Elementar escrita por Pandora


Capítulo 5
Capítulo 5 ― A Study in Pink


Notas iniciais do capítulo

Quero dedicar esse capítulo a linda da Doctor pela recomendação, muito obrigada ♥ Por favor, peço que leiam as notas finais. Boa leitura a todos ♥



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Se havia uma palavra que descrevia com exatidão o que Dominique sentia naquele momento, essa palavra era cansaço. Desde que chegou do serviço cansativo de guarda-de-trânsito, Dominique não havia descansado de forma decente em nenhum momento. Os seus pés estavam a matando, principalmente após ela e Sherlock terem corrido por longos quarenta e cinco minutos por todos os lugares onde o assassino poderia ter se livrado da mala cor-de-rosa de vítima em um raio de cinco minutos da cena do crime.

Após acharem a evidência escondida em meio a várias sacolas pretas de lixo fedorento, Dominique não pensava em outra coisa que não fosse um demorado banho e dormir o sono dos justos. Mesmo que soasse intrigante e tentador descobrir junto com Sherlock os segredos que a mala rosa poderia esconder, ela teria de levantar cedo na manhã seguinte para trabalhar. O que infelizmente lhe renderia mais horas em pé e menos disposição para conquistar a sonhada promoção, afinal não ansiava permanecer por muito tempo como guarda de trânsito.

Quando chegaram no número 221B da rua Baker, Dominique não ousou subir as escadas para o apartamento do Sherlock Holmes. Ao invés disso, ela andou em direção a parte que pertencia a sua tia. Estava com o corpo dolorido e não parava de bocejar, nem mesmo trocar ofensas ou comentários maldosos com o detetive lhe interessavam.

― Não vai subir comigo? ― Perguntou Sherlock ao vê-la se afastar em direção a porta de vidro.

― Desculpa, Sher. Mas estou extremamente cansada, diferente de você, eu trabalhei o dia inteiro em pé. ― Murmurou a rua aproximando do detetive outra vez. ― Olha, eu estou fedendo, meus pés estão me matando e não consigo raciocinar direito.

― Nunca conseguiu. ― Provocou Sherlock.

― Há! Há! Muito engraçado. ― Ela revirou os olhos e beijou a bochecha do detetive com ternura. ― Boa noite, Sherlock!

― É sério isso? No momento que mais preciso você vai me abandonar? ― Sherlock franziu o cenho descrente de que Dominique estava abrindo mão de parte da investigação.

― Sherlock. ― Ela suspirou e assentiu com a cabeça. ― Sim, eu vou. Olha, você pode me chamar se algo interessante acontecer.

― Eu sou a pessoa mais interessante do seu dia. ― Insistiu Sherlock.

― Infelizmente tenho de concordar. ― Ela curvou o lábio para o lado.

― Céus, você está péssima mesmo. ― Sherlock franziu o cenho a olhando dos pés à cabeça.

― Eu te disse. ― Dominique deu com os ombros e regressou o caminho até a parte do apartamento que dividia com a tia e a melhor amiga. ― Cheguei tia!

― Graças a Deus. ― Agradeceu a senhora Hudson ao ouvir a voz da sobrinha.

Dominique mal havia ingressado no apartamento quando a senhora Hudson aproximou dela, a senhora carregava nas mãos uma bolsinha de crochê onde havia algumas libras. A ruiva fechou os olhos e fez careta, compreendia exatamente o que aquilo significava. Com certeza sua tia estava precisando de um grande favor.

― Do que precisa, tia? ― Perguntou Dominique jogando os capacetes sobre a cadeira vazia.

― Preciso que vá na farmácia para mim, acabou o meu remédio e nenhuma delas está aberta a essas horas. ― A senhora Hudson remexeu na bolsinha entregando o dinheiro nas mãos da Dominique.

― Preciso de mais, vai faltar. ― Falou Dominique ao checar a quantidade de dinheiro dada.

― Por que precisa de mais?

― Vou pegar um táxi, não irei de moto até a farmácia do centro. Estou cansada tia. ― Choramingou Dominique fazendo careta.

― Claro! ― Assentiu a Senhora Hudson, mesmo contrariada ela deu mais dinheiro para a ruiva.

― Daqui a pouco eu volto. ― Dominique guardou o dinheiro dentro do bolso e saiu do apartamento.

Aos resmungos irritadiços por mais uma vez ter de adiar seu plano de descansar, Dominique deixou a segurança de Baker Street para se aventurar nas ruas de Londres até a farmácia mais próxima. Por mais contrariada que estivesse, Domi jamais recusaria um favor que a tia lhe pedisse. Desde criança fora tratada pela sra. Hudson como se fosse sua própria filha, recebia tudo do bom e do melhor e a maioria dos seus pedidos eram atendidos, Domi foi o tipo de criança mimada que teve tudo a partir do momento que foi morar com a senhora.

―Táxi! ― Gesticulou Dominique assim que viu o automóvel passar. Para sua felicidade, ele parou quase de imediato. Enquanto entrava, ela falou a localização. ― Sabe que farmácia próxima faz plantão a essas horas?

― Claro, irei te levar para a mais próxima. ― Falou o motorista a olhando pelo retrovisor.

― Muito obrigada. ― Agradeceu Dominique afivelando o cinto e olhando para a janela.

♛♛♛♛♛

Os olhos da Beladonna estavam fixos para fora da janela, observando as paisagens mudarem de acordo com que atravessavam a cidade. Mesmo estando mais calma com tudo que acontecia, ela e John permaneceram de mãos dadas. Soltando apenas quando pararam em frente a um hotel mequetrefe situado em Strand.

― Vai ser rápido. ― Disse John ao descer.

― Tudo bem. ― Assentiu Anthea sem tirar os olhos do celular.

John e Bela trocaram sorrisos curtos e sem mostrar os dentes antes dele sair do carro e deixa-la sozinha com Anthea. Assim que John bateu a porta do carro, Beladonna retirou do bolso o cartão oferecido por Mycroft, ele era cinza com detalhes e informações prateadas.

― M Holmes. ― Leu Bela movendo o cartão e admirando o reflexo das letras. ― Um cartão elegante, como ele.

― Sim, ele é um homem elegante. ― Assentiu Anthe sorrindo com o canto dos lábios.

― E um homem de recursos também, pelo que percebo. ― Bela guardou o cartão no bolso outra vez. ― O que ele é? De verdade!

― Uma pessoa perigosa. Isso é tudo que precisa saber sobre o meu chefe. ― Anthea murmurou como quem terminasse uma discussão.

― Ele não é uma pessoa perigosa. É apenas alguém preocupado com o irmão, isso é visível nos pequenos detalhes. Qualquer idiota percebe. Mas por algum motivo, nenhum aceita a aproximação do outro de forma direta. ― Beladonna rebateu e curvou o canto dos lábios. ― Sei perfeitamente essa sensação, tenho três irmãs e um irmão, todos mais novos que eu.

― Eu sei. Sabemos tudo ao seu respeito. ― Anthea olhou para Bela por breves segundos.

― Não, vocês não sabem. ― Bela arqueou uma das sobrancelhas. ― Vocês no máximo sabem minha profissão, sobre meus familiares, esse tipo de informação que é facilmente coletada por quem tem o dedo no governo britânico. Que é o caso do seu patrão.

― Isso não é tudo que poderíamos saber? ― Perguntou Anthea arqueando uma das sobrancelhas.

― Com certeza não, Andrea. ― Beladonna piscou para a assistente de Mycroft.

― Como soube meu verdadeiro nome? ― Perguntou Anthea desconfiada.

― Você falou. ― Bela franziu o cenho.

― Eu disse Anthea.

― Ah! Prefere que eu te chame como? ― Perguntou Bela mordendo o lábio inferior.

― Bem, seu namorado não sabe meu nome verdadeiro.

― John não é meu namorado. ― Bela fez careta. ― O conheci hoje, ele é apenas o meu amigo gay.

― Claro. ― Anthea sorriu sarcástica e voltou a digitar ao celular.

A professora começou a abrir a boca para responder a assistente de Mycroft, porém logo a fechou sem ao menos dizer uma palavra. John havia regressado para o carro após pegar a arma que escondia no modesto quarto do hotel.

― Podemos prosseguir. ― Falou John pousando a mão com carinho sobre o joelho da Bela.

O caminho de volta para o endereço 221B da rua Baker foi silencioso e monótono. A diversão da Beladonna foi estralar os dedos da mão do John brincando com os mesmos. O homem apenas riu e retribuiu a caricia com uma massagem nas mãos delicadas da Bela quando todos seus dedos foram estralados.

― Chegamos, graças a Deus. ― Anunciou Beladonna assim que o carro parou em frente da casa.

― Tem alguma remota chance de você não contar ao seu chefe onde fomos? ― Perguntou John enquanto desafivelava o cinto de segurança.

― Ela já contou, John. ― Bela apertou o ombro do rapaz, o empurrando sutilmente para fora. ― Tchau, Anthea. Obrigada pela carona.

― Tchau, Bela. ― Despediu Anthea observando a jovem sair. ― Disponha.

Os dois amigos desceram do carro e caminharam em direção ao apartamento. Antes de entrarem, John utilizou do batente da porta para anunciar a chegada com duas batucadas. Ele abriu a porta e deu espaço para Bela passar, comportando-se como um perfeito cavaleiro.

― Obrigada. ― Agradeceu Beladonna com um sorriso gentil ao passar. ― Ingleses, tão cordiais. Gosto de pessoas assim.

― Bela, você tem bastante folgas. Não tem? ― Perguntou John com nervosismo em seu tom de voz.

― Algumas, na verdade várias. Sabe como é, o ano letivo começa apenas em Setembro. ― Bela gesticulou com uma das mãos ao responde-lo, enquanto com a outra segurava no corrimão ao subir as escadas junto com John.

― Então eu poderia chama-la para sair? Qualquer dia desses, quem sabe. ― John murmurou ficando com as bochechas rubras. ― Como amigos. Te apresentar Londres.

― Ah! Claro. ― A morena assentiu rindo divertida com o mal jeito do rapaz. ― Estou precisando mesmo. Vou adorar sair com você, como amigos.

― Claro, como amigos. ― Confirmou John abrindo a porta do apartamento que dividira com Sherlock.

Ao alcançarem o andar superior e entrarem no recinto, a dupla deparou com Sherlock Holmes deitado de costas sobre o sofá. Ele parecia imerso em seus pensamentos, porém arregalou os olhos azuis ao escutar passos e o barulho metálico da muleta do John sobre o assoalho de madeira.

― O que está fazendo? ― Perguntou John assim que abriu a porta.

― Adesivos de Nicotina. ― Sherlock ergueu a manga da camiseta, revelando três grandes adesivos de cor amarelada colada na pele. ― Me ajudam a pensar.

― Isso vai acabar te matando. ― Repreendeu Beladonna aproximando do detetive. Ela inclinou o corpo para frente, segurou com força o braço dele arregaçando a manga. ― Para que tudo isso?

― É impossível ser fumante em Londres, hoje em dia. ― Respondeu Sherlock olhando das mãos da professora para seus olhos castanhos. ― Uma má notícia para o meu cérebro.

― E uma excelente notícia para seu pulmão. ― Retrucou Bela retirando dois dos três adesivos que Sherlock utilizava, puxando os mesmos como se fossem um band-aid.

― Argh! Respirar é um tédio. ― Sherlock puxou o braço para próximo do corpo, o protegendo da Bela. ― Porque você fez isso?

― São três adesivos, Sherlock. ― Repreendeu a baixinha fazendo uma bola de papel com aqueles que estavam em sua mão. ― Três adesivos, isso vai acabar te matando. Não quero um personagem morto.

― Estou com um problema de três adesivos. ― Ele sentou no sofá olhando irritadiço para ela.

― Vai ter um problema maior que três adesivos se continuar assim. ― Bela cruzou os braços sobre o peito e o olhou como uma mãe repreendendo um filho travesso. ― Então? Vai dizer sobre o atual problema?

― Você e a Dominique enviaram mensagens. ― John olhava para o detetive o sofá, estando tão curioso quando Bela. ― Falando nisso, cadê ela?

― Ela saiu para comprar remédios, pegou um táxi e creio que mais tarde apareça por aqui. ―  Sherlock deu com os ombros e voltou-se para John. ― Pode me emprestar o celular?

― Meu celular? ― Perguntou John fazendo careta.

― Sim, podem reconhecer o meu número. Grande chance de acontecer já que está no site. ― Respondeu Sherlock com desdém.

― Você estava com o meu telefone o tempo inteiro. ― Bela arqueou uma das sobrancelhas.

― Acabou a bateria, ela estava quase nula quando o deixou comigo. ― Sherlock entregou o aparelho desligado para a mulher.

― Mas e a Sra. Hudson? Ela tem um telefone. ― Rebateu Bela guardando o aparelho dentro do bolso.

― Eu tentei gritar, mas ela não ouviu. ― Sherlock voltou a deitar de costas no sofá falando com desdém.

― Estávamos do outro lado de Londres. ― Crispou John irritadiço e entre os dentes.

― Não era urgente e não estava com pressa. ― Murmurou Sherlock com serenidade em seu tom de voz.

― Toma. ― Mesmo descontente, John retirou o aparelho celular do bolso e entregou para Sherlock. O qual segurou o aparelho entre as mãos. ― Uma mala cheia de problemas?

― A mala dela... ― Revelou Sherlock pensativo, dizia mais para si do que para os presentes.

― Desculpa, mala dela? ― Perguntou Bela arqueando uma das sobrancelhas. ― Está falando do caso?

― A mala dela, sim, óbvio. ― Respondeu Sherlock voltando a abrir os olhos. ― O assassino levou a mala, seu primeiro grande erro.

― Certo, ele levou a mala e... ― Começou John interessado em saber mais detalhes sobre o caso da suicida.

― Não temos outro jeito, temos de arriscar. ― Ele entregou o telefone do John para Bela, a qual era mais próxima a ele. ― Tem um número na minha mesa. Mande um sms.

― Você nos chamou aqui para mandar um SMS? ― Perguntou Bela mantendo os braços cruzados sobre o peito. ― É sério isso, Sher?

― Sim, o número está na mesa. ― Sherlock balançou o telefone sem ao menos levantar do sofá.

― Tudo bem. ― Bela pegou o celular e caminhou em direção a mesa bagunçada do detetive.

Mesmo tentando esconder, John estava nervoso com todas as coisas que aconteciam. Ele aproximou da janela pela segunda vez, olhando para fora por breves segundos, como se esperasse ser atacado ou raptado pela equipe do Mycroft a qualquer minuto.

― Qual o problema? ― Perguntou Sherlock olhando desconfiado para John.

― Conhecemos um amigo seu. ― Respondeu John se afastando da janela.

― Um amigo? ― Sherlock franziu as sobrancelhas ficando surpreso com a menção da palavra.

― Inimigo. ― Corrigiu John rapidamente.

― Ah! Qual deles? ― Perguntou Sherlock com calma.

― Nossa, são tantos assim? ― Perguntou Bela em tom de brincadeira.

― Você nem imagina. ― Sherlock deu com os ombros. ― Mas não responderam minha pergunta, qual deles?

― Seu arqui-inimigo. ― Respondeu Bela puxando a cadeira próxima a mesa para sentar.

― As pessoas tem arqui-inimigos? ― Perguntou John confuso.

― Pelo visto o Sherlock tem. ― Murmurou Bela.

― Ele ofereceu dinheiro para vocês me espionarem? ― Perguntou Sherlock olhando desconfiado para ambos.

― Sim. ― Assentiu John continuando parado próximo a janela.

― Aceitaram? ― Sherlock arqueou uma das sobrancelhas.

― Não, é óbvio que não. ― John respondeu sentindo-se ofendido com a desconfiança.

― Poderíamos ter dividido, pensem melhor da próxima vez. ― Disse Sherlock voltando a encarar o teto. ― Como acham que Dominique sempre tem dinheiro? Ela não é tão idiota quanto parece, na verdade ela é um gênio quando pensa antes de agir, mas não digam que a elogiei.

― Tudo bem. ― Assentiu Bela rindo por breves segundos.

― Quem é ele? ― Perguntou John querendo descobrir mais sobre o homem misterioso.

― O homem mais perigoso que irá conhecer. E não é o meu problema agora. ― Respondeu Sherlock começando a ficar frustrado. ― Beladonna, o número na minha mesa!

― Já estou com ele marcado no celular, o que eu digito para essa tal de Jennifer Wilson? ― Perguntou Bela entortando o lábio. ― Espera, essa era a mulher morta?

― É ela sim, mas não importa. ― Sherlock fechou os olhos voltando a concentrar em seus pensamentos. ― Só digite a seguinte mensagem, exatamente com essas palavras: “O que aconteceu em Lauriston Gardens? Acho que desmaiei. Rua Northumberland, 22. Por favor venha”.

― Você desmaiou? ― Perguntou John franzindo o cenho.

― O que? Não. Não. ― Sherlock virou-se para o amigo e levantou do sofá. Pulando sobre a mesa de centro, ele aproximou da professora. ― Já enviou, Bela?

― Enviada com sucesso. ―Assentiu Bela olhando com o canto dos olhos para Sherlock parado sobre seu ombro.

― Que bom. ― Sherlock sorriu sem mostrar os dentes e afastou dela.

Com passos rápidos, o detetive caminhou até a pequena cozinha do apartamento e pegou de cima da cadeira a mala rosa da assassinada. Segurando o objeto em mãos, ele regressou para a sala de estar, puxou a cadeira vazia que estava próxima a Bela e colocou de frente para sua poltrona.

― Sherlock! ― Bela arregalou os olhos ao ver o objeto. ― Isso é obstrução da justiça, não pode esconder evidencias criminais.

― Não estou escondendo nada. Estou apenas fazendo o meu trabalho. ― Retrucou Sherlock abrindo a mala. John o olhava em estado de choque, descrente que o detetive havia levado o objeto para casa. ― Só para constatar, eu não a matei.

― Sabemos disso. ― Falou John mais calmo.

― Por que não? Parece lógico, com o sms e a mala. ―Falou Sherlock olhando do John para a Bela.

― As pessoas costumam achar que você é o assassino? ― Perguntou Bela cruzando os braços sobre o peito.

― Na maioria dos casos. ― Assentiu Sherlock sorrindo divertido e sentando sobre o encosto da poltrona.

― Certo! ― Mancando, John caminhou até a poltrona de frente para Sherlock e sentou. Bela aproximou sutilmente e acomodou no braço da poltrona no John, estando cansada de ficar em pé. Com delicadeza, o médico a abraçou pela cintura de forma que Bela não caísse para o lado. ― Vai nos contar como a achou?

― Procurando. ― Respondeu Sherlock mantendo o olhar atento sobre a mala.

― Onde? ― Perguntou Bela pousando uma das mãos no joelho e a outra envolvendo os ombros do John.

―  O assassino deve tê-la levado para Lauriston Gardens. Ele só teria ficado com a mala por acidente se estivesse no carro. Ninguém poderia ser visto com essa mala sem chamar a atenção. Particularmente um homem, o que seria ainda mais chamativo. Por isso ele decidiu se livrar dela, no momento que percebeu. Não levou mais que cinco minutos para perceber o erro. ― Explicou Sherlock sem tirar os olhos do objeto. ― Dominique e eu procuramos nos arredores de Lauriston Gardens, em todos os lugares dentro de um raio de cinco minutos da cena do crime onde o assassino poderia ter se livrado da mala. Levamos menos de uma hora para encontrar.

― Descobriu tudo isso porque a mala era rosa? ― Perguntou John tentando acompanhar a linha de raciocínio do detetive.

― Tinha de ser rosa! ― Exclamou Bela começando a entender como a mente brilhante de Sherlock funcionava, ou pelo menos parte dela.

― Por quê eu não pensei nisso? ― Perguntou John abismado.

― Porque é um idiota. ― Respondeu Sherlock sem hesitar, fazendo com que John olhasse chateado para ele e Beladonna risse pelo nariz. ― Não, não fique assim. Praticamente todo mundo é.

― Hey! ― Repreendeu Bela levemente irritadiça.

― Você é uma exceção, Bela. Precisa apenas aprimorar os dons que já tem. ― Explicou Sherlock fazendo a professora abrir um breve sorriso orgulhoso. ― Enfim, percebem o que está faltando?

― Da mala? Como eu poderia saber? ― Perguntou John descontente.

― O telefone celular. ― Respondeu Bela batendo palmas animada. ― Você não está dizendo que acabei de enviar a mensagem para o assassino.

― Como eu disse, você é a exceção. ― Sherlock sorriu com o canto dos lábios e olhou para Bela. ― Ela tinha amantes, era cuidadosa. Por tanto não esconderia o celular em casa. Sabemos que ela possuía um celular.

― Eu enviei a mensagem para o assassino. ― Bela levantou assustada do sofá.

― Espera, agora o assassino tem meu número? ― Perguntou John também ficando nervoso. ― De que isso vai adiantar?

Assim que o médico faz a pergunta, o seu telefone começa a tocar. O número estava restrito, sendo impossível identificar quem era o autor daquela ligação. Ele ergueu o aparelho nas mãos, o segurando entre os dedos como se fosse explodir a qualquer momento.

― Poucas horas depois da sua última vítima, ele recebe um sms que só pode ter vindo dela. ― Sherlock olhava para a mão do John onde estava o aparelho. ― Se qualquer pessoa tivesse achado o celular ignoraria a mensagem, mas o assassino, entraria em pânico.

Empolgado, Sherlock fecha a mala com um único movimento enquanto levanta da poltrona. Ele caminha pelo apartamento em direção a saída, parando apenas para vestir o blazer preto que estava jogado próximo a porta.

― Você falou a polícia sobre isso? ―Perguntou Bela o seguindo.

― Bem, a Dominique sabe que estou com a mala. ― Sherlock deu com os ombros.

― Estou falando a polícia de verdade, Sher. ― Rebateu Bela cruzando os braços sobre o peito. ― Dominique é guarda de transito, seu departamento é outro.

― Não há tempo para isso. ― O detetive franziu o cenho.

― Então porque está falando conosco? ― Perguntou John confuso.

― A Sra. Hudson levou o meu crânio e a Dominique não quis me fazer companhia. ― Explicou Sherlock vestindo o sobretudo.

― Basicamente estamos substituindo do seu crânio. ― Murmurou John levantando da poltrona.

― Não, vocês estão substituindo a Dominique, a qual por sua vez substitui o crânio. ― Sherlock sorriu divertido. ― E relaxem, estão indo muito bem. Então...

― Então o que? ― Perguntou Beladonna gesticulando com as mãos.

― Bem. Vocês podem ficar assistindo televisão e se conhecendo melhor ou...

― Nós vamos com você, se quiser nossa companhia. É claro. ―Falou Bela curvando o canto dos lábios e interrompendo o detetive.

― Gosto de companhia quando saiu. ― Assentiu Sherlock colocando o cachecol ao redor do pescoço. ― E penso melhor quando falo em voz alta. O crânio e a Dominique costumam chamar muito a atenção.

― Típico da Dominique. ― Bela riu baixo.

― Algum problema, John? ―Perguntou Sherlock olhando para o médico.

― Sim. A Sargento Donavan...

― O que tem ela? ― Sherlock interrompeu o colega de apartamento.

― Ela disse que você gosta disso. Se diverte. ― Respondeu John.

― E eu disse “perigoso” e aqui estão vocês. ― Sherlock sorriu colocando as luvas pretas.

Carregando um sorriso divertido na face, o detetive virou as costas deixando o apartamento. Rapidamente John e Beladonna o seguiram para fora de casa, estando curiosos para saber o desfecho de toda essa aventura. A morena suspirou pensando na melhor amiga, sentindo pena da mesma por estar perdendo algo que tinha tudo para ser divertido.

― Então, onde estamos indo? ― Perguntou John após alcançarem a rua.

― Rua Northumberland. Cindo minutos a pé. ― Respondeu Sherlock com as mãos no bolso.

― Acha que ele é burro para ir até lá? ― Perguntou Beladonna ajeitando o cachecol no pescoço.

― Não. Acho que é esperto o suficiente. E eu amo os espertos. Eles estão loucos para serem pegos. ― Disse Sherlock com animação.

― Por que? ― Perguntou John.

― Apreciação, aplausos. A fama finalmente. ― Explicou Sherlock. ― É o calcanhar de aquiles dos gênios, John. Ele quer uma plateia.

― Sim. ― Concordou John sem saber mais o que dizer.

― Ele caça aqui, no coração da cidade. Sabemos que as vítimas foram sequestradas, isso muda tudo. ― Enquanto caminhavam com passos apressados, Sherlock explicava seu ponto de vista. ― Todas as vítimas sumiram em ruas movimentadas, lugares cheios e ninguém percebeu. Pensem! Em quem confiamos, mesmo sem conhecer?

― Policiais? ― Chutou Beladonna.

― Bom palpite, mas não. ― Sherlock balançou a cabeça em negação. ― Policiais são notados, nosso assassino é alguém que não chama a atenção. Quem caça no meio da multidão.

― Não sei, quem? ― John olhou para o colega por breves segundos.

― Não faço a mínima ideia, estão com fome? ― Sherlock deu com os ombros e os guiou para dentro de uma cantina Italiana.

A cantina era pequena, pouco movimentada. Mas possuía certa graça, passando a sensação de local familiar e um tanto agradável. Sherlock cumprimentou o recepcionista assim que entraram, deixando obvio que conhecia as pessoas que trabalhavam no local como se o frequentasse sempre.

― John, poderia me emprestar o celular? ― Pediu Bela antes de sentar à mesa com eles. ― Preciso ligar para a Dominique.

― Claro. ― Assentiu John retirando o aparelho do bolso e entregando a ela. ― Vai querer que eu peça alguma coisa enquanto liga?

― O que pedir para mim, estará ótimo. ― Ela sorriu gentilmente e afastou da dupla.

Os olhos do John permaneceram sobre a professora, admirando as curvas dela e a maneira de andar enquanto se afastava para o canto mais silencioso do restaurante. Estava hipnotizado por sua beleza, educação e inteligência. Sherlock sorriu divertido ao perceber que o novo colega de quarto havia começado a ficar interessado na doce Beladonna.

― Sabe que não é o tipo dela, não sabe? ― Perguntou o detetive arqueando uma das sobrancelhas.

― Que? Não, eu não estou afim dela. ― John desconversou ficando levemente nervoso. ― Mas que tipo seria o dela?

― Bela é uma sonhadora, adora ler. O homem dos seus sonhos é como o de qualquer mulher que crescera lendo livros românticos. ― Explicou Sherlock sem tirar os olhos da janela. ― Um perfeito cavaleiro.

― Eu posso ser um cavaleiro. ― Murmurou John curvando o lábio.

― Não os do sonho dela. ― Sherlock olhou brevemente para o colega. ― Ele quer um senhor Darcy. Alguém que mude por ela e lhe passe segurança. Você no máximo lhe passa segurança.

― Está me dizendo que você é o tipo dela? ― John arqueou as sobrancelhas e tentou esconder o ciúme no tom de voz.

― Que? Não. ― Sherlock franziu o cenho. ― Para Beladonna sou apenas uma inspiração. Eu sou o tipo da Dominique.

― Tipo da Dominique? ― Beladonna aproximou da mesa em silencio, havia escutado apenas a última frase dita por Sherlock. ― Você, Sherlock? Desculpa, mas não. Conheço a minha amiga e você, definitivamente, não faz o tipo dela.

― Falando nela, conseguiu ligar? ― Perguntou John acariciando a mão da Bela ao pegar o celular de volta.

― Infelizmente não, só deu caixa postal. Mas salvei o nosso número no seu telefone, o meu e o dela. ― Bela sorriu e pousou as mãos sobre a mesa. ― Mas mudando de assunto, vocês acham mesmo que o assassino vai tocar a sineta?

― Só se ele for muito estúpido. ― Respondeu John apoiando os cotovelos na mesa.

― Ele matou quatro pessoas, é claro que é estúpido. ― Disse Sherlock voltando a olhar para a rua.

Não demorou muito quando um homem corpulento aproximou da mesa, ele era calvo e com os cabelos restantes conseguia montar um rabo de cavalo.

― Sherlock. ― Chamou o gerente sorrindo. ― Qualquer coisa do cardápio, de graça. Para você, seu namorado e sua amiga.

― Vão querer o que? ― Perguntou Sherlock olhando da Bela para o John.

― Não sou namorado dele. ― John apressou a dizer ao pegar o cardápio.

― Ele me ajudou com a justiça. ― Comentou o homem orgulhoso e segurando o bloco de notas nas mãos.

― Este é Angelo. ―Apresentou Sherlock. O homem estendeu a mão para apertar a do John e em seguida a da Beladonna. ― Há três anos, obtive sucesso quando provei ao Lestrade que durante um triplo assassinato Angelo estava do outro lado da cidade invadindo uma casa.

― Ele limpou o meu nome. ― Disse Angelo empolgado.

― Só melhorei um pouco. ― Corrigiu Sherlock voltando a olhar para a rua. ― Algo acontecendo por ai?

― Nada. ― Respondeu Angelo. ― Mas se não fosse esse homem, eu teria ido preso.

― Você foi preso. ― Sherlock voltou a corrigir.

― Vamos querer macarrão à bolonhesa e vinho tinto para acompanha. ― Falou Beladonna fazendo o pedido pelos três, era visível nas expressões do Sherlock que aquela conversa atrapalhava o rumo da investigação.

― Claro! E vou trazer uma vela, é mais romântico. ― Angelo assentiu e se afastou da mesa sem ao menos dar ouvidos a John.

― Não sou namorado. ― Resmungou John, fazendo com que Beladonna risse divertida.

― Relaxa. Tem muita gente que acha que namoro a Dominique. ― Bela sorriu ao recordar dos boatos da época da escola.

― E vocês nunca namoraram? ― Sherlock arqueou uma das sobrancelhas e olhou desconfiado para a morena ao seu lado.

― Namorar não, a gente se beijou, duas vezes. ― Bela revirou os olhos. ― Beijos não são namoros, além de que foi pura pesquisa.

― O primeiro beijo de vocês, para que estivessem prontas quando chegasse a hora de beijar os garotos de verdade e depois na faculdade, mais precisamente em um jogo de verdade e desafio da turma que andavam. ― Sherlock narrou voltando a olhar para fora da janela.

― Como soube? ― Bela cruzou os braços sobre o peito.

― Eu li o diário antigo da Dominique, pelo menos as folhas que não estavam chamuscadas ou rasgadas. ― Sherlock sorriu sem mostrar os dentes. ― Ela derrubou na rua durante a mudança. Por isso sei que sou o tipo dela, que vocês se beijaram duas vezes, que ela morre de medo de aves e que ela nunca...

― Okay, já chega. ― Bela o interrompeu, impedindo que o detetive prosseguisse narrando os fatos vergonhosos sobre a melhor amiga.

― Medo de aves? ― Perguntou John curioso.

― Galinhas, patos, galo, ganso, papagaios, periquitos. Todas as aves que podem ser domesticadas. ― Explicou Bela dando com os ombros. ― Longa história. Mas ela adora comer frango frito, peru na ceia natalina e pato com laranja. ― A mulher sorri quando os pratos são servidos. ― Obrigada.

― Obrigado. ― Agradeceu John ao atendente.

― Comam, vai ser uma longa espera. ― Sherlock batucava os dedos sobre a mesa.

Beladonna não hesitou em responder a ordem do Sherlock. Ela fechou os olhos e murmurou ao dar a primeira garfada no belíssimo e saboroso prato de macarronada. Não havia comido nada desde as cinco horas da tarde e naquele momento seu estômago suplicava por alimento. John a acompanhou na macarronada, sorrindo divertido ao reparar que Bela não possuía frescura ao comer, ficando com os cantos da boca suja devido as grandes garfadas que dava. Porém Sherlock manteve impassível, seu olhar estava na rua movimentada do centro enquanto a comida permanecia intocada no prato.

 ― Sabe, Sherlock. As pessoas não possuem arqui-inimigos. ― Falou John quebrando o silêncio momentâneo que havia formado. Ele estava determinado a saber mais sobre Mycroft.

― Perdão. O que? ― Sherlock olhou confuso para o colega ao ser pego desprevenido.

― Na vida real. As pessoas não possuem arqui-inimigos. ― Repetiu John com calma.

― Não mesmo? Que sem graça. ― Ironizou Sherlock voltando a encarar a rua. ― Parece tão chato.

― Então quem eu e a Bela conhecemos? ― Rebateu John após dar uma garfada em sua comida.

― O que as pessoas reais, possuem em suas vidas reais? ― Perguntou Sherlock com sarcasmo.

― Amigos, pessoas que conhecemos, pessoas que gostamos, pessoas que não gostamos, namoradas, namorados, familiares. ― Explicou Beladonna intrometendo no assunto enquanto bebericava o vinho.

― O que eu disse: Sem graça. ― Retrucou Sherlock como quem terminasse o assunto.

― Então você não tem uma namorada? ― Perguntou Bela tentando não soar invasiva. Apenas queria saber mais sobre aquele por quem escreveria no futuro.

― Namorada? Não. Não tem isso na minha área. ― Respondeu Sherlock fazendo careta, como se a ideia de namorar fosse absurda.

― Tudo bem, não está mais aqui quem perguntou. ― Bela colocou a taça sobre a mesa e ergueu as mãos em rendição. ― Mas e namorado? É normal, sabe.

― Eu sei que é normal, Bela. ― Sherlock falou com calma ao perceber que a mesma estava nervosa.

― Então tem um namorado? ― Ela apoiou os cotovelos na mesa e descansou o queixo sobre as mãos.

― Não, não tenho um namorado. ― Sherlock negou dando um breve sorriso.

― Certo. Você não tem ninguém, é uma pessoa solitária, como eu. ― Bela cruzou as pernas e terminou de beber o líquido tinto na taça. ― Bom. Legal.

Durante alguns minutos Sherlock ficou em silêncio tentando compreender o motivo das perguntas feitas por Bela. Achando confuso o comportamento da jovem professora. Pelas costas do detetive, Beladonna e John trocavam flertes através do olhar.

― Escuta, Bells... ― Começou Sherlock ansioso, pensava nas palavras que utilizaria para não soar rude com a mulher mais doce que conhecia. ― Quero que saiba que me considero casado com o meu trabalho. E por mais lisonjeado que esteja...

― Não, Sherlock. ― Ela tossiu ao se afogar com o vinho, sentindo o mesmo descer rasgando pela garganta. As bochechas ficaram rubras ao notar que o detetive havia pensado errado sobre suas perguntas. ― Só estava curiosa como escritora. Sabe... Afinal você é a minha inspiração.

― Ah! Claro. ― Sherlock sorriu sem mostrar os dentes, parecendo mais calmo. ― Até porque pelo que pude notar é o John que está interessado em você.

― Que, não... ― Começou John nervoso ficando embaralhado com as palavras. ― Quero dizer... Sim... Mas...

― Do outro lado da rua, o táxi, parou. ― Mostrou Sherlock mudando o rumo da conversa e aliviando a tensão. ― Não vejo ninguém entrando ou saindo. Porque um táxi? Isso foi esperto, muito esperto.

― Acha que é ele? O nosso assassino? ― Perguntou Bela apertando no banco ao ficar mais próxima do John para poder observar melhor o automóvel.

― Não encarem. ― Ordenou Sherlock sem tirar os olhos do carro.

― Mas você está encarando. ―Rebateu John colocando a mão sobre o joelho da Bela de forma discreta.

― Os três não podem encarar. ― Disse Sherlock ao casal de amigos.

Ao terminar a frase o detetive levantou da mesa, levando consigo o blazer que havia colocado sobre a cadeira. Sem hesitar e cheios de curiosidade, Beladonna e John o seguiram para fora do restaurante. Por alguns segundos Sherlock trocou olhares com o homem de dentro do automóvel e antes que pudesse aproximar do mesmo, o táxi deu a partida e começou a deixar a rua. Desesperado para alcança-lo, Sherlock correu para atravessar a rua e quase foi atropelado por um carro de passeio da cor vinho.

― Desculpa. ― Pediu John ao motorista, enquanto ele e Beladonna corriam atrás do detetive.

― Peguei a placa do táxi. ― Revelou Beladonna agradecendo por sua memória fotográfica funcionar.

― Bom para você. ― Sherlock ergueu as mãos levando até a tempora, fechou os olhos e começou a balbuciar rapidamente. ― Direita, reta, obra, sinal, ônibus, pedestres, obrigatória a esquerda, outro sinal.

Como se tivesse chegado a uma conclusão, Sherlock correu apressado pela rua. Sem hesitar empurrou um civil que estava no caminho e entrou no prédio que o mesmo havia acabado de abrir. Mesmo sem compreender ao certo o que estava acontecendo e para onde Sherlock pretendia os levar, Beladonna e John o acompanharam na perseguição atrás do táxi.

― Eu acabei de comer. ― Murmurou Bela com a voz arfante.

A adrenalina tomava o corpo da jovem professora enquanto corriam na perseguição ao assassino. Eles atravessaram por dentro de prédios interligados. Subiram escadas de todos os tipos, em uma delas Beladonna perdeu a sapatilha de boneca que utilizava quando o salto da mesma prendeu na grade. Mesmo perdendo seu par de sapatos favoritos e ficando descalça na rua, Bela não se deixou abater, estando firme e forte na perseguição.

Vez ou outra Sherlock os chamava, apressando tanto Bela quando John na corrida. O qual estava logo atrás. Um sorriso maroto brotou dos lábios da mulher, agora sabia exatamente o sentimento que Dominique tentava lhe descrever quando falava sobre perseguições policiais. Por breves segundos sentiu pena da amiga que estava perdendo a diversão, mas a sensação de pena não durou por muito tempo. Quando percebeu que estava sendo capaz de fazer pakour pelos telhados dos prédios Londrinos e que havia pulado de um prédio ao outro sem hesitar, sentiu-se viva, como se o mundo todo a pertencesse.

Os olhos dela estavam sobre Sherlock Holmes, tentava não o perder de vista e seguia todos os seus movimentos como uma sombra. De alguma maneira a adrenalina fazia com que sentisse disposta, ignorando qualquer reação negativa que o organismo tentava expressar.

― Agora o pegamos. ― Comemorou Beladonna arfante quando alcançaram o primeiro ponto de encontro. Mas infelizmente a comemoração havia sido antes da hora.

― Droga! ― Resmungou Sherlock com a voz cansada de tanto correr. ― Por aqui, pessoal!

― Por aqui, John! ― Chamou Bela ao notar que o colega havia virado na rua errada.

A perseguição continuou por mais alguns minutos, só que dessa vez apenas pelo solo Londrino. O trio cruzou vielas de aparência sinistra, empurrou alguns pedestres que atrapalhavam o caminho e correu por várias quadras até o segundo ponto de encontro. Bela estava surpresa em como o cérebro do detetive trabalhava, era como se Sherlock tivesse com um GPS atualizado dentro da mente brilhante.

― Parado! Polícia! ― Ordenou Sherlock jogando o corpo na frente do táxi que perseguiam, forçando o mesmo a parar após quase ser atropelado. ― Abra a porta. ― Ele abriu a porta do carro e olhou fixamente para o rosto do passageiro. ― Não! Dentes, bronzeado. Californiano?

― Que droga. ― Murmurou Bela passando as mãos no cabelo e com a voz arfante. Não acreditava que havia perdido o sapato em uma perseguição atoa.

― Santa Mônica, Los Angeles. Acabou de chegar. ― Contou Sherlock após olhar a maleta do homem.

― Como você pode saber? ― Perguntou John intrigado.

― Pela bagagem. ― Mostrou Sherlock frustrado. ― Primeira vez em Londres, certo? Indo para o seu destino pela rota do taxista.

― Desculpe, são mesmo da polícia? ― Quis saber o passageiro tão confuso quanto os outros.

― Sim. Tudo certo? ― Sherlock lhe mostrou um distintivo rapidamente.

― Está. ― Assentiu o passageiro.

― Bem-vindo a Londres. ― Desejou Sherlock afastando do carro.

― Qualquer problema é só nos procurar. ― Falou John para o passageiro e fechou a porta do carro.

― Que droga. ― Resmungou Bela apoiando as mãos no joelho para tomar fôlego. ― Não acredito que perdi um sapato atoa.

― Basicamente era só um táxi que desacelerou. ― Resmungou John arfante ao aproximar da Bela e do Sherlock.

― Basicamente. ― Assentiu Sherlock sem tirar os olhos do táxi.

― Não era o assassino? ― Perguntou Bela querendo confirmar a dedução.

― Não, não mesmo. ― Respondeu Sherlock desgostoso.

― País errado, bom álibi. ― Comentou John.

― É o que parece. ― Murmurou Sherlock balançando os braços.

― Onde conseguiu o distintivo? ― Perguntou Bela ficando com a coluna ereta e balançando o corpo sobre os calcanhares.

― Detetive Inspetor Lestrade. ― Falou John pegando o objeto da mão do detetive e lendo em voz alta, o médico estava tão curioso quanto a professora.

― Sim. Eu peguei do bolso dele enquanto ele não olhava. ― Revelou Sherlock dando com os ombros. ― Pode ficar com esse, eu tenho vários no apartamento. ― John guardou o objeto no bolso e começou a rir.  ― O que?

― Nada. É o “Bem-vindo a Londres”. ― Contou John com a sombra do riso no rosto.

― Recuperaram o fôlego? ― Perguntou Sherlock ao ver que o taxi havia parado perto de dois policiais. O californiano conversava com o guarda e apontava para o trio parado a alguns metros de distância.

― Quando vocês quiserem. ― Disse Bela gesticulando com as mãos.

O trio trocou olhares por breves segundos e saiu correndo antes que a verdadeira polícia viesse tirar satisfação com ele. Beladonna não conseguia parar de sorrir animada enquanto corriam de volta para a casa, aquela havia sido a coisa mais insana que fizera em toda sua vida até o momento. Felizmente Dominique estava certa, ela precisava de vivência e o destino parecia sorrir, lhe abrindo um leque cheio de novas experiências.


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Notas finais do capítulo

Primeiro quero fazer um agradecimento decente a Doctor (Vitória Muniz) pela recomendação magnifica que recebi na história. Fico muito feliz em saber que estão gostando do trabalho, escrevo de coração para lhes agradar ♥ Muito obrigada, mesmo ♥

Segundo: "Elementar" terá muitos momentos que repercutiram em One-shot's e que alguns que deixarei fora dessa fanfiction. E por isso resolvi criar um spin-off chamado "The Game is On!". Nele serão narrados contos extras da fanfiction, como momentos dos shipps que deixarei passar e algumas outras coisas. Aceitarei sugestões de temas também, por exemplo, Tia Pandora, escreve mais sobre shipp X. Ou então Tia Pandora, narra sobre tal acontecimento na vida da personagem X. Esse tipo de coisa, deixarei o link aqui e também nas notas iniciais da fanfiction.
Link: https://fanfiction.com.br/historia/730178/The_game_is_on/

Muito obrigada por estarem acompanhando a fanfiction. Espero que estejam gostando e em breve postarei o próximo capítulo ♥ Mil beijos, com todo o amor do mundo, Pandora ♥