Sobre amor, amizade e confiança escrita por bersange


Capítulo 15
O primeiro passo


Notas iniciais do capítulo

Eu gostei muito desse capítulo também, embora tenha dado trabalho na revisão.



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O primeiro passo é admitir.

Eren nunca esteve tão irritadiço na sua vida. Mikasa decidiu agir como uma maluca, ignorando-o do nada. Conversando com Jean e os outros rapazes. Dando risadas das coisas imbecis que eles falam. Ela deveria estar dando risada das coisas imbecis que ele fala! Eles não se falam propriamente há alguns dias. As pessoas perceberam.

Tio Hannes lhe zoou moderadamente (“já dormindo no sofá, rapaz?”, ele perguntou quando Eren estava deitado vendo televisão após desistir de se concentrar no dever de química). A tia Hannes teve a gentileza de não mencionar nada, embora Eren estivesse ciente de seus olhares preocupados, direcionados para Mikasa e para si. Armin era o mais irritante de todos, frequentemente falando como se estivesse em um degrau superior. Como se ele estivesse acima de todos, inclusive Eren e Mikasa e suas brigas mesquinhas. Exigiu muito controle ignorar o amigo e não começar a xingá-lo.

Na escola, os primeiros a notarem foram Reiner e Bertolt. Ele passou a andar muito mais com os dois e com Annie. Mikasa preferia andar com Sasha, Mina, Krista e Ymir – o que não era tão ruim. Apenas quando ela andava com um dos rapazes que pateticamente tentavam cortejá-la, como Jean, Mylius ou Thomas Wagner que Eren sentia como se um bicho dentro de si acordasse. Ele quase tinha vontade de entrar numa briga. Fazia um bom tempo que ele não tinha uma sadia troca de socos com alguém. Armin ficava flutuando entre fazer companhia a Mikasa e a Eren.

“Então, problemas no paraíso?”, perguntou Reiner, pouco antes da aula de biologia começar. Ao ver a cara de interrogação de Eren, adicionou: “Você está de mal com a Mikasa?”

“E-eu...”, Eren hesitou. Decidiu não contar para ninguém. “Não, estamos excelentes”.

“Vocês quase nunca estão juntos”, Bert notou. “Só no ônibus na hora da decida, e isso porque são vizinhos!”, ele concluiu. O trio nunca contou a ninguém sobre a sua situação de moradia.

“É muito estranho, porque vocês pareciam a sombra um do outro e agora parecem que não querem nem ficar no mesmo recinto juntos”, Reiner concordou. Annie, sentada ao lado de Eren, fungou o nariz.

“Ei, eu não posso passar tempo com meus outros amigos?”, Eren fez um gesto para Annie, Bertolt e Reiner. “Mikasa e eu continuamos ótimos... amigos”. A palavra pareceu estranha em sua língua. Como se tivesse o som errado. Mais uma vez, Eren se via confrontado pelos seus sentimentos nada fraternais por ela. Mais uma vez, ele lutou contra si para escondê-los.

“Se você diz”, Reiner deu com os ombros e se voltou para a professora Zoë, que conversava animadamente com Marlowe, Boris e Hitch na frente da sala, ainda sem começar a aula. Bertolt encarou Eren por mais uns instantes antes de desviar o olhar. Eren então olhou para Annie, que parecia entediada ao observar a professora Biruta. Eren, porém, ficou com a estranhíssima sensação de que ele estava sendo observado pela amiga.

Depois teve aula de álgebra, onde receberam as notas das provas. Ele e Annie ficaram com notas máximas. Naquela aula, Eren se sentou com atrás de Armin e na frente de Sasha, com Connie ao lado dela. Este acabou de retornar ao seu lugar, depois de ter ido agradecer a Krista pela sua nota. “E, Armin, eu não me esqueci de você, cara. Muito obrigado também”, ele disse ao se sentar. Armin virou para trás e agradeceu. “Ei, Eren, Mikasa também tirou nota máxima”.

“Hum”.

“Agora, eu só preciso tirar uma nota razoável em geometria e meu semestre de matemática está salvo”, Connie adicionou. “Mas por que a Mikasa está sentada tão longe de você?”

“Hã?”

“Agora que a ficha me caiu. Por que você está aqui e ela lá? Agora que eu penso nisso, ontem vocês também não sentaram juntos. E nem anteontem”.

“E nem sentaram juntos no almoço”, acrescentou Sasha. “Eu me lembro disso porque a Mikasa me deu o resto do purê dela. Não sem antes Ymir fazer uma piada sobre a história das batatas”, ela disse com uma careta. Eren, mesmo irritado ao falar sobre Mikasa, teve que segurar uma risada. A mitológica história das batatas!

“Eu, hã, nem percebi”, Eren disse. “Acho que foi apenas uma coincidência bizarra”. Armin tossiu tão dissimuladamente que irritou Eren. Em resposta, ele deu um tapão nas costas do amigo, com força suficiente para tirá-lo de eixo. “Opa Armin, pensei que você estivesse engasgando”.

Mina Carolina – que estava do lado de Eren – e Nac Tias – sentado na frente dela e do lado de Armin – começaram a rir. Seguidos por Connie e Sasha. Eren olhou para a janela, distraído. “Valeu pela ajuda, Eren”, Armin disse, sem graça.

“Enfim, eu só queria saber se você está bem com ela?”, Connie disse, apontando para Mikasa que estava mais no fundo da sala, com Ymir e Krista. Eren apenas confirmou com a cabeça, antes de olhar distraidamente pela janela. A verdade era que sentia falta de Mikasa. Sentia como se não fosse natural que eles ficassem separados.

Depois da aula de álgebra, foram almoçar e depois tiveram um tempo vago. Eren, porém, foi chamado para a sala de Petra Ral. Ele quase esperou que o assunto da conversa fosse sua rusga com Mikasa, ainda mais quando viu Hannes na sala também. Ainda estavam por perto os professores Levi e Erwin, a pedagoga Nanaba e o diretor Zackly.

“O-oh”, Eren disse baixinho.

“Não se preocupe, você não está encrencado”, Petra sorriu. Os rostos dos outros, porém, permaneciam graves e sérios. Eren engoliu o seco.

“Senhor Yeager”, disse o diretor, esticando sua mão. “Prazer em conhecê-lo, embora deva admitir que gostaria que a situação fosse menos delicada. Vou tentar ser rápido e simples. Devido suas condições especiais, sua matrícula foi aceita sem nenhum problema aqui. Porém, certas correntes dentro da escola se sentem inseguras com sua presença devido ao seu peculiar passado. Infelizmente essas correntes tem voz. Então, chegamos numa medida para acalmá-los”.

“Vocês vão me expulsar?”, disse Eren, com o coração batendo a mil no seu peito. Muitas coisas o assustavam. Falar de seu passado, falar do seu passado diante dos professores e falar dele tão casualmente. Oras, ele havia imaginado que o diretor Zackly sabia do que ele fez e suspeitava que Petra também, visto que ela precisa acompanhar esse tipo de coisa. E, claro, Hannes também sabia. Mas o porquê de Erwin e Levi estarem na sala era desconhecido ao garoto. “E a Mikasa? Vocês não podem me expulsar, nós-”.

“Ei, senhor Yeager”, interrompeu Levi. “Aprenda a escutar. E a falar apenas quando deve. Fique quieto e escute o diretor”.

“Levi, não há motivo para dar uma bronca no garoto”, Zackly disse em tom pacificador. “Sinto se te assustei, senhor Yeager. Você não será expulso, nem sua namorada. Vocês dois serão obrigados a fazer sessões com a senhorita Ral e com a senhorita Nanaba. Como se fosse uma terapia”.

“Eu sei que é chato, Eren”, Petra disse calmamente. Ele notou que ela usara seu nome em vez de chamá-lo de senhor Yeager. “Mas pode gerar bons frutos. Sei que vocês dois chegaram a fazer terapia, mas logo saíram. Retornar a ela é aconselhável. Além disso, pode ser bom por outros motivos. Você não precisa sequer falar do passado, apenas do que está acontecendo”.

Eren ficou pensativo antes de falar. “Então eu e Mikasa vamos ter que fazer terapia?”

“Sim, basicamente”, ela olhou de relance para Zackly antes de continuar. “Mikasa terá sessões com Nanaba e você terá sessões comigo. Nós temos diploma na área, não se preocupe. E só será uma vez por semana, exceto se algo excepcional acontecer”.

“Quando?”

“Apenas depois das férias do meio de ano”, Petra disse. “Não queremos atrapalhar suas provas também”.

“Bem, alguma dúvida?”, Zackly perguntou.

“S-sim”, Eren hesitou. “Quem é que... se sente ameaçado por mim?”

Erwin e Levi trocaram olhares, mas seus rostos não entregaram nada. Petra e Nanaba pareceram desconfortáveis. Zackly pareceu surpreso com a pergunta. Hannes, com evidente infelicidade, foi quem respondeu: “A associação de parentes e ex-alunos. Mas não se preocupe com eles. Faça sua parte e logo eles te esquecerão”.

“Certo”.

“Bem, senhor Yeager, você está liberado”.

“E quanto-”

“Mikasa?”, Hannes adivinhou. “Chamaremos ela logo em seguida, não se preocupe”.

Eren saiu de sala e vagou pela escola, desnorteado. Ouviu Mikasa sendo chamada pelos autofalantes. Foi quando uma ideia se iluminou em sua cabeça: Armin. Ele saberia o que fazer. O achou nos armários, conversando amistosamente com Connie e Sasha.

“Ei, Eren, entrou em alguma encrenca?”, Sasha perguntou. Então os três perceberam a expressão do amigo. “O que foi?”

“Eu, hã... Nada... Eu acho que... Armin... Estão te chamando. O Hannes... O professor Hannes, digo. Ele, hã, pediu... que eu te chamasse”, o rapaz balbuciou, tentando ficar a só com o amigo.

“Ah, certo”, Armin então seguiu Eren pelos corredores do colégio. Quando estavam afastados, ele voltou a falar. “O que foi, Eren? Algo ruim aconteceu?”

“Ah, você já ouviu falar na Associação de Pais e Ex-Alunos daqui?”

“Eles tem uma Associação de Pais e Ex-Alunos? Que irado!”.

“Não para mim”.

“Como assim?”

“Eles se sentem ameaçados. Pelo que eu fiz e pelo que Mikasa fez”, Eren sentiu lágrimas brotarem nos seus olhos. “Malditos filhos da puta. Eu faria de novo. Eu faria mil vezes por ela”.

“Eren, melhor não falar isso para muita gente”, Armin disse, olhando para os lados. “Eles se sentem ameaçados com você, e daí?”

“Daí que eu vou ter que fazer terapia depois das férias, como se eu fosse algum tipo de retardado mental”.

“Ei, terapia não é motivo de vergonha”.

“O diretor Zackly disse que era um jeito de acalmar os ânimos deles. Vou ter que ver a senhorita Ral uma vez por semana”, os punhos de Eren se fecharam. “Eu me pergunto se eles seriam tão cruéis com os animais que pegaram o senhor e a senhora Ackerman e... que queriam... pegar...”

“Eu, eu sei”, Armin colocou a mão no ombro de Eren. “Não se preocupe, tudo vai ficar bem. Agora, como Mikasa reagiu?”

“Eu não sei, só a chamaram depois de me liberarem”.

“Vamos esperá-la, então”, Armin disse e partiu em direção a sala de Petra. Eren o seguiu hesitante. Assim que chegaram em frente a porta, Mikasa estava saindo por ela, parecendo ter visto um fantasma.

“Mikasa! Eren me contou tudo”, Armin disse, aproximando-se. “Você está bem?”

“Estou”, ela disse com uma voz fria, mas com a expressão ainda assustada. Algo na voz dela fez a raiva crescer dentro de Eren. Ele demorou a entender o motivo. Finalmente percebeu: nos últimos dois dias, estas foram as primeiras palavras que ela trocou com ele. Ela havia parado de falar com ele e nem se deu o trabalho de dizer a razão. Eren virou de costas lentamente e saiu pelo corredor, quase em transe. Pensou ter ouvido Armin o chamar. Pensou ter ouvido a voz de Mikasa dizendo algo.

Estava com raiva dela por tê-lo ignorado. Estava com raiva de si por estar fazendo o que fazia. Estava com raiva de Armin, porque era um alvo fácil. Estava com raiva da tal Associação, por existirem. Estava com raiva. Muita raiva.

Entrou no banheiro masculino. Lavou o rosto e se olhou no espelho. Aquele garoto de treze anos que o olhava de volta havia matado duas pessoas. E nunca sentiu remorso. Ele salvou uma pessoa que, ele percebia, era absurdamente importante. Por mais que estivesse magoado com ela, não podia negar mais. Ele amava Mikasa. Não como uma irmã. Não como uma amiga. Era como se ela fosse um pedaço de si.

Lembrou-se do que acabara de fazer. Mikasa tinha mantido a compostura, mas Eren sabia que ela estava desolada pelo que ouviu do diretor. “Eu sou um filho da puta”, disse baixinho. Ao pegar papel para secar as mãos, a raiva finalmente explodiu e ele desferiu um soco no aparato. De inox, o porta-papel amassou bastante. Eren pode ver seu reflexo deformado nele.

“Yeager?”, uma voz perguntou de trás. Alguém saíra de um dos boxes. Ao se virar, viu Jean Kirstein. Ah, que sorte maravilhosa! “Você está bem?”

“Não”, Eren respondeu e saiu, sem ouvir o que Jean teria a dizer depois. Foi até o seu armário, pensando em pegar sua mochila e fugir dali. Hesitou e se acovardou. Era melhor não se meter numa encrenca. De certo modo, a escola se mostrou em seu lado. Com raiva, fechou a porta de seu armário e foi até a sala de Eld Jinn, o professor de Filosofia. Ou Jinntama, como alguns alunos chamavam. Eren não sabia de onde havia surgido tal apelido.

A sala estava vazia e aberta, então Eren se sentou em um lugar aleatório e ficou de cabeça baixa. Permaneceu nessa posição até o fim da aula. Ao se encaminhar para a aula de geografia de Dennis Eibringer, o Pimentinha, sentiu uma mão no ombro. Era Armin. “Eren, espere!”. Eren puxou o ombro para si, evitando o contato. Não queria levar uma bronca de Armin naquele momento.

A aula de geografia se passou no mesmo ritmo da aula de filosofia, com Eren de cabeça baixa e alheio ao mundo. Ao sair da sala depois que o sinal bateu, se deparou com Hannes. “Hoje vocês vão voltar comigo”, ele disse. Eren deu com os ombros. Não se importava.

Eren sentou no banco da frente e ficou olhando pela janela, vagamente ciente que Hannes conversava com Armin e Mikasa. Ao chegarem na frente da casa, Armin e Mikasa logo desceram, mas Hannes segurou Eren pelo ombro.

“Qual o seu problema?”, ele parecia irritado.

“Ah, você não sabe?”, Eren devolveu.

“Não é isso. Porque você está agindo que nem um boçal com a Mikasa?”

“Como um boçal?”, Eren indagou com um misto de choque e raiva.

“Armin me contou”, ele explicou. Antes que Eren falasse algo, ele adicionou: “Eu sei que vocês estavam agindo estranho antes, eu não sou idiota. Armin me disse que um estava com ciúmes do outro”.

“Ciúmes? Então é por isso que ela estava chateada comigo? Porque ela não fez questão de me contar...”

“Então por isso que você está agindo como um boçal? Por vingança?”

“Vingança?”, Eren perguntou surpreso. “Eu não...”

“Armin disse que ela pensa que você a culpa. Que você se arrepende de ter a salvado. Que ela estragou tudo. Você quer que ela pense isso?”

“Não!”, Eren falou com horror. Não era possível que Mikasa realmente achasse isso. Era?

“Você quer que ela pense que você preferia que ela estivesse morta?”

“Não!”

“E por quê?”

“Porque eu... eu a amo”, Eren admitiu. Era a primeira vez que falava sobre isso em voz alta.

“Ama, é? Que jeito engraçado de demonstrar. Não só você, mas enfim... Eu acho que você deveria ir lá e falar com ela. Explicar que você foi idiota, que estava magoado e pedir desculpas. Se você for sincero, ela vai te perdoar. E vai pedir desculpas também. Ela sabe que estava errada também. Ao contrário de você, ela decidiu escutar Armin”.

“Eu, hã, certo”, Eren disse. Pela segunda vez no dia, sentia lágrimas brotarem nos seus olhos.

“E talvez seja hora de ser honesto com ela sobre seus sentimentos. Já está ficando ridícula essa tensão se-... Digo, tensão romântica”.

“Mas... você sabia?”

“Não sou cego, Eren. É óbvio que vocês se amam. Como não poderiam? Vocês nasceram juntos, cresceram juntos. Passaram pelo que passaram juntos. Eu não me lembro de ver vocês dois separados. Seus pais e os pais dela brincavam sobre isso... antes das coisas... desandarem. Vocês estavam fadados a ficar juntos antes de falarem a primeira palavra”.

“Mas é que... eu deveria protegê-la. Ela não é... minha irmã?”

“Hã?”

“Minha irmã? Ou não? Eu acho... confuso”.

Hannes o olhou com extrema piedade. Eren nunca se sentiu tão pequeno, tão infantil e tão vulnerável na vida. “Entendo. É confuso para você. É confuso para ela. Diga-me: você a considera mesmo uma irmã? Ou como uma amiga? Ou como algo mais? Do fundo do seu coração, só me responda isso”.

“Não, eu não considero ela uma irmã”, Eren admitiu quase sem fôlego.

“Então pronto. Ninguém vê vocês dois desse modo. Não se preocupe. Você não precisa se arrepender por gostar da garota”, ele colocou a mão no ombro de Eren. “Você vai falar com ela agora?”

Eren nem respondeu. Abriu a porta do carro, já estacionado na garagem e correu para dentro de casa. “Mikasa! MIKASA!”, Eren berrou. Passou por Armin, na sala, mal notando que havia esbarrado. Mikasa estava em seu quarto, com a porta aberta. Estava sentada na cama. Eren entrou no quarto como um furacão. Assim que Mikasa o olhou, ele se jogou em sua direção, lágrimas nos olhos. Ela caiu de costas na cama, surpresa, com Eren a abraçando.

“Eu... me desculpa, me desculpa, me desculpa! Eu só estava chateado porque você não estava falando comigo, eu estava ficando maluco. Eu nunca... Nunca! Jamais vou me arrepender de ter te salvado. Eu faria de novo mil vezes se fosse necessário! Eu... me desculpa!”

“Eren!”, ela disse fraquinho.

“Mikasa, me desculpa, eu só estava com raiva, com ciúmes, eu...”, ele perdeu a fala por um instante, sem saber como continuar.

“Claro que eu te desculpo...”, ela então falou. “Eu fui boba também, eu estava com ciúmes”.

“Ciúmes de quê?”

“Da Annie”, Mikasa admitiu. Eren havia afrouxado o abraço e a encarava, ainda com seu corpo por cima. Nenhum dos dois notava que Armin e a senhora Hannes estavam parados na porta do quarto, olhando a cena, divertidos. “Ela gosta de você, não só como amigo”.

“Mikasa, eu não me importo se ela gosta ou não”, Eren admitiu. “Ela é legal, mas não é você. Você é a única garota que eu gosto desse jeito, Mikasa. No passado, no presente e no futuro...”

Eren ouviu alguém suspirando atrás dele, mas não se importou. Olhava nos olhos de Mikasa. Quase podia ver sua alma.

“Você gosta de mim?”

“Não, mais do que isso. Mikasa, eu te amo mesmo”. Eren sentiu como se um peso enorme fosse tirado de seu peito. Observou atentamente Mikasa, cujas bochechas estavam no mais belo tom de rosa.

“Eu também. Eu também te amo, Eren”, ela disse e subiu a mão para a parte de trás de seu pescoço. Eren aproximou seu rosto e se beijaram finalmente. Tempo demais havia passado até ali. Treze anos sem admitir o quanto amava alguém. Por que eles esperaram tanto? As dúvidas de antes pareciam tolas e infantis, ao olhar em retrospecto. Ali era o lugar que Eren queria estar.

“Ahem”, a voz da senhora Hannes chamou sua atenção. Eren virou rápido e se deixou cair na cama, ao lado de Mikasa. “Por mais que ache essa cena meiga, acho que é meu dever como responsável de lembrar que vocês têm apenas treze anos e que tem toda uma vida pela frente? Acho que pegaria muito mal a memória dos seus pais uma gravidez na adolescência, não acham?”

“Tia!”, os dois exclamaram juntos, chocados. Armin, ao seu lado, ria. Hannes, que havia se aproximado, também estava rindo.

“Venham para a sala agora e vamos discutir esse... namoro”, ela disse. Seu tom era sério, mas também havia traços de divertimento em sua voz. Eren e Mikasa a seguiram.

Depois da mais desconfortável conversa da vida dos dois, Eren e Mikasa ficaram sentados no sofá, com braços entrelaçados. Ela repousava a cabeça em seu ombro e os dois assistiam a um filme qualquer. Armin apenas deu um sorriso malicioso, mas os dois o ignoraram.

Estavam alheios ao mundo por um instante. Por uma noite.


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Notas finais do capítulo

O momento de Eren se encarando pelo espelho e depois trocando rápidas palavras com o Jean foi um dos meus favoritos



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