A joia da menina escrita por Jude Melody


Capítulo 1
Capítulo único




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“Dizem que somos possuídos pelo que possuímos.

Não é bem assim. Somos possuídos por aqueles que amamos.

Somos reféns eternos desse amor” (Harlan Coben, Confie em mim).

 

Satella amava as joias mais do que qualquer outra coisa. Desde a mais tenra infância, decorava seus nomes e suas cores, adornando os pulsos com aqueles formatos brilhantes. Ela gostava de se sentar no colo da mãe para ouvir as histórias. Com um sorriso no rosto, observava a irmã mais velha debruçar-se nos braços da poltrona para ouvir também. E a senhora Harvenheit contava às filhas as mais belas fábulas, sua voz baixa, cálida, enfeitada de magia.

Os anos trouxeram a crueldade. Satella ouviu daqueles lábios tão mágicos que não era digna, que nunca seria como a irmã. Florette encontrou-a chorando dentro do círculo, as mãos nuas parecendo frágeis sem as pedras. Sentou-se a seu lado para alisar seus cabelos ruivos. Uma compreensão tão bela brilhava em seus olhos. Naquela tarde, Florette ensinou-lhe um importante lema, quase um mantra a ser guardado nas profundezas da alma e do ser.

Ame as joias mais do que eu as amo.

E Satella amou. Quanta dedicação e carinho preencheram seus dias, alimentaram o poder das pedras. Sozinha em seu quarto, a menina admirava os formatos e cores, repetia os nomes, segurava-as na palma da mão, sentindo o peso, a força, a beleza. E, quando os anos se passaram, a mulher entregou seu amor às suas preciosas joias. Homens não tinham espaço em seu coração. Romance não tinha vez em sua vida. Satella amava as joias mais do que todas as outras coisas.

Quando finalmente reencontrou Florette, a fraqueza desabou sobre seus ombros. Ela não podia enfrentar a irmã. Não podia enfrentar o passado. Como agredir, como ferir alguém que sempre foi tão importante para você? Como empunhar a arma, mesmo sabendo que a outra pessoa fará de tudo para te matar? Você quer alcançá-la. Você quer salvá-la. Satella queria salvar Florette, mas seu amor pelas joias não era forte o bastante.

Ela viu o mundo desfazer-se ao seu redor, como fragmentos coloridos que chovem de tristeza. Florette desaparecera, não voltaria nunca mais. E Satella percebia, tão tarde, que seu caminho chegara ao fim. Não havia mais para onde ir. Não havia mais esperança. Toda a sua vida fora dedicada ao passado. Ela não tinha futuro.

Satella recostou-se no tronco da árvore. As memórias deslizavam por seu rosto, mas ela se sentia serena. Aceitava seu destino, pois sabia que o buscara por conta própria. Naqueles últimos momentos, Azmaria cantou para ela. Uma música suave e encantadora, como as histórias de sua mãe. Satella fechou os olhos, deixando o mantra perder-se no vazio. Ela amava as joias. Mas amava a sua irmã acima de tudo.


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