omnes; nec escrita por Lubs


Capítulo 1
Libertatem; Arbitrio


Notas iniciais do capítulo

Yo!
Eu, sinceramente, esperava que essa one não fosse passar de 600 palavras kskkdsk
Fico bem feliz que eu tenha conseguido 1.075 :3
Enfim, o foco da fanfic é, basicamente, mostrar o lado da mulher oprimida pelo machismo. A Leezah em si não é uma mulher inspiradora, mas as mulheres que ela cita e convive são, em minha opinião, então acho que vale para o desafio hauhauahu
Sem mais delongas, vamos à one:



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Era o dia de seu casamento, mas Leezah não estava feliz.

O vestido era lindo e caía perfeitamente em seu corpo, os cabelos castanhos estavam arrumados em um estonteante coque complexo, a maquiagem estava impecável. A decoração estava deslumbrante e o buffet era de uma qualidade altíssima. E, mesmo assim, ao se olhar no espelho da antessala onde aguardava seu pai para acompanha-la até o altar, não podia, não conseguia, reprimir o sentimento de algo estava errado.

Leezah sempre negou veementemente o que, no fundo, sabia. Negou e negou, disse a si mesma que aquilo era o que ela queria e que estava feliz. Até que chegou o dia em que ela não conseguia negar mais, e tudo o que ela queria ter feito passou por sua cabeça.

Por ser de uma família tradicional e conservadora de uma pacata cidade interiorana do Texas, ela nunca teve muita liberdade, suas opiniões nunca puderam causar muito impacto. Sua mãe, quando ainda viva, cozinhava, bordava e cuidava das crianças. Seu pai, xerife da polícia local, mandava em todos da casa, e tinha que ser obedecido à risca. Era assim desde que Leezah se entendia por gente: não saia até muito tarde, cubra suas pernas, não utilize decotes vulgares, não beba, não conteste, aprenda a cozinhar, sexo só depois do casamento. Não trabalhe. Esse é o papel do homem.

Viveu acatando não atrás de não enquanto presenciava todas as suas amigas batalharem por mais um sim.

Pensava consigo mesma: se tivesse insistido um pouco mais para seu pai quando perguntou se podia ter ido até a festa de encerramento das aulas, será que teria começado a namorar um dos garotos populares, assim como Trina? Ou talvez ficado com cinco meninos na mesma noite, do mesmo jeito que Gwendolyn fez; poderia ter bebido além da conta e aquela noite não passaria de um borrão quando acordasse no dia seguinte, tal como ocorrera com Heather. Gostaria ter escolhido, mesmo que por uma noite, o que fazer com si mesma, festejando a liberdade que nunca teve juntamente as suas amigas.

Talvez, se o contrariasse quando ele lhe disse que ela não cursaria faculdade, Leezah tivesse se descoberto uma pediatra jeitosa, e trabalharia ao lado de Kelly. Quem sabe se descobria uma oceanóloga prodígio, igualzinha a Felicia. E se possuísse uma aptidão natural para arquitetura? Poderia estar construindo prédios magníficos em algum lugar da França, travando uma rivalidade amigável com Jannet. Também havia a possibilidade de largar a faculdade e ir se aventurar pelo mundo, livre de quaisquer amarras que aa prendessem em algum local específico, esbarrando vez ou outra com Una.

E se houvesse saído escondida de seu pai naquela noite em que todas as meninas foram no salão do tio de Riley para fazer alguma mudança no visual? Poderia estar ruiva, formando par com Lacey. Talvez um pouco mais colorida, como o cabelo cor-de-rosa de Iris, ou, se não conseguisse se decidir, pintaria o cabelo com as cores do arco íris, ideia feita orgulhosamente por Yasmin. Seguir o exemplo de Bonnie e cortar o cabelo curto, um pouco mais radical e raspar a lateral direita, como Vanessa. Um pequeno detalhe, como o cacheado feito por Dana. Leezah pensava que poderia ter feito qualquer uma dessas coisas.

Mas, mais uma vez, ela tinha abaixado a cabeça e permanecido calada, com seu cabelo castanho, longo e liso. Porque, segundo seu progenitor, era assim que cabelo de mulher tinha que ser.

Ah! Ela sonhava com o que teria acontecido se dissesse para seu pai que não se casaria com o homem rico, porém completamente desconhecido por ela, que ele anunciou como seu noivo. Seria chutada para fora de casa, provavelmente, mas então poderia experimentar mais, provar mais. E se fosse lésbica? Ela e Marta poderiam ter virado um belo casal, se fosse o caso. Ou bissexual, como Cathy, e se esbaldar com o melhor dos dois mundos. Também tinha a possiblidade de ser interssexual como Sabrina, demissexual como Karen, panssexual como Delilah. Talvez não gostasse de nada e fosse simplesmente assexual, do mesmo modo que Xanthippe era. Ou fosse heterossexual, e assim arrumaria um belo moço que amasse de verdade, vivendo uma história de amor comparável com a de Quione.

Se tivesse tido a escolha, ela teria sete filhos, tipo Esther, ou será que teria escolhido retirar o útero, do mesmo modo que Wendy? Os teria no meio dos trinta anos, como Ally, ou teria engravidado ainda na adolescência, junto de Zara? Ela queria ter tido a opção de escolher.

Ainda dava tempo, Leezah sabia. Podia fugir pela janela antes que seu pai viesse.

Queria andar, correr, nadar, voar ou simplesmente ficar parada.

Ele entrou e lhe ofereceu a mão, sorrindo com orgulho. Ela aceitou.

Queria gritar, chorar, pular e gargalhar de piadas, por mais sujas que fossem.

Passo a passo, ela ia cruzando o tapete vermelho, fitando seu noivo.

Ela não sabia nada sobre ele. Ela não queria casar, não com aquele homem.

Queria sair pelo mundo, explorar, conhecer. Se encantar. Se apaixonar.

Quando o padre lhe fez a pergunta, Leezah tinha vontade de dizer não.

Mas ela não podia, porque seu pai não deixava.

Ela queria tomar as próprias decisões, escolher as próprias respostas.

Quando foi a vez do homem responder, ela rezou para que ele negasse.

Será que ela seria católica se tivesse tido a possibilidade de escolher?

Leezah nunca ficou tão triste em ouvir um sim.

Ela queria conhecer outros países, interagir com outras culturas.

Selaram matrimônio com um beijo sem sentimento algum.

Ela queria... Ela desejava... Ela ansiava...

Sorriu, um sorriso vazio, para todos que vieram lhe felicitar.

Ela não podia. Ela não tinha permissão. Ela não importava.

Leezah olhou para suas amigas, todas evoluídas, donas de suas vidas.

Ela não queria ter ficado para trás. Não queria ser mandada, submissa.

No movimento feminista, do qual todas participaram, ela queria também.

Mas seu pai não deixou.

Então ela assistiu, calada, ele utilizar sua influência para encerrá-lo.

Ela queria ter coragem. Queria lutar por seus direitos.

Não queria ser a covarde que ela era.

Tinha vontade de escolher, ser ouvida, falar o que queria e dar sua opinião.

Queria ser livre para fazer o que bem entendesse.

Ela queria brilhar por si própria, não viver sob a sombra de um homem.

Fosse ele seu marido ou seu pai. Ela não queria ser uma esposa ou uma filha.

Ela queria ser uma mulher.

Leezah queria tudo. Mas então, não tinha nada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e entendido todo o meu ponto com essa história.
Não se deixem abalar e serem oprimidas por qualquer um. Você não é mais fraca ou inferior só porque carrega um par de peitos ou porque não tem um pênis.
Até a próxima!