Bruto escrita por Jude Melody
Bruto. Era essa a palavra que o descrevia. Com o porte alto e o colete de motoqueiro, ele caminhava confiante pelos corredores. Batia em sacos de pancada. Socos e chutes para fortalecer os músculos. Fazia exercícios todas as manhãs, correndo pelo jardim. Passadas rápidas, pesadas. Brutalidade bruta no olhar e no dizer.
Então, a poesia.
Riscava os versos em seu caderno, insatisfeito com a sonoridade. Murmurava as palavras, construindo a cadência de cinco, sete, cinco. As sílabas poéticas entornavam de suas mãos, preenchendo negras o papel. Mas ele fazia um som de desdém e voltava a riscá-las, resmungando baixinho.
E, na distância, eu.
Gostava do som calmo das batidas daquele coração rebelde. A brutalidade desaparecia, expulsa pelo poeta. Quando Basho sentava-se para escrever, meus olhos encontravam-no. Não ousava me aproximar. Escutava de longe. As batidas. Os resmungos.
Se ele ao menos soubesse quão poético é o som do sentimento...
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!