Órion escrita por Makemecry


Capítulo 10
Too Good




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Órion, 04 de junho de 2216

 

—Esse vestido está lindo em você, Majestade. —Jeanne fala com um grande sorriso enquanto o fecha, me olho no espelho e me seguro para não fazer uma careta. O vestido, embora bonito, parece não combinar muito comigo, mas combinaria perfeitamente para uma princesa de antigamente, com a saia rodada e um corset apertado demais.

—Você pode soltar um pouco? —Ela balança a cabeça negativamente, fala algo sobre como deve ficar assim mesmo e começa a se concentrar no meu cabelo. Enrolando algumas mechas e trançando outras, apenas fecho os olhos e tento respirar fundo, esperando que a festa acabe o mais rápido possível.

Werner, como sempre, já está na porta me esperando, o uniforme posto e o cabelo perfeitamente arrumado e posto para trás, sorri para mim discretamente a começa a me guiar para o grande salão de festas, cada vez mais barulhento e cheio.

Forço um sorriso e começo a cumprimentar a todos, o meu guarda sempre próxima a mim, sempre em posição e, as vezes, com um sorriso pequeno em seu rosto que retribuo sem dificuldades.

—Majestade. —Assim que me viro em direção a voz, congelo. Reconheço o homem a minha frente, passei a vida inteira vendo o seu rosto nos quadros e imagens do desertor e isso me faz querer sair correndo.

—Mattew Steele. —Falo uma reverência e o escuto rir. —O que você está fazendo aqui?

—Eu prefiro tio. —Ele faz uma reverência para mim, muito mais formal do que eu jamais poderia ser. —Você achou mesmo que eu perderia o aniversario de dezessete anos da minha sobrinha?

—Não é como se você estivesse presente em todos os outros, e no meu nascimento, ou no velório de sua própria irmã. —O sorriso dele parece não se abalar.

—Você sabe que eu nunca fui muito bem-visto pôr as pessoas deste castelo, mas, agora, depois de tanto tempo, acho que isso pode ter mudado. —Ele passa a mão na barba grisalha e depois nos longos cabelos. —E eu gostaria muito que você conhecesse o meu filho, Calum e a minha esposa Moibeal.

Os observo em silêncio, sinto o ar faltando em meus pulmões quando o garoto loiro faz uma reverência para mim, os olhos fixos em meu anel e um sorriso travesso nos lábios. A mulher, por sua vez, apenas me observa com intensidade, faz uma reverência rápida e determinada.

—É um prazer conhecê-los, embora, para mim, seja uma surpresa que você tenha um filho. Isso nunca havia chegado aos meus ouvidos. —Falo, forçando a minha voz a ficar controlada.

—Estávamos tentando escondê-lo dos olhares alheios, um filho não precisa pagar pelos erros do pai. —Balanço a cabeça positivamente, Mattew limpa a garganta e volta a me observar atentamente. —Fiquei sabendo sobre os desaparecimentos, é muito trágico que algo assim tenha acontecido tão pouco tempo depois do aniversário de morte de minha irmã e seu marido. —O olho espantada, sinto uma onda de frio se espalhar em meu corpo e me controlo para não começar a tremer.

—Desculpe-me a pergunta, mas quantos anos têm seu filho? —Tranco a respiração e observo os olhos frios dos garotos, claros demais.

—Eu fiz dezoito anos alguns meses atrás. —Ele me fala como se fosse um desafio e ele estivesse ganhando, e, de fato, acho que isso seja possível.

—Me desculpem, mas eu realmente tenho que ir, a convidados esperando para serem recebidos. Espero que aproveitem a festa.

E com isso me afasto deles, tentando me controlar para não sair correndo. Procuro por Werner e sinto vontade de gritar quando o vejo, ele está conversando com Andrine, uma jovem —e bonita —guarda real, as curvas da garota parecem se destacar mesmo com o uniforme largo que ela está usando, o cabelo raspado só parece deixar as formas de seu rosto ainda mais angulosas e bonitos. Sinto minhas bochechas queimarem de raiva quando ambos dão risada e vou embora, com passos fortes e apressados.

Assim que saio da vista de todos, começo a correr e entro no primeiro banheiro que encontro, procuro por ar e não o encontro, meus pulmões parecem queimar e eu puxo o corset do vestido com força, mas nada parece abri-lo. Sinto minha garganta se apertar e então vomito a minha última refeição.

Passo uma água em minha boca e me encosto na parede, sentindo o frio me acalmar.

—Naomi? —Escuto a voz de Werner distante. —Naomi? —A voz está mais alta agora, posso perceber a preocupação em sua voz.

Saio do banheiro devagar e vejo a expressão em seu rosto passar do desespero para a felicidade em minutos, ele corre e me abraça com força.

—Você está bem? —Balanço a cabeça negativamente e o levo até o banheiro.

—Meu tio está de volta e trouxe com ele um filho de dezoito anos. —Werner me olha confuso, como se não entendesse o que isso quer dizer. —Mesmo se passando décadas desde que mulheres podem governar sem um homem ao seu lado, algumas pessoas ainda prefeririam que, neste exato momento, um homem governasse e não uma garota de dezessete anos. E, com o desaparecimento dos jovens, a possível volta dos rebeldes e os problemas com Aslaria… haveria alguma época melhor para destronar a rainha e colocar um rei em seu lugar?

—Ninguém quer você fora, Naomi, você é uma ótima rainha.

—Mas eu não sou um homem. —Me apoio na parede e me seguro para não vomitar de novo.

—Seu tio se recusou a assumir o trono por causa de uma mulher, porque alguém colocaria o filho de um desertor no seu lugar? —Balanço a cabeça negativamente. —E, também, você pode estar tomando decisões precipitadas. Ele escolheu abandonar o trono, porque mudar de ideia?

—Só há um fardo pior do que governar uma nação: o fardo de quem é um desertor, ele é considerado um traidor do país por muitos, um covarde, incapaz de assumir suas próprias responsabilidades. —Posso ver o olhar triste que Werner me lança e me encolho. —Eu não posso perder isso tudo Werner, é a minha casa, o meu dever, a única coisa que eu sei fazer é governar. —Seguro as lágrimas. —Isso tudo é a minha herança e a única forma que eu tenho de lembrar os meus pais.

—Acredite em mim, Naomi, tudo ficará bem. —Ele se aproxima de mim. —Eu morreria antes de deixar alguém te tirar deste castelo. —Suas mãos seguram meus braços com delicadeza. —Não há ninguém mais recomendável para este cargo do que você, e todos sabem disso. —Ele beija a minha testa e me olha com seus grandes e intensos olhos azuis. —Agora entre naquele salão, linda do jeito que você está e arrase com o coração de todos, mostre que você nasceu para isso e que ninguém fará melhor do que você, porque eu, mais do que ninguém, acredito em você.

E isso parece me recarregar, forço-me a sair daquele banheiro e entrar naquele salão de novo, com passos firmes e decididos.


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