TOC escrita por Carolambola


Capítulo 1
1- Danny e Lily




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Saí correndo de casa, atrasada, como sempre. Eu odiava chegar atrasada e sabia que Danny odiava ainda mais.

Puxei com força a porta do meu Volvo novinho, presente de 17 anos dos meus avós. Esfreguei as mãos com álcool gel e fui dirigindo a mil por hora até a escola.

Danny já estava lá, obviamente. Sentado no lugar de sempre, ao fundo e no canto, ele me esperava inquieto. Com as mãos entrelaçadas atrás das costas, me inclinei e dei um beijinho em seus lábios, o sentindo relaxar.

— Me desculpe pelo atraso, Danny.

— Tudo bem. A aula não começou ainda. - com o  timing mais perfeito do mundo, o sinal bateu. Virei para frente e tirei as coisas da minha bolsa.  

As mochilas eram todas iguais na Honoria Academy, bolsas de carteiro esverdeadas e gigantes. Os uniformes eram bonitos, de qualquer forma. Sainha xadrez em tons de verde, blusa branca de botão, blazer verde, saltinhos pretos e meias até o joelho brancas para as meninas, e os meninos usavam calça verde e uma gravata xadrez. 

A aula passou rápido, até o último período. A aula era de história e nós teríamos que apresentar um trabalho lá  na frente, individualmente, dali a uma semana. Pude ouvir Danny se remexendo atrás de mim, seus pés batendo no chão e seus dedos tamborilando sobre a mesa, o que me fez fazer o mesmo com os pés. Eu ficava ansiosa sobre a ansiedade do Danny. Nós dois namorávamos havia dois anos, e eu o amava como ele me amava.

Mas eu ainda não sabia o que fazer quando ele tinha aqueles pequenos ataques de pânico.

O sinal tocou, finalizando o dia, e eu esperei todo mundo sair correndo para me virar. Ele, como eu esperava, estava todo encolhido e suando. Por mais que chegasse a doer, coloquei minha mão direita na sua testa. Fiz carinho nas suas bochechas. Acho que o gesto o apavorou mais, por que ele parou de  tremer e tirou minha mão de seu rosto. Pelo menos meu grande ato o distraiu. Ele viu o sofrimento estampado na minha cara e assentiu com a cabeça.

Busquei então meu kit de primeiros socorros, tirando dali lenços e meu álcool gel. Higienizei as mãos e me senti muito melhor,

A história era a seguinte: eu era diagnosticada com Transtorno Obsessivo Compulsivo, ou TOC. Danny era diagnosticado com ansiedade social. Isso queria dizer que eu era muito asseada e ele não falava em público. E a nossa realidade não era tão simples. Ocorria muito mais com ele do que comigo, mas ambos sofriamos com ataques de pânico quando expostos a situações desconfortáveis.

Percebi que ele também já estava mais calmo. Acho que eu conseguia ficar mais nervosa do que ele, só por saber que ele se sentia mal. Pude notar que ele estava apenas muito bravo.

— Merda! Merda, merda, merda! Qual é o problema deste professor? Por que ele tem que dar um trabalho DESTE TAMANHO individual,  para apresentar lá na frente, com todo mundo olhando? 

Fiquei olhando para ele enquanto ele falava tudo o que pensava. Deixei ele divagar sobre o professor e a matéria. Uma vez tudo dito e tudo escutado, eu já tinha organizado tanto o meu material quanto o dele. 

Ele pegou um tubinho de álcool do bolso e esfregou as mãos. Ele sabia do que eu gostava! Estendeu uma mão para mim enquanto pegava nossas mochilas com a outra. Saímos do prédio e fomos para o estacionamento.

— Vai querer carona? Vim de carro hoje - perguntei a Danny. 

— Sim! Tive que vir de ônibus hoje, meu carro tá com um pneu furado. Meu pai disse que ia mandar arrumar de manhã ainda.- respondeu, sorrindo. Ele sempre respondia as coisas detalhadamente e sorrindo. - Quer ir no cinema mais tarde?

Era uma e meia, mais ou menos. Nossa aula acabava cedo nas quartas, porque a maior parte dos alunos tinha algum clube neste dia. Danny e eu não éramos chegados a esse tipo de coisa escolar. 

— Claro. Você me busca?

— Sim, duas e meia, podemos passear antes do filme.

— Tá bom. Já fez o trabalho de biologia?

Entramos no meu carro, eu na direção, ele de passageiro. Prendemos os cintos e eu comecei a dirigir.

— Falta a introdução. E você?

— Terminei ontem, mas com certeza não é meu melhor trabalho.

— O meu também ficou meio meia boca. Não vou ganhar dez, é certo. - Ele riu. Nós dois até que íamos bem na escola, mas certamente não fazíamos o maior dos esforços em trabalhos escritos. Principalmente se o tema fosse tão incrivelmente chato. Nós dois vivíamos em condomínios, não muito longe um do outro. O condomínio de Danny era um pouco além do meu, então passei pela minha entrada e quase parei ali. Percebi o engano e fiz uma manobra duvidosa para voltar à estrada.

— Eu não sei porque você tem um carro, Lily. Nem como este ainda está inteiro. - Brincou. No fundo, eu sei que ele adorava meu jeito louco e dirigir. E a verdade seja dita, eu nunca bati em nada nem ninguém.

— Eu sou uma ótima motorista, Daniel!

— Motorista de Fórmula 1, só pode.

Ri dele e logo estava no portão do seu condomínio. Por mais que fosse novo, o porteiro já reconhecia meu Volvinho, e abriu sem nem olhar quem estava dentro. Acenei para o homem e entrei. Algumas dobras confusas depois, estávamos em frente à enorme casa da família Lisset. Danny me deu um beijinho e saiu do carro.

— Duas e meia, te busco, ok?

— Ok!

Dei um tchauzinho e ele entrou. Retornei ao meu condomínio e estacionei na frente da minha casa desnecessariamente grande. Resolvi guardar o carro na garagem. Feito isso, subi, almocei sozinha, escovei os dentes e tomei banho. Me vesti. Um vestidinho curto, botinhas e jaqueta jeans. Arrumei meus cabelos, coloquei pó e rímel. Ótimo. Faltavam quinze minutos para o horário combinado. Me preocupei em arrumar minha bolsa. Era gigante, porque tinha que caber tudo o que eu precisava: lenços umedecidos, toalha, álcool gel, uma garrafinha de água com sabão, uma sem sabão. Luvinhas cirúrgicas. Bombinha. Tudo isso além do óbvio, tipo celular, carteira e chaves. Tendo isso arrumado, decidi descer e esperar na porta de casa.

Danny chegou pontualmente às duas e meia. Eu já o estava esperando na porta e pulei para dentro do Mercedes assim que o vi. 

— Oi, princesa.

— Oi Danny!

Partimos para o shopping. Faltava uma hora e meia para o filme começar. Resolvemos dar uma volta pelo lugar já muito conhecido.

— Então, Lily. O que planeja fazer para o trabalho de história?

— Bem, vejamos. Meu tema é Feudalismo. Eu acho que vou fazer uma pesquisa, montar um Power Point bem bonito e explicar o que estiver escrito, como sempre. E tu?

— Eu acho que vou fazer a mesma coisa.. 

Eu sabia que ele estava ansioso, e na tentativa de o distrair, acabei me distraindo também. Estava andando de costas, virada para ele, o fazendo rir, quando ele disse "Lily, cuidado!". Do susto, me virei rápido de frente.

O que eu não tinha visto era que uma garota uns dois anos mais nova que eu comia distraidamente um sorvete de casquinha. Duas pessoas, de frente uma para a outra, distraídas, nunca daria certo.

Nos trombamos, a menina caindo por cima de mim. Senti seu sorvete na minha barriga, gelado. Fiquei presa ali enquanto Danny e a amiga da desconhecida puxavam ela de cima de mim. 

Quando estávamos as duas de pé, a garota olhou para mim.

— Meus Deus! Olha o que eu fiz com o seu vestido! Está todo sujo! Quanto foi, eu te pago!

— Tu- tudo bem, não precisa. 

— Tem certeza?

— Si-sim.

— Tá bom então.

Ela e a amiga foram embora. Danny, que até então me olhava com cara de "deu merda", correu para me ajudar.

Minhas mãos tremiam, aliás, todo o meu corpo. Danny agarrou meu braço que  chacoalhava e sem uma palavra me guiou até o banheiro feminino.

Entramos em uma cabine. Ele analisou minhas roupas e fez que não com a cabeça. Então, tirou a própria jaqueta. Depois tirou minha jaqueta e minha roupa. O tecido era tão fininho que minha barriga estava manchada de marrom. Ele abriu minha bolsa, pegou a toalhinha e a água com sabão. Limpou e secou. Durante tudo isso, eu fiquei parada, sem mexer um músculo, só de sutiã e calcinha. Ele me entregou a jaqueta dele e enfiou minha roupa suja em uma sacola de plástico.

— Vista isso. Vou te trazer uma roupa. Já volto.

Eu me impressionava com a habilidade dele em lidar comigo. Já estava recuperada do choque e o fiquei esperando na cabine. Talvez uns cinco minutos depois, ele entrou ali comigo.

— Oi! Te trouxe um vestido, espero que sirva.

 Ele me entregou uma sacola de papelão. Dentro tinha um vestido maravilhoso e caro. Era verde de alcinha. Vesti, serviu direitinho. Pedi que ele arrancasse a etiqueta das minhas costas.

Uma vez fora do banheiro, sentamos em um banco.

— Obrigada - disse - sério. Você é o melhor namorado do mundo inteiro.

— De nada, princesa. Você sabe que eu faria de tudo por você. E levo isso como um elogio, então obrigado.

— O vestido é maravilhoso...

— E ficou muito bem  você. Eu tenho mesmo bom gosto...

— Convencido, você? Que nada!

— Sou mesmo. Agora vamos para o cinema, daqui um pouco começa o filme. 

Fomos de mãos dadas até o cinema. Compramos pipoca e entramos. O filme era bom, uma comédia divertida. Saímos de lá chorando de rir. 

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{Notas da autora, link}

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