Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 18
XVII. Volar


Notas iniciais do capítulo

Gente linda, gente boa, gente bela!

Uau! Acho que bati recorde com ambos os atrasos (últimos dois capítulos)! Sinto muito, pessoal! Eu meio que perdi o entusiasmo com "Lucca", não pra sempre, é claro, mas precisei ficar de fora pra não postar nenhum capítulo significantemente ruim. Perdão!

Boa leitura! *-*



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Janeiro 

O sol brilhava no lado de fora da casa, incentivando os pássaros a cantar os pulmões afora. O ar frio continuava a forçar o acúmulo de roupas no corpo, mas tornava-se suportável ao ar livre, na presença calorosa do sol.  

Nathan chegara em Cherub Field cerca de nove horas da manhã, com o pensamento fixo na cabeça. Se Lucca ainda não estava preparado para ir até o centro da cidade, o levaria, então, para uma parte mais calma dela. Seus pais adoraram a ideia.  

— Não se preocupa — dizia o médico, de costas para o quarto de Lucca. — Tudo irá correr bem. Só preciso que você coloque mais roupas do que está acostumado, e...  

A porta entreaberta foi totalmente escancarada, revelando o cenho franzido do garoto esguio. Vestia o mesmo tipo de calça de moletom de sempre e havia um grande suéter cobrindo-lhe, ao menos, até metade das coxas. Nathan sorriu amarelo ao descer os olhos para seus pés descalços, como já era esperado.  

— ... e calçados — completou de forma tardia, vendo a ruga entre as sobrancelhas de Lucca aumentar. — Eu sei, eu sei! Calçados são apertados, desconfortáveis e não permitem total movimento dos dedos, mas — acrescentou com um sorriso largo, tentando animá-lo —, com calçados, você pode dar um passeio comigo ao ar livre! Ao ar livre! — acrescentou, percebendo a mesma careta no rosto alheio. — Livre! — Aumentou o sorriso. — Vale a pena, não? — perguntou, com humor, fazendo uma careta engraçada.  

— Tenho tarefas — optou por responder, querendo escapar dos calçados à todo custo.  

— Hoje não — afirmou Nathan, empinando o queixo. — Hoje você tem um passeio comigo. E com meus pais — acrescentou, lembrando do casal no andar de baixo. — Hoje você não é um estudante, é um aventureiro — continuou, arqueando uma das sobrancelhas. — E como seu médico, recomendo ar livre e boa companhia!  

— Está bem — resmungou Lucca, girando nos pés cobertos pelas meias largas.  

Alcançou um chinelo de lã da cor azul e enfiou os pés neles com uma careta desgostosa ao encará-los. Nathan balançou a cabeça, divertido com o comportamento do mais novo.  

Girou o rosto ao observar seu antigo quarto, praticamente do jeito que o deixara.  

Os móveis estavam dispostos da mesma maneira. O lençol da cama era o mesmo de sua adolescência, e a cor das paredes continuava sendo levemente azulada. Nos porta-retratos, haviam as mesmas fotos e tinha certeza de que boa parte das roupas ali guardadas, continuavam sendo enormes, feita para si. No entanto, embora sutis, era possível perceber as diferenças.  

Em junção dos livros didáticos novos, haviam os contos de fadas, recomendados pela própria Dr. Clark, para a criatividade de Lucca. Ao lado da cama, havia uma grande almofada com patinhas, onde ambos Lucca e Sassenach cabiam juntos para que não dormissem abraçados no chão, situação que ocorreu mais de uma vez. Na cômoda com seus carrinhos de infância, estava o globo de neve ao lado de uma estatueta, ambos presentes de natal.  

Nathan sorriu, observando o presente que encontrara por um acaso em uma loja qualquer. A estatueta representava um menino que usava apenas um pedaço de pano, como Lucca ao aparecer, e um lobo ao seu lado, ambos correndo. Havia certa selvageria na figura, mesmo congelada no tempo, que o remetia à fuga de Lucca em seu primeiro mês na residência Walker. Nathaniel foi incapaz de deixar a estatueta na loja. E foi devidamente recompensado ao entregá-la à Lucca, pelo sorriso mínimo do garoto, divertido com a mesma lembrança compartilhada com o médico.  

— Pronto? — perguntou, vendo que Lucca ainda encarava os próprios pés. Era visível que estava remexendo os dedos contra o tecido de lã, claramente desgostoso. 

— Pronto — respondeu, simplesmente, antes de levantar.  

Minutos depois, caminhavam os quatro em direção às ruas vizinhas menos movimentadas, escolhidas com cuidado por causa de Lucca. Mesmo assim, eram seguidos pelos olhares curiosos de alguns vizinhos, que se encontravam na rua ou no pátio, naquele momento.  

Lucca sentia seus pulmões encherem com mais vontade no ar frio de janeiro. Sempre sentia-se melhor ao ar livre, motivo pelo qual passava mais tempo no pátio da casa do que dentro dela, sempre que podia. No entanto, estar caminhando ao lado da rua asfaltada da cidade, como houvera tentado alguns meses atrás, não permitia com que se sentisse à vontade. Disparava os olhos ao redor, pronto para fugir ao sinal de perigo, possivelmente vindo dos estranhos em suas próprias estranhas moradias.  

Abigail e Nigel conheciam praticamente todos os moradores da pequena cidade, limitando-se a simples acenos como cumprimento. Mesmo estando tão próximos, nenhum dos dois diminuiria o passo para se deixar serem puxados para conversas impertinentes.  

Pessoas de cidade pequena são bastante inconvenientes, muitas vezes, intrometendo-se em assuntos e vidas alheias. Encontrar e adotar um menino desconhecido trouxe milhares de perguntas, questionamentos e mitos à língua da pequena população. Incapazes de ignorar todos os incômodos gerados para si e o resto de sua família, o casal tivera que aprender os horários bons para sair de casa e as mentiras certas para não receber visitas em seu lar. O motivo eram as palavras vindas de seus supostos amigos, geralmente em forma de perguntas. "Posso conhecê-lo?", "posso tirar uma foto com ele?", "é verdade que ele age feito um animal?", "não estão muito velhos para adotar?", "Deus, espero que ele não vos mate!".  

Nas primeiras semanas, era difícil até mesmo irem ao mercado, mas depois de haverem suportado grande parte do peso alheio, sem que os próprios filhos soubessem, descobriram que havia sido bom. Havia sido bom, porque assim souberam a verdadeira face de alguns amigos e sentiram no peito o verdadeiro amparo de outros.  

No fim, aguentando o que tivessem que aguentar, o mais simples sorriso de Lucca fazia tudo valer a pena. E ao observar a interação entre ele e Nathan, percebiam que não eram os únicos a pensar assim.  

— ... então assim que eu ganhei meu primeiro estetoscópio, eu soube — dizia Nathan, com entusiasmo, ao receber os olhos escuros de Lucca em si. — Eu tinha que ser médico!   

— Não se deixe enganar, Lucca — interrompeu Abigail, fazendo com que ambos girassem o rosto em sua direção. — Quando Nathaniel ganhou o primeiro estetoscópio, com uns onze anos de idade, ainda falava e falava sobre ser "biólogo dos insetos" — contou, obtendo gargalhadas de ambos os Walker's.  

— Mãe! — reclamou Nathan, rindo, obtendo um meio sorriso automático de Lucca.  

 Biólogo dos insetos — repetiu Nigel, rindo ao balançar a cabeça. — Fazia tempo que eu não ouvia a respeito dessa profissão tão bem falada!  

Ainda riam ao conversar vividamente, Lucca apenas observando, quando chegaram no parque verde que tinham em mente. Assim que puseram os pés no quarteirão, guiaram Lucca até o caminho de pedras que acabava em uma praça de brinquedos. Balanços, gangorras e castelos com escorregadores. Poucos aparelhos e todos muito simples ou levemente enferrujados. No entanto, a ideia ainda era a mesma.  

— Venha — disse Nathan, levando a mão à de Lucca em um instinto automático.  

Assim que Lucca desviou da mesma, o médico deu-se conta de seu deslize e riu-se, levemente chateado consigo mesmo pelo intuito de tocá-lo. Assentiu, para mostrar que havia entendido o recado, antes de chamá-lo em direção ao balanço velho.  

— Eu aposto que você nunca andou em um desses — disse, arqueando uma das sobrancelhas, com a animação voltando em escala. Lucca negou veemente, curioso com o balanço. — Eu também aposto que você vai gostar!  

Nathan sentou-se em um dos quatro balanços e sorriu largamente.  

— Vamos, tenho certeza que você sabe o que fazer — disse, indicando o segundo ao seu lado com um gesto.  

Lucca hesitou, encarando o balanço como se causasse um risco à sua vida, com os olhos extremamente suspeitos. Voltou os olhos para Nathan e os mirou no balanço outra vez. Negou com a cabeça.  

— Por favor? — pediu o mais velho, com um sorriso pidão. — Você sabe que quer.  

Lucca girou o rosto para seus pais postiços, obtendo um aceno positivo de ambos.  

Caminhou até o balanço, ao lado de Nathan, e depois de analisá-lo clinicamente, sentou no mesmo como um gato arredio. Desconfiado. Franziu o cenho, segurando com mais força as correntes do objeto.  

Lucca já houvera visto uma praça como aquela, e balanços como aqueles, em um dos livros didáticos e na televisão. Sabia que aquilo se movimentava, com a pessoa junto, mas apesar de ter curiosidade de saber a sensação, jamais compreenderia tamanha irracionalidade.  

— Não entende — contou, encarando as orbes claras de seu médico favorito.  

Nathan sorriu com as palavras.  

— Eu sei — respondeu, obtendo um olhar ainda mais confuso. Sorriu mais largo, começando a movimentar-se. — Vamos, balance! Você vai entender.  

Estava certo.  

Assim que Lucca sentiu o vento frio no rosto, imitando a sensação de correr, e sentiu os pés deixarem o chão, como a sensação de pular, entendera a existência dos balanços. É certo que houvera tomado minutos para conseguir aumentar a velocidade e não cessar o movimento logo em seguida, por medo de cair, mas pegou o jeito assim que o conseguira. 

Enquanto voava em um vai e vem, vendo sua família subir e descer em seus olhos, e o chão ficar perto e longe de si, sentiu como se seu peito fosse explodir com tanto sentimento. Não era capaz de compreender, assim como muitas coisas, mas já estava acostumado. Olhou para o lado, percebendo que Nathan estava em sincronia consigo, encarando-lhe com carinho.  

Lucca permitiu-se sorrir também, sentindo o estômago gelar toda vez que pensava que cairia. 

Incapaz de desviar o olhar, percebeu que, ao contrário de seus pais, Nathan não se distanciava de si. Assim que subia em direção ao céu, Nathan também o fazia. Assim que sentia o frio na barriga, pensando que daria de cara no chão, Nathan ainda permanecia ao seu lado. Sempre ali. Sempre sorrindo.  

Jamais entenderia. E tampouco queria.  

Nathan estendeu-lhe uma das mãos, desafiando-o a soltar uma das suas. Tinha um brilho travesso em seu olhar, e esperou por uma resposta do menor. Sentindo que era capaz de qualquer coisa, inclusive de voar, soltou uma das correntes e agarrou a mão de Nathan, com força. Alargou os olhos, tendo total percepção de que conseguira o impossível. 

Voavam juntos, ligados um ao outro. Se um caísse, o outro cairia. E nada fora tão assustadoramente divertido!  

Fechou os olhos, e deixou-se rir pela primeira vez em anos. 


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Notas finais do capítulo

Perdão pela minha falha postagem de capítulos. Juro que não abandonarei a história!

Queria dizer que Nathan e Lucca são opostos.
Lucca tem os olhos negros e o cabelo castanho (claro, por causa da exposição ao sol, mas não tanto). Nathan tem os olhos claros, como amêndoas, e os cabelos são negros. Opostos! Hhahahah.
Sei que causa confusão e achei que assim fosse melhor de vocês lembrarem!

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*



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