MARTE - O sorriso do planeta vermelho. escrita por Mich


Capítulo 1
Um conto de verão




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Era verão e a família inteira ia tirar férias, meu pai estava super empolgado para irmos pra uma casa no meio da montanha, minha mãe estava adorando a ideia, minha irmãzinha fazendo planos  fingindo ser uma escoteira junto com nosso priminho  que vai ir junto, já que os dois tem a mesma idade, acredito que pra eles vai ser uma aventura, aliás tudo é sempre uma aventura quando se tem 7 anos, quando a mim, bom não estou nem um pouco empolgado, muito menos adorando a ideia, quando meu pai disse aonde iriamos as primeiras coisas que me vieram a mente foram : “ Ótimo, três semanas enfiados no meio do mato numa montanha longe de toda a civilização e tecnologia, como vou upar meu char e passar aquele lvl do jogo que venho a meses me dedicando...”.

Tenho certeza que meu pai escolheu esse destino exatamente para me afrontar, posso apostar isso, ele vive dizendo: “ Jhonatan, sai desse quarto, sai desse computador, quando eu tinha a sua idade mal parava em casa, você tem que socializar mais, você tem que arranjar um emprego, tem que fazer faculdade...”, ele chegou a pagar um ano de terapia, pela minha falta de interesse em socializar com as pessoas, sempre escuto ele e minha mãe discutindo sobre meu futuro – “Isso não é normal o Jhonatan vai fazer 20 anos e não sai daquele quarto, daquele maldito computador, ele não tem nada nem se quer tem um emprego.”,” Querido ele deve estar passando por uma fase difícil...”,(é realmente fase difícil essa que estou passando desde que nasci.), desde que terminei o ensino médio a 3 anos atrás minha vida tem sido dentro das quatro paredes do meu quarto, desempregado, sem saber que tipo de carreira seguir e sem amigos me dediquei aos jogos online e as series animadas, não me sinto preparado pra encarar a vida da forma que eles esperam, se existe um manual de como viver neste mundo eu tenho a certeza que perdi o meu.

— Vamos lá filhão, aposto que alguns dias em contato com a natureza te farão bem.

Nossa eu quase morri de rir quando ele disse isso, (ironicamente falando), sem que eles vissem escondi na minha mochila meu psp, um tablete e meu celular no qual paguei um preço absurdo por uma franquia de internet móvel, se eles pensão que vou ficar três semanas brincando de Tarzan na floresta eles estão enganados.

 Stelinha me pegou no flagra enquanto guardava os eletrônicos na mochila, fiz sinal de silencio pra ela que abriu um sorriso e saiu saltitando como se aquele fosse o maior segredo do mundo, tenho certeza que esse segredo vai me custar algumas horas assistindo algum anime com personagens fofinhos e muita magica, as vezes ela vem no meu quarto a noite e pede pra assistir anime comigo, quase sempre quando tem pesadelos, acho tão fofinha quando ela adormece no meu colo, desde que assistimos Shugo Chara ela me faz brincar com ela fingindo ser os personagens, ela claro sempre é a protagonista e eu, bom ela diz que sou o Ikuto Tsukiyomi e que tento roubar os alter egos dela.

A viagem foi chata e cansativa 3 horas dentro do carro cheio de parafernálias, um calor infernal e a Stelinha e o Igor que não calavam a boca nem um segundo, conversando rindo e cantando aquelas musiquinhas irritantes, meu pai e minha mãe discutindo sobre algo que com certeza não me interessa, não aguentei e tirei o celular da mochila e botei os fones de ouvido no último volume só escutei quando minha mãe reclamou, “Jhonatan eu não acredito que você trouxe isso para cá”, eu apenas ignorei, fingi que não era comigo, virei a cabeça e apoiei na janela, apenas viajando na música que estava ouvindo e assim foi toda a viagem, quando chegamos descemos as coisas do carro e foi cada um se acomodando e escolhendo seus respectivos quartos, a casa era grande, uma sala enorme com lareira, banheiro, cozinha e uma área nos fundos com churrasqueira, no segundo andar uma suíte, um banheiro e três quartos um deles com varanda, as crianças correram para o quarto com as beliches, minha mãe e meu pai obviamente ficaram com a suíte, e eu fiquei com o quarto da varanda que tinha uma cama de casal, a varanda ficava na lateral da casa e a vista era de pinheiros e eucaliptos, larguei a mochila na cama e fui logo procurando uma tomada para carregar o celular, para minha sorte tinha tomadas dos dois lados da cama, conectei o carregador e enquanto o celular carregava fui até a varanda, tinha que admitir a vista era bonita mas eu realmente não sou muito ligado a esse lance de natureza, percebi que tinha uma pequena trilha entre as arvores, e me perguntei aonde aquele caminho levaria, mas não dei muita importância, não era como se eu fosse sair do quarto.

— Jhonatan desça aqui e me ajude com os espetos de churrasco. – Gritou meu pai lá de baixo.

Affs fala sério – Bufei – Bom é melhor eu ir ajudar logo assim posso ficar sossegado aqui jogando.

Desci ajudei meu pai a descarregar as coisas do carro, era quase meio dia então minha mãe foi para a cozinha fazer o almoço, meu pai foi assar a carne na churrasqueira e a Stelinha e o Igor estavam correndo por ai catando os pinhos caídos pela volta da casa, antes de subir de novo para o quarto, perguntei ao meu pai se precisava de mais alguma coisa, só para garantir que eu iria ter sossego, disse que não precisaria de mais nada, então subi, liguei meu celular e pensei em tirar uma foto da vista da minha varanda para postar no Instagram, mas quando o celular ligou eis a surpresa: - Aahh! Essa p**** não pega área aqui!

Comecei a andar de um lado para o outro dentro do quarto segurando o celular procurando algum ponto que pegasse o sinal da operadora (da qual não irei citar nomes. . .), andei o quarto inteiro assim, até que constatei, - é realmente não pega sinal aqui. – Bom pelo menos ainda me resta o psp e o tablet com alguns jogos off-line, me joguei na cama e fui pegar o game na mochila, quando escuto minha mãe chamando.

— Jhonny vá ver onde a Stella e o Igor se enfiaram, é perigoso eles ficarem sozinhos na mata, podem se perder.

É, tô vendo que hoje o dia vai ser longo... – Suspirei.

A última vez que vi eles, estavam brincando na frente de casa, comecei por lá, na estrada de chão mais à frente tem um desvio que leva até a praia, caminhei alguns metros e vi eles brincando, Stella tinha pendurado alguns pinhos num graveto fingindo ser um cetro magico, já Igor com um graveto um pouco mais longo dizia ser uma espada, o que me fazia lembrar que eu poderia estar upando no jogo se não tivesse nesse fim de mundo, tratei de levar os dois de volta para casa.

Cheguei no quarto peguei o game, quando fui iniciar o jogo – Jhonny venha almoçar! – Aaaaaaah! Mas que m******!

— É já vi que se eu quiser ficar em paz não vai ser aqui nesta casa...- Arrumei algumas coisas na minha mochila, inclusive meus eletrônicos e desci para o almoço, assim que terminei, disse que iria sair dar uma volta para explorar o local, peguei a mochila e quando estava saindo pude ouvir meu pai falando:  - Viu eu te disse que vir para cá ia fazer bem para o Jhonatan. – Coitados iludidos – pensei eu, dei a volta pela lateral da casa e fui até o início da trilha que vi da minha varanda.

— É, bora lá ver onde essa trilha vai dar.

Segui pela trilha, que cada vez mais parecia entrar em mata fechada, andei por aproximadamente meia hora, quando estava prestes a desistir e voltar, finalmente chego no fim da trilha, de alguma forma essa trilha dava do outro lado da montanha, no fim da trilha tinha um casebre de madeira que parecia abandonado numa pequena praia cercada por rochedos íngremes, aquela típica imagem de “paraíso” que a gente vê por ai nas redes sociais.

O casebre era suspenso por vigas de madeira com uma escada de acesso tipo de um sótão (igual uma casa na arvore, mas sem a arvore.), me aproximei da escada e quando fui segurar na escada pra subir, alguém desceu de lá.

— Ah!, desculpe, eu achei que estava vazio. – Falei meio surpreso (realmente não esperava que tivesse alguém ali.

O Garoto sorriu e disse “Tudo bem, pode entrar, não é como se fosse meu mesmo. ”, ele aparentava ter mais o menos a mesma idade que eu, não sei dizer ao certo, tinha os cabelos pretos espetados com as pontas vermelhas como se estivesse pegando fogo combinando com a bandana também vermelha que usava na testa, pele branca, olhos castanhos escuros, vestia uma camisa branca, bermuda cinza e tênis esportivo, também pude perceber uma tatuagem estilo maori no braço esquerdo, que ia até seu cotovelo.

— Não, tudo bem, eu não quero atrapalhar. – Naquele lugar completamente deserto, talvez ele estivesse com alguma companhia lá, no qual quisesse alguma privacidade.

— Que nada, entra ai, estou sozinho, estava indo buscar uma agua de coco, quer também?

— Não, não, obrigado, estou bem assim. – Disse tentando ser educado.

— Ok, entra ai, já chego lá. – Disse com um sorriso radiante e saiu correndo em direção à praia.

Alguns minutos depois ele voltou correndo, subiu as escadas carregando dois cocos, “Trouxe um pra você, caso mude de ideia. ”, nunca tive muito contato com pessoas que não fosse meus pais ou minha família, não sei porque mas por um momento lembrei das palavras da Stelinha “Jhonny tem que ser gentil com as pessoas, se não nunca vai consegui fazer um amigo. ”, então dei um sorriso forçado e amarelo.

 -Ah, desculpa, eu sou Marte e você? – Disse ele estendendo a mão para me cumprimentar.

— Sou Jhonatan, mas me chamam de Jhonny. – Disse apertando a mão dele.

O casebre por dentro era como uma peça única, exceto pelo pequeno banheiro, mas parecia, que alguém viveu ali, não sei nem por quanto tempo, nem a quanto tempo, no canto perto da porta do banheiro havia uma cama de palha,( isso mesmo de palha), uma pequena mesa de madeira encostada na parede logo abaixo da janela que tinha vista para o mar, e ao lado uma pequena pia de cimento e um forno a lenha, ( senti como se um naufrago tivesse morado ali.), Marte sentou-se à mesa e estava tomando sua agua de coco ( como ele abriu aquele coco ainda é um mistério pra mim), juntei-me a ele na mesa, então começamos a conversar, perguntei o que ele fazia sozinho num lugar como aquele, ele disse que estava apenas de passagem e achou o lugar por acidente, então me perguntou como eu fui parar lá, que ao contrário dele, estava vestido calças jeans preta, tênis all star verde escuto, camisa preta de personagem de anime e mochila, estava totalmente fora do contexto do lugar,( ah claro, minhas características físicas: cabelos castanhos escuros, olhos também castanhos e branco feito papel, meu cabelo é estilo aqueles emos de 2006, repicado com uma franja que dá pra cobrir o olho, cabelo o qual meu pai adoraria cortar fora.), contei então minha sina, de como e porque fui para naquele lugar “maravilhoso”.

— Oh! Humanos da cidade, vi poucos por aqui.

 Marte era uma pessoa estranha, ele era “radiante” e sua maior característica com certeza era seu sorriso largo, ele falava de uma maneira diferente, como se ele fosse de “fora”, (de “fora”, não do lugar ou do país, de fora me refiro do planeta.), me perguntava de onde teria vindo, ele falava muito pouco sobre ele em si, mas não é como se eu fosse perguntar, não tinha intensão de socializar, ainda mais com esse cara “esquisito”, no máximo era um desses fanáticos por ufologia e essas paradas, ou é só um retardado mesmo. (Foi essa minha, primeira impressão.).

Conforme fui conversando com Marte, fui me sentindo mais à vontade, nossos assuntos e estilos de “vida” eram totalmente diferentes, mas de alguma forma a conversa fluía naturalmente, era quase como se tivesse uma sintonia, (acho que ir pra esse fim de mundo, desregulou meus neurônios, eu estava socializando com alguém totalmente “estranho” em todos os sentidos, e estava curtindo.), vi que ele se interessou quando falei do jogos, desafiei ele para um duelo no Fruit ninja, (retalhar algumas frutinhas as vezes ajuda a desestressar ), ele parecia muito divertido, quando percebi já estava entardecendo, lembrei da meia hora de trilha na mata fechada, então decidi ir embora, (No fim, tirando o duelo de Fruit Ninja não jóquei p**** nenhuma, objetivo principal: Failed! E o Marte acabou tomando os dois cocos.), descemos da casa pela escada e nos despedimos, “venha de novo amanhã, não é como se eu tivesse planos pra manhã” disse ele sorrindo como de costume, eu só concordei com a cabeça, ele se virou e foi caminhando em direção a praia pro lado oposto de onde saia a trilha por onde eu vim, me virei para ir embora, mas pensei em perguntar onde ele estava hospedado, mas quando me virei novamente ele não estava mais lá, (Bom, fazer o que? Dei de ombros e fui embora.)

Quando cheguei de volta em casa, já estava escuro, minha mãe veio logo perguntando onde eu havia me enfiado, que ela estava preocupada e blá blá blá, meu pai interferiu dizendo que eu não “crescia” porque ela viva me tratando como criança, ai os dois já começaram a discutir (ignorei eles totalmente), então fui até a cozinha, fiz um lanche, subi para o banheiro, tomei um banho e fui para o quarto, fiquei pensando que poderia ter ficado mais tempo de não fosse pelo trajeto de volta, fazia muito tempo que não falava com alguém fora da família, desde o tempo de escola, confesso que me fez bem. (Estava como um adolescente empolgado quando faz novas amizades, me senti muito “infantil”).

No dia seguinte preparei minha mochila com garrafas de agua, refrigerantes (não sou fã de bebidas alcoólicas mas peguei algumas cervejas também), barras de seriais, rufles, bolacha recheada, e mais alguns petiscos, desci as escadas e fui até o carro, abri o porta malas e comecei a procurar, e lá estava ela, a lanterna do meu pai, (ela seria muito útil), decidi ir de manhã para a casa na praia  afinal, o Marte não definiu horário e eu não tinha nada pra fazer, mas se ficasse o que eu não ia ter era sossego.( dessa vez tentei vestir algo mais condizente com o lugar, camiseta e bermuda).

Avisei que sairia e não tinha hora pra voltar, minha mãe como sempre reclamou, meu pai ignorou, Igor passou correndo e quase esbarrou em mim, logo atrás veio Stelinha, que abraçou minhas pernas me lançou um olhar e um sorriso, como se soubesse de algo, passei a mão nos cabelos dela, e ela saiu correndo atrás do Igor de novo, fui até a entrada da trilha, olhei para os lados pra me certificar que as crianças não fossem me seguir e parti em direção a praia.

Era por volta das 8:30 da manhã e o sol já estava superquente, parei algumas vezes para tomar agua, cheguei na cabana todo suado, botando os bofes pra fora, (ser sedentário dá nisso), chegando lá, joguei a mochila pra dentro e subi a escada, para minha surpresa Marte já estava lá “e ae, que surpresa você ter vindo cedo” disse ele, eu pegando o folego falei que não tinha nada pra fazer então decidi ir, mas também não espera encontrar ele tão cedo lá.

Conversamos por horas, lembrei dos lanches na mochila, comemos juntos, fui pegar uma cerveja, mas lembrei que não sabia a idade dele (vai que era de menor, se bem que eu não tava ligando se fosse), então só perguntei se ele bebia, disse que sim então joguei uma latinha pra ele, (ainda estavam geladas por sorte), saímos e fomos caminhar um pouco na beira da praia (realmente uma maravilha, aquele lugar deserto, tão tranquilo), Marte falava umas coisas muito interessantes, ele tinha outra maneira de ver as coisas, as vezes me pegava olhando pra ele e pensando se ele tinha mesmo a idade que aparentava, ( as vezes eu me sentia como se tivesse achado o mago sábio de um jogo de rpg, vai que ele me dá uma quest), estávamos de boa caminhando e falando sobre coisas aleatórias, até que pela primeira vez vi marte fazer uma expressão séria, (Marte sem sorrir , não é o Marte) ele olhou direto nos meus olhos (o que me assustou pra C******) e disse “Você tem que parar com  isso” – o que?! (isso o que crlh??, o que foi isso do nada!) “ Parar de ficar criticando as pessoas, criando pré-opiniões, e supondo coisas que não aconteceram”, - Mas eu não faço isso. (do que ele tá falando, será que tá chapado?!), “ você faz isso mentalmente, você acha que as pessoas, ficam criticando isso ou aquilo em você, você acha que as pessoas na rua ficam reparando em você e formando opiniões, que na verdade estão só na sua cabeças, muitas vezes a pessoa te viu mas nem pensou nada a seu respeito, ai você pensa que ela pensou algo ruim sobre você, ou seu estilo, quando na verdade é você que tem essa própria opinião negativa sobre você mesmo, ai você começa a critica-la mentalmente, tipo “olha aquele cara, parece um retardado”, “gorda de mini-saia, será que não se enxerga”, “ que cabelo ridículo, deveria fazer um corte mais normal”, esse é um dos motivos pelo qual você tem dificuldade pra socializar, por esse tipo de pensamento, você se fecha, fica na defensiva, mesmo que alguém tente se aproximar de você.”(mds ele leu minha alma, que m*** foi essa!).

— Como você sabe disso?

— A maioria de vocês é assim.

— Vocês?

—Sim, vocês, Humanos.

(Ai eu acho que ele já percebeu que eu tava confuso e cabreiro)

— Jhonny, você acredita que possa haver vida fora deste mundo?

— Sim, não acredito que nesse vasto universo, nós sejamos as únicas criaturas. (Chega a ser solitário pensar, que somos os únicos, não?)

— Pois você está certo, vocês não são os únicos, há milhares de outros mundo, com milhões de outros seres, tentando viver harmoniosamente no universo, já os humanos não são tão harmonioso assim, uma prova disso é que vocês ainda fazem “guerras”, existem mundos que eles se quer sabem o que é isso, mas os humanos também não são os piores no universo, há outros mundos em que os seus habitantes ainda tem milhões de anos luz pra chegar ao nível de harmonia da terra, o que nos faz pensar quanto sofrimento eles ainda tem pela frente, é realmente triste.

Eu não tinha coragem de dizer nada, apenas ouvia o Marte falar, (qualquer um que viesse e falasse essas coisas pra mim, eu ia rir, debochar, ligar para o hospício, ira ficar bravo, achando que a pessoas estava me taxando de idiota ou que era louca, mas tinha tanta verdade nas palavras do Marte, que era como se eu pudesse visualizar tudo o que ele estava falando, eu não tinha nem coragem de duvidar de suas palavras.).

O sorriso voltou a sua face e disse: “-Jhonny viva mais sua vida, não se preocupe muito com a opinião dos outros a seu respeito, eles não podem viver a sua vida por você, e lembre-se não existe um jeito certo de viver a vida, desde que viva e seja feliz. ” (Essas palavras estão cravadas na minha mente até hoje), e correndo em direção ao mar ele disse “ e é o que nós vamos fazer, viver e ser feliz, seria um grande pecado nós não aproveitarmos o dia de hoje! ” (Sabe pra falar a verdade eu nunca gostei muito de praia, sol, mar, areia eram coisas que seu eu pudesse evitar eu evitaria, mas naquele momento a vontade de entrar naquele mar com o Marte foi algo surreal), só me lembro de ir correndo em direção a agua junto com ele, fizemos até guerrinha de agua.

Já estava entardecendo quando decidimos voltar para a cabana, ou nosso “refugio” como carinhosamente apelidei, ( a é, esqueci de mencionar, quando saímos alguns degraus do fim da escada quebraram, a madeira já estava podre, o que me impedia de subir na cabana), Marte me deu “pezinho” para que eu pudesse alcançar os próximos degraus, foi ai que percebi que ele era alguns muitos centímetros mais alto que eu,( e mais encorpado que eu também) ele subiu logo em seguida, fizemos mais um lanche olhando o entardecer pela janela da cabana, quando Marte me lembrou que eu devia voltar para casa, então saquei da mochila ela , “a lanterna” (Hááá não contavam com a minha astucia) – Hoje vou poder ficar mais tempo, “ah! Que ótimo! ”, e lá estava ele estampado na cara do Marte “o sorriso”, e desta vez eu me lembrei de perguntar onde ele estava hospedado, “venha aqui sempre que quiser me ver disse ele” (mas isso não respondia a minha pergunta, o que normalmente me deixaria puto, mas com ele eu não me importava), - ok.

E assim se seguiu dia após dia, eu preparava a mochila, sai de manhã, Marte sempre estava lá me esperando, e voltava a noite (as vezes tarde da noite), algumas vezes ouvia minha mãe reclamar com meu pai, “ não é como se ele estivesse saindo pra jogar, pelo menos não está enfurnado no quarto” disse o ele (é realmente não estava indo jogar nada, mas estava me divertindo como se estivesse jogando).

Já havia se passado quase duas semanas, o que me fez lembra que eu só tinha pouco mais de uma semana com o Marte ( e pra quem não queria ter ido, agora eu não queria voltar), mal estava conseguindo dormir durante as noites, quando tinha que sair do “refugio” e voltar pra casa dava até aquele aperto no peito, (ok, a essa altura eu já tinha percebido que eu queria “estar” com o Marte, nunca me importei muito com as pessoas, via elas de uma forma geral, não me importavam se eram homens ou mulheres e acho que isso se refletiu na minha sexualidade de certa forma, não me importava que Marte fosse do gênero masculino, aliás eu nem sabia se ele era humano.).

Dia 6 de fevereiro, a exatamente uma semana e um dia para o fim das nossas férias em família, eu acordei as 5:15 da manhã com um pesadelo terrível, sentia um aperto no peito, ia até o refúgio, mas não conseguia encontrar o Marte, procurava pela praia inteira, ficava na cabana até anoitecer e nada do Marte, quando Stelinha entrava pela porta e eu perguntava se ela tinha visto ele por lá, e ela dizia “ Nunca existiu Marte nenhum Jhonny, você sempre vem e passas os dias sozinho aqui nesta cabana” eu ficava perplexo começava a olhar em volta e via a cabana em ruinas, tudo quebrado e sujo, então acordei com um sobressalto, o coração estava a mil, ainda estava escuro lá fora, e estava caindo a maior chuva com direito a raios e tudo, mas eu não ia conseguir mais dormir, eu tinha que conferir, (conferir que o Marte existia, que eu não estava enlouquecendo), vesti um moletom peguei a mochila e sai correndo, no meio da chuva e da escuridão, esqueci até de levar a lanterna, ( o que me deixou como um cego no tiroteio), resbalei em algumas folhas molhadas , cai no chão, (cai como um pacote de m*** no meio do barro).

Cheguei correndo, tropeçando e quase sem respirar, quando percebi outro obstáculo, como eu ia subir na cabana sem o Marte pra me dar apoio para alcançar a escada? Mas eu estava determinado, dei alguns passos para trás pra pegar impulso, corri e pulei, (me senti quase a Lara Croft) consegui alcançar as escadas e subi, numa mistura de ansiedade e desespero, quando do entrei deu aquele puta raio iluminando tudo, o refúgio tava vazio, nem sinal do Marte (bom ai sim eu me desesperei), o céu já estava clareando então pensei em sair e procurar por ele na praia, na direção que eu sempre via ele ir, foi quando escutei um barulho na escada, me virei em direção a saída, quando eu vejo o Marte entrando, vestindo um moletom com capuz, segurando uma sombrinha (o que não adiantou muito naquela chuva pois ele estava completamente ensopado) e uma lanterna,  ele se surpreendeu (levou o maior cagaço) quando iluminou com a lanterna e viu meu rosto pálido e apavorado bem na frente dele, pulei em cima dele abraçando, com toda a foça que tinhas nos braços ( o que naquele momento nem era tanta, a adrenalina consumiu minha força a ponto de me deixar com as pernas bambas).

Marte ficou estático, sem saber exatamente o que estava acontecendo, quando eu consegui me acalmar, pude contar a ele sobre o pesadelo e desespero aterrador que senti quando não vi ele lá, ele começou a rir, olhou pra mim todo sujo e molhado e passou(bagunçou) a mão no meu cabelo como se eu fosse uma criança (isso me deixou puto, mas como eu falei antes era como se Marte lesse a minha alma, e ele já tinha percebido os meus sentimentos em relação a ele – bom depois dessa cena até um cego veria).

— Vá se trocar antes que pegue um resfriado, acho que tem alguma roupa minha no banheiro. (Tinha uma calça de moletom azul marinho e uma camiseta branca, a mesma que ele usava quando nos conhecemos, obviamente ficou um pouco larga em mim).

Sai do banheiro agora mais limpo e seco, ele tinha tirado o moletom e pendurou numa cadeira para secar ficando só de bermuda e camiseta, ele estava sentado na cama de palha e fez sinal pra que eu sentasse também, eu bem inocente sentei, achando que ele ia falar algo, mas ele me puxou e me beijou “ não se preocupe, eu estou aqui. ” Disse ele com aquele maldito sorriso que fazia meu coração quase ter um treco toda vez que via (como eu disse antes, ele sabia dos meus sentimentos, o que EU não sabia é que eles eram recíprocos).

Já havia amanhecido, mas a chuva não parava (não preciso nem mencionar que não ficamos só nos beijos e abraços), e naquele dia chuvoso, naquela cabana da praia deserta nós não saímos daquela cama de palha.

Era quase 6 da tarde quando a chuva parou e deu lugar a um breve, pôr do sol, o que naquele dia significava que eu devia ir embora (no desespero, não tinha levado a lanterna, tinha que voltar enquanto estivesse claro), vesti as minhas roupas que já estavam secas e quando estava indo, Marte me puxou pra mais um beijo (de despedida).

Aquela semana que se passou foi maravilhosa, mas como tudo que é bom acaba ( inclusive a vida), chegou o fatídico dia da nossa volta pra casa, 14 de fevereiro (Justo o dia de san Valentim), havia avisado ao Marte que naquele dia eu iria somente a tarde (por volta das 2h da tarde), pois tinha que ajudar meus pais a carregar nossas coisas no carro, acho que só porque eu tinha que ajudar, acabei acordando tarde, era quase 10 da manhã, ajudei  meu pai colocamos tudo no carro, (nem lembrava que a gente tinha levando tanta coisa), subi até o quarto para conferir se não tinha esquecido nada – Tudo em ordem – me joguei na cama de braços abertos e ali eu simplesmente apaguei.

Acordei de golpe como se tivesse caído da cama (sensação mais horrível do mundo pra se acordar), eu havia sonhado, estava  eu e a Stelinha brincando na areia da praia deserta, quando ela me mostrava uma estrela vermelha brilhando no céu do entardecer “olha lá mano, que lindo, é o planeta Marte” dizia ela apontando pro céu, então Marte chegou por trás, passando a mão na cabeça dela  “Obrigado pequena, esse sou eu” eles sorriam um pro outro  e ela saia correndo, brincando pela areia, ele se aproximou de mim, e naquele pôr do sol alaranjado refletindo nele em frente ao mar, realmente fazias aquelas postas vermelhas do cabelo dele ficarem acesas como se tivesse em chamas, “Enquanto você conseguir lembrar desses dias que passamos juntos, aqui nesta praia, eu sempre estarei com você” disse ele, seu corpo começou a se acender como se estivesse me misturando com a luz do sol, uma enorme tristeza começou a invadir meu peito e as lagrimas começaram a rolar, “ e mais uma coisa, Feliz San Valentin” disse ele tirando a sua bandana vermelha e me entregando, então sua imagem se dissipou no pôr do sol, a última coisa que vi foi o seu “Sorriso” no horizonte, então aquela estrela vermelha no céu brilhou intensamente, foi quando acordei ( e eu realmente estava chorando).

Quando acordei a primeira coisa que pensei foi – Putz eu dormi – olhei pela janela o sol já estava baixo, meio veio aquela sensação do sonho, aquela tristeza profunda, lembrei – O Marte -  Sai correndo entrei naquela trilha como se minha vida dependesse daquilo, mas aqueles 30 minutos, que eu fiz em 17, pareciam mais 3 horas, quando cheguei na cabana , as escada estava concertada parecia madeira nova, subi com o coração na mão, mas quando cheguei lá em cima, não havia ninguém, não havia sinal algum de que alguém tivesse usado aquele lugar recentemente.

Pela janela da cabana começaram a entrar os primeiros raios de sol do entardecer, que iluminaram algo sobre a pequena mesa de madeira, me aproximei, era uma bandana vermelha, quando peguei ela nas mãos o choro foi inevitável – Então o sonho foi real – Desci e corri até a beira do mar com a bandana nas mãos e gritei – ENTÃO FOI ESSA A SUA DESPEDIDA! O QUE ACONTECEU COM AQUELA HISTORIA DE “NÃO SE PREOCUPE, EU ESTOU AQUI”, nesse momento, em prantos olhando pro céu vejo brilhar aquela estrela vermelha próxima a linha do horizonte, então sorri, sorri pro horizonte como ele sorria pra mim.

Voltei para casa com meu presente de San Valentin nas mãos, já estavam todos dentro do carro, apenas esperando eu voltar, entramos todos e partimos  e por incrível que pareça , todos estavam em silencio, Igor e Stela , estavam desenhando, quietos ,a mãe olhava a paisagem ficando para trás pela janela, e o pai dirigia, para quebrar aquele silencio, meu pai ligou o rádio do carro, “ um fenômeno raro quando o planeta vermelho tem sua orbita passando próxima a Terra, pôde ser avistado hoje em algumas regiões de grande altitude...”, Setelinha me cutucou me mostrando o desenho que ela fez, estávamos todos nós, eu estava na ponta, mas havia alguém a mais no desenho, logo ali do meu lado havia um menino de cabelos espetados  com as pontas vermelhas, olhei pra ela  - Como você sabe disso? – Perguntei surpreso, ela não respondeu nada, sorrindo ela fez “shhhhh” em sinal de silencio como se aquilo fosse segredo, então a mãe mudou a sintonia da rádio, estava no meio de uma música, num trecho que que dizia assim:

 “Swim with me, i think i can see the beach

 I know it’s underneath

 I need you here with me

But we’re out in the open swimming

Swim with me, think i can see the beach

Just don’t look underneath us

I need, you with me, but we’re out in the open”

Então minhas lagrimas rolaram sobre o desenho que eu segurava junto com a bandana.

Quando chegamos em casa corri pro meu quarto, liguei o computador e fui pesquisar que música era aquela, se chamava The Beach – The Neighbourhood.

Bom se passaram 7 anos desde aquelas férias de verão, passei no vestibular, no dia da prova fui usando uma certa bandana vermelha, me formei em geografia, hoje trabalho num museu cuidando do setor do planetário e claro Marte ainda é meu planeta preferido, comprei meu próprio apartamento, as vezes Stela vem aqui me ver, subimos no terraço e ficamos horas olhando as estrelas com a luneta e o telescópio que compramos juntos, ela disse que quando terminar o ensino médio quer estudar astronomia. – Vive no munda da lua como sempre, hahahaha,( Ah claro! pra aqueles que se perguntam sobre minha vida amorosa), continuo sem interesses nas pessoas, a única pessoa por quem tive interesse na vida, foi a pessoa mais humana que conheci e que ironicamente não pertencia a nossa humanidade, quando voltou para o espaço de onde veio, deixou sua bandana pra trás, mas levou consigo meu coração.

E aqui no pequeno escritório (na verdade biblioteca) que tenho em casa, de onde escrevo essa história pra vocês tenho pendurado na parede um certo desenho e ao lado uma velha bandana Vermelha.  

                  

“Lembre-se não existe um jeito certo de viver a vida, desde que viva e seja feliz. ”

                                                                 - Marte.

    Marte, o sorriso do planeta Vermelho


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