Sobre amor, amizade e confiança escrita por bersange


Capítulo 6
Alunos e professores


Notas iniciais do capítulo

Como os professores veem Eren, Mikasa, Armin e cia?



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‘Turma do Barulho’. ‘Turma da Bagunça’. Ou 104 (porque essa era a numeração daquela turma na chamada, embora ninguém soubesse o porquê do número). Assim era chamada aquela turma entre professores, pedagogos e diretoria. Eles eram extremamente unidos, brincavam bastante durante a aula e ainda assim eram extremamente competentes. A maioria dos professores os adorava. Até mesmo Levi, embora ele não fosse admitir em voz alta. De algum modo, sempre que os professores conversavam sobre seus alunos durante os almoços, o assunto chegava neles. Sempre.

Naquele dia, não foi diferente. Levi saíra para almoçar no restaurante self-service que ficava em frente à escola. Acompanhado de Erwin e Hange, mas encontrando Oluo, Petra, Eld e Gunther no caminho e se sentando juntos.

Inicialmente, eles não falaram no trabalho. Falaram de política, de filmes, trocaram piadas (Hange sempre brincava com sua altura, para desgosto de Levi). O problema é que o mundo de um professor parece ser um mundo particular, onde só existem professores, alunos e trabalho. Uma vez Hange brincara que todos os amigos dela eram professores e ex-alunos. Levi considerou que aquilo estava mais próximo da possibilidade que pensara. Todas as últimas namoradas de Levi eram professoras. A última firme era uma professora de jardim de infância, que ele conheceu no café. Antes dela, uma amiga de Hange com quem ela se formou. E agora... Bem, era complicado.

Então, logicamente, a conversa chegou ao assunto trabalho. E se a conversa chegou ao assunto, era uma questão de tempo que chegasse à turma 104.

“Depois do almoço”, disse Oluo, “eu vou ter aula com a Turma do Barulho”.

“Sorte a sua”, Hange admitiu. “Eu vou dar aula para a 110. Aliás, Erwin, alguém deveria rever o sistema para numerações de turma. Enfim, a 110 é terrível. Naquele dia que eu precisei ir ao médico, o Moblit me substituiu e deu aula para as duas turmas, disse que a diferença entre elas é sensível”.

“No início eu achei que eles fossem apenas bagunceiros, mas eles são bons”, Gunther concordou. “Até os alunos mais fracos estão se saindo melhor, como o Springer ou Linke-Jackson”.

“Eles estão melhorando mesmo, Gunt?”, perguntou Petra, interessada. “Eu te disse que Armin estava ajudando Connie, né?”

“Disse. Ele ainda tem dificuldades, mas dá pra ver que está tentando. E avançando também, o que é mais importante”.

“Das minhas turmas”, Eld adicionou, “nenhuma rende tanto a discussão na sala de aula quanto a deles”.

“Na minha também”, concordou Erwin.

“Mesmo caso comigo”, disse Levi, por fim. “O estranho que alguns deles se conheciam antes, mas não eram tão próximos assim. De repente, todo mundo ficou amigo”.

“Eles são maduros para a idade”, Petra sugeriu. “A maioria não liga pra quem é popular”.

“Vamos ver se isso dura até o ano que vem”, disse Oluo. “Quando alguns entrarem para times e para as líderes de torcida”.

“Não acho que tem relação com maturidade. Eu gosto deles, mas eles são adolescentes, estão longe de serem maduros. E isso é uma coisa boa, adolescência é a fase de fazer merda mesmo”, Hange disse, entre garfadas.

“O que você acha?”, Erwin perguntou, parecendo genuinamente interessado.

“Os três novos”, ela disse. “Eren, Mikasa e Armin”.

“Ah, os três...”, Oluo divagou por instante. “Eu confesso que fiquei preocupado quando soube da situação peculiar deles, especialmente do rapaz Eren e da menina, mas eles são bons alunos no final das contas”.

“Você foi vocalmente contra a matrícula deles, eu me lembro”, Eld colocou. Os três foram matriculados em cima da hora no colégio e apenas depois da primeira semana de aula que os professores tomaram conhecimento da situação deles. Bem, a maioria. Hannes, claro, sabia de tudo. Erwin, que também era o chefe da equipe dos professores, também sabia de antemão. E ele havia conversado sobre os três com Levi, Mike e Hange antes das aulas começarem. Depois que ele e Darius Zackly revelaram a história dos três na primeira reunião, o assunto gerou muita controvérsia entre os professores.

“Bem, errar é humano”.

“Arlert é particularmente brilhante”, Gunther admitiu. “A garota também parece ter uma facilidade absurda com quase qualquer matéria. Yeager é um pouco menos focado, mas os dois mantém o rapaz no eixo”.

“Segundo a ficha dele, ele tem propensão a explosões de raiva”, Petra disse. “Mas até agora, eu não recebi nenhuma reclamação dele”.

“Ele discute bastante com aquele outro rapaz... qual o nome?”, Hange disse. “O com a cara um tanto equina? De cavalo?”

“Jean Kirstein”, disse Petra, segurando a risada. Erwin e Levi se mantiveram sérios, mas os outros riram com a descrição da professora.

“Bem, esse mesmo. Mas do jeito que os outros tratam, parece ser só uma rivalidade entre amigos”, ela concluiu.

“Mas porque você acha que os três deixaram a turma tão unida, Hange?”, Erwin indagou, sério como sempre.

“É? O que eles têm de especial para fazer isso?”, Oluo acrescentou. “Eu gosto deles agora, mas não os vejo como o centro das atenções”.

“Bem, acho que eles eram somente o elo que faltava”, ela explicou. “Por exemplo, aquela menina Leonhart. Annie Leonhart. Ela não falava com ninguém além dos dois altos. No colégio inteiro. Agora você a vê andando com os outros, conversando normalmente. Claro que ela ainda é fechada, mas já é uma coisa. E ela e os altos foram as primeiras pessoas que vi Eren, Armin e Mikasa conversando fora de sala”.

“Eu também percebi que ela está muito mais solta”, disse Petra.

“Bem, então depois o Armin começa a falar com Marco Bott, porque são inteligentes e bons alunos. Eren faz um trabalho com Mina e Thomas no meu laboratório. A menina Ackerman se aproxima de Sasha e Connie. E assim por diante. Os elos finalmente são ligados. Não é porque eles são especiais, mas porque eles são as pessoas certas, na hora certa”.

“Bem, é um jeito de falar”, Erwin assentiu.

“Então você está dizendo que foi uma coisa que aconteceu por coincidência?”, perguntou Oluo. “Porque então foi uma baita sorte ao nosso favor. A turma 104 é uma das melhores turmas que já peguei. E olha que estou no negócio faz um bom tempo”.

“Até o Keith gosta deles”, Petra admitiu. “Bem, ao menos uma turma será só elogios na reunião com os pais. Já outras, como a 110 e 103...”

A conversa prosseguiu, com Levi pouco interessado. Nem a 110 e nem a 103 eram turmas dele. Depois do almoço, ele teria dois tempos vagos que usaria para corrigir alguns trabalhos que os alunos entregaram adiantados. Depois, a turma 104. Levi se pegou sorrindo. Mentalmente sorrindo. Quase. Mais ou menos.

Naquela aula, Levi deixou com que os alunos terminassem seu relatório, enquanto os alunos que já haviam terminado (Armin, Marco, Marlowe e Ruth) foram autorizados a fazer deveres de outras aulas, contanto que ficassem em silêncio. Levi tirou várias dúvidas, sabendo que era um tema particularmente difícil – poesia. Naquela quinzena, ele não escolheu um livro específico, mas deixou com que os alunos escolhessem um dos poemas que ele selecionara em um grupo. Assim, a aula terminou com velocidade.

Ao fim da aula, depois do sinal bater, os alunos saíram lentamente, preparando-se para – Levi sabia – ir à aula de Erwin. Os quatro últimos a sair foram Eren, Mikasa, Armin e Mylius. Porém, Levi ouviu Eren dizer: “Pessoal, vão indo na frente que eu preciso falar com Leviatã. Mikasa, você pega meu livro no armário?”

“Senhor Yeager”, Levi disse quando o rapaz reapareceu pela porta, fingindo não ter ouvido a menção ao seu apelido. “Algum problema? Você não quer chegar atrasado à aula de Erwin, quer?”

“Não, professor Ackerman, é que eu tenho uma dúvida”, ele falou lentamente.

“Sobre seu poema? Eu percebi que você não me perguntou nada durante a aula”.

“Bem, é que esse poema... é bem estranho”.

“Por que estranho?”, Levi disse. Ele sabia que o rapaz se referia a ‘Fire and Ice’, de Robert Frost. Lembrou-se daquelas palavras, que tanto lhe marcaram na primeira vez que lera.

Some say the world will end in fire,
Some say in ice.
From what I’ve tasted of desire
I hold with those who favor fire.
But if I had to perish twice,
I think I know enough about hate
To say that destruction ice
I also great
And would suffice

(Alguns dizem que o mundo terminará em fogo,
Alguns dizem em gelo.
Pelo que eu já experimentei de desejo
Eu fico com aqueles que favorecem fogo.
Mas se eu tivesse que perecer duas vezes,
Eu acho que eu sei suficiente sobre ódio
Para dizer que a destruição pelo gelo
Também é ótima
E seria suficiente)

“Bem, eu conhecia o poema de antes de você passar o trabalho e-”.

“Conhecia? Espero que não seja por causa de Crepúsculo”, Levi disse.

“Ei, tenha um pouco de confiança em mim”, Eren protestou. “Conheço por causa do George RR Martin e ‘Uma Canção de Gelo e Fogo’. Enfim, isso não é importante. Eu sempre achei que o fogo representasse o ódio, mas nesse poema o fogo representa o desejo?”

“Bem... O fogo representa emoções intensas. Ele diz desejo, mas poderia ser paixão, desespero...”

“Mas o ódio é intenso! E ele fala como se o ódio fosse gelo”.

“É?”, Levi estava curioso. “Bem, você talvez esteja confundindo ódio com raiva. Eu penso no ódio como um sentimento gelado, quase inerte. É muito fácil odiar sem perceber e ele dura mais, enquanto a raiva queima rápido e logo se extingue. Ele falou em ódio, mas poderia ter dito depressão ou até amor”.

“Então o poema é sobre como as emoções ‘de gelo’ duram mais, embora as de fogo pareçam mais intensas?”

“Acho que é um caminho a se pensar”, Levi disse. “Mas eu espero que você chegue ao seu caminho sozinho. Eu estou aqui só para te explicar estrutura e te dar um empurrãozinho. Diga-me, senhor Yeager, você acha que o poema é sobre isso?”

“Eu acho que é sobre a batalha entre sentimentos. Tipo, o fim do mundo é uma batalha interna na pessoa?”

“E o que esse pensamento te faz sentir?”

“Um pouco... triste. É como se fosse um mundo atormentado, sabe? De pessoas... atormentadas”, ele disse a última parte baixinha. Levi pensou no que o menino passara. Era quase cômico pensar que aquela criança, agora tão vulnerável em sua frente, havia matado duas pessoas para salvar uma amiga. Percebeu que talvez a dúvida não era sobre o poema em si, mas sobre o que ele sentia ao lê-lo. Porém, Levi foi incapaz de formular uma fala, antes de Eren virar de costas e sair lentamente.

“Ei, Yeager”, ele finalmente chamou. O rapaz se virou. “Lembre-se de uma coisa: todos nós temos fogo e gelo dentro de si. Todos nós temos atitudes boas e ruins e outras que nem sabemos como classificar no espectro. O ser humano é contraditório. Mas, no fim das contas, a maioria das pessoas é essencialmente boa. E embora sempre achemos que estamos sozinhos na multidão... Bem, você se assustaria em saber como nós, a humanidade, estamos juntos nessa”, Eren o fitou por uns instantes. “Se você precisar de algo, fale comigo”, acrescentou. Eren deu um sorriso frágil e saiu pela porta.

Levi se levantou e olhou pela janela. O rosto, uma máscara sem sentimentos. Ou melhor, escondendo seus sentimentos. Como sempre.


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Notas finais do capítulo

Minha reações com os principais ships do Levi:
Levi x Erwin - OTP
Levi x Petra - tão fofos *-*
Levi x Hange - definitivamente tem uma grande química
Levi x Eren - ECA
Levi x Mikasa - ECA 2
Levi x Sasha - Isso realmente existe?



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