Creme e Açúcar escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

A história se passa logo após o 7x10.

Ah, e não levem nada disso muito a sério porque a maioria das coisas aqui provavelmente não faz sentido mesmo. Eu sou PÉSSIMA em ligar os pontos da série.



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Mona lembrava-se da onda de dor que a atingira quando seu ex-namorado de pelo menos três eras atrás a esfaqueara na parte mais baixa de suas costas; lembrava-se de agonizar no chão daquela cabana sozinha por alguns minutos, enquanto seu celular tocava incessantemente; e, claro, ela se lembrava de chorar porque obviamente não tivera forças para levantar e atendê-lo.

   Minhas boas intenções acabarão como lixo, ela pensara, enquanto sua visão ficava ainda mais embaçada, mais uma vez. Afinal, ela tivera uma única missão, e não conseguira cumpri-la. Entretanto, ela não começara a se preparar para receber uma bronca de imediato, pois ela realmente achara que jamais sairia viva dali.

   Só que, enquanto suas pálpebras fechavam-se lentamente, Mona ouvira alguém arrombar a frágil porta de madeira; alguém que ela jamais pensara que viria salvá-la.

   Ela fora carregada até uma maca pelo garoto, que sentara-se ao seu lado na ambulância, com os antebraços apoiados nos joelhos. Nos olhos castanhos dele, lia-se: as coisas estão bem feias.

   Noel fora decapitado em uma casa abandonada, contaram-na assim ela saíra da UTI – na tarde seguinte –, e sua cabeça rolara escadas abaixo, encarando três das quatro garotas, como em um filme B de terror. Mona quase rira ao escutar tal informação, porém começara a chorar de novo em seguida porque a quarta garota, a que não tivera a chance de olhar nos olhos sem vida de Noel Kahn, levara um tiro no peito e estava, naquele exato momento, em uma cama de hospital também, só que com apenas doze por cento de chance de sobreviver.

   A dor que atingira Mona ao ouvir a última informação fora maior do que qualquer outra física que ela já tenha sentido em sua vida.

   Caleb era quem a estava mantendo à par de tudo, cabisbaixo porém com olhos surpreendente-

mente secos. Mona não sabia se ele estava cansado de chorar ou se ainda não tinha se dado permissão de fazer isso. De qualquer jeito, ele estava fazendo um ótimo trabalho em não deixar o desespero tomar conta de si.

— Noel não foi quem atirou em Spencer – Caleb informou enquanto um mantra não parava de ecoar na mente de Mona (é minha culpa, é minha culpa, é minha culpa). – E mesmo se ele tivesse sido...

— Eu acredito que auto-depreciação é, às vezes, importante para o amadurecimento do ser humano – Mona cortou-o, um tanto secamente. – Você se importa?

   Caleb pareceu ignorar a aparente necessidade de Mona de sentir-se aflita a respeito do destino de alguém a quem ela conhecia tão pouco, e ao mesmo tempo tanto. Alguém que sempre parecera ser quase que literalmente inquebrável e intransponível; alguém a quem Mona havia falhado em proteger.

— Não foi culpa sua – Caleb alcançou a mão de Mona.

   O toque dele causava certa estranheza a ela, obviamente, porém algo a impediu de quebrar o contato. Caleb provavelmente conseguiu ler tal estranheza nos olhos de Mona, porque em seguida soltou a mão dela.

   Por que está sendo legal comigo?, Mona queria perguntá-lo, a respeito do dia anterior também, sem joguinhos de superioridade. Ao invés disso, ela apenas pregou seus olhos nos dele.

— Acha que somos capazes de nos importar com alguém sem saber?

   Caleb fitou o chão branco daquele quarto de hospital por um segundo e seus lábios se curvaram em um sorriso pequenino. Assim que o garoto levantou o olhar novamente, Mona não soube dizer se falava apenas de Spencer.

— Sim, acho.

   A mãe de Mona adentrou o quarto no momento em que Caleb estava saindo. Ambos sorriram um para o outro e Caleb tocou carinhosamente o ombro de Leona antes de fechar a porta. Leona olhou por cima do mesmo ombro e o sorriso ainda permanecia em seu rosto. Mona conseguiu ler a mente de sua mãe facilmente. Ele parece ser um menino tão gentil.

   Em um primeiro momento, Mona pensou que aquilo fosse apenas gratidão pois Caleb havia trazido-a até o hospital, mas o olhar no rosto de Leona parecia ser o mesmo que a maioria dos pais tinha quando queria dizer que aprovava a pessoa que seu filho ou filha havia começado a namorar.

   A mente de Mona entrou em alerta amarelo. Ah, não, ela quase disse a sua mãe, você nem pense nisso. Já existem garotas demais orbitando ao redor desse cara. O ego dele não precisa ser ainda mais inflado.

   Felizmente, a conversa tomou um rumo completamente diferente.

— Sabe o que é engraçado? – Leona perguntou no tom mais casual possível e não esperou por uma resposta – Desde que Caleb chegou com você nesse hospital ontem, eu não consegui parar de pensar no menininho de James.

   O sangue de Mona gelou no mesmo instante; isso acontecia todas as raríssimas vezes que ela ouvia o nome de seu pai. Talvez a conversa sobre namoro não fosse ser tão desconfortável assim, afinal.

   O fato era que o pai de Mona havia tido um filho antes de ele e Leona começarem a namorar; tal menino também se chamava Caleb e a diferença de idade entre ele e Mona era de alguns meses, um ano no máximo.

   A existência de seu meio-irmão nunca fora um segredo para Mona – embora ela nunca tenha chagado a de fato conhecê-lo –, mas a verdade era que ela não pensava em seu pai, para começo de conversa; consequentemente, ela também não pensava no fato se ter sido a segunda cria dele.  

   O que havia para pensar, aliás? Nada. Mona não lembrava dele. Ele havia ido embora quando ela tinha mais ou menos dois anos e nunca mandara um mísero cartão de Natal. Ele e Leona não haviam se casado, então Mona nem ao menos herdara o sobrenome dele – não que isso fosse fazer alguma diferença, é claro.

   Porém, assim que a sensação de estranheza – por ter sido forçada a pensar naquilo tudo tão de repente – se começou a se dissipar dentro dela, Mona percebeu que, pela primeira vez em sua vida, não se sentia indiferente em relação a tal assunto.

— É engraçado mesmo – replicou ela baixinho, sentindo-se um tanto esperançosa, na verdade.

   Quando Hanna veio visitá-la, mais tarde naquele dia, o coração de Mona martelava por qualquer tipo de resposta concreta.

— Eu soube que Spencer saiu bem da cirurgia número dois – a morena sorriu assim que a loira parou ao lado de sua cama.

— Sim. Ela vai fazer outra amanhã cedo, mas por enquanto ela está estável – Hanna deu uma leve risada. – Ela continua sendo uma Hastings, mesmo que parcialmente, então ela vai continuar desafiando todo mundo, inclusive a morte.

   Por mais que Mona estivesse incrivelmente aliviada em relação a Spencer, ela só conseguiu dirigir sua atenção às palavras Hastings e parcialmente. Deus, as vidas de todos eles não eram nada além de uma novela bastante doentia.

— Han? – Mona chamou-a delicadamente, esperando poder tocar em um outro assunto talvez igualmente surpreendente – Eu sei que isso vai soar muito, muito estranho, mas você se lembra de quando Caleb pegou a estrada na tentativa de encontrar o pai dele?

   Hanna levou alguns segundos para assimilar aquela pergunta.

— Sim – ela franziu as sobrancelhas. – Por quê?

   Mona respirou fundo, evitando contato visual por um momento. Ela estava, por alguma razão, com medo de soar arrogante.

— Não me lembro de você ter me dito o nome dele. É claro, você não tinha por que fazer isso, isso não diz respeito a mim. Eu só estou curiosa.

   Hanna deu de ombros e sorriu novamente.

— Eu nunca te contei porque você nunca pediu – ela falava exatamente como Leona; como se aquilo tudo fosse a coisa mais casual do mundo. – É Jamie.

   Mona encarou o lençol branco que a cobria da cintura para baixo enquanto absorvia aquela resposta, que obviamente não era nenhum teste de DNA, mas estava a duas letras de pertencer a um pai em comum. Ela riu para si em seguida, enquanto lágrimas se agrupavam no fundo de seus olhos.

— O que foi? – os olhos de Hanna encheram-se de preocupação – Por que a pergunta?

   Mona respirou fundo outra vez.

— Eu te falei do meu pai apenas uma vez quando éramos pequenas, se não me engano – ela esperou um segundo para ver se Hanna conseguia se lembrar do nome. A loira franziu as sobrancelhas novamente, como se tentando descobrir o que uma coisa tinha a ver com a outra, então Mona continuou. – James Doyle.

   Um silêncio pesado se instaurou ao redor delas assim que Mona pronunciou o sobrenome do homem. Os olhos de Hanna arregalaram-se e seus lábios se partiram em surpresa ligeiramente.

— Você está dizendo o que eu acho que você está dizendo?

   Mona assentiu.

— O desgraçado deixou Caleb, depois deixou a mim – ela afirmou calmamente, embora não sabendo de onde viera aquele insulto. Ela não tinha desejo algum de ver ou falar com seu pai, mas ela não classificava isso como ódio ou raiva. – Ou seja, ele tem diploma em abandono infantil.

— E depois ele roubou dinheiro de dentro da caixa de doações de uma igreja! – Hanna emendou, aparentemente indignada agora também.

   Uma risada bem mais real escapou de Mona. Seria tudo muito engraçado se não fosse tão ridículo.

— Disso eu não não sabia.

   Hanna sacudiu sutilmente a cabeça, exatamente como costumava fazer quando era mais nova e dizia algo adoravelmente bobo sem querer.

— Esqueça – ela, então, sentou-se cuidadosamente na beirada da cama hospitalar de Mona, agarrando uma das mãos da morena. – Ele realmente é um desgraçado.  

   Mona cedeu a mais uma risada.

— Obrigada.

   Hanna acariciou as costas de uma das mãos de Mona com um polegar.

— Deus, Mon, por que isso não foi esclarecido mais cedo? – a loira perguntou, suavemente – Vocês não precisavam ter se odiado por tanto tempo.

   Mona baixou o olhar novamente, desta vez para suas mãos nas de Hanna, e repensou em quanto tempo havia gastado fuzilando Caleb com o olhar; sentindo ciúme de um garoto que havia sido abandonado pelo mesmo homem que a abandonara.

— Eu sei – Mona devolveu o carinho nas mãos de Hanna. – Mas acho que não é tarde demais.

   Alguns dias depois, Mona estava liberada do hospital e pronta para contar a Caleb a sua versão de toda a história. Spencer havia acordado, todos estavam menos tensos e parecia o momento certo para que Mona pedisse por um exame de DNA, ainda secretamente – Hanna sendo a única a saber –, afinal não havia motivo para alarmar mais ninguém de antemão.

   Caleb não se exaltou enquanto Mona contava-o todo o pouco que ela sabia sobre James, não chamou-a de Mona Maluca, nem ao menos estreitou os olhos na direção dela. Ele basicamente a escutou com a testa levemente franzida – o que Mona já sabia que significava apenas que ele estava prestando atenção – e concordou sem resistência alguma em fazer o exame.

   Algo dizia a Mona que a possibilidade de os dois compartilharem do mesmo sangue não era tão nova para ele como era para ela.

   Na manhã seguinte, eles sentaram-se lado a lado em um laboratório na Filadélfia enquanto cotonetes deslizavam pelo interior de suas bochechas. E, finalmente, quarenta e oito horas depois, eles sentaram-se lado a lado no safá da sala de Leona Vanderwaal, enquanto esta estava trabalhando.

   Não importava quanto tempo passasse, a mãe de Mona nunca deixava de dizer a ela que aquela casa continuaria sendo sempre sua também, então a morena tomou a liberdade de fazer café para si e Caleb, lembrando-se de que o garoto gostava do seu com uma quantidade quase que nauseante de açúcar.

   Ambos tinham uma cópia dos resultados em mãos.

— Bem – Caleb suspirou, largando sua folha de papel ao lado de sua caneca de café na mesinha de centro –, aí está.

   Mona riu brevemente, também largando sua cópia ao lado de sua caneca.

— Sabe qual é a pior parte disso tudo? – perguntou enquanto fitava seu meio-irmão, não sabendo direito de onde vinha ou como conter uma enorme felicidade.

   Caleb esticou um braço e pegou um pequeno bule de porcelana, parecido com o que havia naquela cafeteria alguns dias atrás, e despejou um pouquinho de creme no café da morena.

— Qual?

   Mona tomou um gole de seu café.

— Eu acabei de me lembrar daquela noite em que nós nos beijamos pra tentar enganar a Melissa. E agora eu meio que quero escovar os meus dentes. Por, tipo, meia hora, sabe?

— Uau, muito obrigado – Caleb brincou, tendo certa dificuldade em conter uma risada. – Eu realmente precisava lembrar disso.

— Não, é sério – Mona emendou. – Eu provavelmente vou desenvolver algum tipo de TOC.

   E então a sala encheu-se com as gargalhadas dos dois, que, de acordo com Mona, combinavam tão bem quanto creme e açúcar.

   Durante aquele momento, o que os dois haviam vivido no passado pareceu pequeno, muito, muito pequeno; microscópico até, ou talvez inexistente. E no final dele, ambos tinham lágrimas nos olhos, talvez causadas pelo acesso de riso, ou talvez causadas por tal reencontro tão secretamente ansiado. Ninguém jamais saberia dizer.  


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Notas finais do capítulo

A grande razão de eu ter pensado nessa história foi a cena do café entre o Caleb e a Mona. Vocês provavelmente vão achar que eu estou pirada na maionese, mas, pra mim, essa foi a melhor e a mais genial cena do 7x10 e uma das melhores da série inteira.

Eles dois estavam em uma vibe tão boa, tão amigável, sei lá. Eu quis honrar isso.

Ps: graças a essa cena eu percebi também que a ÚNICA maneira de eu passar a gostar realmente do Caleb é se ele acabar sendo meio-irmão da Mona :P



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