Lições Futuras escrita por humgranola


Capítulo 1
Gosto não se discute, mas o seu continua horrivel.


Notas iniciais do capítulo

Essa fic ocorre depois bem no finzinho do arco da Despedia do Shinsengumi -> “Shinsengumi Farewell arc” (manga: 525-551; anime: 308-316). Para o seu próprio bem: não leia até saber o que aconteceu. Mais um aviso, leia e veja essa saga pois ela é linda, é maravilhosa e foi ai que eu que não tinha nenhum OTP em Gintama passei a adorar HijiGin.



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Estava a chover.

Que apropriado.

O som das gotas de chuva que se chocavam contra seu guarda-chuva era irritante, barulhento e afogava todos os outros ruídos que o cercavam.  As ruas estavam desertas. As pessoas estavam se abrigando, ficando em casa ou desfrutando de um lanche em um restaurante qualquer. Ninguém estava disposto a gastar mais tempo naquele tempo de merda. E, no entanto, lá estava o albino sentado, num lance molhado de escadas, com somente um guarda-chuva para protegê-lo da chuva.

Estava sentado lá esperando por ele.

Hijikata sentiu uma dor no peito, mas conseguiu apaziguá-la com um trago do seu cigarro. Lentamente, ele se aproximou, cada passo era desconfortável, estranho, ainda assim, ele continuou, sabendo que ele devia valorizar o tempo que lhe restava.

Quando o oficial de Shinsengumi se aproximou, o samurai de cabelos prateados olhou para trás por cima do ombro e lançou-lhe um olhar. Seus sentidos estavam afiados como sempre. Seus olhos pareciam os de um peixe morto, exatamente iguais ao da primeira vez que eles se encontraram. Ele tinha uma expressão vazia no rosto também, sem revelar nada.

Aquilo lhe doía o peito, mas Hijikata suportou e andou até parar atrás dele, sem dizer nada.

Por um momento, os dois homens permaneceram em silêncio. Então, com um grunhido, Gintoki levantou-se.

"Você demorou..."

Na verdade, ele fora bem pontual, Gintoki é que estava lá muito antes do horário. Hijikata ainda tinha dificuldades em acreditar que eles estavam ali, justo eles que começaram com o pé esquerdo, tanto brigavam, e que se encontraram por pura coincidência, mas que de alguma forma passaram a se respeitar e se preocupar um com o outro.

A razão por de trás disso talvez fosse melhor explicada por mero instinto. Ou talvez sorte. Em todo caso, eles queriam se ver, porque ambos sabiam que precisavam se ver ao menos uma última vez.

Hijikata Toushiro não o olhou nos olhos de Gintoki, ele não podia. Sua voz era gutural e ele se virou.

"Vamos."

"Sim ..." Gintoki respondeu suavemente.

Sem perder mais tempo, Gintoki se virou e começou a andar. Ele estava guiando o caminho e o policial não se importava. De alguma forma, era estranho como palavras não eram necessárias entre eles. Eles sabiam exatamente o que o outro precisava, sabiam o que deveriam fazer e como fazer. Eles tinham esse profundo entendimento, que Hijikata simplesmente não conseguia explicar.

 A chuva continuou a cair enquanto os dois homens andavam pelas ruas. Eles não disseram uma única palavra, não precisaram. Hijikata confiava sua vida a Gintoki.

Como isso aconteceu? Ele não se lembrava, no entanto, naquele momento ele sentia como se aquele homem estivesse sob sua pele, mais perto do que qualquer outro. Que conhecia-o melhor do que ele próprio. Era uma sensação estranha. O policial inalou o cheiro de seu cigarro e esperou que isso acalmasse seu coração.

Em sua cabeça Hjikata ficava tentando entender como eles chegaram aonde chegaram. Ele estava mais próximo que nunca de Gintoki, e depois de ouvir o homem dizer que para ele e as crianças lar era onde ele e o Shinsehumi estavam, ele se via tendo de partir. Ele queria ficar, ele não queria desistir de tudo, não queria deixar Edo para trás, pois isso significava para o Shinsengumi, para tudo o que eles foram, significava dizer adeus a Gintoki.

Como se lendo sua mente, o samurai ao lado dele deu uma volta e caminhou em direção a uma casa. O policial de olhos azuis parecia confuso por um momento até quando ele reconheceu a loja e sentiu um pequeno formigamento dentro de seu peito.

Era o seu restaurante favorito.

Hijikata teve que conter a respiração por um momento.  Às vezes, ele não podia acreditar o quão sensível e perspicaz Gintoki era. Sob seu rosto estúpido escondia uma mente muito cautelosa e perceptiva. Gintoki também mostrou o quão bem ele o conhecia e quão bem estava ciente das coisas que os ligavam. Este era o lugar mais querido para ambos, afinal, não apenas por causa do velho que quando vivo preparava seus pratos especiais, mas também porque eles se encontraram tantas vezes aqui, brigando, conversando e insultando a comida um do outro.

A nostalgia era difícil de engolir, mas o policial tentou de mesmo assim. Quando Gintoki lhe lançou outro olhar, ele começou a se mover, seguindo-o para dentro.

O lugar estava quase deserto. Os balcões estavam vazios e, exceto para a velha que agora cuidava do local, não havia uma só alma ali.

Ela deu-lhes um sorriso.

"Oh, Gin-san, Hijikata-san, que surpresa vê-los aqui."

O homem de cabelos brancos devolveu um sorriso fraco e acenou para ela.

"Ei, vovó, prepare os especiais para nós, ok?"

"Claro!" Ela acenou com a cabeça e sorriu, suas mãos enrugadas diligentemente preparando os ingredientes.

Os dois homens sentaram-se ao lado do balcão. Estando na companhia da velha senhora, ambos estavam relativamente comportados. Isso ajudou Hijikata a se acalmar um pouco. No entanto, ambos sabiam que aquela era a última reunião deles. Eles tinham que dizer adeus e nenhum deles queria isso, mas isso não importava. Eles tinham que manter uma certa fachada, afinal.

Finalmente, Hijikata encontrou coragem para falar.

"... Eu sabia que isso aconteceria, mas com certeza é irônico." Ele não olhou para Gintoki, ele olhou para o nada em vez disso. "Nós lutamos para ser o Shinsengumi. E por causa disso, não podemos mais ser o Shinsengumi".

"Então Zura convenceu vocês mesmo, hein?" Gintoki pareceu sorrir. "Eu disse para você ter cuidado com aquele cara."

"E o que você pretende fazer? ... Você nos ajudou. Então, eu duvido que você possa ficar em Edo também." Hijikata não viu o rosto ou a postura de Gin, mas sua voz soava normal. Ele podia sentir algo escondido ali.

"Se nós do Yorozuya formos embora com vocês, as pessoas de Edo vão ficar sozinhas, não é?"

“Então você vai ficar?”  Não é como se Hijikata não esperasse isso. Ainda assim, alguma parte dele desejava que Gintoki e as crianças se juntassem a eles, fugindo com eles. "Você não entende ... Edo já não ..."

Gintoki ficou em silêncio, bebeu seu chá verde e um pequeno sorriso triste curvou seus lábios.

Com uma expressão vazia, Hijikata olhou para o balcão. "... É por isso, então ...?"

Eles ficariam e lutariam. O Yorozuya sempre tinha feito isso. Eles eram fortes, ele não tinha escolha senão colocar o destino de sua cidade em nas mãos daqueles delinquentes. Ele não estava feliz com isso. Ele queria lutar ao lado deles. Mas não havia nada que ele pudesse fazer, ele tinha que aceitar isso.

Durante todo aquele caos Gintoki estava lá por ele durante todo esse tempo, o encorajando e lhe dando esperança quando tudo parecia perdido. Gintoki tinha sido o seu apoio emocional mais importante num dos momentos mais difíceis de sua vida. Gintoki havia lhe mostrado tantas coisas e ele não sabia se ele poderia retribui-lo por isso. Ele devia tanto a Gintoki. "Eu comprei várias bebidas e deixei aqui...". Ele finalmente disse, casualmente. "...e  já que não gosto de beber em multidões ... de vez em quando eu venho aqui para beber sozinho."

Gintoki não disse nada, deu-lhe o espaço que ele precisava. Hijikata respirou fundo e fechou os olhos.  “É bebida boa, cara, tome um copo de cada vez, quando você tiver bebido tudo ... Eu voltarei."

Era uma promessa. Era mais do que isso. Era uma pequena amostra de seus verdadeiros sentimentos. Ele não falava como o Vice Comandante do Shinsengum, ele falava como ele mesmo, como Hijikata Toushiro.

E ele voltaria por Gintoki.

“Vou pagar tudo o que devo a você, quando voltar.”

Houve um longo silêncio.

Gintoki ainda não olhava para ele, não mostrava nenhum sentimento. "Eu aceito a bebida, mas não me lembro de ter lhe feito favor algum."

"Você fez."

Era difícil ver seu rosto, os cabelos negros escondia suas feições. Todas essas memórias apareciam em sua mente e ele sentia o peso disso. Desde a primeira memória até a última, aquele homem o tinha protegido.

Como ele fez isso? Gintoki sempre esteve lá para ele, bem ao seu lado. "Essa sua cabeça oca pode ter esquecido, mas eu me lembro. E eu não esquecerei."  

Ele sussurrou alto o suficiente para Gintoki ouvir. Era apenas um vislumbre da infinita gratidão que ele tinha por aquele homem. Ainda era difícil admitir isso em voz alta.

"Se esse é caso ..." O homem de cabelos branco acinzentado respondeu calmamente. "... então você me retribui há muito tempo."

Havia um pequeno sorriso em seu rosto. “Aquele que conseguiu reaver algo que havia esquecido ... foi eu.”

Era a primeira vez que o policial o olhava diretamente nos olhos de Gintoki, mesmo que por um breve momento. Ele mordeu o lábio, sem saber como responder, mas Gintoki foi rápido, sua voz era baixa, suave, cheia de emoções engolidas.  "Então, não volte porque me deve algo, ou para me retribuir. Volte e da próxima vez, você não vai beber  sozinho."

Gin respondeu muito gentilmente. Sua voz guardava uma promessa.

Não, Hijikata não estaria mais sozinho. Gintoki não deixaria. Porque ele estaria ao seu lado. "Se você voltar com uma garrafa de bebida nós podemos beber juntos."

A senhora idosa então chegou e serviu a comida. "Desculpe, pela demora, aqui estão seus especiais."

Os dois homens ficaram em silêncio, observando o pedido deles. Nem dos dois tocou neles. O senhora os olhou confusa. “O que há de errado, nenhum de vocês está comendo?”

Seus dedos roçaram as tigelas e empurraram-nas um para o outro.

"Não, desculpe avó, é só que hoje ..."

Eles pegaram seus pauzinhos e pratos. Enquanto Hijikata tinha os olhos fechados, Gintoki olhou para a tigela de arroz encharcado de maionese.

"... é o contrário." .

Demorou um pouco antes que os dois homens pudessem terminar suas porções. Ambos tiveram dificuldade em engolir, mas eles continuaram comendo. Era a primeira vez que faziam algo assim. Era o maior gesto de respeito que podiam mostrar um aos outros.

Gintoki a "comida para cães" e Hijikata comer a "comida de gato".

Era o jeito deles de selar sua amizade.

Com um suspiro pesado, derrubaram suas tigelas esvaziadas e olharam para o nada. "Isso foi horrivel."

Quando a velha senhora começou a rir, eles também riram. Era uma risada sincera e cheia de felicidade. Eles riram alto e não conseguiram parar. Era a primeira vez que se consideravam amigos.

Os dois samurais trocaram olhares e não conseguiram conter um sorriso. Eles estavam felizes Hijikata olhou para Gintoki e sentiu tudo mais claro do que nunca. Ele olhou para Gintoki e seu sorriso torto e seus cabelos acinzentado, seus olhos vermelhos, e ele só sabia que ele o amava do fundo do seu coração. Ele sabia que queria estar com ele, voltar para ele. Ele queria aquele sorriso todos os dias e mostrar-lhe o quanto ele se importava.

Uma vez que ele voltasse, ele lhe contaria como se sentia. Ele não a esconderia mais.

Rindo, Hijikata se virou e esvaziou o copo de água. Ele queria ficar com Gintoki por mais tempo, beber com ele, passar tempo com ele. Mas ele sabia que não era possível. Ele salvaria isso para mais tarde, para quando ele estivesse de volta.

Eles precisavam se separar antes que as coisas ficassem muito sérias. E vendo-o sorrir assim, Hijikata sabia que podia, que seria capaz de dizer adeus sem arrependimentos.

O policial ainda sorria e disse adeus à velha senhora. Ambos saíram na noite chuvosa. Quando Hijikata abriu seu guarda-chuva, ele olhou de volta para os olhos vermelhos e um sorriso estúpido. Ele teve que sorrir também.

Nada melhor que um sorriso.

Gintoki se apoiou contra a porta, uma mão dentro de seu Kimono, a outra segurando seu guarda-chuva. Seus olhos estavam presos um no outro, afogando-se dentro das íris do outro. Havia tantas palavras a serem ditas, tantos sentimentos entre eles. Ainda era difícil dizer adeus, mas a certeza do reencontro superava a dor e só deixava o desejo.

"Eu vou indo ..." Hijikata acenou para ele e sorriu. "Vejo você por aí então."

Gin sorriu e inclinou a cabeça. "Não se perca no espaço."

O policial bufou suavemente, chegou a dar um passo para frente, ambos se olhando, até que ele se virou, acenou e começou a andar.

Por um longo momento Gintoki não pôde deixar de olhar fixamente, olhando para Hijikata enquanto ele saía de sua vida. Ele guardou a silhueta em sua memória e tentou acalmar seu coração palpitante.  Algo dentro dele estava esperando que se virasse e voltasse.

Gintoki suspirou e  antes que o aperto no seu peito se tornasse insuportável, ele também se virou e começou a caminhar para a direção oposta. Ele não olharia para trás. Ele iria caminhar em frente e esperar até o dia que ele iria encontrá-lo novamente.

Porque Gintoki estaria esperando por Hijikata. E quando Hijikata voltasse, ele cumpriria uma promessa que fez  consigo mesmo.

Uma vez que Hijikata voltasse, ele nunca mais deixaria aquele homem partir.

Por um segundo, ele abriu um sorriso distorceu e fechou os olhos. Ele voltaria assim que a garrafas estivessem vazias? Será que beber tudo de uma vez seria considerado trapaça?

Gintoki suspirou, ele já estava sentindo saudade daquele viciado em nicotina. 


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