Lembre-se... escrita por Lissa


Capítulo 1
A Tarefa




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Fazia um calor insuportável na sala de aula grande e lotada de alunos adolescentes, o que só tornava o ambiente ainda mais desagradável. Incomumente, os alunos estavam quietos, silenciosos. Parecia que ninguém estava a fim de se mexer muito, porque o calor realmente não estava fácil, chegava quase aos 38 graus, e a sala dispunha de apenas um ventilador de parede velho, sujo e que já não funcionava na sua potência máxima. O professor à frente da turma, um sujeito de meia idade e grossos óculos de grau, falava ininterruptamente sobre qualquer coisa que ninguém estava prestando atenção, exceto um ou dois alunos mais aplicados, mas nem mesmo esses pareciam muito dispostos a se esforçar demais para acompanhar o falatório.

— Tarefa de casa! Uma pesquisa de, no mínimo, 4 páginas sobre a Guerra de Tróia e seus paralelos com a mitologia grega. - gritou o professor, de repente.

Aquilo fez com que a maioria dos alunos acordasse de seu estupor modorrento. Uma pesquisa de 4 páginas? NO MÍNIMO? Aquilo era, pra não dizer outra coisa, absurdo. Como se eles não estivessem ocupados com outras matérias ou com o vestibular. A maioria ali, inclusive, estudava em cursinhos.

—Pode mandar por e-mail, professor? - perguntou uma aluna na primeira fila.

—Prestem atenção, todos vocês, anotem minhas instruções sobre o trabalho, porque eu não vou repetir: eu quero que vocês façam, individualmente, um trabalho de pesquisa e relatório sobre a Guerra de Tróia, que estudamos aula passada, e seus paralelos com a mitologia grega, para semana que vem. No mínimo 4 páginas, podem entregar impresso ou à mão, como preferirem, mas aviso: quero referências bibliográficas, não me venham com fontes de sites ou internet. Quem colocar uma fonte tirada da internet eu vou zerar o trabalho. Quero que vocês aprendam como é pesquisar de verdade. Eu vou deixar uma lista de livros disponíveis na biblioteca e já adianto que vocês não vão encontrar nenhum deles online. 

A turma se entreolhava, perplexa. Ninguém estava acreditando no que estava ouvindo. Sem dúvida, aquele professor estava doido ou era o maior sádico da face da Terra. 

—Mas, professor, a gente tá no final do semestre, temos muitas provas e trabalhos de outras matérias, será que não dava pra aliviar um pouco? - protestou um aluno, indignado.

—Não. Eu considero este trabalho de extrema importância pra ensinar-lhes disciplina e organização. Eu, na idade de vocês, fazia e estudava muito mais e nem por isso morri. Todos aqui são jovens e cheios de energia, podem empregá-la melhor fazendo a pesquisa. - sentenciou o professor, já arrumando suas coisas.

O sinal do fim da aula tocou bem naquela hora e os alunos, revoltados mas sem coragem de refutar, saíram resmungando. Uma vez livres dos ouvidos do professor, puseram-se a reclamar.

—Como é possível que esse cara encha a gente de trabalho e nem deixe que a gente use a internet? - resmungou uma menina, já com o celular na mão.

—Em que século ele acha que a gente tá? Absurdo. - disse outra menina com o celular em mãos.

—Ele tá é se vingando que todo mundo dorme na aula chata dele, isso sim... - apostou um menino que estava, de fato, dormindo na aula.

—Pois eu vou catar tudo do google e inventar um livro aí e não quero nem saber. Vocês acham mesmo que ele vai conferir referência por referência? - indagou um menino do fundão.

—Verdade, nós somos 32, se ele for olhar um por um, vai chegar o quarto milênio e ele não vai ter acabado. - afirmou o aluno que pedira pro professor aliviar. 

—Ah, ele é o capeta. É bem capaz de pedir pro monitor da matéria ajudar ele a corrigir e verificar as fontes. Por via das dúvidas, eu vou fazer como ele mandou. - disse a representante da turma, séria.

À parte dos alunos entretidos em xingar o professor de História de maluco, sádico, múmia velha e palavrões de tudo que é tipo, uma aluna observava de canto. Depois que os jovens esgotaram seu repertório de impropérios e novos assuntos surgiram, cada panelinha foi pra um canto e a menina que ficara no canto, ouvindo tudo, se dirigiu silenciosamente para a biblioteca, sozinha.

 


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