Se eu contar escrita por Rainbow Pearls


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem se houver algum erro, pois ainda haverá algumas edições. Beijos e boa leitura!



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— Você precisa contar para ele. - diz Melissa pela quarta vez.

Melissa e eu sempre acabamos nessa mesma discussão. Ela acredita que eu devo contar para ele, pois segundo ela nós vamos ser o melhor casal que aquela escola já viu.

— Eu não vou contar nada, porque não tem nada para contar. - respondo, enquanto mastigo meu sanduíche.

Melissa balança a cabeça de forma exuberante, - como sempre - jogando seus louros e cacheados cabelos de um lado para o outro.

—Você insiste nisso, de que não gosta mais dele, mas eu sei que sim.

Reviro os olhos. Nós estamos debaixo de uma árvore da escola, comendo lanches, esperando que Duda e Julia terminem de falar com os professores à respeito da feira cultural que terá.

— Chega desse papo vai.

— Ok, por enquanto. - diz Melissa. -Então me fala sobre o idiota.

Daniel, mais conhecido como Dan ou idiota, é um carinha que trabalha na lanchonete Old Marques, a lanchonete da minha família, e também conhecido como meu quase namorado.

Nós estávamos saindo há quase 3 meses quando de repente ele disse que estava para voltar com a ex, mas que gostava muito de mim e gostaria que continuássemos amigos. Ficamos uns 4 meses sem nos falarmos bem, até que quatro dias atrás ele me chamou no messenger e parece que terminou mais uma vez com a ex.

— Ah, ele me chamou anteontem, daí ficamos conversando e ontem quando eu fui na lanchonete conversamos mais um pouco e ele me chamou para ir no cinema um dia desses.

— E você? Vai sair com ele?

Balanço a cabeça.

— Não, eu acho que não.

— É claro que você não vai sair com ele. - diz Melissa, indignada. - Aquele cara é um imbecil.

— Bem, ele é, mas aquilo que aconteceu...

— Não vem me dizer que foi culpa sua também. Ele não devia ter dado aquele fora em você por causa daquela nojenta da ex dele.

— Mas eu sabia que tinha sido recente e que ela não saia do pé dele. - respondo, quase o defendendo.

— Não defende ele! Você sabe que ele podia ter dado um fora nela e ficado com você.

— Eu perdoaria ele, só porque ele é bem gatinho. - diz Duda, se intrometendo na conversa.

Júlia e Melissa olham uma para outra, indignadas, pois quando se trata de Daniel elas se juntam.

—cAquele cara é um imbecil que não te merece. - diz Júlia, pegando o resto do meu sanduíche. -Vocês estão falando do Daniel, né?

— Sim, e eu disse que não sairia com ele. - respondo, tentando me defender nessa história. - Eu sei o que ele fez, mas eu até gosto da presença dele, então não sei.

Júlia e Melissa começam a discutir entre elas, expressando o quanto odeiam ele, enquanto Duanny e eu terminamos os lanches.

Elas realmente sabem como cuidar de mim, aliás, da minha vida amorosa.

Depois de tanto discutirmos a respeito de Daniel, agora estamos sentadas no sofá da casa de Duda, decidindo qual filme assistir e quem vai fazer a pipoca.

— Meu Deus. - diz Júlia, jogando o saco de pipoca em mim. - Não vamos assistir esse filme pela décima vez.

Faço minha melhor cara de fofa.

— Por favor, meninas. Vocês sabem que eu amo esse filme.

Duanny dá uma risada.

— Você ama esse filme? Porque eu tenho certeza que você tem uma "tará" por ele.

Mostro a língua para ela.

— Verdade, você já assistiu quantas vezes mesmo? - pergunta Melissa.

Umas 12 vezes, mas respondo que foram apenas 5. Como boas amigas, começamos a discutir mais uma vez.

À propósito, o filme que eu quero assistir se chama In my dream.

Conta a história de um rapaz e uma moça que não se conhecem e jogam moedas em uma fonte, e é assim que dão início a uma lenda que acredita que você sonhará por 7 dias com a sua "alma gêmea", assim eles sonham um com a outra toda noite.

— É simplesmente um filme lindo. Duda balança a cabeça.

— A menina prefere ficar com o cara dos sonhos do que ir atrás de um de verdade. - diz, fazendo uma voz ridiculamente doce. - Tudo bem que deu certo pra ela, mas e se não desse?

— Ela decidiu seguir o coração dela, Du. -responde Júlia. - Ela quase desistiu, mas sabia que eles se pertenciam.

Dou um sorrisinho para Júlia, porque eu sei que bem no fundo ela também ama esse filme.

— Vamos assistir Simplesmente Acontece então. - digo, citando outro filme predileto.

— Mas esse você também já assistiu umas 500 vezes. - rebate Duanny, que parece odiar todos os meus filmes.

— Até sei porque alguém gosta tanto desse filme. - diz Melissa, que estava até agora só observando. -Porque conta a história de dois melhores amigos que se gostam, né?

E é assim que mais uma vez começamos a discutir a respeito de Arthur e de como eu deveria contar logo para ele, o que nos faz esquecer do filme. Duanny acredita que eu deva contar logo ou esquecer ele de vez, Melissa vai sempre me apoiar na ideia de contar e Jú acredita que assim como no filme eu deveria contar também, antes que seja tarde demais.

Uma coisa que elas não entendem ou talvez finjam não se importar é que nós até podemos acabar juntos igual no filme, apaixonados e felizes.

Mas também existe a outra realidade: eu posso acabar desabafando tudo que sinto para no final não termos mais nada, nem romance nem amizade.

— Pai, você sabe onde eu enfiei minha bolsa? - pergunto, enquanto desço correndo as escadas.

Meu pai franze o cenho. Ele está concentrado no jornal em seu colo.

— Eu acho que sim, mas não sei onde eu vi.

Perfeito. Essa bolsa é a única que u tenho que não está rasgada e agora não sei onde está.

— Agora vou ter que levar as coisas na mão, porque eu já procurei por toda a casa.

— Já procurou atrás do sofá? - pergunta minha mãe, entrando na sala.

Eu dou um sorrisinho sarcástico.

— Como minha bolsa iria parar atrás do sofá?

Minha mãe dá um sorrisinho também, com aquela cara de "a bolsa vai estar lá".

E realmente, a bolsa estava.

— Não falei?! - diz mamãe, fazendo exatamente aquela cara de mãe que eu odeio.

—Te odeio, mas obrigada mesmo assim.

Subo correndo para meu quarto, porque ainda tenho que arrumar tudo para a aula de amanhã e daqui a pouco vou jogar vôlei com Arthur. Não que isso seja romântico, já que minha irmã vai estar lá e os irmãos dele também. E nem que eles não estivessem, não seria romântico, porque somos amigos. AMIGOS.

Assim, depois de guardar as coisas, coloco uma roupa esporte e convenço minha mãe de que é bem seguro uma adolescente de 16 anos levar uma criança de 10 para uma quadra às 19:00 hrs.

— Só se você prometer voltar umas 19:40.

— Ah, mãe, deixa a gente voltar umas 20:30. - diz minha irmã com aquela voz doce que pode convencer até o mais duro coração.

— Não, meu amor. - responde mamãe, dando um beijo em Laura. - Muito tarde para vocês crianças andarem na rua.

—Então umas 20:14? - pergunto.

Mamãe pensa um pouco, mas finalmente concorda com a cabeça.

—Tudo bem então, mas tomem cuidado.

Laura faz a melhor cara de impaciência do mundo.

— Mãe, eu não sou totalmente criança e vamos estar com o Arthur.

— Tudo bem, minha velha. - responde, de forma sarcástica. - Não vejo Arthur como uma ótima imagem de protetor.

Damos risada, porque realmente Arthur só parece ser um rapaz sério que pode cuidar de nós, mas quem o conhece de verdade sabe que ele é bem maluco e desatento.

— Peraí. - Diz Arthur, se virando para mim. - Sua mãe disse que eu não sou um bom protetor?

Dou uma risadinha.

— É, quase isso.

Ele finge uma cara de bravo.

— Fiquei boladão com essa. Quer dizer que a Tia Sally não confia em mim?

Laura dá um soquinho no braço dele.

— Você já esqueceu a Alice na escola.

— Isso é verdade. - concorda Alice, irmã dele. - Fiquei um tempão esperando e tive que ir andando para casa.

— Ei, você tem 14 anos. Não exagera!

— E a vez que você perdeu o Mike no supermercado? - alfineta Laura, mais uma vez.

— Não foi bem isso, né Mike?! - pergunta Arthur, que segura o irmão de 6 anos nas costas.

— Não, eu me perdi. - responde Mike, que é o maior defensor do irmão.

Começamos uma breve discussão, até chegarmos na quadra.

— Bom, só sei que eu quero a Laura no meu time. - começa Arthur, agarrando Laura de lado, que dá uns soquinhos nele.

Eu faço minha melhor cara desafiadora.

— Então eu quero a Alice e o Mike.

Alice revira os olhos, enquanto caminha até mim.

— Nós já perdemos.

Eu e Mike olhamos com nossa maior cara de ofendidos.

— Como você ousa? Nós somos os melhores, não é mesmo Mikezinho?

— Somos sim, Lolinja. - responde ele, me chamando pelo meu apelido carinhoso.

Uma mistura do meu nome com ninja.

— Então, o que vai ser Lau? - Diz Arthur, fazendo flexões com um braço para se mostrar. -Vamos vencer e humilha-los ou vamos perder e nos sentirmos melhores?

Laura faz sua melhor cara de boazinha, enquanto responde com uma voz melosa.

— Vamos vencê-los, é claro.

No final, nós acabamos perdendo, enquanto Arthur e Laura saem vencedores. Como sempre.

Enquanto as crianças ficam brincando, Arthur e eu nos sentamos no chão e ficamos os observando.

— Dá para acreditar como eles crescem? - começo, olhando bem para aquelas crianças que até pouco eram bebês.

— Sim, o tempo passa, né? Parece que até ontem Alice me achava um máximo e agora tem vergonha de mim.

Solto um risinho.

— Como ela teria vergonha de você? O irmão mais velho bonito e todo atleta. - digo, em tom de brincadeira.

— Pois é. Ela diz que as amigas dela ficam perguntando sobre mim e isso a deixa envergonhada.

Então ele dá aquele sorrisinho, aquele mesmo que mostra a sua covinha e seus dentes que são imperfeitos, mas adoráveis. Esse sorriso que faz meu coração bater mais rápido, o que é bem clichê.

— Arthur, já faz um tempo que eu quero te contar isso. - começo, sentido meu rosto queimar.

Não sei de onde estas palavras surgiram, mas sei que elas querem sair, simplesmente contar o que eu escondo há tanto tempo.

— Lô, a Laura não dá a bola. - interrompe Mike.

Eu simplesmente começo a gritar com Laura, que grita de volta, até finalmente entrarmos em um consenso.

Estou pronta para contar, mas percebo que Arthur está concentrado em seu celular com aquele sorriso, o sorriso diferente do que eu tanto amo e sim o sorriso de quem está conversando com alguma garota.

Enquanto ele digita rapidamente em seu celular, eu começo a me amaldiçoar por ser tão idiota.

Como eu poderia ser tão ridícula a ponto de contar aquilo a ele? O que eu falaria? "Então , Arthur, você é meu melhor amigo, praticamente irmão, mas parece que meu coração estupido decidiu cair aos seus encantos só pra ferrar comigo e agora tenho que ficar convivendo com isso aqui, sem saber o que é certo fazer, mas eu quero que saiba que eu gosto de você, pra caramba, gosto até mesmo do seu jeito desatento. Não me leva a mal, porque a culpa de tudo isso é sua, ninguém mandou você ser tão bonito e me fazer te admirar."

Enquanto estou com minhas tretas interiores, Arthur continua a digitar e rir, deixando-me muito curiosa.

— O que tanto você fala aí? - pergunto, fazendo meu melhor tom de brincadeira, sem parecer desesperada.

Ele tira os olhos do celular e dá um sorrisinho.

— Estou conversando com a Letícia.  Sabe aquela da sala ao lado?

— Sei, aquela com o cabelo colorido, irmã da Natiele, né?

— Sim, ela me chamou ontem e agora estamos batendo um papo legal.

Letícia Souza é a menina mais maluca da sala. Sempre tão engraçada e bem liberal. Até que é bonita, tirando seu cabelo que agora está colorido, porém de tanto pintar está desbotado. Ela e a irmã são iguais nessa questão da personalidade, tanto que brigam mais do que tudo, já até brigaram pelo mesmo cara.

— Vocês vão sair juntos? - pergunto, tentando usar meu tom mais casual.

Arthur dá uma risadinha, antes de olhar para meu rosto.

— Não começa.

— O que?

— Você está morrendo de vontade de falar algo que soube a respeito dela.

Faço minha melhor cara de surpresa.

— Não sei do que você está falando.

— Lorena, eu te conheço de anos e sei que você sempre acha um defeito nas pessoas.

Não é como se eu fosse fofoqueira, mas as pessoas simplesmente me contam a respeito das outras, como se eu fosse uma terapeuta disposta a ajudá-los com seus problemas.

— Eu não tenho nada para falar.

Ele não dá atenção, simplesmente continua digitando e dizendo que eu posso contar o que sei.

— Fala logo, Lô.

— Para de me encher! - rebato, me colocando de pé. - Eu não tenho nada contra ela.

— Eu sei, você nunca tem nada contra os outros...

— Obrigada.

— Mas sempre tem uma fofoca.

Dou uma risada.

— Você sabe quão ridículo é?

Arthur para de digitar e me dá um sorriso, aquele que eu amo.

— Só sei que você me ama.

Eu dou um risinho, reprimindo a vontade de falar "se você soubesse..."

— Eu tenho que levar a Laura agora. - digo, já me levantando.

—Ok.

Nós chamamos as crianças que estão pingando de suor e insistem em continuar brincando.

— Deixa vai, Lolinja. -pede Mike, tentando fazer sua cara de fofura. - Mais um pouquinho.

Ele se agarra em mim e fica fazendo um biquinho. Mal sabe ele que eu também tenho meus truques.

— Você que sabe, mas eu ia te mostrar na minha casa o novo carrinho que eu comprei para sua coleção...

Mike arregala os olhos. Ele tem uma coleção dos carrinhos da Hot Wheels, uma coleção que na verdade é de seu pai, mas que ele apossou-se.

— Você tá "blincando"? - pergunta ele, que às vezes troca o L pelo R.

Eu finjo que vou me sentar.

— Podem continuar brincando.

Mike corre atrás de mim e me agarra.

— Lô, eu quero o carrinho, por favorzinho.

Dou uma risada e o pego no colo, apesar dele ser pesado e estar todo suado.

— Tudo bem. Vamos pegar seu carrinho.

Enquanto isso, Alice, Arthur e Laura estão correndo na frente igual doidos, brincando de jogar a bola um no outro.

— O que faço com eles? - digo, colocando Mike no chão e o pegando pela mão.

— Vamos "atlas" deles. - responde.

É assim vamos correndo atrás deles que correm mais ainda.

— Meu Deus! - diz minha mãe, rindo. - Vão já para o banho.

— Pode deixar, tia. - responde Arthur, fingindo subir a escada.

— Ei. -grita meu pai da cozinha. - Você não. Nada de homens na casa.

Meu pai sempre fala a mesma coisa quando Arthur vem aqui, o que sempre nos faz rir.

— Vem, Mike. Vamos pegar seu carrinho. - digo, puxando ele pela mão, enquanto subimos as escadas.

— Desçam daqui a pouco para jantar. - grita minha mãe. - Hoje o homem que vai fazer a "janta".

Na verdade, essa frase está errada, porque quem faz o jantar todos os dias é meu pai, já que mamãe nunca cozinhou muito bem. E papai aprendeu a cozinhar com meu avô que antes era dono de um restaurante que hoje em dia se tornou uma lanchonete.

— Ali, vamos lá no meu quarto, que eu vou te mostrar meus novos pôsteres. - diz Laura, puxando Alice pela mão e correndo para o quarto no final do corredor. Apesar de terem 4 anos de diferença, as duas se dão muito bem e dividem o mesmo gosto por bandas adolescentes.

— Seu quarto está sempre tão organizado. - diz Arthur, olhando para meu quarto inteiro.

Eu amo organizar meu quarto. Tudo tem seu lugar e tudo fica em seu devido lugar. Diferente do de Arthur, que além de ser grande também tem muita coisa, o que acumula uma grande bagunça.

— Tem pessoas que gostam de organização, né?

Arthur revira os olhos e se joga em minha cama, o que parece um ritual, já que ele sempre faz isso.

— Aqui está. - digo, dando para Mike a miniatura de um Volkswagen golf mk7.

Os olhos dele brilham.

— Irado! - diz, segurando a caixa do carrinho. - Obrigada, Lolinja.

Ele me dá um abraço bem apertado e sai brincando corredor a fora com o carrinho.

— Bi,bi, bi...- escutamos ele, gritando enquanto desce a escada.

— Você sabe que ele te ama, né? - diz Arthur, deitando em minha almofada. -Ele não para de falar em você.

— Eu o amo também. - respondo, sentando na ponta da cama e segurando uma almofada no colo.

— Acho que ele vai querer casar com você quando crescer.

— Eu o espero então.

Nós dois damos risada, porque quando eu tiver 25 anos ele terá uns 15.

— Se bem que acho que ele tem umas namoradas na escolinha.

— Namoradas?

— Sim, acho que três. - responde Arthur, rindo. -Igual o irmão dele aqui.

Pego a minha almofada e jogo nele.

— Não corrompa, meu príncipe.

Arthur se levanta e começa a olhar os CDs que se encontram em uma caixa.

— Você tem algum novo?

Assim como Mike, eu tenho mania de colecionar CD’s de vários cantores, não me importando quem for, desde que tenha músicas legais e a capa me interesse.

— O mais recente é o do Tiago Iorc e alguns de musicais, mas eu sei que não gosta.

— Não mesmo. - diz ele, pegando o CD do Tiago Iorc, Troco Likes e colocando no meu radio rosa.

A primeira música a tocar é Alexandria, que é muito boa, mas a que eu realmente gosto é a número 5.

— Pula aí para cinco. A música se chama De todas as coisas.

— Acho que sei qual é.

"Não quero nada

Menos que nada"

"Nada de nada me falta em você

Êêêê"

 

Arthur se senta ao meu lado na cama, juntos encostamos na cabeceira na cama e ficamos ouvindo a bela voz do cantor, enquanto deito em seu ombro.

"Não quero pressa

Menos ainda promessa

Nada que apressa promete valer

Êêêê"

— De todas as coisas, só quero você. - começo a cantarolar a parte que mais gosto. - Só quero você, só quero você.

 

"Quem sabe você

Me queira também"

Não sei se é a música que faz isso, mas como a sentir mais uma vez aquela urgência de contar a ele o que sinto. Acho que talvez, só talvez ele goste de mim também, afinal nós vivemos juntos, fazemos tudo juntos. E teve vezes que pareceu pintar algum clima entre nós, mesmo que por instantes. Como aquela vez há dois anos atrás que eu ia cantar para todos na escola e estava me sentindo super nervosa.

— Para com isso, Lô - repete Arthur pela terceira vez. - Você canta pra caramba.

Eu estava sentada em um banco e ele no outro, estávamos um de frente para o outro.

— Não sei se consigo. Tem muita gente chegando e todos os meninos da sala estão aqui.

Ele segura em minha mão e fala com uma cara bem séria.

— Se alguém rir de você, eu parto a cara deles, tá bom assim?

Eu dou uma risada nervosa, porque além dos meninos serem amigos dele também são mais altos.

— Faz assim. Se você sentir vergonha, olha pra mim, tá?

Nós tínhamos esse ritual. Sempre que um se sentia com medo, vergonha ou o que fosse, olhávamos um para o outro, e meio que tudo passava.

— Você vai sentar na frente? - pergunto, apertando a mão dele.

— Se tiver lugar, mas de qualquer forma eu vou estar lá. - ele aperta meu joelho. - Eu sempre estou lá, não estou?

Dou um sorriso.

— Viu? - diz ele, sorrindo de volta. - Dá esse sorriso que eles vão cair aos seus pés.

Não sei o que me dá, talvez seja a emoção de cantar em frente à todos ou a emoção de cantar uma música tão sexy quanto Brooklyn Baby de Lana Del Rey, mas eu me inclino mais para perto dele e dou um sorrisinho.

— E você, vai cair aos meus pés? - digo, tentando soar o mais sexy. Claro, que uma menina com o cabelo todo bagunçado, algumas espinhas no rosto e uma roupa tão simples não era nada sexy.

Arthur dá um sorriso, mas se inclina mais também, o que faz com que fiquemos bem perto, o suficiente para sentirmos o hálito um do outro. Alerta de spoiler: havíamos comido um lanche de presunto e queijo recentemente, mas aquilo não importou muito no nosso momento sexy.

Antes que algo mais acontecesse, a professora apareceu me gritando, fazendo com nós dois quase caíssemos do banco. Depois daquilo, não falamos mais sobre nosso momentinho. Só sei que até hoje ela nos olha meio estranho.

Enquanto eu estava presa na lembrança, Arthur estava olhando para o celular e eu como uma boa amiga, fiquei lendo a conversa dele com Letícia e uma tal de Gica.

Gica estava contando para ele que estava ansiosa para vê-lo na escola e queria que ele apresentasse o novo boy que ela estava gostando e que é amigo dele. Alívio! Essa parece estar fora da jogada.

Pelo que eu havia lido até agora, Letícia o estava convidando para ir na festa que ela daria no sábado e estava comentando que gostaria que ele a visse com o seu novo vestido verde esmeralda, que é a cor predileta dele. Que garota mais ridícula!

— Você virou estilista? - soltei, não conseguindo me segurar.

Arthur continua digitando, dizendo que ela sempre o surpreende.

— Coisas pessoais aqui.

— Eu só acho que ela....

— Você não disse que não tinha nada contra ela? - rebate ele, rindo.

Eu saio do seu ombro e me levanto.

— Não tenho mesmo.

Ele para de digitar e me olha com a sobrancelha erguida.

— Eu ainda não entendi porque você parece não gostar dela.

— Não é como se eu não gostasse dela, mas não tenho um bom pressentimento com relação a ela.

— Ela também não gosta muito de você.

"Coisa linda

Vou pra onde você está

Não precisa nem chamar

Coisa linda

Vou pra aonde você está"

— Como assim? - pergunto, me jogando de volta do lado dele.

— Eu falei sobre você e ela disse que você tem cara de ser mimada.

Mimada? Eu nunca falei com essa menina maluca.

Eu olho indignada para ele.

— E o que você falou?

Ele dá de ombros e volta a digitar.

— Às vezes você é meio mimada mesmo.

— Você é um traidor. - digo, enquanto pego uma almofada e bato nele. - Nem para me defender.

Arthur dá uma risada e guarda o celular no bolso.

— Eu te defendi sim.

— O que você falou? - digo, sorrindo.

— Que não é totalmente sua culpa ser assim.

Eu mostro a língua pra ele e continuo batendo nele que agora pega outra almofada.

— Você é um babaca!

Ficamos nos batendo por muito tempo, até minha mãe nos chama para jantar.

"Ah, se a beleza mora no olhar

No meu você chegou e resolveu ficar

Pra fazer teu lar

Pra fazer teu lar"

Eu finjo que estou brava com ele, dando as costas pra ele e ignorando seus pedidos de desculpa. Pauso a música e descemos para jantar.

— Mamãe, olha meu carrinho! - escuto Mike falando.

— Que lindo, meu amor. - responde uma voz que eu conheço muito bem.

Minha mãe e a Tia Lúcia estão conversando encostadas no batente da porta, enquanto Mike está grudado em sua perna. Alice e Laura estão sentadas na mesa, ouvindo música no celular de Alice.

Tia Lúcia é mãe de Arthur, Alice e Mike. Apesar dos três filhos, ela é magérrima, está sempre bem vestida e tem um rosto lindo. Sua pele é meio bronzeada, seus olhos são cor de mel e seus cabelos estão na altura do ombro e estão sempre bem hidratados. Alice e Mike são a cara dela, mas Arthur lembra muito o pai. Eles têm o mesmo cabelo loiro e os mesmos olhos verdes, além do rosto largo e bonito.

— Oi, tia. - digo ao chegar na sala.

Ela dá aquele sorriso que lembra muito o de Arthur.

— Olá, meu amor. - diz, me dando um abraço. - Mas como vocês estão suados!

— Sim. Eu já mandei eles tomarem banho. - brinca minha mãe, passando a mão na cabeça de Mike.

— Acho mais do que justo. Por isso, vamos pra casa, meus amores.

— Fiquem para jantar. - pede minha mãe. - Já está pronto.

Tia Lúcia balança a cabeça.

— Não, muito obrigada. Gerald já pediu comida para nós.

Mike pega na mão da mãe, Alice e Laura combinam de escutar as novas músicas no dia seguinte e eu espero para trancar a porta quando eles passarem.

— Tchau, querida. Tenha uma ótima noite.

Dou um beijo no rosto dela.

— Tchau, tia. Pra senhora também.

— Senhora? - zomba Laura. - Não deixava mãe.

Damos risada, porque toda vez Tia Lúcia me corrige quando a chamo de senhora, desde pequena.

— Não fala mais nada. - comenta ela, dando as costas e dando a mão para seus dois mais novos.

Arthur está bem concentrado no celular.

— Até amanhã, Arthur. Vamos juntos então ou eu vou na frente?

— Vamos juntos mesmo, se você quiser.

Claro que eu quero.

— Tanto faz.

— Agora virei um tanto faz. - diz ele, guardando o celular. - Até amanhã.

Reviro os olhos.

— Eu não ia falar nada, mas saiba que a Letícia tem herpes.

Arthur arregala os olhos.

— O que?

— Boa noite.

E assim fecho a porta na cara de surpreso de Arthur.

Acordo escutando o instrumental de Harry Potter, o que já me faz acordar bem e aparentemente de bom humor.

Tomo um rápido banho, coloco a blusa vermelha e preta do uniforme, coloco uma calça legging e um casaco vermelho, porque hoje está um pouco frio, também coloco bota. Dou uma olhada no espelho. Vejo uma menina de altura mediada, pele morena, cabelos que chegam até a cintura cacheados, olhos que parecem grandes com a grande quantidade de rímel e boca pequena com batom nude.

Até que eu gosto do que vejo hoje em dia, antes eu até tinha problemas, mas agora não mais. É claro que quando olho para uma modelo não continuo com as mesmas opiniões, mas tirando isso...

Pego minha bolsa colorida com vários bottons, meu celular que deve estar cheio de mensagem de ontem e desço correndo a escadas, como sempre.

Meu pai já está levantado, porque nas segundas-feiras ele leva minha irmã para a escola de balé. Ela fica adorável com o colete e a saia, mas odeia quando eu comento.

—Bom diaaa! - digo, sorrindo, enquanto dou um beijo em papai e em Laura.

— Bom dia, senhorita que dorme tarde. - comenta ele, enquanto me dá uma maçã, já que eu só como uma maçã e tomo um suco, mais nada no café da manhã.

— Eu estava lendo, porque sou intelectual.

Laura dá aquela sua risada maligna.

— Ela tava assistindo que eu sei.

Semicerro meus olhos, tentando fazer a cara mais ameaçadora.

— Eu sei que estava. - diz papai, assoprando seu café. - Por isso vou tirar o celular dela.

—Tira mesmo, pai.

—Não, por favor. - suplico. - Eu não vou mais assistir.

Papai pisca pra mim e eu pisco de volta. No fundo ele sabe que eu sei que ele também assiste até tarde.

Começamos a conversar sobre como queremos um cachorro, mas mamãe é contra, por ter medo, por isso decidimos tentar convencê-la de que nem todos cachorros vão mordê-la.

Antes de sair, dou um beijo neles e mando uma mensagem para Arthur:

"**Estou te esperando aqui, princeso.**”

Enquanto ele não aparece, dou uma olhada nas minhas mensagens.

As meninas no grupo estavam falando sobre qual é o melhor look para ir para a escola no primeiro dia, meu avô me manda algumas piadinhas de bar, o pessoal do grupo da família está dando bom dia e por fim Daniel me manda uma foto da inauguração de um rodízio de pizza.

“**Bora? Vai inaugurar no sábado!!!**”

Eu penso um pouco sobre o que as meninas diriam sobre essa mensagem, mas eu amo tanto pizza.

Começo digitando que vou ter um compromisso, mas excluo.

Depois de 3 segundos de reflexão, eu digito:

“**Acho que não tem nada marcado pra sábado. Vou pensar!**”

— Podemos ir? - pergunta Arthur, que falta me matar de susto.

— Menino, como você chega tão sorrateiro assim?

Arthur está com a camiseta da escola, calça jeans, all star e um boné para trás que o deixa muito lindo. Quase perco o ar, quase.

— Você que estava concentrada no celular.

— Nem estava. - digo, enquanto começo a caminhar. - Adivinha quem está falando comigo?

Ele faz um cara de dúvida, enquanto pensa um pouco.

— Seu primo esquisito?

— Não. - digo, rindo. - Bloqueei o Samuel.

Samuel é meu primo de 30 anos que deu para começar a dar em cima de mim, mas lembrando que ele é de segundo grau. Bem nojento.

— Não sei, quem é?

— Adivinha.

— Lô, você sabe que eu odeio adivinhar.

Reviro os olhos. Não sei porque ainda tento brincar com ele.

— O Daniel.

Arthur para na minha frente, me fazendo parar no meio da calçada.

— Como assim voltou a falar com você?

Eu sabia que não devia ter falado, mas eu insisto em abrir essa boca. As coisas que eu devia falar não falo, mas as que eu realmente não devia saem.

— Nem te falei, mas ele tem me mandando mensagens. - comento, de forma casual, enquanto desvio dele e continuo andando. -E conversamos no outro dia.

— Mano, você sabe que eu não vou com a cara dele.

Realmente, Arthur nunca gostou de Daniel, antes mesmo do que aconteceu. Tive que segura-lo para que ele não fosse falar nada ou até mesmo bater em Dan depois da mensagem que ele me mandou falando que voltaria com a ex. Se eu chorei? Só um pouco, mas foi suficiente para que Arthur ficasse bem bravo, bravo mesmo, como só ele fica.

— Ele que começou a falar comigo e eu já superei mesmo.

Arthur fecha a cara e começa a contrair o maxilar.

— Aquele cara é um mala. Devia falar com ele.

— Não! - Praticamente grito, enquanto seguro o braço dele. - Você não começa, por favor, já disse que superei.

Ele fica calado, olhando só para frente com aquele olhar mortal. Arthur pode ser um pouco mais baixo do que Daniel, mas é bem forte e eu já o vi batendo em alguém. Não é nada legal.

— Por favor, princeso. - Bbrinco para ver se ele melhora a cara. - Cadê o meu princesinho?

Apesar disso, ele continua calado, sem nem olhar pra mim, o que me faz ficar com raiva de mim. Por que raios eu contei isso pra ele? Pelo menos, não vou contar do rodízio.

— "Quem não gostar do que eu falo, me dá um tiro na cara. " - digo, imitando a Inês Brasil.

Arthur vira para o outro lado, tentando não rir.

— "Nós temos que ter carinho um com outro. "- continuo imitando, enquanto tento fazer ele olhar pra mim.

— Vai se ferrar! - diz ele, que começa a andar na minha frente.

— "Seja a pessoa que for, se me atacar, eu vou atacar."

Dessa vez começamos a rir, porque a cena está muito ridícula.

— Mano, ainda estou bravo com você.

Eu seguro no braço nele.

— "É aquele ditado: vamo fazer o que, né?"

— Para com isso. - diz ele, rindo. - Não dá pra ficar bravo com você.

— Eu sei. - falo, fazendo minha melhor cara de fofa.

— Mas eu quero que você pare de falar com aquele otário.

Finjo que vou me ajoelhar diante dele.

— Como queira, vossa majestade.

— É sério, Lô. Aquele cara vai fazer você chorar de novo.

Reviro os olhos. Parece até eu cortei os pulsos quando na verdade só chorei um pouquinho de nada.

— Eu já sou bem grandinha, pai. Além do mais, eu acho que tava de TPM, sei lá.

Arthur bufa. Se tem uma coisa que ele odeia é quando fazem ao contrário do que ele quer.

— Escuta o que eu tô te falando.

Continuamos andando lado a lado, sem dar uma palavra até chegar na escola. Odeio quando isso acontece, mas bem que ele podia ser mais flexível, né?!

— Migoooos. - escuto Melissa gritando. Ela corre em nossa direção com aqueles lindos cachos louros voando. Ela dá um abraço desajeitado em casa um. - Adivinhem quem tá de novo na mesma sala?

Eu dou um risinho.

— Não faço ideia.

Melissa olha pra mim e depois para o Arthur.

— Tá legal. O que aconteceu com vocês dois?

— Daniel. - responde Arthur, cruzando os braços.

Melissa revira os olhos.

— Nem me fala desse cachorro antes que eu vomite.

— Não comecem os dois. - respondo, enquanto tento avistar as outras meninas no meio do povo todo. - Cadê as meninas?

— Elas já estão na sala. Vamos lá.

Adentramos a escola, enquanto vamos passando pelos corredores, paramos para falar com alguns amigos de outras salas ou até mesmo das nossas. Arthur fica conversando com os meninos do futebol, enquanto eu e Melissa vamos para sala.

— Olha quem chegou. - grita Duanny, pulando da sua mesa para nos dar um abraço.

A meninas estão reunidas no canto esquerdo do fundo da sala. Lá estão Júlia, Melissa, Adriana, Leozinho e Gabi. O nosso grupinho do ano passado, faltando o JP e tirando a Adriana que antes era de outra sala, mas que parece estar na nossa agora.

Dou um abraço apertado em cada um, principalmente em Dri que finalmente ia estudar com a gente.

Estou conversando com Adriana, quando Júlia me cutuca para ouvir a conversa.

— O que foi? - sussurro pra ela.

— Parece que ela achou muito pesado o ensino da escola que tava. - comenta Gabi que sempre sabe algo.

— De quem eles estão falando? - pergunto para Leozinho.

Leozinho dá um sorriso de lado.

— Da Carol.

Carol Fernandez? A ex do JP?

— Não sabia que ela tinha saído da escola. - comento.

— Saiu quando estávamos na oitava. - diz Duanny, franzindo o cenho.

Acho que eles falando da Carolina Barbosa então. Uma bem legal da nossa sala, que era no caso da nossa sala.

— Eu só quero ver a cara do Tui. - diz Gabi se referindo à Arthur, porque às vezes o chamamos de "Tui".

O que Arthur tem haver com isso? Será que ele gostava da Carol? Mas ele nunca falou dela.

— Ele gostava dela pra caramba. - diz Júlia, olhando pra mim.

Meu Deus! Só eu não sabia que ele gostava dela? Parece que até a Dri que é de outra sala sabe e eu que sou a melhor amiga/vizinha não sei de nada.

— Vocês sabiam disso? - pergunto, olhando para todos. - Que ele gostava da Barbosa?

Todos começam a rir, o que me deixa mais confusa ainda. Estou parecendo até mulher traída.

— Miga, você não sabe de quem estamos falando? - pergunta Melissa, com aquela cara de quem sabe que é óbvio.

— Carol Barbosa? - Arrisco.

Leozinho faz um sinal com a cabeça.

Eu que estou virada olho para trás. Desejei nunca ter feito isso.

— Ah, vocês estavam falando dela.

Não era a ex de JP nem a Carol Barbosa, mas sim a menina dos cabelos negros perfeitos, do sorriso fofo, do cérebro mais brilhante e dos olhos puxadinhos.

Aquela mesma por quem Arthur Albuquerque foi apaixonado antigamente.

Carolina Sayouri.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem.



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