O nome da rosa escrita por Jude Melody


Capítulo 1
Capítulo único




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O demônio gostava de ouvir a voz da menina. Ela sempre sorria para ele, não demonstrando medo de seus olhos vermelhos ou de suas orelhas pontudas. Nas tardes sonolentas, pegava seus longos cabelos nas mãos e tecia tranças. Chrono não se importava. Faria qualquer coisa para manter a alegria da criança, para preservar aquele riso que preenchia a escuridão de seu mundo.

Por tanto tempo, estivera tão sozinho. Prendia-se a um passado que lhe doía, trancado em um túmulo que jamais era agraciado pela luz. Conveniente, gostava de pensar. Um ser das sombras desperdiçando seus dias no silêncio das memórias que o local conservava. Agora, no entanto, ele caminhava sob o sol, permitindo que a vida tocasse seu rosto pálido. E a vida não queimava. Não doía. Chrono tinha a audácia de viver ao lado das crianças que o libertaram.

Então, a vida passou rápido demais. O garoto desapareceu, mas a menina ainda estava ali. E ele perdia a conta de quantas vezes chamava seu nome, de quantas vezes repreendia aquela impaciência, aquele fervor de nunca, nunca ficar parada. De quando em quando, eles discutiam. Não magoava. Magoava, sim. Magoava sempre que ela se rendia ao sacrifício, entregando a ele anos que não possuía. Chrono sentia-se culpado. Ele era um demônio por retirar dela um bem tão inestimável.

Mas o nome era dito e repetido e apreciado. Deixava um gosto gostoso nos lábios de Chrono. Fosse um sussurro ou uma exclamação, aquela palavra tão simples era a ponte que ligava a sua solidão à sua felicidade. E o sorriso, ah, o sorriso dela! Mesmo irritada, mesmo tristonha, ela sempre sorria. E ele, antes tão entregue à melancolia, desejava tornar aqueles últimos anos um pouco mais prazerosos, compondo de júbilo os preciosos momentos que eles passavam juntos.

E a vida passou rápido demais. Agora os dois estavam sozinhos na própria escuridão. Como uma sinfonia, a tristeza e a dor rodopiavam ao seu redor, trazendo lembranças de perdas e de desejos. Trocavam olhares. Conversavam calmamente. Ele chamava seu nome e segurava sua mão. E o tempo correndo impiedoso.

No momento derradeiro, sentaram-se juntos, lado a lado, as lágrimas como sua única companhia. Ele era mesmo um demônio por impor tanto sofrimento àquela menina. Mas o nome ainda deslizava por seus lábios, deslizava suavemente enquanto a ponte desabava no silêncio da melancolia. Ela virou o rosto, admirando a luz do sol mais uma vez. E a luz não queimava. Não doía.


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