Nymphadora prometeu a si mesmo que não falaria com John nunca mais em toda sua via.

“Bom dia”, sorriu o homem.

“Bom dia”, sorriu Dora, o vendo passar. Então sentiu o teto ameaçar cair, fechando os olhos em seguida, não acreditando em sua memória curta. Não consegue ficar com raiva de ninguém por mais de duas horas??? Aquilo era um absurdo! Ela passou a noite inteira chorando e se lamentando, forçando sua mente lembrar de todos os momentos em que aquele homem, com aquele lindo sorriso, simplesmente a tratou como um nada.

Se dê um pouco de valor!, gritou internamente para si mesma, fechando a cara. E então se trai, olhando para trás novamente, apenas para vê-lo conversar algo com os outros colegas. Será que eu... Estou exagerando? Talvez eu seja dramática demais, eu devia pegar mais leve com ele. Ela arrasta seus pés, arrependendo-se de não ter feito as sobrancelhas, é tão feia, ele vai notar que... Droga, Tonks, o que você está fazendo??!!

Apertou sua bolsa e manteve-se firme em seu local, sentindo o olhar dele, ao longe, passar por ela. Reprimiu um sorrisinho. Ela chorara na noite passada porque no ínicio da semana ele a chamara para sair, mas simplesmente lhe deu um bolo. E aquela era a segunda vez que lhe dava um bolo. E pela segunda vez, Nymphadora quase tem um colapso nervoso dividido entre vergonha de si mesma e ódio, também de si mesma.

“Como eu deixei ele fazer isso comigo?”, gritava para si mesma, atropelando a voz de Patti Smith ecoando por seu quarto, tentando consolá-la. Sentia-se usada, burra, facilmente manipulável, dispensável... Se revoltava, quem ele pensa que é pra fazer isso comigo??? O que ele pensa que eu sou??? Então uma carta aparece sob sua mesa de manhã:

“Houve um incidente.

Não pude aparecer”

Oh não, coitado, será que ele está bem?, pensou sem notar seu reflexo inchado no espelho, após horas quase entrando em estado de desidratação. Esse filho da puta não pediu nem desculpas e é a segunda vez que ele faz isso!!!, surtou, rasgando a carta em pedaços raivosos.

“Por que você faz isso?”, perguntou, olhando a si mesma no espelho, desesperada. “Você se ama tão pouquinho pra aceitar essas migalhas?”.

Tentava tirá-lo da cabeça, mas via algo e lembrava-se dele imediatamente. Ou pior, tinha vontade de comentar com ele, coisas que o interessariam, ele sempre a achou tão inteligente. Ele sempre fala isso, o quão inteligente ela é... Ele adora saber sobre o que ela está pesquisando, qual o filme de 1932 que ela está assistindo, qual estrutura politica ela está analisando... Então ele a domina completamente e depois se enjoa, afastando-se bruscamente.

“Você tem que entender que estou numa fase intimista”, explicou, com sua voz pretensiosa. “Mas não é nada pessoal, você sabe que eu gosto de você”.

Bate, assopra, bate, assopra...

Quero, não quero mais, quero, não quero mais...

Pegou um livro em sua bolsa e tentou ler, mas sua mente estava completamente alerta em tudo, menos na história. Ela o olha furtivamente ao longe e sente seu coração quase parar, completamente boba por sua barba, o cabelo... Ele nem era tão bonito assim, mas ela estava tão... Presa... Não sabia mais se estava apaixonada ou simplesmente apegada a miséria de atenção que ele lhe dera. Parecia ter se amarrado com tanta força aos beijos que trocaram, às conversas, aos toques que... Abaixou os olhos, trêmula.

Fiona Apple – Across The Universe

Queria tanto resetar aquela parte de sua vida... Merlin, como queria...

“Com licença, você sabe onde é a sala de Alastor Moody?”, Dora assustou-se brevemente com o homem que parara diante dela. Ele tinha um traço atravessando seu rosto doce, porém não convidativo. Não conseguiu evitar olhar o remendo em seu terno, qual ele cobriu com a alça da bolsa ao ver Nymphadora olhar. A garota enrubesceu, atrapalhada.

“Ah sim, a sala dele é ali...”, apontou para o fim do corredor.

“Obrigada”, sorriu o homem, antes de partir. Ele tinha olhos tão... Calmos.

“De nada”.

Assistiu o homem atravessar o corredor cheio de jovens esperando o comandante do Quartel de Aurores para o treinamento do dia, observando suas roupas. Seu olhar novamente a traiu e caiu sob John, que sorriu para ela. Nymphadora sorriu, da forma mais sincera que alguém poderia sorrir.

Leia meus pensamentos... Será que você é burro? Não quer ser amado? Eu... Eu posso te amar!, pensou, mas ele já havia desviado o olhar. Voltou para seu livro, se perguntando quando aquele pesadelo passaria.

Sua mãe sempre diz: Primeiro o ruim acontece, se você se sair bem, o bom virá.

Nymphadora desejou estar se saindo bem.