa cair na grama.

No caminho de volta eu caminhei mais atrás à espera da oportunidade de poder falar com Camila sozinha e quando a oportunidade surgiu eu toquei em seu braço de leve, a assustando sem querer.

— Você vai dormir comigo hoje? — Perguntei, depois de tanto tempo sem nos falar, parecia uma pergunta arriscada demais, mas eu precisava saber e não era como se eu tivesse outra coisa em mente para puxar assunto.

— Eu... — Ela estava assustada ainda e visivelmente desconfortável. Senti saudade dos velhos tempos. — Claro, se não for te incomodar. — Disse sorrindo de lado e pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— O quê?! — Perguntei mais alto do que gostaria, mas não era para menos, não depois do que ela havia me respondido. — Camz, você nunca será um incômodo para mim, e, além disso, a barraca é nossa. — Continuei mais calma, depois de respirar profundamente.

— Tudo bem, eu já disse que vou dormir com você, não precisa se explicar. — Disse com uma calma irritante e voltou a caminhar, me deixando para trás.

※ ※ ※

Já havia escurecido quando voltamos ao camping. Tudo era tão calmo e tão bonito, e tal beleza, mesmo na noite, parecia se multiplicar aos meus olhos. Talvez porque eu já estava familiarizada com tudo aquilo, tudo. Até mesmo com os sons dos animais.

Dinah e Mani empalitavam marshmallows e salsichões. Ally desembalava alguns sanduíches que havíamos levado.

Eu havia sido a última a tomar banho, e quando saí da barraca, já vestida com roupas limpas, ouvi uma melodia familiar ser emitida pelo violão de Camila, que estava sentada ao redor do fogareiro aceso.

Dinah acoplou uma pequena grelha ao fogareiro, Mani pôs alguns dos espetos para assar, Ally me ofereceu um sanduíche e nós quatro nos juntamos à Camila.

A letra da canção não demorou a sair pelos lábios de Camila com o tom agudo tão inerente a ela e que me tomava os sentidos quando eu ouvia.

A friend indeed, come build me up

Come shed your light, it makes me shine

You get the message, don't you ever forget it

Let's laugh and cry, until we die

If it wasn't for you, I'd be alone

If it wasn't for you, I'd be on my own

Don't wait 'til I do wrong

Don't wait 'til I put up a fight

You won my heart, without a question

Don't wait for life

Aquela música parecia ter sido feita para nós, exclusivamente para eu e as quatro meninas que sempre estariam ao meu lado, de tão bem que traduzia nossa relação.

I care for you, I talk to you

In my deepest dreams, I'm fortunate

We got a friendship, no one can contest it

And not to mention, I respect you with my all

If it wasn't for you, I'd be alone

If it wasn't for you, I'd have to hold my own

Don't wait 'til I do wrong

Don't wait 'til I put up a fight

You won my heart, without a question

Don't wait for life

A essa altura, nós cinco cantávamos extasiadas, capturando os detalhes das feições e olhares umas das outras, com a certeza de que estávamos enxergando a nós mesmas e de que, infelizmente, poucas pessoas no mundo seriam capazes de algum dia se sentirem tão transbordadas como nós.

Not a thing in the world could get between what we share

No matter where you at, no worry I'll be there

No one's got your back like I do

Even when the business ain't going well, we still cool

When I shine, you shine, always on your side

All my life you'll have what's mine

Mark my word, we gon' be alright

My brother, my sister we gon' be just fine

Cantamos a parte do rap com o violão acompanhando em acordes curtos, as estrelas no céu eram o nosso público e, naquela noite, não havia espetáculo mais belo que elas pudessem presenciar.

If it wasn't for you, I'd be alone

If it wasn't for you, I'd be on my own

Don't wait 'til I do wrong

Don't wait 'til I put up a fight

You won my heart, without a question

Don't wait for life

Ao fim da música, Dinah buscou bebidas na caixa térmica para cada uma de nós.

— Feliz 4 de julho, meninas! — Ally disse e brindamos à nossa liberdade com suco de uva.

— O que vamos fazer agora? — Normani perguntou, pegando um espeto de marshmallow na brasa e se sentando. Todas sabíamos que ela não estava se referindo àquele momento exato. Tínhamos combinado semanas atrás de revelar nossos planos apenas na viagem.

— Bom, você eu não sei, mas eu estarei em Los Angeles, com a minha noiva, trabalhando na revista online de esportes radicais e aventuras que vamos lançar.

Ally, Camz e eu nos levantamos para parabenizar nossas amigas.

— Isso é sério? Você é muito sonsa, Mani Bear. — Constatei abraçando minha amiga.

— Meus parabéns, gente, eu tô muito feliz por vocês! — Camz disse quando soltou Dinah de seu abraço de coala.

— Vocês merecem toda a felicidade do mundo e merecem também a minha presença nas festas de fim de ano. — Ally disse misteriosa.

— Anã, você será bem-vinda sempre em nosso lar, não apenas nas festas de fim de ano. — Dinah disse gentilmente.

— Eu sei disso, mas não é como se eu fosse estar nas outras datas...

— E isso significa que... — Comecei para que ela completasse.

— Significa que eu fui convidada para uma escavação na China por um professor da minha pós-graduação. Eu viajo em setembro! — Ally anunciou e mais uma rodada de parabenizações se deu entre a gente.

— Eu estou mesmo muito feliz por todas vocês, mas também vou sentir muita saudade! — Camz disse com os olhinhos lacrimejando e naquele instante eu superei todos os meus próprios recordes de vontade que eu tinha de tomá-la em meus braços e cuidar dela.

— Todas vamos sentir, Mila. — Mani disse. — Mas e você, o que vai fazer a partir de agora? — Deixou minha namorada sem falas com a sua pergunta.

— Eu... — Camz disse com dificuldade. — Eu... Eu vou dormir.

— Chancho, todas vamos dormir, né, ridícula, mas queremos saber o que vai fazer quando formos embora. — Dinah disse, mas Camila já havia dado às costas à ela e ao resto de nós e se dirigido à nossa barraca. Meu coração saltou no peito pelo medo de ela decidir dormir na barraca de Ally, quando ela hesitou por alguns instantes antes de entrar na nossa. 
Eu olhei para cada uma das meninas fazendo um pedido de desculpas silencioso. Terminei o meu lanche e fui atrás de Camila. Ela dormia serenamente na barraca quando eu entrei, mas ainda pude sentir suas bochechas úmidas pelas lágrimas recentes quando fiz um carinho em seu rosto.

— Eu te amo, minha vida. Nós vamos ficar bem. — Sussurrei abraçando-a.

※ ※ ※

— Certo, é a minha vez, né? Eu serei bem direta, sem enrolar como as mocinhas fizeram até agora. Porque o que eu tenho a dizer é simplesmente a maior verdade que eu respeito. — A voz de Ally soou incrivelmente alegre e confiante do alto da Pedra do Altar, que era onde estávamos. Ela parecia ignorar o fato de que eu sabia que era eu a amiga secreta dela. E por um segundo eu até tive a ligeira impressão de que ela tivesse crescido. — A minha amiga secreta é uma pessoa sonhadora e corajosa, como todas nós. Mas diferente da gente, ela é a responsável por tudo isso. E eu sou grata por ela. Por ela ter aparecido da maneira mais repentina possível em minha vida e por ter trazido vocês, Camila, Dinah e Normani junto. Eu amo vocês todas demais. Eu amo você demais, Lauren. — Ally terminou chorando e vindo em mim direção. Ela me abraçou tão forte que o seu coração parecia bater dentro do meu próprio peito.

— Eu também amo você, Ally. Muito mesmo, pequena. — Eu disse quando a soltei, pincelando seu nariz com meu indicador.

Eu abri a pequena caixinha que ela me entregou, encontrando um relógio com tiras de couro preta e sob os ponteiros um desenho do mapa mundi. Eu sorri vendo aquilo e agradeci minha amiga, a abraçando uma última vez.

※ ※ ※

Era a minha vez finalmente e eu mentiria se dissesse que não estava no mínimo enlouquecendo de ansiedade. A essa altura Camila já sabia do óbvio; que era ela a minha amiga oculta. E foi certamente o conhecimento disso que causou o rubor que esteve presente em suas bochechas durante todo o caminho até o Mirante do Último Adeus.

— Eu acho que não há motivos para eu fazer mistério sobre a identidade da minha amiga secreta quando todas vocês já sabem quem é. — Comecei antes de tomar coragem e virar para Camz e continuar olhando-a diretamente nos olhos. — Talvez eu tenha pegado alguns atalhos até aqui, como, por exemplo, pedir às nossas amigas que deixassem você ser minha amiga secreta, para que eu pudesse fazer o que estou prestes a fazer. — Eu disse vendo minha namorada continuar linda mesmo com a carinha de descrença que fez ao ouvir minhas palavras. — E antes que pergunte o porquê de eu estar te contando isso, eu te digo que é porque eu quero recomeçar com você sem nenhum segredo entre a gente e também porque nunca dá certo quando eu treino algum discurso, porque eu acabo ficando nervosa e esquecendo completamente as palavras bonitas que eu passei horas pensando para te dizer e te fazer se apaixonar mais por mim. O que eu quero dizer, amor, é que a última coisa que eu desejo é estar longe de você, porque eu te amo. — Disse me ajoelhando. — E por te amar, eu viajaria, sim, todos os dias de Miami até o Havaí só para te ver. E é por te amar muito que eu prefiro ir morar no Havaí com você do que ter que pegar um avião todos os dias para te ver e ainda perder em um voo horas valiosas que seriam muito melhor aproveitadas por mim tendo você em meus braços. — Entre as minhas próprias mãos tomei as mãos trêmulas da minha namorada, que, naquele instante, tinha o rosto banhado por lágrimas salientes. Ela me olhava, sorrindo envergonhada e encantadoramente, certamente mentalizando um futuro castigo para mim, que fosse compensar as travessuras que cometi com ela. Eu então retirei de meu bolso um pequeno coco e o abri revelando um anel entre conchas coloridas e transparentes como um cristal. — Casa comigo, Camz?

— Você.... Como você pôde, sua idiota? — Ela perguntou com a voz entrecortada. — Você arrumou um emprego para mim muito longe de você e sem que eu pedisse, o que queria que eu pensasse?

— Nada, queria que confiasse em mim ou que me deixasse explicar, ou os dois. Até porque eu arrumei um emprego para nós duas. Mas agora eu só quero uma resposta para o meu pedido, essa terrinha aqui no chão está machucando meu joelho.

— Eu amo você, Laur. Então sim, é claro que sim, sua otária. — Ela respondeu e no mesmo instante eu me pus de pé e a agarrei. Ao fundo eu podia ouvir nossas amigas aplaudindo, gritando e assobiando. Nenhum "sim" poderia me fazer mais feliz do que aquele acompanhado de um xingamento da minha, agora, noiva. — Nunca mais me deixe acreditar em mentiras, Lolo. — Camila disse com a cabeça enterrada em meu pescoço.

— Nunca mais, amor. — Eu respondi fazendo-a me olhar. — Basta você nunca mais não me deixar explicar as coisas. — Completei e levei um tapa dela, mas no fundo nós duas sabíamos que estava certa.

— Eu vou deixar. — Camz garantiu revirando os seus lindos olhinhos castanhos chocolate e eu simplesmente a beijei. Como se o mundo fosse acabar, por todo o tempo que fiquei longe daqueles lábios, por todo o amor e tesão que eu sentia por aquela mulher, eu a beijei. No alto daquele mirante, cujo nome significava literalmente o que aconteceu ali, o último adeus de uma amizade mais forte do que o próprio tempo.

Porque nós nunca mais diríamos adeus umas às outras. Porque, para nós, nunca mais seria o fim, mas passaria sempre a ser um novo começo.

 


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Notas finais do capítulo

Don't wait: https://www.youtube.com/watch?v=j29M-7aBLg0
West: https://www.youtube.com/watch?v=GHx_Utu2fiw

Isso é tudo, pessoal ^^



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