Precisamos um do outro escrita por Moon


Capítulo 51
Hayden Romero


Notas iniciais do capítulo

A chegada de Hayden, assim como todas as outras novidades, deixam Liam e Riley preocupados com as possíveis consequências.



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POV Liam

Depois de conversar com Cory, Topanga nos chamou para conversar. Estávamos no quarto da Riley, outra vez sentados na janela. Cory parecia relutante em estar ali, mas Topanga havia passado bastante tempo conversando com ele. Eu achava que eles iriam me mandar sair da casa deles, ou na melhor das minhas hipóteses nunca mais nem passar na porta do quarto da Riley, mas ao mesmo tempo eles eram os pais que haviam me acolhido na casa deles sem saber nada sobre mim.

A conversa foi longa. Cory estava extremamente desconfortável - e devo admitir que eu também. Mas no final, eles concordaram com a condição de que Riley aceitaria a ajuda profissional de um psicólogo. Ela concordou satisfeita e abraçou os pais.

Eu me desculpei por não ter revelado o que estava acontecendo com a Riley antes e ele me respondeu apenas dizendo que respeitava a lealdade que eu havia demonstrado à sua filha, e que apesar de se sentir desconfortável ele estava feliz em saber que tinha outras pessoas cuidando dela.

— Eu sinto muito por você sentir que não pudesse contar conosco. - Ele disse à filha e parecia chateado.

— Eu sei que posso contar com vocês, pai! - Riley tinha lágrimas nos olhos. - Isso nunca foi sobre confiança.

— Então por que nós não poderíamos te ajudar com seu medo?

— Porque eu não queria ajuda. Porque eu não queria me sentir como a vítima que precisa ser salva outra vez. - Riley segurou suas mãos e ele agora também tinha lágrimas nos olhos. - Eu colocaria minha vida nas mãos de vocês sem pestanejar sabendo que vocês sempre fariam o melhor por mim, mas eu queria saber que eu poderia poder tomar conta de mim mesma.

— Então por que aceitou ajuda do Liam? - Topanga perguntou colocando uma mão sobre as da filha e eu não poderia deixar de me questionar sobre a mesma coisa.

— Ele é o único que não me olha com preocupação. - Ela respondeu sem hesitações. - Todo mundo parece estar tentando me passar conforto, tentando me acolher. Todo mundo me olha com compaixão. Mas o Liam, ele não parece pensar que eu sou mais frágil por causa do que aconteceu. Pode ser que ele até sinta isso, mas ele me olha…

Ela desviou o olhar para mim. Nos encaramos e eu sabia exatamente o que ela sentia. Foi como eu me senti depois que o Mason morreu. Que eu deveria ser forte sozinho, e eu afastei todo mundo, me isolei mesmo dentro da matilha. E quando Riley chegou a Beacon Hills para o enterro do meu melhor amigo, ela foi a primeira pessoa que não me encarou com olhar de pena. Ela me olhou como se soubesse que mesmo estando tão triste, eu era mais do que aquele momento, como se me admirasse mesmo tão frágil.

— Como se me visse através da dor e soubesse que eu iria conseguir superar isso. - Eu completei sua frase e ela levantou um canto da boca num sorriso tímido.

— Todos nós sabemos que você vai conseguir superar isso. Você é a Riley! - Cory sorriu para a filha. - Nada poderia abalar você…

— Mas isso me abalou, pai! E apesar de acreditar que vocês acreditam em mim, eu só… - Ela parecia sentir dor por ter de falar aquilo. - Eu não consigo enxergar isso.

Logo depois da conversa estávamos reunidos na mesa da cozinha, e durante o jantar foi como se nada de desconfortável tivesse se mais cedo. Os pais da Riley sempre eram capazes de me surpreender, mas dessa vez eu realmente achei que eles não seriam tão compreensivos. Especialmente porque havíamos mentido e escondido coisas deles, na casa deles, e ainda sobre algo tão sério quanto a recuperação da Riley.

Depois do jantar, Topanga colocou Auggie na cama e então ela e Cory se recolheram para seu quarto sem falar conosco. Imaginei quanto aquilo deveria ser estranho e desconfortável para eles, mas os admirei por estarem dispostos a qualquer coisa pelo bem-estar da filha.

Eu e Riley lavamos e guardamos a louça, limpamos da mesa e varremos o chão. Logo depois eu fui para o banheiro social para tomar banho e ela foi para seu quarto. Depois do banho vesti uma regata branca e uma calça moletom cinza. Quando cheguei ao quarto de Riley ela estava saindo do closet usando um short vermelho de pijama e um casaco moletom cinza.

— Boa noite! - Eu a cumprimentei fechando a porta atrás de mim enquanto ela se sentava na cama.

— Boa noite. - Ela respondeu desanimada e eu me deitei ao seu lado.

— O que foi? 

— Essa coisa toda de fênix é meio…

— Como se você não reconhecesse a si mesma. - A completei lembrando da primeira vez que vi meus olhos brilharem e minha presas crescerem no espelho.

— Foi assim que você se sentiu?

— Eu achei que ser um lobisomem me faria uma pessoa diferente. Que me transformaria em um monstro.

— Sabendo quem você é, isso parece loucura. - Ela respondeu meio rindo e se aproximando do meu lado. - Você nunca seria um monstro.

— Não pareceu loucura na época. - Estirei o braço deixando-a se acomodar em meu peito. -  Assim como todas as coisas que estão passando pela sua cabeça não parecem loucura agora.

— Eu odeio me sentir assim. Eu achei que nunca mais me sentiria assim, sem identidade, depois que eu encontrei o Stiles e o meu pai. É como se eu estivesse descobrindo que sou adotada outra vez. - Senti uma lágrima dela molhar minha regata. - Como se eu não soubesse quem eu sou.

A afaguei levemente, mas não falei nada. Devia ser difícil passar por isso outra vez. A vida dela tinha passado por muitas reviravoltas. Era normal que ela se sentisse confusa. Ela descobriu que era adotada, depois descobriu sua família biológico, e então descobriu sobre os lobisomens e outras criaturas, depois ela passou por um término, por um sequestro e agora descobrir que ela e o irmão são parte de uma profecia.

— Obrigada! - Ela entrelaçou seus dedos no tecido da minha regata.

— Eu sempre estarei aqui. - Ela respirou fundo e engoliu em seco como se tentasse guardar algo para si e não pude deixar de questioná-la. - O que foi?

— Você vai mesmo ficar aqui? - Ela perguntou e não compreendi seu questionamento.

— Como assim? 

— Você não está pensando em voltar para Beacon Hills? - Ela me encarou. - Agora que você está melhor, que a Hayden voltou e está procurando você…

— Não. - Respondi firme. - Eu não quero sair de Nova Iorque. 

— Ela vai ficar aqui? - Ela perguntou insegura, provavelmente por achar que isso pudesse me magoar de alguma forma.

— Eu não sei e não me importa! - Parecia duro responder assim, mas era a verdade. - E se ela estiver em Nova Iorque para morar, eu só espero que a cidade seja grande o bastante para que eu não tenha que conviver com ela.

— Eu espero que a volta dela não te machuque. - Ela disse num quase sussurro com a respiração pesando com o sono.

Era impressionante como a Riley nunca deixa de ser gentil. Mesmo com todas as coisas que estão acontecendo com ela, ainda conseguia pensar nos outros, ainda conseguia se preocupar comigo.

[...]

Acordei com o despertador do meu celular tocando embaixo do travesseiro. Abri os olhos com dificuldade. Eu havia demorado a dormir ontem e ainda estava com sono. Riley estava deitada ao meu lado com as costas para cima e o rosto virado para a janela, mas uma de suas mãos ainda estava sobre meu tronco. Por um instante pensei em como levantar sem incomodá-la, mas lembrei que ela também tinha que acordar para se preparar para irmos à escola.

— Riley. - Chamei por seu nome enquanto apertei levemente a mão dela que estava sobre mim.

Ela murmurou em resposta e virou o rosto para mim ainda com os olhos fechadas e eu não pude deixar de rir de sua expressão de descontentamento.

— Bom dia, raio de sol. - Ela abriu os olhos com dificuldade e não falou nada enquanto se sentava na cama.

— Bom dia! - Ela disse se espreguiçando.

Peguei meu celular e deixei o quarto indo para o quarto de Auggie. Ele ainda dormia. Peguei minha toalha e minha roupa e fui para o banheiro. Tomei um banho rápido e me vesti com a calça jeans escura e uma blusa cinza de mangas compridas. Quando cheguei ao quarto do Auggie, Topanga estava acordando o filho.

— O Liam já está pronto, Auggie. - Ela disse quando me viu entrar no quarto. - Levanta logo!

Ela insiste ainda um pouco enquanto eu pendurei a toalha atrás da porta e guardei minhas coisas, até o menino levantar murmurando sobre estar com sono. Ela o entregou uma toalha e a roupa.

— Bom dia! - Ela me cumprimenta com um sorriso doce arrumando a cama do filho.

— Bom dia, Topanga! - Retribui o sorriso e peguei minha mochila que estava pendurada atrás da porta.

A manhã em casa foi como todas as outras. O café da manhã foi sanduíche de queijo e peito de peru. Auggie comeu o seu com um achocolatado gelado de caixinha. Cory e Topanga tomaram café, o dele com leite e o dela preto. Riley tomou um iogurte de morango e eu tomei suco de laranja.

Cory foi levar Auggie para a escola antes de ir para o trabalho, já que ele não dava aula no primeiro horário e Topanga teria de ir para uma audiência bem cedo. Eu e Riley nos encontramos com Maya no metrô para irmos para a escola.

Tudo estava normal e dentro da rotina, mas havia algo. Eu sentia na minha garganta que algo estava errado. Durante todo o percurso Riley e Maya conversavam animadamente sobre uma série que estava prestes a estrear uma nova temporada, e elas falavam sobre as coisas que perceberam nos trailers e teasers, sobre os novos personagens e teorias sobre o final da temporada passada.

A cada passo que nos aproximamos da escola essa sensação fica mais forte. Estávamos na rua da escola quando decidi compartilhar com Maya e Riley sobre meu instinto.

— Eu sinto que algo está prestes a acontecer. - Comentei e elas me encararam. - Pode não ser nada, mas se alguma coisa acontecer, ou vocês acharem alguma coisa estranha, me manda mensagem que eu dou um jeito de ir até vocês.

Elas assentiram e concordaram.

Assim que chegamos na escola nos separamos. Elas foram aos seus armários e eu fui ao meu que era mais distante. E aquela sensação não saia de mim. Me peguei orando para que Deus proteja a matilha, os nossos amigos, minha família e a família da Riley. A gente já passou por muita coisa nas últimas semanas e eu não sei se aguentaríamos mais alguma surpresa desagradável.

Peguei meu livro de história e fui para a sala. Eu estava distraído e passava pelas pessoas sem reconhecer seus rostos. Me perguntei o que mais poderia acontecer, e me arrependi de ter pensado nisso assim que a imaginação me trouxe pensamentos horríveis.

Assim que cheguei na sala me sentei numa cadeira perto da porta, para o caso de eu precisar sair. Eu estava na penúltima cadeira da primeira fileira e deitei a cabeça na mesa acoplada aproveitando a sala quase vazia para não ter que interagir com ninguém. Eu estava de olhos fechados quando uma mão tocou minhas costas. Me perguntei se seria Lizzie e levantei a cabeça apenas para ter uma decepção ainda maior.

— Surpreso em me ver? - Hayden disse com um meio sorriso.

— Não. - Respondi seco. - Já haviam me avisado da sua presença na cidade.

— Mas ninguém em Beacon Hills sabia da minha mudança para NY.  - Ela duvidou da minha resposta.

— Mas as pessoas de NY tiraram foto da menina perguntando por Liam Dunbar na secretaria da escola. - Eu respondi sem demonstrar qualquer sentimento e abaixei minha cabeça novamente a ignorando.

Quando voltei a levantar minha cabeça foi porque escutei o professor dando “bom dia” para a turma, notei Hayden sentada ao meu lado na segunda fileira, mas fingi que ela não estava ali. E me perguntei se era isso que estava me deixando agitado. Peguei meu celular e mandei mensagem pra Riley. Minha ex namorada é minha nova colega de classe.

Logo em seguida Riley me respondeu com uma mensagem ainda pior. Sua ex chegando em NY e meu irmão indo embora. O Stiles acabou de me avisar que eles receberam as datas, e ele deve ir embora em três semanas. A próxima etapa do treinamento dele será em outra cidade.

Eu não consegui responder. Era difícil para a Riley. Ela tinha acabado de conhecer o irmão, mas eles já eram inseparáveis. A Riley precisava do irmão.

Hayden estava na mesma turma que eu nas duas primeiras aulas, e eu me dediquei a missão de ignorá-la discretamente. Na terceira aula, observei a turma e fiquei feliz em notar que nessa aula não tinha nem Hayden, nem Lizzie na sala. Acho que redação agora é minha aula favorita, pelo simples fato de não ter que lidar com pessoas desagradáveis da turma.

Vocês vão almoçar no refeitório?— Mandei a mensagem para Riley e logo ela respondeu.

Vamos. — Mas logo ela completou com mais uma mensagem. - Eu só tenho que falar com minha professora de espanhol antes, mas o pessoal já foi para o refeitório devem estar chegando.

Eu ainda estava no meu armário, guardei a mochila e fui até a sala de espanhol da Riley. Eu iria esperar por ela na porta, mas assim que vi Hayden no corredor decidi entrar na sala com esperança de que ela não tivesse me visto.

— Muy bien, Roberta! - Escutei a professora.

Riley se virou para sair da sala e sorriu ao me ver.

— ¡Hola! - Ela me disse sorridente e pegou a própria mochila para deixar a sala. - Eu vou só deixar isso no armário antes de ir para o refeitório.

Concordei com a cabeça e a acompanhei até o armário dela, ela falava animadamente sobre como sua nota de espanhol havia melhorado e como havia sido legal essa aula, antes de sermos interrompidos pela minha nova assombração particular no corredor.

— Não vai me apresentar sua amiga? - Ela me perguntou encarando.

— Riley, essa é a Hayden. - As apresentei educadamente, apesar da minha vontade de mandar a Hayden ir pro inferno. - Hayden, essa é a Riley.

— É um prazer te conhecer. - Riley educadamente estendeu a mão e a cumprimentou com um sorriso tímido. 

Hayden apertou a mão dela me encarando.

— Eu queria conversar com você - Ela disse ignorando a presença da Riley.

— A gente vai ter bastante tempo pra isso já que estamos morando na mesma cidade. - Eu respondi abraçando Riley de lado, pousando meu braço sobre seus ombros. - Mas agora a gente tá indo almoçar.

— E os nossos amigos já estão nos esperando. - Riley comentou me abraçando também.

— Fica para outra hora. - Eu disse enquanto nos afastamos indo em direção ao refeitório.

Hayden não nos seguiu. E almoçamos tranquilamente com Maya, Farkle, Smackle, Lucas e Zay. 

POV Riley

Eu e meu irmão éramos raras criaturas. Stiles iria embora. E Hayden estava em Nova York. Eu não queria mais nenhuma novidade. Eu não suportaria mais nada. Eu estava pensando sobre isso enquanto caminhava com meus amigos para o Topanga’s. Liam havia ido direto para casa depois da aula porque ele não queria esbarrar na ex. E por uns instantes foi como se eu estivesse de volta nos velhos tempos. Eu, Maya, Farkle, Lucas, Zay e Smackle no Topanga’s depois da aula - sem Stiles, sem Liam, sem seres sobrenaturais. 

E apesar de ser como nos velhos tempos, eu não era a mesma. Eu não queria os assuntos frívolos, eu não queria a calmaria da juventude comum. Eu não queria ser a velha Riley, tão fraca e ingênua.

No caminho para casa conversei com Maya sobre isso. Como parecia que havia algo faltando. Sobre como eu estou com medo de ser alguma criatura rara e desconhecida, de ser um monstro, de não ter identidade e não saber quem eu sou. Sobre o medo de ter que aprender como lidar com novas habilidades e fraquezas sozinha. Sobre o medo de perder meu vínculo com minha família biológica com a partida do meu irmão, de nos afastarmos, de eu perder o meu lado “Stilinski”. Sobre o medo de que Liam também deixe Nova York e tudo simplesmente volte ao que era.

Quando chegamos em casa Liam estava no telefone falando com o Scott. Auggie estava brincando com Ava. Minha mãe estava na cozinha fazendo algo. Eu e minha melhor amiga falamos com todos e fomos para meu quarto para conversar. Ela falou sobre seu relacionamento com o Josh, sobre a adoção e sobre como seu relacionamento com a mãe está melhorando.

Passamos algum tempo conversando e saímos do quarto apenas quando minha mãe nos chamou para lanchar. Comemos com meus pais, Liam, Auggie e Ava. E por alguns instantes foi como se tudo estivesse bem. Batidas na porta foram seguidos por Stiles e Josh entrando animadamente na sala.

— Boa noite, família! - Josh disse sorrindo fechando a porta atrás de si.

— Boa noite! - Stiles também estava sorridente.

Finalmente estava tudo bem. Mesmo sabendo que as coisas não ficariam calmas e felizes assim por muito tempo, uma noite ao redor da mesa com um lanche gostoso e as pessoas que eu amo, era tudo o que eu precisava hoje. E eu estava feliz por estar tendo essa noite, mesmo que fosse apenas mais uma noite de calmaria antes de mais alguma tempestade.


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