Deadly Sin escrita por Clarice Reis, Zabalza


Capítulo 4
Tu as besoin de moi


Notas iniciais do capítulo

Olá, aqui tem mais um capítulo para vocês ♥



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A única iluminação do local era um lustre luxuoso banhado em ouro. Ele contrastava com o crânio dos animais expostos nas paredes, exibidos como se fossem algum tipo de prêmio. Todos estavam só em esqueletos, com as cabeças apontadas para baixo, o que dava um ar macabro ao ambiente

Embaixo de um enorme alce, Viktor se concentrava em um texto. Todo escrito a mão com caneta de pena, as palavras eram de um clã em uma proposta de parceria.

Ele odiava lidar com esse tipo de relação. Era difícil acreditar em outros vampiros, especialmente quando eles possuem menos de 30 anos.

É esperado que a maturação dure em média 35 anos, quando um vampiro consegue passar dessa idade, ele está pronto para um pacto com algum clã.

Todas aquelas informações passavam em sua cabeça, contudo, ele não conseguia se concentrar nelas, já que a única coisa que conseguia pensar era no que aconteceu no camarim.

"O rosto de Yuri estava totalmente vermelho, seus olhos castanhos estavam semicerrados. Ele era lindo. Não se conteve e acariciou uma de suas bochechas de leve, logo depois depositando um beijo no local."

As cenas se repetiam em um loop eterno na sua mente. Quem era aquele garoto, e por que ele não conseguia esquecê-lo?

Abaixou os papeis e esfregou sua testa, estava frustrado, o que ele teria que fazer para seguir em frente?

Levantou-se de sua poltrona vermelha e andou pela sala escura, até próximo a um globo que representava a terra enorme, perto de uma janela que era bloqueada por uma espessa cortina.

Talvez quando a banda fosse levar sua turnê para outro lugar ele conseguisse esquecer tudo isso. Para onde eles iriam depois?

Sua linha de raciocínio foi quebrada por algumas leves batidas na porta, que logo revelaram a figura de Otabek, que entrou na sala.

— É, pelo menos você bateu.

— A produtora do show me mandou isso, encontraram na sala em que eu...— Tossiu de leve. — Estava com aquele menino. — Jogou uma carteira na direção do outro.

— O que é isso? — Ele logo abriu, começando a explorar aquele artefato.

— Provavelmente é do loirinho. Seus pensamentos estavam muito altos hoje, talvez isso te ajude a se acalmar um pouco.

Otabek recebeu um olhar mortífero de Viktor. Sabia que ele não gostava nenhum pouco quando ficavam escutando o que passava por sua mente, mas não pôde evitar, seu colega de banda passou o dia inteiro agindo de forma estranha.

Ler mentes não era algo que todos os vampiros podiam fazer. Existiam alguns, poucos, que eram dotados de habilidades especiais, e Otabek era um deles. Assim que foi transformado, ele passou algumas semanas sendo atormentado por vozes toda vez que estava em um lugar com muitas pessoas, chegou a achar que tivesse enlouquecido. Viktor o ajudou com isso, descobriu o que estava acontecendo e o apresentou para os fones que hoje ele utiliza quase todo dia. Esses fones foram criados por outro vampiro com os mesmos poderes, eles eram minúsculos e impossíveis de se notar, funcionavam como uma espécie de bloqueio para o seu dom. Otabek era extremamente grato por isso, não gostava daquele barulho sem fim em sua cabeça.

— Você não tem nada melhor para fazer do que ficar me investigando? — Viktor não conseguia controlar seu mau humor, estava estressado consigo mesmo e ia acabar descontando em qualquer um que surgisse em seu caminho.

— Tirei do ouvido por um segundo e apesar de só estarmos nós dois aqui, parecia que tinha uma multidão. — Falou apontando para dois pontos diminutos em sua mão. — Tem algo que pode te ajudar nessa carteira.

Essa afirmação despertou a curiosidade do outro, ele começou a procurar até que encontrou um pedaço de papel dobrado. Assim que abriu, reparou que havia um endereço.

— Eu já pesquisei, é uma livraria e acredito que o garoto trabalha lá. — Otabek disse com um tom indiferente.

— O que espera que eu faça com isso? — Questionou.

— Eles são amigos, talvez consiga encontrá-lo se achar o loirinho. Vou ter que ir devolver a carteira de qualquer forma, você vem?

Sabia que as chances de encontrar Yuri eram mínimas, mas talvez pudesse conseguir alguma informação. Não podia deixar de se sentir ridículo, um vampiro que já viveu quase dois séculos ficando com pena de um humano e depois indo procurá-lo? Queria entender o que estava acontecendo, por que não tinha conseguido beber o sangue daquele rapaz? Por que não conseguia tirá-lo de seus pensamentos? Talvez tivesse que vê-lo de novo para obter algumas respostas.

Encontrar com Yuri poderia acalmar sua mente, ou apenas iria bagunçá-la ainda mais.

(...)

Era quase noite. O sol já havia se posto e as luzes da rua começavam a se acender. O motorista lentamente encostou o carro próximo a entrada da livraria. O automóvel era qualquer coisa menos discreto: Um Jaguar Kobby em um bairro de classe média. Além de sua pintura ser verde com toques de amarelo, parecia ter vindo direto de 1958.

Viktor não se importava em ser discreto, por isso possuía uma coleção extravagante de carros. O que sempre fazia eles saírem usando um da coleção de Otabek, que optava pelos carros pretos.

Já atraindo olhares de curiosos, os dois saíram do banco do passageiro, usando óculos como se fossem esconder a identidade deles.

Viktor decidiu ir na frente, e adiantou-se em empurrar a porta do estabelecimento e entrar silenciosamente. Olhou aos redores, na falsa esperança que o seu garoto do ouro estivesse lá, para sua tristeza, só alguns nerds e senhoras de meia idade faziam suas compras naquele momento.

— Você não vai encontrar nenhum deles parado. — Otabek sussurrou, colocando casualmente suas mãos nos bolsos frontais de sua calça negra. — Vamos dar uma olhada. — Começou a andar até o balcão sendo seguido pelo outro.

— Como é que você ainda lembra do rosto daquele loirinho? — Viktor questionou, arqueando uma de suas sobrancelhas.

— Eu sou bom com rostos. — Retrucou bastante evasivo. Era notório que ele escondia algo.

O outro decidiu não questionar, afinal, nem interessado estava no que ele fazia ou deixava de fazer, achava no mínimo estranho ele ter decorado o rosto de um dos seus milhares casos. Andaram por alguns segundos até o balcão principal, onde as pessoas pagavam pelos livros ou CD's que compravam na loja.

Acharam estranho, pois o mesmo estava vazio. Pelo menos era o que parecia.

Escondido no meio dos computadores, Yurio rezava para não ser notado. Não conseguia acreditar que aqueles dois estavam ali, afinal o que queriam? Já não bastava o que tinha acontecido na noite do show, queriam prolongar ainda mais a série de encontros catastróficos?

Ao pensar em "encontros catastróficos" uma coisa passou por sua mente: Precisava falar para Yuri.

Retirou lentamente o aparelho celular de seu avental, orando para nenhuma alma decidir ligar para ele justamente agora. Abriu as mensagens e digitou "Você não acredita, Viktor e Otabek estão aqui na livraria".

— Tem alguém aí? Olá? — Viktor falou, como se estivesse cantando.

Bloqueou outra vez o telefone. Ele não poderia ser visto, o que iria dizer afinal das contas? "Desculpa por invadir o camarim e tirar meu amigo de você, nada pessoal". Que merda de situação ele havia se metido.

— Vamos olhar do outro lado, parece ter outro caixa. — Otabek disse, já se afastando da bancada.

Soltou todo o ar que prendia. Ele estaria a salvo, pelo menos por enquanto. De qualquer forma, precisava encontrar um lugar menos ridículo para se esconder.

Talvez pudesse fingir que estava só abastecendo as prateleiras, talvez fosse mais difícil dos dois o verem.

Teve certeza de que eles tinham se afastado antes de levantar. Por que diabos estava agindo como um idiota? Escondendo-se das pessoas como se devesse algo a alguém. "Volte a si" ele pensava, amaldiçoando-se por estar naquela situação.

Acelerou o passo até uma das prateleiras e trocou de função com uma das garotas do abastecimento que agradeceu e foi descansar um pouco. Mal sabia que quem agradecia era ele.

Suspirou e bateu levemente sua cabeça na madeira próxima aos livros. Por que diabos estava agindo como um tolo? Isso não era normal de seu comportamento. Contudo, era como se fosse invadido por todos esses sentimentos de repente, não conseguia controlar.

O que ou quem estava fazendo isso com ele?

Jogou um exemplar qualquer na prateleira, odiava esse sentimento de impotência. Gostava de ficar no controle da situação, não simplesmente ser tomado.

Certo, mas não precisava descontar isso nos livros. Tentou acalmar-se e continuou fazendo seu trabalho.

Essa série estava saindo rapidamente. Era uma fanfic de uma obra que já havia sido a preferida de Yurio, quando ele ainda não possuía nenhum bom senso.

Já havia lido algumas críticas sobre esses livros, a maioria diziam que era sem história. Não que isso importasse, porque não eram nem do gênero que ele gostava.

Ontem a garota do turno da manhã havia reposto 3 prateleiras, e agora lá estava ele colocando mais 3. Como uma literatura de tão baixo nível estava fazendo tanto sucesso?

— Desculpa, mas onde eu encontro o gerente? — Escutou uma voz atrás de si. Essa frase não costumava significar coisas boas.

— É algo em que eu possa te ajudar? — Respondeu, virando lentamente, ainda com um dos exemplares na mão.

O seu olhar foi certeiro nos marcantes olhos vermelhos do outro.

Sentiu seus pelos arrepiarem-se, e por algum motivo seu rosto queimava, não conseguia desviar o olhar daquele homem. Otabek realmente estava ali.

Seu único reflexo foi cobrir sua face com a capa dura do livro que estava prestes a guardar. Não sabia porque tinha feito isso, provavelmente essa cena estava no mínimo ridícula.

— 50 tons de cinza? — O outro disse, segurando uma risada.— É isso que você lê?

— É Claro que não! — Falou em um tom alto, logo virando para colocar aquela peça no lugar. — Eu preciso guardar esses aqui.

Otabek parecia estar se divertindo com a situação. Cruzou os braços apoiando-se na estante, esboçando um pequeno sorriso.

— Ouvi dizer que é uma série bem popular.

— Aparentemente sim. — Encarou a capa do livro com desdém.

— Não é seu estilo?

— Se está querendo saber, eu gosto de histórias com tema sobrenatural, mais especificamente com vampiros. — Jogou o restante dos livros no carrinho e começou a andar em direção ao depósito. Estava rezando para que não fosse seguido.

— Acho que posso dizer que gosto de gênero. — Era meio óbvio, não sabia que faziam tantas obras relacionadas a vampiros, mas não tinha como ele não gostar de algo sobre sua própria espécie.

As palavras chamaram atenção do rapaz com o carrinho, que parou por um instante e olhou para trás, com um brilho nos olhos. Ele havia achado alguém que partilhava os mesmos gostos.

— Você conhece John Polidori?

— Claro. — Certo, sabia que nunca tinha lido uma obra do autor, mas já havia o conhecido em vida real, então não era totalmente uma mentira.

— Eu amo os clássicos! Eu acho os contos deles importantíssimos, mas claro que foi graças Bram Stroker que os gênero se imortalizou.

— Ah, sim, com a obra do Drácula. Mas devo confessar que gosto mais das obras de Anne Rice. — Conhecia a mulher de reuniões da corte, lembrava-se que ela havia mencionado algo sobre escrever sobre vampiros de uma maneira romântica, mas não sabia que ela realmente tinha concretizado aquilo.

— Você já leu Rainha dos condenados? — Yurio questionou voltando bastante animado para onde havia deixado o outro.

— Claro. — Não sabia nem da existência desse livro, mas precisaria continuar com a mentira.

— É um dos meus livros preferidos! Ele é bem mais denso do que os outros da saga, acho que é por isso que eu gosto tanto. — Sorriu, repousando seu queixo sobre o puxador do carrinho. — Vampiro: A máscara, já ouviu falar desse? É baseado em um RPG.

— Você me pegou, esse aí eu nunca ouvi falar. — Tentou rir, parecendo descontraído.

— Eu acho que temos ele na seção de antiguidades, quer que eu te mostre? — Levantou seu rosto com um brilho nos olhos.

Aquele garoto era adorável, não sabia porque estava sendo tão gentil como ele. Era só um humano, como todos os outros que já cruzaram o seu caminho. Otabek sabia o quão perigoso aquilo poderia ser, ficar andando com um humano que não fosse de sua posse.

— Sim. — As palavras escapuliram de sua boca.

Por um momento sentiu como se seu coração, gélido e morto, voltasse a bater outra vez, que sentimento era esse?

(...)

Desde a noite do show, Yuri não conseguia parar de pensar em Viktor. Sentia-se estúpido por não ter ao menos pego seu número, mas sabia que se tivesse demorado mais um pouco, ele e Yurio não teriam conseguido chegar em casa a tempo. Depois que fecharam a porta naquela noite, não demorou nem cinco minutos para que os pais de Yurio aparecessem trazendo duas caixas de pizza. Foi difícil agir como se nada tivesse acontecido, especialmente com o amigo ainda se sentindo um pouco tonto por causa do álcool. Mas, no fim das contas, tudo deu certo e eles conseguiram se safar.

Estava procurando alguma série para assistir no Netflix, quando seu celular vibrou. Não conseguiu conter a expressão de choque ao ler o conteúdo da mensagem. Viktor estava na livraria? Calma, pensou, talvez tenha sido só uma coincidência, não é como se ele estivesse me procurando ou algo do tipo. Naquele momento, Yuri se deu conta de que não importava se ele estava ou não a sua procura, queria vê-lo novamente e essa era a oportunidade. Aquele pensamento foi o suficiente para que pegasse seu casaco e disparasse pela porta.

Quando chegou na rua da livraria, pôde perceber uma movimentação estranha. Pelo visto já tinham descoberto a localização dos integrantes da Bloody Rose. Passou por algumas meninas histéricas e avistou o dono do estabelecimento na porta, ele tentava impedir que aquelas pessoas causassem um tumulto. Assim que notou a presença de Yuri, Yakov o cumprimentou e permitiu que entrasse, o que causou uma série de reclamações do grupo de fãs.

Não teve nem tempo de planejar o que diria, pois assim que colocou os pés no ambiente pôde vê-lo conversando com uma das atendentes. Parou por um momento e pensou se deveria se aproximar, mas no mesmo instante aqueles olhos vermelhos se encontraram com os seus. Viktor sorriu, voltou sua atenção para a mulher com quem conversava e pareceu agradecer antes de vir na direção de Yuri.

— É bom vê-lo de novo.

— O que você está fazendo aqui? — Só depois que as palavras saíram de sua boca, ele percebeu o quanto devia ter soado rude, mesmo que aquela não fosse a sua intenção.

— Não está feliz em me ver? — Viktor tinha um sorriso charmoso no rosto.

— Estou. — Murmurou se sentindo envergonhado. — Mas como você veio parar nessa livraria?

— Seu amigo loiro esqueceu a carteira no camarim de Otabek, só viemos devolver. — Yurio tinha comentado algo sobre ter perdido a carteira, mas ele achava que tinha caído em algum lugar durante o show e que nunca mais a veria. — No entanto, admito que eu vim na expectativa de encontrar você, mas caso isso não acontecesse, pelo menos iria pedir seu número ao loirinho. Pelo visto eu estou com sorte.

Yuri não sabia como responder. Não, pensou, chega de ficar agindo como um adolescente. Ele sabia o que queria e não ia mais se conter por causa da insegurança.

— O que acha de a gente sair? — Falou tão rápido que não sabia se o outro tinha escutado.

Viktor pareceu surpreso pela pergunta, mas logo sua expressão voltou para o sorriso que Yuri tanto gostava.

— Parece ótimo. O que me diz de irmos agora?

— Vai ser meio difícil, tem uma multidão lá fora. — Lembrou das garotas histéricas que tinha visto antes e imaginou como seria se os dois tentassem sair. Não parecia uma boa ideia.

— Podemos tentar sair por trás. Se bem que pra qualquer lugar que nós formos vamos acabar tendo que lidar com isso, acho que posso dizer que é uma das desvantagens do meu trabalho.

— A gente pode ir pro meu apartamento. — Yuri não tinha ideia de como aquelas palavras escaparam de sua boca. Não era normal para ele agir de forma tão impulsiva.

— Está me convidando para entrar na sua casa? — Viktor parecia bastante interessado na resposta.

— Sim, seria um prazer recebê-lo. — Ele não tinha a mínima ideia das consequências daquela resposta.

Existiam muitas lendas falsas sobre vampiros, mas uma verdadeira é que eles não podiam entrar na casa de humanos sem serem convidados. Todas as casas são protegidas por seres de luz e qualquer entidade das trevas é impedida de invadir o ambiente, ao menos que tenha a permissão do morador. Bastava consentir uma única vez com a entrada e aquele consentimento seria válido para sempre, aquele vampiro poderia entrar quando quisesse e fazer qualquer coisa dentro da residência.

— Eu acho uma ótima ideia. Só preciso encontrar Otabek antes de irmos, viemos juntos então tenho que ver como vamos nos organizar em relação ao carro.

— Ah, tudo bem. — Yuri ainda estava tentando processar que aquele homem realmente iria para o seu apartamento. — Onde ele está?

— Disse que ia procurar o seu amigo, mas já faz um bom tempo.

— Vamos atrás dele então.

Os dois saíram vasculhando os corredores e já tinham andado por quase metade da livraria, quando Yuri lembrou de algo. O lugar favorito de Yurio era na seção de antiguidades, muitas vezes ele ficava por lá admirando os livros e buscando novos títulos para adicionar a sua coleção. Se Otabek tinha ido procurá-lo, talvez eles estivessem juntos naquele momento.

— Vamos tentar ir por aqui. — Yuri sugeriu.

Depois de passarem por dois corredores, puderam ouvir a voz de Yurio. Ele parecia conversar animadamente com alguém e Viktor ficou surpreso ao constatar que era seu colega de banda quem estava ali. Conhecia Otabek a mais de cem anos e nunca tinha visto aquela expressão em seu rosto. Primeiro ele tinha deixado esse garoto viver, e agora estava sendo amigável? Definitivamente não era normal. Desde quando ele agia assim com humanos? Olhou para Yuri parado ao seu lado e percebeu que não estava em posição de falar nada. Eu também estou tendo atitudes estranhas ultimamente, pensou, e tudo por causa dele.

— Yuri? — Yurio desviou sua atenção da conversa e reparou na chegada dos dois. — Como conseguiu entrar aqui? Está um inferno lá fora.

— Yakov me deixou entrar.

— Otabek. — Viktor se pronunciou. — Podemos ir? Vou pedir ao motorista para me deixar em um lugar com o Yuri, e depois você pode voltar para casa.

O rapaz pareceu pensar por um minuto.

— Vocês dois podem ir, vou esperar esse tumulto do lado de fora passar. — Estava mais do que claro que ele queria passar mais tempo com Yurio, até o menino percebeu e não pôde deixar de se sentir feliz, estava gostando da companhia do outro, afinal, tinham muitos gostos em comum e era fácil conversar com ele. — Eu dou um jeito de voltar para casa.

— Tudo bem então. — Viktor concordou. — Só precisamos arrumar um jeito de sair sem sermos notados.

— Vocês podem ir pelos fundos. — Yurio sugeriu. — Peça para o seu motorista encontrar vocês na esquina.

Depois de enviarem a mensagem e o homem garantir que estaria esperando no local, eles seguiram até a área dos funcionários.

— Obrigado pela ajuda. — Yuri agradeceu, enquanto o garoto abria a porta que os levaria para fora da livraria.

— Tudo bem, mas só uma coisa... — Ele olhou para Viktor por um momento. — Juízo.

— Não se preocupe, eu vou tomar conta dele.

— É isso mesmo que me preocupa. — Murmurou.

Os dois saíram e caminharam rapidamente até onde o carro estaria esperando. Olhavam para os lados o tempo todo com medo de serem vistos, mas por sorte não havia ninguém ali. O trajeto foi rápido, o motorista foi perguntando o caminho e quando o carro parou na frente do prédio, Viktor ficou observando o lugar. Eles adentraram no edifício e se dirigiram até o elevador em silêncio. Assim que chegaram na entrada do apartamento, foram surpreendidos pela porta sendo aberta.

— Yuri, eu já estou... — Isabella parou ao avistar quem estava com ele. — Ai meu deus.

— Olá. — Viktor cumprimentou.

— Isabella, esse é o.... — Yuri começou a falar, mas foi interrompido.

— Eu sei quem ele é, aliás, sou muito fã do seu trabalho. Você é Viktor Nikiforov, cantor russo de sucesso, capa da vogue três vezes e ganhou o prêmio de galã do ano. Por favor entre e sinta-se a vontade. Se estiver com fome, eu fiz uma lasanha para o jantar e essa é a minha especialidade, garanto que você vai gostar.

— Obrigado, é muito gentil da sua parte.

— Essa é a Isabella, nós dividimos o apartamento e ela é uma grande amiga. — Yuri apresentou a garota que parecia estar prestes a explodir de tanta felicidade.

— É um prazer conhecê-la.

— O prazer é todo meu. Infelizmente eu tenho que ir para o trabalho, mas espero vê-lo outra vez. Aliás, tem vinho se quiserem e não repare na bagunça, você não faz ideia do quanto esse aí é desorganizado.

— Bella. — Reclamou. Não acreditava que ela ia mesmo envergonhá-lo na frente do outro.

— Tudo bem. Eu já estou indo. — Ela aproveitou que o elevador estava parado no andar e já foi entrando. — Ah, tem camisinhas no meu criado mudo.

Yuri quis morrer. Isabella foi embora e ele e Viktor ficaram sozinhos ali.

— Ela é bem simpática.

— Me desculpe por isso. — Estava totalmente vermelho, por que tinha que passar por esse tipo de situação?

— Tudo bem. Vamos entrar?

— Ah, claro.

Seu apartamento não era grandioso, era pequeno e simples, provavelmente nada com que um cantor famoso estivesse acostumado.

— Fique a vontade. — Nesse momento, se deu conta de que não tinha a menor ideia do que fazer. Trouxe o cara que ele estava a fim para casa, ok, mas e agora? Não sabia o que dizer ou como deveria agir.

— Não precisa ficar nervoso. — Viktor sorriu. — Somos só eu e você, não tem com o que se preocupar.

Era exatamente por isso que estava nervoso. Não era experiente com essa coisa de encontros, provavelmente Yurio que nunca tinha namorado era melhor nisso do que ele.

— Você quer alguma coisa para beber?

— Não precisa.

— Isso é um pouco estranho para mim. — Yuri comentou, parecendo um pouco nervoso.

— Acredite ou não, também é uma situação nova para mim. Mas, tem algo sobre você... — Ele se aproximou do rapaz e acariciou seu rosto. — Eu simplesmente não consigo me afastar.

— Poxa, que sede não é? — O outro virou o rosto rapidamente, arrancando um riso do cantor. —Acho que vou tomar um copo de-

— Se você for tomar vinho eu aceito uma taça.

—Ah, claro, eu ia tomar vinho mesmo. — Dirigiu-se a cozinha. — Pode ficar a vontade, eu já volto.

Aquela situação toda era bastante nova para Viktor. Não se lembrava a última vez que esteve na casa de um humano.

As coisas eram tão...comuns? As cores, os móveis, a decoração. Em sua mente ele sabia que poderia fazer muito melhor do que combinar aquele sofá cinza com alguns espelhos coloridos na parede.

Sentou-se no sofá devagar, era brega mas pelo menos confortável. Em sua frente havia uma mesa de centro transparente com alguns porta-retratos. Inclinou-se para frente e pode perceber que em uma das fotos estava Yuri com uma mulher, que jugou ser a tal Isabella. Provavelmente era dos anos de faculdade dos dois, pelo visto eram do grupo das líderes de torcida, realmente uma surpresa.

— Espero que não se importe que eu já abri a garrafa, eu e a Bella colecionamos rolhas e- — O seu rosto assumiu uma tonalidade vermelha quando percebeu o que o seu convidado tinha nas mãos. Apressou-se em colocar a bandeja com as taças em cima do centro. — Não precisa ver isso!

— Então você era líder de torcida? —Riu.

— Participava do grupo de dança. — Resmungou tomando o porta retrato das mãos do outro.— Me pediram para dançar na final.

— Não consigo imaginar você fazendo isso. — Disse, levantando uma das taças para brindar com Yuri. — Você é tão..

—Tão o que? — Deu um gole no vinho.

— Adorável.

—Então é isso que eu sou para você, fofo? — Levantou uma de suas sobrancelhas com um pequeno sorriso em seu rosto.

— Acho que até então foi isso que você me mostrou.— Tomou de sua própria taça, inclinando-se mais para perto do outro. — Tem alguma coisa ainda para me mostrar? — Falou meio desafiador.

— Talvez. — Percebeu que os copos estavam vazios e aproveitou para enchê-los.

— Você me confunde tanto, acho isso fascinante. — Aproveitou para prender seus longos cabelos em um rabo de cavalo.

— Parece que você gosta de umas coisas nada convencionais.

— Bem, estou sentado no sofá de um garoto que conheci em um show, acho que meu gosto é bem peculiar. — Os dois gargalharam, e depois ficaram se encarando por alguns longos segundos.

Yuri repousou sua cabeça no sofá, observando o outro com um pequeno sorriso. Suas bochechas já estavam levemente coradas, era fácil deduzir que ele não estava acostumado com bebidas alcóolicas e esse vinho, a considerar pelo gosto forte, possuía um teor alcóolico alto.

— Eu mal posso esperar para ver o que tem atrás desses seus óculos.— Levou sua mão até a face do outro, acariciando levemente sua bochecha.

— Eu sei que você quer. — Disse um pouco baixo, mantendo seus olhos fixos em Viktor. — Mas a curiosidade matou o gato.

— Então já chegamos a essa fase de falar frases em duplo sentido? — Observou enquanto o outro virou a alta taça de vinho.

— Você começou a me provocar. — Falou, trazendo seu rosto mais para perto.

— Talvez esse gatinho aqui queira arriscar. — Tirou os óculos de Yuri devagar, mantendo seu olhar fixo nos marcantes olhos castanhos dele.

Sentiu a respiração quente do outro perto de si. Ele não estava no controle da situação, mas não era como se aquilo o incomodasse, por algum motivo gostava de ser dominado por aquele garoto.

Yuri pressionou o lábio inferior de Viktor, tocando sua testa com a dele devagar, eles estavam perto, os lábios quase tocavam-se. Dentro dele havia surgido uma coragem inexplicável, ele queria aquele homem sentado em seu sofá, e não ia medir esforços para tê-lo, não se lembrava da última vez que havia se sentido tão confiante. Talvez fosse só o álcool, talvez fosse alguma coisa no outro.

Viktor tentou avançar nos lábios de Yuri, que recuou com um pequeno sorriso, mas logo voltando para perto dele.

— Peça.

— Me beija, Yuri. — Riu, liberando seus cabelos do rabo de cavalo.

Não demorou muito, logo os dois já estavam ligados por um beijo. Viktor abraçou o pescoço do rapaz, que o deitou no sofá agilmente. Não se lembrava da última vez que havia se sentido assim, dominado, mas era um sentimento prazeroso.

Parece que Yuri era um pouco mais do que só fofo.


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