P A R K  J I M I N

Eram seis da manhã de um dia agitado na cafeteria onde Jimin era sócio/empregado e ele já queria largar tudo devido ao maldito clima açucarado. E não era culpa dos doces sendo tirados do forno.

Era um novembro chuvoso, incomum para o clima coreano, e todavia parecia primavera pelo tanto de casais que pipocavam na cara de Jimin. 

E a cafeteria estava cheia deles.

Alguns usavam roupas combinando — como SeokJin que morava no mesmo prédio que Jimin e estava de rosa junto de sua namorada de sorriso gentil numa mesa lá dos fundos, os dois riam e se sujavam com a espuma dos macchiattos com espuma e canela extras — outros sorriam e revezavam os cafés — como Min Suga sentado com seu perfeito oposto: uma perfeita lady, os dois trocavam as xicaras e sorrisos ladinos —  riam alto  — como o casal escandaloso: Jung Hoseok e a professora de dança, que faziam gestos idiotas e trocavam implicâncias — ou olhares sedutores —  como um cara com estilo de rapper e uma garota de converse vermelho com salto embutido. Jimin tinha impressão de conhece-lo.  

Jimin soltou o ar pelos lábios se sentindo preso numa mistura do MV de No Love Spring Or Cherry Blossom da IU e The Rain do Ladie's Code  — uma mistura bem depressiva se quer saber  — apoiou o rosto nas mãos e passou os olhos pelo local pensando que só ele era azarado ao ponto de estar sozinho e sobre quão depressiva e solitária sua vida era. Também pensou sobre como ele poderia ser feliz sozinho com seu gato, ChimChim  — nome dado por sua sobrinha de 3 anos, Ailee, ele a amava, mas se sentia mal por seu irmão caçula já ter filha e ele lá... all by my self  — uma bola de pelos laranja e gorda. E pensou em mais uma infinidade de coisas.

— PARK JIMIN ACORDA! 

Até ser interrompido por um berro de  Jung Dawon, sua irmã de alma e colega de trabalho/faculdade/apartamento/vida.

Ah, esqueci. Ela era a "sócia" de Jimin naquele local. Mas isso já é papo pra outra história.

(Sim, Jung. Irmã do escandaloso e motivo pro mesmo visitar o café todos os dias até pegar uma amizade esquisita com Park. Mas isso a gente releva)

Jung Dawon também era motivo dele nunca arrumar uma namorada. Quem toparia namorar um cara que divide um apartamento com outra mulher, mesmo que esta estivesse noiva?

— AI CARAMBA DAWON!  — Berrou olhando a morena. "Escandalosa feito o irmão..."   — Sabe falar baixo não?  — murmurou e foi prontamente ignorado pela morena que revirou os olhos prendendo os fios num rabo de cavalo no topo da cabeça.

— Vem cá  — ela passou os braços pelos ombros do DongSaeng sussurrando em tom segredoso  — Com quem você acha que o Hope aprendeu a ser bixa louca assim? COMIGO! A MELHOR NOONA LOGICAMENTE!  — Nem se faz necessário dizer que ela berrou a ultima frase.

Jimin revirou os olhos, cheio de Dawon e sua confiança demasiada, coisa que ele não tinha.

— Okay, okay Dawon.  — Ele virou os olhos mais uma vez enquanto ficava de costas pra os casais, apoiando os cotovelos no balcão de mogno negro e fitando a morena  — Que quer?— virou os olhos mais uma vez. Estava virando mania já.

— Abusado!  — Ela exibiu a lingua, fazendo o garoto rir, enquanto prendia os fios negros em um rabo de cavalo alto com uma bandana na fronte, impedindo assim qual quer fio de escapar.  — Enfim, tá vendo aquele pacote ali?  — Apontou com o queixo um pacote que Jimin supos terem cafés, no plural, já que se utilizava aquela embalagem especifica para mais de um café pedido para viagem,  ocupada demais arrumando os fios para estender os dedos na direção. Jimin assentiu. — Pode leva-lo para uma amiga minha? O nome e endereço estão escritos lá.

Jimin pensou em protestar. Pensou em dizer que a cafeteria estava lotada e dar mil desculpas mas lembrou do que o local estava cheio. Então simplesmente correu os dígitos por entre os fios, desatou o avental, pegou o casaco e as chaves de sua moto, a chuva já estava rala o suficiente, mas tinha quantidade suficiente para fazê-lo precisar do acessório, agarrou o a embalagem e fitou o "Destiny" escrito numa caligrafia bela e exagerada. Girou as orbes, pela sabe-se-lá-qual vez do dia e saiu. 

Dawon sorriu, mordeu os lábios e fitou a moto saindo em disparada. Torceu para que tudo desse certo e se pôs a atender a cliente-la que fazia fila em volta do caixa.

***

— Deve ser aqui...  — Jimin murmurou fitando o prédio espelhado gigantesco a sua frente. Devia ter no minimo Dez andares. Checou o papel novamente:

"Edificio DAYDREAM

Oitavo andar, nº 23

Procurar por Destiny"

O Park ergueu o olhar pro edificio, "Daydream" estava escrito de um jeito  quase que desenhado, na fachada colorida e cheia de janelas. Sacudiu a a cabeça e adentrou o prédio.

Ainda caía uma chuva ralinha, mas assim que o castanho entrou o prédio ouviu-se um raio e a chuva voltou a cair forte como se refletisse os sentimentos confusos e trovejantes do garoto; Ele mordeu o lábio, pensando em como voltaria em meio a chuva torrencial, deu de ombros e entrou. De nada adiantaria pensar sobre naquele instante.

Olhou ao redor. O local seguia o estilo Minimalista Clean: poucos moveis em tons neutros feitos de madeira pura e metal brilhante. Haviam uns vasos de vidro semelhantes a aquários com lírios dentro, pontuando os cantos da sala.

Limpo demais para Jimin. Agoniante até. Se sentia pequeno rodeado por tamanha beleza e elegancia. Suspendeu os ombros e balançou a cabeça tentando esquecer tudo, encaminhando-se até a recepção, ditou seu nome e rumou até o elevador apertando o botão do oitavo andar.

As portas do elevador estavam quase fechadas quando um garota surgiu ao fundo, correndo feito louca, os cabelos espalhando em todas a direções e as vezes ricocheteando em suas face, o cardigã bege que usava caindo pelo ombro esquerdo mostrando a blusa branca que usava por baixo, a mochila com estampa de bolinhas e um kumamon desenhado também escorregava e ela estava mais preocupada e segurar a pasta que tinha em mãos fortemente contra o peito.

Jimin se perdeu um pouco observando-a e se encantando por ela, mas conseguiu impedir a porta de fechar com uma mão e apertar o botão que fazia com que ficassem abertas, a garota passou correndo, agradeceu, Jimin fez que sim com a cabeça e apertou o botão de fechar a porta.

Nesse meio tempo, a garota virou-se para o espelho nas laterais do elevador, as costas eram de vidro permitindo ver os andares passarem, ajustou a blusa e realocou os fios num coque frouxo e naturalmente volumoso, colocou a mochila do jeito certo e virou-se de costas, fechou os olhos e apertou a pasta contra o peito com um pouco mais de força.

Jimin não conseguiu remover os olhos dela durante todo esse tempo. Ela o prendia naquela aparência adorável que fazia o Park querer protegê-la do mundo. 

— Com licença, está tudo...  — Jimin foi impedido de terminar a frase devido a um solavanco que o elevador deu, as luzes apagaram e se reacenderam logo em seguida bem mais fracas, o numero dos andares foi substituído no visor de LED foi substituído por um "PRESSIONE O BOTÃO DE EMERGÊNCIA!!!!" escrito assim mesmo em letras garrafais e cheio de exclamações, o castanho não hesitou e apertou o botão voltando a fitar a moça. Agora encolhida abraçada a pasta. 

Certa agonia se apossou dele ao ver a garota assim, indefesa, encolhida, joelhos contra o peito e umas parcas lágrimas fugindo-lhe os olhos enquanto apertava os olhos contra o peito e murmurava coisas desconexas.

— Hum... Tudo bem. Deve ter sido algo no fusível, eu já apertei o botão de emergência. Calma...  — Falou se aproximando vagarosamente dele até que parasse ajoelhado fronte a ela. Ela ergueu o olhar e  Jimin viu medo ali e repentinamente lembrou-se da mãe, falando que homens tinham medo de mulheres armadas mas mulheres tinham medo homens apenas por serem homens.

Ele deu a volta e parou ao lado dela encostando- se na parede.

— Sabe, era para eu entregar esse pacote  — exibiu a embalagem da cafeteria. — Mas daqui que a gente saia o café esfria então...  — ele abriu a embalagem se surpreendendo ao encontrar dois Lattes junto a dois cupcakes e dois pacotinhos de açúcar e creme.  — Minha amiga, sócia, colega sei lá o que Dawon é  — Se permitiu rir da amizade louca que mantinha com a Jung mais velha — Me pediu pra entregar isso para uma tal Destiny, mas como a probabilidade de encontrar meu destino é bem baixa  — ele a viu soltar um riso nasal, provavelmente por causa do péssimo trocadilho, isso o fez sorrir  — Quer um café?  — Ele estendeu um dos lattes e os pacotinhos e ela deu um pequeno sorriso ladino, esticou as pernas e apoiou a papelada sobre as mesmas.

— Meu apelido é Destiny.  — Ela murmurou pegando o café e tirando um desenho da pastinha estampada de galaxias. O desenho era uma fênix feita em respingos de tintas começando do negrume total até um vermelho vivo. Jimin achou o desenho belo e cheio de significações, mas antes que pudesse comentar algo ela mostrou a assinatura na ponta. "Destiny" na caligrafia impressa na embalagem.  — Dawon foi minha colega no ensino médio, ganhei esse apelido por que todas as vezes que ela estava perdida eu a ajudei.  — sorriu tristonha e guardou cuidadosamente o papel e então nem tão cuidadosamente rasgou os dois pacotes despejando o conteúdo no Latte depois tampando-o e agitando. 

Jimin fez que sim e pegou o resto das coisas entregando-lhe mas ela pegou somente o cupcake de cobertura azul clara deixando todo o resto pro garoto que arqueou o supercilio.

— É uma tradição minha e da Dawon: um café para quem está com você.

— Okay...  — Jimin sorriu e degustou o café se deleitando com o gosto quente e forte do mesmo. Amava Latte's  — Me perdoe  — a garota permitiu que seu olhar caisse sobre o outro. Jimin sentiu como se os olhos alheios o escaneassem lendo o que pensava e não pensava. — Por que o choro?

— Eu tenho fobia de lugares apertados. Ficar presa aqui não soa bom. Café costuma me  acalmar mas... Por favor não me lembre.  — Ele assentiu e calou-se. Tomando mais um gole do café. Ela fazia o mesmo porém as mãos tremiam.

— Você parece ter talento para desenho — murmurou captando atenção alheia  — que tal me mostrar alguns? 

Ela sorriu e puxou alguns desenhos. — Jimin. Park Jimin. —  Ele disse estendendo a mão para garota a frente que logo devolveu o gesto. 

— Eu sou...  — Ela teria completado a frase mas a porta se abriu. Então os dois se ergueram e enquanto Jimin tirava a poeira, inexistente, da calça e então seu pulso foi puxado e um post-it apregoado lá.

— Então Park ChimChim  — Ela começou fitando o castanho dos olhos alheios. Park sorriu com o apelido mesmo que fosse o nome do seu gato — obrigada por me ajudar. Até mais.  — Disse e com a rapidez de uma brisa leve ela subiu as escadarias, provavelmente rumando ao oitavo andar numero 23.

O castanho correu os dedos pelos fios e fitou o post it.

"Obrigada por ser gentil.

De seu inesperado destino"

E logo abaixo seguia o numero dela.

Park Jimin não notou, mas naquele exato momento, enquanto ele fitava o papel azul marinho com um sorriso abobalhado no rosto...

A chuva parou de cair e o sol começou a surgir devagar, feitos feixes pequenos transpassando as nuvens.

Exatamente como os sentimentos que floresciam em ambos os corações.