TOC escrita por Carolambola


Capítulo 4
4- Apresentação




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Finalmente chegou o dia das apresentações. Eu tinha ensaiado tantas vezes na frente do espelho que mal estava nervosa. Não podia dizer o mesmo de Danny. Fui buscá-lo em casa naquela manhã, por segurança. Diria que ele estava ansioso só de vê-lo parado no portão da garagem. 

Ele estava parado ali, olhando para o nada. Olhou para o nada por tanto tempo que buzinei para que ele me notasse ali. Obviamente, lhe dei um susto. Ele recriou os olhos para mim e pulou para dentro do carro. 

— Preparado?

— Talvez. Acho que sim. E você.

— Acho que sim.

Era meio engraçado o modo como a voz dele se alterava quando ele ficava desconfortável. Seu sotaque aparecia ainda mais. Novamente, esperei que não ficasse tão carregado na hora da apresentação.

— Vai dar tudo certo, Danny. - digo. Sei que provavelmente não vai ajudar muito, mas não custa tentar, certo?

— Sim. Vai dar tudo certo. Você vai estar lá, então vai dar tudo certo. 

Dirigi mais devagar em consideração a Danny. Chegamos a escola no dobro de tempo que eu geralmente levo, mas não me importei. Segurei sua mão. Danny era a única pessoa que eu suportava segurar as mãos por mais tempo, porque sabia que ele me entendia e mantinha uma higiene decente. Sabe-se lá por onde as mãos das pessoas passaram. Caminhamos até a sala de biologia, o primeiro período. Os próximos dois seriam de história, as apresentações.

Sentamos no mesmo lugar de sempre e prestamos atenção na aula como dois alunos perfeitamente normais. Senti todos os meus músculos se contraírem quando ouvi o sinal que indicava a mudança de período. 

Como dois condenados, caminhamos até a sala de história. Fomos os primeiros a chegar. Ou assim pensamos, pois encontramos um bilhete fixado à porta, do professor, comunicando aos alunos que as apresentações seriam realizadas no auditório. Maldito. Por que no auditório, com aquele palco e aquelas luzes? 

Vagarosamente me viro para Danny, notando sua testa suada. Seguro seus pulsos e o faço olhar em meus olhos. Coloco as mãos de cada lado de seu rosto, o segurando. Isso tudo dura cinco segundos, mais ou menos. Seguro sua mão e rumamos para o auditório. 

Sentamos no meio. Não muito longe do palco, não muito perto. O lugar perfeito. Quando fez a chamada, o professor começou a chamar as pessoas. Não parecia ter uma ordem nas apresentações, e eu não sabia se aquilo era bom ou ruim. Ele chamou uns oito alunos até que me chamou.

— Senhorita Vogermel. - dói na minha alma ouvir meu sobrenome pronunciado assim.

— É Vogelmann. - corrijo, no mais baixo dos sussurros, que acaba sendo ouvido pelo infeliz do professor.

— Pois bem, senhorita Volgelmel. - agora ele fez de propósito. Reviro os olhos. - suba ao palco, Lilianna.

Ele me entrega um microfone e eu abro o arquivo do trabalho. Dotty vai me ajudar passando os slides. Subo no palco e encaro minha turma. Sorrio e começo a apresentação. 

Corre tudo bem, ao meu ver. Termino e volto ao meu lugar ao lado de Danny, que fica cada vez mais nervoso. Mais alguns alunos apresentam até que ele seja chamado.

— Senhor Lisset, Tome seu lugar ao palco.

Danny levanta e olha para mim.

— Eu te amo - digo, só mexendo a boca, sem emitir qualquer som. Ele assente e não fala nada. Me levanto e vou atrás dele até a mesa para passar os slides. Sento por ali enquanto o professor lhe entrega o microfone e ele sobe no palco. Danny começa bem a apresentação. Ele olha para mim e assente quando eu devo passar o quadro. Percebo que ele olha para cima e para os lados, e sei que está fazendo algo compulsivo, como contar até duzentos e vinte e dois em inglês ou ir o mais longe que conseguir em alemão. Mantenho minha expressão agradável e calma para ele. Quando ele termina, desce o mais rápido possível do palco. Voltamos para o nosso lugar e sentamos. Vejo que ele se encolhe todo, afundando na cadeira o máximo possível. Coloco a mão em seu peito para constatar o que eu já tinha como verdade. Seu coração estava acelerado, e não poderia ser diferente. Mantenho a mão ali até que o ritmo volte à normalidade. 

Tem mais algumas apresentações, mas não presto atenção em nenhuma, exceto na de Dorothea. Ela tinha talento para falar em público. 

Acabados os trabalhos, temos um período livre antes do almoço. Vamos até as arquibancadas. Não tinha ninguém no campo aquela hora, né os jogadores nem as meninas da torcida. 

— Você foi muito bem lá hoje. - começo, cuidadosa.

— Não foi tão ruim. Você estava lá. Cheguei a vinte e quatro em alemão. Não deu tempo de contar am inglês. Aliás, você também foi ótima.

— Obrigada. - O puxo para o beijo dos vitoriosos. Ele retribui com carinho. Suas mãos em meu rosto me puxavam para mais perto. Eu adorava como ele era cavalheiro, nunca tocando lugares inapropriados em momentos inapropriados. 

Certo tempo depois, ouço o sinal berrando ao longe. Nos encaminhamos para o refeitório. O resto dos períodos passa voando, até os dois últimos, que eram educação física. Hoje, os professores resolveram misturar os meninos e as meninas e montar estações. Tinha vôlei, basquete e futebol (americano). Tinha mais coisa, mas eu optei e fui obrigada a ficar no vôlei, por causa da asma. Danny resolveu ficar comigo, mas fomos separados na divisão dos times. Eram doze pessoas, perfeitamente, sendo quatro meninos e oito meninas. Ficou então, dois garotos e quatro garotas para  cada time. Comecei como levantadora do meu lado e Danny como levantador no time dele. Sim, éramos um casal, mas na quadra valia tudo. Só fiquei irritada quando vi aquela piranha safada da Mabel logo atrás de Danny.

O jogo passou. Meu time estava jogando bem, e o outro também.  Mabel encostava em Danny a cada oportunidade que achava, e ele ficava visivelmente incomodado com aquilo. Até Dot percebeu. 

Tudo corria bem até que chegou a vez de Dotty sacar. Dotty era boa e sacou por cima, com força. A bola deu na cabeça de Mabel, claro. Sorte dela que estava virada, cuidando de sabe-se lá o que. Mas ela ficou meio brava. Comigo.

— Foi você, sua alemoazinha safada - gritou ela, o dedo apontado para mim. - Você fez de propósito, sua piranha.

— Ei, você não tem o direito de falar assim com ela!- Danny se posicionou na minha frente. 

— Ela bateu na minha cabeça de propósito, só para me humilhar. Como vocês não percebem?

— Ah, por favor, Mabel. Eu nem encostei na bola. É o jogo, acontece. Vê se cresce. - rebato, indiferente. Ah não que eu me rebaixaria aquele nível.

Recomeçamos o jogo, Danny revirando os olhos para mim e rindo. Faço o mesmo para ele, mas ainda estou irritada com aquela vagabunda.

Estou perdida em pensamentos quando ouço Dot gritando para eu me abaixar. Olho para frente e vejo Mabel pulando e cortando a bola, mirando direto na minha cara. Caio para trás quando sinto a pancada no meio da testa. 

POV. DOROTHEA 

AI, MEU DEUS. Como assim? Aquela piriguete leva uma bolada na cabeça, que eu dei, por sinal, e resolve afundar a cara da minha melhor amiga? 

Todos correm e ficam ao redor de Lily. Ela está bem, só desmaiou. Doug a segurou antes que batesse a cabeça no chão. O pobre Danny está meio abalado, mas logo grita para alguém buscar o inalador. Vou correndo e monto a bombinha. Não tinha certeza se aquilo despertaria a garota, afinal ela não estava tendo nenhuma crise de asma, mas o namorado mandou, ele deve saber. Colocamos ao redor da boca e nariz dela e contamos até três e eu aperto o gatilho do inalador. Um dois três, bombinha. Fazemos isso umas três vezes, porque nenhum professor deu as caras para ver o que passava. Lily abre os olhos depois da quarta bombeada, como se tivesse levado um susto. Ela tira a bombinha do rosto e começa a tossir.

— ESTÃO TENTANDO ME MATAR?- grita, levantando o tronco, ficando tonta e caindo de costas de novo. - Obrigada, mas não é para isso que a bomba serve. 

Todos suspiramos aliviados e a ajudamos a levantar. Quando ela fica de pé, apoiada no namorado, ela vê Mabel do outro lado da quadra.

Vem briga por aí.


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Notas finais do capítulo

Capítulo diferente hoje. Comentem! Beijo



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