Heaven escrita por Azrael Araújo


Capítulo 7
VI


Notas iniciais do capítulo

mil perdões, eu deveria ter postado ontem ahsuahush



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A morena antecipou-se e correu em direção à saída do refeitório, ansiosa para falar com a menina Swan.

O pedido fora feito em um súbito momento de coragem, nada como ela havia planejado. Achava que poderia ter sido mais romântica ou algo do tipo, mas em um momento de extremo nervosismo apenas fizera a pergunta e saíra correndo, as bochechas queimando. Isabella ficara completamente estupefata com a atitude da Quileute, mas tinha que admitir: havia gostado de saber que causava esse efeito nela.

Os olhos da morena se arregalaram ao fitar a garota de olhos azuis sair do refeitório e procurar ao redor durantes incontáveis segundos. Finalmente suas galáxias azuladas conectaram-se aos escuros olhos de tempestade da Ateara — que sequer havia comido seu almoço direito, em ansiedade — e observou a Swan se aproximou devagar.

Quinn torceu os lábios, constrangida. E se Isabella dissesse que não? E se não a quisesse?

A possibilidade de ser rejeitada doía como um soco em seu estômago.

Ela não sabia explicar, não poderia declarar-se apaixonada, talvez já a amasse... Em sua mente jovem, não conseguia entender totalmente o que aquele sentimento era, só conseguia sentir e esperar que, sei lá, a dona de suas pulsações aceleradas se sentisse da mesma forma.

— Quinn. — a voz rouca saudou, quase formalmente, e o coração da morena deu piruetas em seu peito.

Controle-se, Quinn! Ela gritou para si mesma. Não faça nada que possa envergonhar você.

— O-oi Bella.

As garotas permaneceram em silêncio por alguns instantes, sem saber exatamente o que fazer agora.

Quinn deixou os olhos caírem — aquela imensidão de azul parecia hipnotizá-la. Estava nervosa e insegura, tinha medo de fazer alguma bobagem que estragasse suas chances com a garota que tanto gostava.

Bella apenas encarava Quinn, pensativa. Ela fora pega de surpresa com o pedido, no meio do corredor.

"V-você quer namorar? Tipo, comigo? Namorar comigo! Digo, namorar, quer namorar comigo?"

O pedido desastrado fora a coisa mais fofa que ela já vira na vida, não pôde evitar um sorriso ao lembrar-se das palavras da morena.

— Então... — Bella começou, após se cansar do silêncio — Acho que te devo uma resposta.

Ela sorriu.

 Quinn engoliu em seco, se preparando para levar um fora. Droga, o que ela tinha na cabeça? É óbvio que iria fazer papel de ridícula. Talvez fosse melhor fugir dali, talvez devesse pedir a Bella que esquecesse tudo isso. Poderia fingir um desmaio, até, Cristo amado!

— Você está bem? — ouviu a voz incerta da garota de olhos azuis, que a observava ficar mais e mais pálida.

Oh, droga, espero que eu não vomite em seus pés!

Quinn apenas assentiu, sinalizando para que prosseguisse. Seja rápida, pensou.

— Eu estive pensando, sabe, durante o almoço... — Bella riu — E eu aceito.

Quinn permaneceu de olhos fechados, sem reação.

Ela havia aceitado? Bella Swan queria ser sua namorada?

— Está falando sério?

Bella assentiu.

— Você quer mesmo namorar comigo?

— Sim.

— Então... Você gosta de mim?

— Aham.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Eu falei de namorar, tipo, namorar mesmo. Você não entendeu errado, não é?

A garota revirou os olhos azuis, nunca tivera muita paciência, e segurou as mãos de Quinn, que gesticulava nervosamente. A Ateara se calou, engolindo em seco ao perceber Bella se aproximar cada vez mais.

Caramba, ela faria aquilo? Elas fariam aquilo? Nunca havia beijado ninguém na vida, estava quase entrando em pânico.

Seu estômago revirava, sua respiração estava louca, suas mãos suadas como nunca antes. Encarar aqueles olhos que diziam-lhe milhares de coisas a deixava completamente sem chão.

Quando os lábios quentes finalmente se tocaram, ambas sentiram que poderiam voar.

 

Meus ombros caíram ao ouvir aquelas palavras.

Quinn, a namorada que eu abandonara em La Push na noite em que decidira ficar ao lado de Renée — e dos vampiros — nessa guerra.

Suspirei sentindo-me impotente.

— Ela... Ela me odeia? — eu sussurrei de olhos fechados. Lembrava-me bem de suas últimas palavras para mim na pior discussão que já tivemos. Quase podia sentir suas lágrimas correndo livres pelo meu rosto, seus lábios em desespero pressionando os meus, sua bochecha molhada contra a minha enquanto suas mãos empurravam-me para longe.

Eu não hesitara quando tive que deixá-la.

Ao meu lado, Embry deixou escapar uma risadinha. Me virei para encará-lo, seus olhos perdidos no alto das árvores mais distantes.

— Ela me pediu, implorou, na verdade... Para pedir-lhe que voltasse. Voltasse pra ela, pois ela não consegue viver sem você e não consegue viver sabendo que vocês estão separadas por... Uma fronteira. — ele bufou e balançou os cabelos, claramente nervoso — Me desculpe, por simplesmente despejar tudo assim, em cima de você, é só que...

Ele negou com a cabeça.

— Queria que pudesse ver os olhos dela, Swan. Estava tão... Desolada. Como se você tivesse morrido, ou algo assim.

Quando nossos olhares se encontraram, eu soube que nada daquilo era exagero. Eu não precisava de nossa conexão mental para ver, pois estava refletido em seus olhos, a imagem da minha namorada; sofrendo, abandonada, e tudo por minha causa.

A primeira lágrima teimosa escapou, sendo seguida por outras. Eu travei o maxilar, obrigando-me a não soluçar, obrigando-me a chorar em silêncio.

Eu a amava, maldição, eu a amava de todo o meu coração.

Embry respeitou a minha dor, abraçando-me de lado e permanecendo comigo enquanto eu apenas repetia que faria de tudo para tirar aquela maldita dor dela.

Em algum momento, as lágrimas secaram, e com isso eu apenas me afastei de Embry, necessitando ficar sozinha, necessitando me recompor. Sentei-me em um galho mais baixo de uma árvore perto da casa, ouvindo os passos abafados de meu irmão se distanciando, ainda sentindo minhas orbes queimarem e um bolo entalar-me a garganta.

Eu permiti que a angústia me consumisse por algumas horas a fio, sendo puxada de volta à realidade apenas quando fui chamada para mais uma reunião familiar dos vampiros. Apenas pulei da árvore, pousando no chão com um baque surdo e enfiando as mãos no bolso do jeans.

Leah, que acordara e dera a oportunidade de descanso à Embry, apenas me lançou um olhar de "não vou entrar lá nem amarrada". Não que eu a culpasse. Eu suspirei encarando a pequena vampira, Alice, que me esperava sorridente e assim permaneceu enquanto subíamos os degraus da entrada principal da casa.

Revirei os olhos para seu bom humor.

Ao adentrar o covil dos vampiros, meu estômago se retorceu em preocupação.

— Onde está minha mãe? — eu disparei, para ninguém em especial, olhando ao redor.

A "mãe" de todos, Esme, surgiu próxima à mim.

— Está dormindo. Charlie a levou para o quarto. — a mulher falou e, Jesus, eu até me senti mal com todo aquele carinho. Ela parecia simplesmente esbanjar isso, com um sorriso radiante e um olhar tão maternal que, se não fossem os olhos absurdamente dourados, eu poderia pensar que era humana.

Apenas assenti e me mantive em silêncio, ainda um pouco sobressaltada com todo o seu afeto.

— Bella. — a minha salvação desse momento constrangedor, coberta por um brilhante cabelo ruivo, saiu de um dos diversos cômodos daquela casa enorme. Segurava uma mochila, mas seu sorriso contido prendeu totalmente minha atenção. Usava apenas uma calça moletom clara e uma camiseta, surpreendentemente estava descalça.

Eu nunca a vira daquela forma, tão natural, tão... Humana.

Muito bem, eu pensei. Deixe-me adivinhar: estava dormindo?

A ruiva riu enquanto caminhava calmamente até mim. Engoli em seco, encarando-a enquanto ela me entregava a mochila, de um tecido azul escuro, e eu ergui uma sobrancelha em questionamento.

— Sei que nosso cheiro é desagradável para você e os outros, então fui até a sua casa e peguei algumas peças de roupa.

Eu pisquei, novamente surpresa, em gratidão que ela tivesse se arriscado assim, entrando em La Push no meio de toda essa confusão. Poderia ter sido atacada.

— Não foi nada. E não se preocupe, não bisbilhotei sua gaveta de peças íntimas. — ela sussurrou a última frase, mesmo que eu soubesse que todos na casa podiam nos ouvir.

Eu corei e tentei não imaginá-la com uma de minhas calcinhas em mãos.

Tomei-lhe a mochila e andei até onde Carlisle e Esme me esperavam, que não pereciam ter pressa, sentados juntos em um dos sofás.

— Nós gostaríamos de conversar com você, Leah e Embry. — o loiro iniciou, sua mão acariciando a mão de sua esposa. — Mas, como eles não se sentem confortáveis em nossa presença, acredito que você transmitirá nossa mensagem.

Permaneci de pé, recostada em uma das paredes de vidro da sala. Toda a formalidade me causava certo desconforto, mas assenti em concordância.

— Do que vocês precisam? — cruzei os braços, começando a traçar planos de fuga e rotas alternativas por onde Leah e eu poderíamos nos deslocar rapidamente em torno da cidade. Leah era a nossa velocista, seria fácil conseguir despistar qualquer ameaça com ela.

— Nós não precisamos de nada, querida. Na verdade, estamos preocupados com você e seus irmãos. — Esme sorriu de forma triste.

Eu fiquei atônita, parada como uma idiota, apenas encarando dois pares de olhos calorosos e compreensivos.

Mas que droga era aquela?

— Vocês estão preocupados? Conosco? — a incredulidade em minha voz era transparente.

Eu me sentia uma retardada.

— Claro, querida. Vocês abandonaram suas casas e famílias, seus lares, tudo isso por nós. O mínimo que podemos tentar fazer é... Diminuir o sofrimento que esta situação causa a vocês.

Eu pensei em corrigir a mulher, reafirmar de que não fazia aquilo por eles, que nenhum de nós estava aqui por eles e sim por minha mãe... Mas possivelmente isso soaria rude.

Desviei o olhar, totalmente sem graça.

Merda. Seria mais fácil odiá-los se todos simplesmente me dessem motivos para tal. Poderiam apenas serem os monstros cruéis que as poucas histórias que eu conhecia contavam. Ao invés disso, faziam-me sentir culpada.

Maldição.

Meus olhos focaram-se em Edythe, ainda parada no local onde conversamos instantes antes. Estava com as mãos enfiadas nos bolsos do moletom, sua postura descontraída era rompida apenas pelo fato de que não respirava. Era como uma estátua de mármore. Encarava-me com certa curiosidade, a testa franzida em algum tipo de determinação silenciosa.

— Edythe já lhe entregou as roupas, o que foi uma bela atitude, mas ainda temos mais a oferecer. Podem dormir nos quartos, apesar do problema com o cheiro... Usem os banheiros, usem a cozinha que está cheia. Não se sintam privados de um lar, pois não estão. — Esme concluiu, sorrindo carinhosamente mais uma vez — Nossa casa é o seu lar também.

— Eu... Hã... Agradeço. Agradeço também em nome dos meus irmãos, é claro. — gaguejei.

O casal sorriu e eu respirei fundo, decidindo que okay, hora de dar o fora. Anunciei que voltaria quando Renée acordasse e me dirigi à saída, tentando evitar o olhar astuto da ruiva sobre mim.

 

— Estava começando a me perguntar se você havia caído e batido a cabeça em alguma pedra.

— Ou em alguma pia de um banheiro de luxo, quem sabe.

Eu revirei os olhos para os dois idiotas que eu chamava de irmãos.

— Calem a boca. — torci o cabelo molhado — Se os dois porquinhos não gostam de um bom banho, o problema não é meu.

Sentei-me junto com eles no topo de uma colina que ficava próxima à casa, ainda dentro do perímetro que havíamos estabelecido para vigiar. Eu podia ver toda a área da mansão, e os vampiros lá dentro, circulando as grandes janelas e paredes de vidro, atentos, sempre no cômodo em que Renée estava.

— Opa, vampira a caminho. — Leah apontou. Embry assoviu e os dois levantaram-se rapidamente.

Eu não havia notado, mas Edythe Cullen se aproximava tranquilamente do topo da colina. Andava de forma calma, como se não tivesse talvez uma centena de anos, segurando um pacote. Sorriu ao se aproximar, ainda descalça, os olhos escuros como carvão nunca desviando dos meus.

Pude ouvir uma risadinha e um bufar, vinda de meus irmãos, mas os dois apenas pularam animados ao notarem que a vampira trouxera comida.

— Obrigada. —  eu disse ao receber um sanduíche que, caramba, era o meu favorito.

Encarei a ruiva que sorriu de forma contida, dando de ombros.

— Renée tem várias lembranças... Você sujando-se completamente com pasta de amendoim quando era criança.

Eu revirei os olhos imaginando a cena que ela provavelmente vira na mente de minha mãe — uma Isabella pentelha com a boca e as mãos sujas, resmungando um pedido, pulando feliz ao receber outro sanduíche.

A vampira riu com meus pensamentos.

— Então, Bells, nós vamos... Ér, sei lá...

— Fazer uma ronda.

Leah e Embry anunciaram, já se afastando. O índio me lançou um olhar duro que eu não pude decifrar, talvez fosse um aviso.

— Aí, Bella. Pense a respeito do que conversamos sobre a Quinn, a sua namorada. Ela é uma de nós, afinal. — com isso o garoto puxou uma Leah de boca cheia e sumiram entre as árvores, em direções opostas.

Eu suspirei e comecei a comer.

Edythe sentou-se ao meu lado, devidamente afastada. Encarei seus pés descalços, achando graça daquilo enquanto ela nada disse, apenas olhou fixamente para a frente e permaneceu assim até que eu terminasse de comer, agradecendo-lhe mentalmente mais uma vez.

 — Então, você tem uma namorada. — não era uma pergunta e ela não parecia surpresa ao pronunciar aquelas palavras. Era mais como se estivesse... Resignada.

— Sim.

— Sabe... — ela pausou, baixando a cabeça — Eu estava sempre correndo descalça pelo jardim de casa quando era criança. Elizabeth, minha mãe, ficava louca. — a vampira sorriu fracamente, ainda cabisbaixa. — Então, quando quero me sentir mais humana, eu só...

Não completou seus devaneios, mas eu podia compreendê-la. Não era capaz de contabilizar as vezes em que meu pai e eu corremos pelas praias de La Push durante o pôr do sol. Lembrava bem de seus olhos, idênticos aos meus, brilhando em um azul elétrico, forte, quase puro.

— Eles são como um pedaço do céu. Sempre foram.

Sempre?

— Desde que você era apenas aquela garotinha que não conseguia manter-se parada por mais que alguns segundos. — ela sorriu.

Está bastante sorridente hoje.

— Eu diria, porém... — ela continuou — Que o brilho presente neles está diferente. Mais maduro.

E seus olhos, de que cor eram quando você... Estava viva?

Mordi os lábios, constrangida. Que droga de pergunta era aquela? Mas, bem, ela estava mesmo morta...

Edythe suspirou ao meu lado, seu corpo se projetando para a frente para que ela apoiasse os cotovelos em seus joelhos. Cruzou as mãos em frente ao rosto, parecia uma mulher séria, parecia quase normal.

— Normal? Como você achava que éramos? Como robôs? Estátuas imóveis durante todo o dia? — sua voz permanecia estável enquanto especulava a respeito de minhas impressões de sua família.

Seus olhos fugiam dos meus.

— Não é bem assim. — peguei-me constrangida diante da minha ignorância — Eu achava que vocês eram... Ruins. Sabe, mais ruins. Droga. Esqueça o que eu disse. É só que vocês não parecem ser o que todos me pregavam na aldeia, você não parece ser...

— Um monstro? — a ruiva concluiu meus pensamentos, parecendo divertir-se com todo o meu embaraço.

Obriguei-me a ficar em silêncio. De repente, toda aquela conversa pesou de forma estranha sob meu peito.

Eu estava literalmente em campo inimigo, comendo e dormindo e protegendo eles contra os meus próprios irmãos — irmãos que eu havia renegado, abandonado minha casa e minhas pessoas para...

Edythe negou com a cabeça, provavelmente incomodada com meus pensamentos.

Eu suspirei, deixando-me levar pela sensação. Não parecia certo. Estar aqui, em meio a esse caos, conversando com ela sobre nossas vidas antes de nos tornamos o que somos... Não parecia certo.

Com um suspiro, a vampira levantou-se ainda sem me encarar. Não pareceu se importar em tirar os vestígios do chão de sua calça, que pendia perfeitamente sob sua cintura de mármore.

— Eram verdes. Quando humana, ou como você diz, quando estava viva... Eu tinha olhos verdes.

E desapareceu, apenas um borrão pálido entre as árvores.

A angústia em meu peito e seu cheiro no ar eram as únicas provas de que estivera ali.


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Notas finais do capítulo

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