Engano? escrita por M Schinder


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Voltei para o site depois de um tempão e queria dividir esse conto com vocês!
É uma história inspirada na música do Coldplay, The Scientist.

Espero que gostem e deixem seus comentários aqui!
Boa leitura :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/727500/chapter/1

Estacionei o carro e olhei pela janela. Meu coração pulsava com força dentro do peito enquanto eu olhava para a casa que fora meu lar por quase vinte anos. Muitas lembranças boas e ruins vieram à minha mente e encheram-me com ainda mais saudades das três pessoas mais importantes da minha vida.

Pude ouvir as risadas que vinham de dentro do imóvel. Aquela voz inconfundível. Como se fosse possível, senti o coração apertar com força. Eu queria entrar. Queria ajeitar as coisas e voltar ao início, onde tudo era como deveria ser. Mas não podia.

Eu fizera minha escolha meses atrás. No final, o trabalho fora mais importante que tudo que eu lutara tanto para conquistar. Um prêmio e um título subiram tanto a minha cabeça que deixei tudo para trás e, quando aquela grande briga veio, eu não fui homem o suficiente para perceber tudo que eu perdia.

Voltei meu rosto para o vidro da frente. Minhas mãos apertavam o volante com força. Durante semanas tentara entender o que acontecera de errado para que ela tivesse saído de minha vida, mesmo com todas as juras que fizéramos por todos aqueles anos. E, no entanto, quem estava errado era eu. Fora eu quem me viciara em meu trabalho; eu quem me afastara de minha família; que chegara tarde e não conversava ou participava mais.

Sabia que era muito fácil juntar as peças do quebra-cabeça depois de ter estragado tudo. Novamente a ideia de tentar voltar no tempo, para o começo de toda a crise, e mudar tudo apareceu em minha mente. Eu poderia estar lá, com eles, comemorando o Natal e, logo em seguida, o aniversário de Carol, minha quase ex-esposa.

Passei as mãos por meu cabelo e soquei o volante. Todos aqueles cálculos; aquelas horas passadas dentro do laboratório; aquelas teorias; toda a ciência em que me focara tanto não acabaria com o vazio que se instalara em mim. Cenas do caminho que percorremos juntos passaram por meus olhos. Seu vestido de noiva; os sorrisos felizes quando descobrimos que teríamos uma menina; o medo da gravidez de risco; ela me recebendo em casa depois do trabalho. A segunda gravidez; mais um risco e outra felicidade. E o fim. A angústia apertava-me a garganta cada vez que me lembrava do fim. Enquanto todos os quebra-cabeças da ciência montavam-se dentro de minha sala no Instituto, o nosso desmontava-se aos poucos em casa. As brigas; as lágrimas, suas e das crianças que nem entendiam o que estava acontecendo; o falecimento de sua irmã e a minha vergonha de ter começado a passar cada vez mais tempo no trabalho depois disso.

Eu podia entender sua decisão em me deixar, em querer ir para perto de onde sua irmã faria seu último descanso e de sua família. Eu sei que, ainda naquela época, poderíamos ter consertado tudo. Meu irmão, seu primo, minha mãe e até seu pai, que me detestava, tentaram me avisar disso. Mas eu preferi ignorar... achava que estava certo e que, no final, tudo se resolveria quando eu terminasse meu trabalho. Mas estraguei tudo, não? Quebrei seu coração em vários pedaços e não consegui mais juntá-los. Cada vez que lhe tentava encontrar mais lágrimas caiam. Eu achei que seria fácil, mesmo todos avisando que não.

Voltei meu olhar para a casa. As risadas haviam parado, mas aquilo fazia sentido, já estava na hora das crianças dormirem. Cogitei ir até lá, bater e jogar-me aos seus pés implorando por perdão. Sem vocês minha vida estaria incompleta. Eu pediria desculpas; responderia tudo que quisesses saber; ouviria todas as reclamações e acusações que tinha o direito de fazer; faria qualquer coisa para poder tê-la de volta, mas não tinha coragem. Não tinha coragem de estragar mais uma vez sua felicidade.

A cortina que antes estava fechada abriu-se. Carol pareceu saber que eu estava lá, pois olhava de um lado para o outro e depois para cima, como se esperasse encontrar algo. Ela não mudara nada em todos esses meses e senti o ar fugir de meus pulmões. Eu queria tanto voltar e consertar as coisas, poder fazê-la feliz novamente e lutar por nós como você lutou até o fim, até não poder mais.

Coloquei minha mão na chave. A vergonha por tudo começava a consumir-me e eu sabia que não tinha o direito de voltar, não depois de tudo. Desde que perdi meu emprego e quase fali; desde que todos os meus amigos me deixaram e minha família afastou-se por não acreditarem que eu poderia ser um cientista, por acharem aquilo pura perda de tempo, Carol fora a única que permaneceu me apoiando e incentivando. E, quando ela precisou, aquilo pelo que tanto lutei ficou acima da pessoa que me ajudou a alcançá-lo. Será que você se arrependeu? Será que deixou de me amar? Eu não possuía a resposta para nenhuma das perguntas que surgiam em minha mente cada vez que eu olhava para a janela e para ela. Não queria derramar mais lágrimas e deixá-la triste novamente. Eu girei a chave e liguei a ignição quando ela saiu da janela, eu estava prestes a fugir mais uma vez. E mais uma vez deixar que nossas lembranças me assombrassem. Estava tão desesperado que meus pensamentos faziam círculos em minha cabeça e chegavam perto de deixar-me tonto. Para tentar me acalmar e não causar nenhum acidente, liguei o rádio. Ainda acho que foi coisa do destino ou algo relacionado ao meu carma, que estava pesadíssimo, pois a música The Scientist começou a tocar.

Eu com certeza não queria ser o cara da música. E, mesmo não sabendo se me perdoaria ou não, desliguei o carro, retirei a chave e sai batendo a porta. Há muito Carol saíra e fechara as cortinas, mas eu sabia que ainda estava acordada. Caminhei com passos largos e nervosos até a porta e estiquei meu braço. A campainha estava gelada, mas a apertei e o som reverberou por toda a casa. Como as coisas terminariam, eu não tinha como prever.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Bom? Ruim? Médio? Deixem suas opiniões para me ajudar a aperfeiçoar :3.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Engano?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.