O Elixir escrita por ManuuhCosta, Nyll99


Capítulo 3
Oliver


Notas iniciais do capítulo

Oii! Esse capítulo vai mostrar um pouco sobre a personalidade do outro protagonista^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/728049/chapter/3

Adentramos a escola de forma como se estivéssemos caminhando em direção ao corredor da morte. Sinto Alice tremer ao meu lado e sinto o instinto natural de proteger ela, de querer fazê-la se sentir melhor. Todos os anos ela é zombada descaradamente, mas esse ano isso vai mudar. Eu não vou permitir. Nem que precise bater em todo mundo dessa maldita escola, não permitirei que debochem dela novamente. Pelo menos não em sua frente. Chegamos à sala de aula onde teremos Biologia no primeiro período, e sento-me ao seu lado, sussurrando a garota que tudo irá dar certo novamente. Seus grandes olhos azuis olham para mim, tão angelicais e amedrontados que preciso respirar fundo para sorrir e desviar o olhar.

A aula passou de forma mais rápida que imaginei. Sorrio em começar o ano com Biologia, que é de longe minha matéria favorita. O professor Diones consegue fazer qualquer assunto parecer fácil e divertido, e de fato me divertia tanto que quase nem vi os minutos passarem. Obviamente não sou tão bom quanto Alice, ninguém é, mas me considero relativamente inteligente. O problema é me manter concentrado.

Agora me encontro em uma aula de história particularmente chata (devia ser um crime aulas assim no primeiro dia) e não faço ideia do que a professora está falando. Tenho consciência de sua voz no fundo, mas minha mente está muito ocupada pensando em assuntos mais divertidos. Ao olhar ao redor percebo que todos fazem o mesmo. Bem, menos Alice. Ela anota tudo o que a professora fala de forma tão rápida que não entendo como consegue formar letras e não apenas rabiscos. Suspiro e deito minha cabeça na mesa, esperando os segundos passarem.

...

Depois de algumas torturantes horas, o intervalo chega e me recosto no tronco de uma árvore em uma região mais isolada do pátio da escola, dividindo a refeição com Alice. Conversamos descontraidamente e rimos, fazemos piadas, e esquecemo-nos completamente de onde estamos e de nossos deveres, nos isolando do resto do mundo. Mastigava o último pedaço do croissant quando me volto para ela.

— Então... último ano. — Falo para ela com um meio sorriso. — Já decidiu o que fazer quando tudo terminar? —Vejo-a suspirar e me olhar de canto, seu nariz franzido. Seus cabelos brilham vermelhos no sol e não deixo de pensar em como fica bonita dessa forma.

— Ainda sem ideias—Ela fala com um gemido e leva duas mãos ao rosto, o escondendo.

— Não se preocupe, ainda tem bastante tempo para você pensar — Falo com uma risada, e a vejo olhar para mim com um meio sorriso no rosto. Abria minha boca para um comentário quando vejo a figura surgir a nossa frente.

 — O que está fazendo tão escondida, linda? — Pergunta a figura ao puxar Alice pelos braços e levantá-la de forma brusca. Meu estômago se contorce de repulsa e me levanto rapidamente de modo que fico de frente a ele, meus dentes cerrados e mãos em punhos.

— O que está fazendo? — Pergunto ao garoto, e ao encarar seu rosto reprimo uma careta de ódio. Seu nome é Gabriel Fury, e é uma das pessoas que mais odeio em minha vida. Estudamos juntos desde a infância, e nos desentendemos desde então. Nem me lembro do motivo, apenas me lembro do ódio que sempre senti pelo garoto à minha frente. Muitas de minhas suspensões ocorreram devido a ele.

 — Não falei com você, grandalhão— Respondeu o garoto. Senti que ele apertava o braço de Alice quando olhei em seus olhos, que clamavam por ajuda — Só quero saber por que essa linda garota está tão isolada das outras. — Ele passa a mão no cabelo de Alice e ela empurra a mão dele com o braço livre.

 — Tire a mão de mim. — Ela fala enojada. Dou um passo na direção do garoto dizendo novamente pra ele soltá-la. Quando o mesmo o faz, vem em minha direção e coloca a mão em meu peito, me empurrando em direção a árvore logo atrás. Dou-lhe um soco acertando seu supercílio e ele cambaleia dando três passos pra trás. Alice vem em minha direção e me segura, pressionando no mesmo local em meu peito onde ele havia me empurrado.

— Calma, Oliver, não vale apena. Não queremos que seja suspenso no primeiro dia de aula por qualquer coisa — Ela olha para o garoto com um olhar como se estivesse reduzindo o rapaz a nada. Procurei oxigênio, mas parecia não entrar em meus pulmões, a raiva tomara conta de mim. Olhei para Alice que me olhara nos olhos, tinha certa vergonha de olhar nos olhos das pessoas por conta da minha cicatriz, mas ela... Ela conseguia me manter calmo quando me olhava nos olhos. Eu não tinha vergonha, eu perdia a raiva, simplesmente sentia a calma fluir dentro de mim, controlando meu corpo e comandando minha alma. Então olhei para o garoto fingindo ainda estar com raiva dele, e o mesmo me olha com uma expressão de constrangimento e ódio, e se vira em direção a entrada para o saguão da escola onde caminha pesadamente.

 — Obrigada—Fala Alice ao meu lado com braços cruzados. Olho para ela, sua aparência tão frágil e delicada, e me pergunto como alguém pode querer maltratá-la. Pouso minha mão em seu ombro e a encaro no fundo de seus olhos.

—Não vou deixar que nada aconteça com você. Eu prometo. — Permanecemos assim por um tempo, e somos apenas despertados pelo som do sino batendo. Pisco e pigarreio para voltar a minha concentração, e voltamos lentamente ao prédio, onde horas de tédio absoluto nos esperam.

 Então sou chamado à sala do diretor.

...

Parece algo improvável ser chamado para a diretoria no primeiro dia de aula mesmo para os meus padrões, mas se alguém consegue passar por tal situação, essa pessoa sou eu. Já estou tão familiarizado com a escura e sem graça sala do diretor Morgan, que sinto que passo mais tempo ali do que no resto da escola. Você provavelmente deve estar pensando agora que não há absolutamente nenhuma razão de eu estar ali naquele momento, afinal, eu apenas defendi minha amiga de um babaca. E você tem toda razão. Mas as situações comuns não se aplicam a mim desde a primeira vez que me encontrei com Morgan e acidentalmente joguei uma casquinha de sorvete em seu nariz. O negócio grudou de tal forma em sua narina esquerda que ele precisou ir até o hospital para tentar remover a minúscula casquinha que ali se alojou (ainda não faço ideia de como isso aconteceu). Enfim, sua inimizade com minha pessoa se iniciou a partir dali, e desde então qualquer situação incomum que me envolve sou chamado para sua sala, onde é iniciado uma série de sermões, advertências, ligações aos pais, e mais vezes do que posso contar, suspensões.

Surpreendo-me por não ter sido expulso a essa altura. Então é claro que quando o idiota do Gabriel foi a procura do diretor, o mesmo acreditou em cada palavra dita pelo aluno. Bato meus dedos na mesa enquanto espero o diretor da confortável poltrona de sua sala, que comprei justamente para meu uso. Diria que foi uma das minhas melhores compras já feitas. É horrível ter que aguentar uma hora de sermão sentado em uma cadeira dura e desconfortável, acreditem.

—Acredito que seja um recorde, Sr. Wouters... — Meus pensamentos esvaem-se ao ouvir a voz seca do diretor, que acabou de adentrar a sala. Ele se senta na poltrona a minha frente, uma bela escrivaninha de mogno nos separando, onde se encontra diversas papeladas, canetas, e um terrível pássaro empalado (ele precisa rever seus conceitos de decoração). — Acho que é a primeira vez que vem ao meu encontro no primeiro dia. — Ele volta a falar com um leve sorriso em seu rosto.

— É, bem... Não é por minha causa — Respondo erguendo os ombros. O que não foi uma boa ideia, pois o sorriso some de seu rosto ao me observar. O diretor Morgan é um homem que acredito estar entre seus 30 e 40 anos. Possui uma pele negra assim como seus olhos, que encaram-me com sua cor de carvão. É careca, o que faz parecer sua cabeça maior do que deveria, e acrescentando seu corpo robusto e suas roupas caras, ele consegue ter uma aparência bastante intimidante. Mas claro que isso nunca me incomodou.

— Me diga Sr. Wouters, o que causou o fato de você já se envolver em uma briga em seu primeiro dia? — Pergunta com as mãos juntas. Ele sempre me chama pelo sobrenome, e quando o faz, o fala em um tom tão próximo de repulsa que sinto ali o quanto ele não gosta de mim. — E não me diga que foi a sua amiga — Fala sério balançando a cabeça.

 — Mas foi por causa dela. Gabriel deixou de lado quando foi contar a você como ele passou a mão nela e como agiu em sua costumeira atitude imbecil. Não poderia ficar parado. — Falo já sabendo que ele não ia acreditar. E como o esperado, o diretor soltou um sorriso de escárnio ao balançar a cabeça novamente.

— Sempre a mesma história... Deveria rever seus conceitos para contar mentiras, Sr. Wouters. Se não, irei dar um jeito de separar você e sua amiga. Assim você não tem mais sua ajudante. — Ele fala praticamente cuspindo as últimas palavras, e sinto meu estômago se contorcer ao o ouvir.

 — Você não pode fazer isso! — Falo indignado.

— Eu não apenas posso, como vou! — Ele fala sério. Nunca senti tanto ódio dele antes. — Irei separá-los de classes, e impedi-los de se verem no intervalo. Se eu algum dia vir vocês juntos novamente, não queira saber o que farei — Olho para baixo enjoado apenas de pensar na ideia. — Então a menos que você controle seus impulsos, não duvide que é isso que farei. Já comentei diversas outras vezes sobre controle de raiva, tem uma ótima instituição aqui perto que lida com esse tipo de...

— Eu não tenho problemas de raiva! — Falo aumentando o tom de minhas palavras e dando um soco na mesa. Cerro meus dentes ao ver o diretor erguer uma sobrancelha e percebo que isso não ajudou meu argumento. — Não me meterei mais em confusão. Prometo. — Falo tentando me manter calmo, mas meu interior diz o contrário. Não consigo imaginar em passar a escola sem Alice ao meu lado. Morgan sorri ao perceber que finalmente me venceu.

— Fico feliz que tenhamos chegado a um acordo, Sr. Wouters.

Então eu saio da sala em silêncio.

 ...

As aulas acabaram rapidamente depois de meu incidente na diretoria, e quando terminam, sigo para a saída. Encontro Alice sentada no banco próximo ao portão da escola, lendo seu livro.

— Acho que você foi tão incomodada com a história de Alice que acabou gostando. — Disse a ela percebendo que lia "Alice no país das maravilhas" mais uma vez. Ela ergueu os olhos e fechou o livro esquecendo-se de marcar a página.

— Talvez. Mas na verdade leio tanto esse livro para entender por que minha mãe gosta tanto... Mas até hoje não compreendo — Ela caminha em direção ao portão de saída como se soubesse que meus próximos passos seriam naquela direção (realmente, ela sabia) — E o que o diretor disse?

— O de sempre: me manter calmo, não me meter em confusões por motivos fúteis. — Não queria dizer que corríamos risco de ser separados por minhas atitudes impensadas. Afinal, Alice sempre me alertara para não fazer nada que envolva violência pra defendê-la. Caminhamos até a frente de sua casa, e dei um abraço nela como sempre fazia antes de ir embora.

— Até amanhã então?! — Falou ela

 — Até amanhã — Respondo com um sorriso no rosto, lhe dei um beijo na testa, virei-me e fui para casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado! Bjss e até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Elixir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.