Misfits troublemakers escrita por GirlWolfBlood


Capítulo 1
Capítulo 1 — A caverna dos desajustados


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e deem uma chance à história.



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Localizada no metrô da Wall Street Station 45, eles pularam dentro do espelho de corpo todo que cobria parte da parede ao lado da segunda pia, no sanitário masculino. Aquele não era um lugar para mortais.

[...]

Ao adentrar, se assemelhava muito à um antigo templo abandonado dentro de uma ampla caverna de teto alto, com pilastras tombadas que formavam estruturas pouco complexas. Apelidada de Cave, fora achada aquela brecha há cerca de um mês atrás e com pequenas modificações, o local passou a ser precariamente utilizado como taverna. Andy Galilahi, a menina loira de olhos cinzentos tempestuosos e narizinho empinado já estava atrás de uma pilastra tombada, enfileirando sacos de dormir. A garota e o garoto que chegaram por último se dividiram, cada um foi para um lado e logo os três se encontravam envolvidos em suas próprias tarefas. Uma Maia, um Inca e uma Asteca.

— Alguém me ajuda? — Joshua quebrou o silêncio enquanto arrastava um barril cheio para mais próximo do balcão improvisado, fazendo Andy respirar aliviada. Ele era um rapaz de 18 anos, pardo de cabelos negros penteados para trás, com ligeiros e amigáveis traços indígenas. — Preciso arrastar esses três...

— Yay!  — A loira bateu palmas e deu pulinhos animados, abrindo ainda mais seus cachos naturalmente soltos. — Eu ajudo, eu ajudo!

— NÃO! — Ecoaram em uníssono Joshua e a garota que girava um taco de baseball entre os dedos. Não os leve a mal, a fama de desastre ambulante fazia com que tomassem todas as medidas de segurança contra a cabeça de vento.

A loirinha soltou um muxoxo, fazendo um biquinho infantil para seus dezesseis anos. Joshua encolheu os ombros como se pedisse desculpas.

— Se importa, Kyara?

— Nah. Deixa comigo.

Deixou o taco de lado, se aproximando do barril de puque, a bebida asteca e logo passou a arrastá-lo. Chegava a ser um pouco grande e pesado, mas Kyara fazia o trabalho sem sequer arfar, mesmo com a baixa estatura. A menina aparentava ter a mesma idade que Andy, possuía traços delicados apesar da cara amarrada e a pose marrenta, os cabelos cor de caramelo caíam lisos pelos ombros até a linha da cintura. Eles não moravam naquele lugar, não ainda. Kyara e Joshua nasceram e cresceram juntos na mesma tribo, os Sioux, um importante grupo indígena na Dakota do Sul e Norte, mas foram mandados para a cidade grande para estudar há um ano. Ou ao menos, é o que dizem. Andy deveria estar no reformatório aquele horário, mas a menina tinha o dom de escapulir sem ser pega, logo, a caverna era como uma espécie de refúgio para ambos os semideuses, que ocupados, passavam mais tempo realizando serviços braçais que atraindo problemas.

— Pronto! — Kyara elevou a voz, batendo ambas as mãos após o último barril estar no lugar. — Eu...

Foi interrompida por chiados e estalos, como se tivessem ligado uma cerca elétrica de alta tensão. Da fenda, uma jovem saltou.  Parecia ter cerca de 19 anos, sua pele era alva como mármore, as bochechas rubras e os cabelos negros roçavam aos ombros. Sorriu, meiga, cumprimentando-os com um aceno de cabeça.

— Olá, pessoas! — Seu tom era tão calmo que chegava a ser sonolento, mas transmitia certa paz. Uma paz que contrastava e se destacava em meio ao ambiente enérgico. — Como vão por aqui? Eu trouxe algumas coisas para vocês, devem estar cansados.

E se aproximou da bancada improvisada, deixando ao lado uma caixa de papelão retangular e duas garrafinhas de vidro de coca-cola. Abriu a caixa, contendo belos Donuts e Andy se aproximou com os copos, obviamente de plástico, assim como todos os outros talheres dali. Era uma questão de segurança. Kyara abriu as garrafas com auxílio das presas afiadas, sem dificuldades e Joshua serviu cada um. Eles trabalhavam bem juntos. Sofie escorou na bancada, comentando em tom casual enquanto saboreava sua rosquinha.

— Quando vim para cá, senti a presença de pelo menos dois monstros pela cidade. Devem ser dos grandes ou andam em bandos, exalam muita magia. — Franziu o cenho. — E fedem.

— Maias, astecas ou incas? — Joshua questionou, lambendo o açúcar nos dedos.

— Astecas. — Confirmou.

Os três automaticamente olharam para Kyara, com preocupação. Os monstros astecas estavam atacando em massa nas últimas semanas, aparecendo nos locais mais inesperados, possivelmente por conta da forte essência mágica que emanava da semideusa mais nova. A garota, que estava sentada no chão, ergueu o olhar como se questionasse "O que foi? Não tenho nada haver com isso!", extremamente distraída com metade de um Donuts enfiado na boca, inflando as bochechas. Parecia simplesmente não se importar com os bons modos do senso comum. Engoliu a seco, franzindo o cenho.

— Sofie também é asteca. — Argumentou, na defensiva. Ela tinha um pequeno sotaque texano, o famoso "caipira".

— Mas nós sabemos que existe uma diferença entre a mãe dela e seu pai. — Andy se pronunciou. Havia derramado um pouco de refrigerante em sua própria regata e agora tentava freneticamente se limpar.

— Kyara... — Sofie Carter se inclinou, deslizando o polegar para limpar a cobertura de chocolate no queixo da mais nova de forma protetora, a deixando desconsertada. —... Seu pai é um Deus criacional. Considerado importante ou não, ainda é um dos grandes. Sua aura atrai mais monstros que qualquer um de nós, sabe disso.

E era verdade. Quando se é semidivino, a aura está fadada a atrair o faro de diversas aberrações, porém sendo filha de um dos Deuses grandes – e ainda uma falha do véu mágico, onde nem deveria existir – as chances aumentam drasticamente. Kyara rosnou, virando o rosto na direção oposta e cruzando os braços, emburrada. Sabia que ela estava certa, não poder argumentar agravou ainda mais a carranca. Sofie sorriu vitoriosa. Joshua estava mais afastado, do outro lado da bancada, risonho. Mesmo sendo Inca, compreendia um pouco do universo de cada mitologia e conhecia Kyara há tempo suficiente para saber o quanto estava se esforçando para não socar algo. Ou alguém. Chegava a ser uma situação divertida! Andy ainda lutava com a camiseta, até que o rapaz jogou para ela um pano úmido para ajudar com a mancha.

— Acho melhor eu ir. Acho que já fiquei fora tempo suficiente, vão sentir minha falta. — Comentou a loirinha, se levantando e batendo o pó do jeans.— Quais as tarefas de hoje?

— Eu tenho de tentar purificar a água do poço, então fico por aqui. Kyara insiste em fazer a segurança nesse turno, vai garantir que nenhum monstro chegue perto do metrô... — Sofie balançou a cabeça, como se desaprovasse a ideia. — Mas... Joshua pode te acompanhar. Ele ficou responsável por rastrear e localizar outros semideuses.

— Agora que estamos concentrados, funciona como um farol. — Kyara interveio, semicerrando os olhos, mantendo um tom firme de voz. — Vão aparecer. E precisamos protegê-los.

Os quatro se entreolharam, como num silencioso acordo e assentiram, se espalhando uma última vez naquele fim de tarde. Mas não sem antes ouvirem o ruído alto de vidro se partindo: Andy havia derrubado uma das garrafas de coca-cola, que se espatifou no chão, ruborizando fortemente. Tsc, mais um dia comum.


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Notas finais do capítulo

Essa é apenas a ponta do iceberg, nos próximos capítulos, muito mais vai ser explicado sobre os monstros, deuses e as mitologias em si. Se gostou, deixe sua review e acompanhe.



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