Precisamos um do outro escrita por Moon


Capítulo 44
Eu não deveria estar viva


Notas iniciais do capítulo

Riley está de volta, mas as ameaças contra sua vida ainda atormentam sua mente e acabam com sua paz antes mesmo que ela ainda volte para sua rotina.



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POV Riley

Eu estava sozinha. Sozinha e perdida. Andando descalça pelas ruas vazias de Nova York no meio do que parecia ser uma tempestade de vento. O asfalto machucava meus pés, mas o que doía mesmo era o meu joelho. Eu não lembrava de como havia parado alí, nem de como saí do hospital.

Tentei segurar a bata de hospital que eu ainda vestia. O vento a fazia balançar com força e parecia que o vento estava tentando me despir. Escutei gritos, mas não havia ninguém na rua. Em seguida veio o silêncio e eu continuei andando sem saber onde estava ou para onde estava indo. Não sabia porque estava andando, mas tampouco conseguia parar. 

Eu tinha que continuar andando. Por que eu tinha que continuar andando? Como uma resposta automática, Brandon apareceu no final da rua, com seu sorriso esnobe e olhar assassino. Ele estava me seguindo. Eu estava fungindo dele. 

Comecei a correr, mas ele não me seguiu. O Brandon não saiu do lugar. Ele continuou lá no final da rua. Fiquei feliz por um instante. Talvez eu conseguisse escapar. Mas então ele sacou a arma e atirou. Ele atirou na minha barriga. Senti o projétil me atingir como se meu abdomem estivesse pegando fogo. 

Eu não conseguia ficar de pé. Doía demais. Ele me deu um tiro. Ele acertou. E agora ele está andando lentamente em minha direção enquanto eu sangro e tento me arrastar pelo asfalto quente. Não tem mais ninguém na rua. Eu não tenho um celular. E eu não tenho forças para fugir do monstro de olhos brilhantes que se aproxima.

E então Brandon me alcançou. Ele chegou a mim e então, o que antes eram apenas olhos âmbar brilhantes foi acompanhado por garras, pelos, dentes e um rugido baixo que soava muito como o fim da minha vida. Senti tanto medo que até deixei de sentir a dor agoniante de onde o tiro havia me atingido.

Ele se abaixou, me encarou com fúria nos olhos e riu enquanto sussurrava ‘você vai ser a minha melhor refeição’. Ele segurou meu pescoço e senti a pressão na minha cabeça, e a falta de ar nos pulmões. Senti o ardor na minha pele, a dor agonizante de suas garras rasgando minha garganta.

Ele rasgou minha garganta, meus braços e meu ombro. Ele me mordeu ferozmente rasgando minha carne. E então ele ficou em pé diante do meu corpo desfalecido que ainda insistia em lutar para sobreviver e sacou a arma mais um vez. Outro tiro. Dessa vez na minha cabeça. Mas eu não senti dor com esse tiro. Achei que era impossível ultrapassar o nível de dor no qual eu já me encontrava.

E quando eu achei que aquele seria o auge da dor, eu descubro que estava errada. Eu já devia ter morrido. Eu não deveria estar viva. Isso ia contra todas as regras da lógica em qualquer mundo, na ciencia e na mitologia. Mas eu estava viva. E sentindo dor como nunca antes na minha vida.

Minhas costas arderam e então foi como se meus ossos estivessem saindo do lugar, como se minha coluna e minha costelas estivessem se movendo sozinhas dentro de mim. Parecia haver algo movendo em mim. Nas minhas costas. E então a dor tornou-se mais aguda e mais aguda até que vi meu corpo se desfazer em cinzas até que eu não senti mais dor e meu corpo se remodelou. 

Me levantei como se não tivesse levado sequer um arranhão. Não havia dor. E não havia sangue, cicatrizes ou lesões. Eu estava bem. Mas eu não era mais eu.

Vi meu reflexo na vitrine de uma loja fechada. Eu tinha asas laranjas e gigantes em minhas costas, quase como a figura de um anjo. Mas havia algo em meu rosto também, meus traços mais marcados, meu maxilar mais firme, meu nariz mais afilado e meu olhos como os de uma águia, verde e atentos.

Não consegui ter qualquer reação, diante da minha própria imagem do que gritar. E eu gritei. Gritei com todas as forças dos meus pulmões. Gritei e fechei os olhos tentando me desvencilhar da imagem do monstro que eu havia me tornado.Gritei mais alto sem conseguir abrir os olhos e então senti um toque em minhas costas.

Abri os olhos. Era meu pai. Eu estava no quarto do hospital. Era madrugada. O quarto escuro e silencioso me indicou que tudo não passou de um sonho e a voz carinhosa e preocupada de meu pai soava repetidas vezes ‘Está tudo bem agora, querida. Você está segura!’ me despertando do sono e do horrível pesadelo.

Precisei repetir para mim mesma diversas vezes que estava no hospital, que estava segura e que aquilo jamais aconteceria. Mas eu não conseguia ficar calma. Haviam dúvidas demais, riscos demais e, no momento, traumas demais. Eu não estava pronta para ajudar meus amigos nessa guerra. Eu não estava pronta para lutar. Mas eu sabia, de algum modo, que eu teria de estar, em algum momento pronta para isso!

Meu pai voltou a dormir, depois que eu fingi ter adormecido para não ter que o explicar o que se passara. Minha mãe nem havia acordado. Acordada sozinha peguei meu celular e mandei mensagem para meu irmão. A sensação que eu tenho é que estive longe por uma eternidade e eu estava ansiosa para ver a todos.

Stiles estava acordado e me respondeu prontamente. Pediu desculpa por te me colocado como isca e eu insisti que não havia outra solução - o que importa é que no final das contas, eles estavam ali cuidando de mim o tempo todo. Ele, ainda assim, se desculpou antes de desligar o telefone e garantiu que estaria aqui quando eu acordasse de manhã.

Eu não conseguia dormir. Cada vez que eu fechava meus olhos, via aquele pesadelo horrível e não sabia se tinha mais medo do Brandon me torturando lentamente enquanto eu tentava, desesperadamente, me arrastar para longe dele, ou a minha própria imagem - desfigurada - no reflexo da vitrine. Balancei a cabeça tentando ignorar esse pensamentos e decidi mexer no celular. Um pessoa estava online, Liam.

Mandei uma  mensagem e ele respondeu imediatamente.

Como você está? — Eu li a mensagem e imaginei a cara dele, com o maxilar rígido, a ruga entre as sobrancelhas e as pernas inquietas. Ri comigo mesma e respondi que estava tudo bem, mas que eu não conseguia dormir.

Você esteve apagada pelas últimas 20 horas, Riley. Acho que é normal essa falta de sono. — Ele respondeu tentando fazer com que eu me sentisse melhor e eu apenas concordei sem querer compartilhar meu pesadelo horrível com ninguém. Mas de algum modo ele sabia que não estava tudo bem.

Você sabe que pode me contar e me pedir qualquer coisa, né?! Eu faria qualquer coisa por você, Riley, e eu pretendo nunca mais deixar que algo assim aconteça novamente! — A nova mensagem de Liam me fez chorar. Eu sabia daquilo. Não era nenhuma surpresa. Mas o fato dele saber exatamente como eu me sinto, mesmo sem estar sequer ouvindo minha voz, é algo que eu nunca imaginei que fosse ter na minha vida com qualquer pessoa que não fosse a Maya.

Respondi assegurando que não foi culpa dele o que aconteceu. Eu sei que ele se sente parcialmente culpado, ele e Stiles sentem que permitiram que tudo aquilo acontecesse e cada ferida no meu corpo - para eles - era uma prova de que eles não haviam me protegido como me prometeram.

Ele visualizou e não respondeu. Esperei alguns minutos e permaneci sem resposta, então decidi ligar para ele. Não chamou muitas vezes antes que ele atendesse.

Só um segundo para eu deixar o Auggie. - Ele disse sussurrando e o escutei dar passos nas pontas dos pés.

— Como ele está? - Perguntei, imaginando o que deve ter se passado naquela doce e inocente mente durante o último dia.

Ele é durão. Mas ele está bem abalado. Ele só quer te ter em casa de novo. - Ele hesitou e respirou fundo. - E eu também.

— Eu vou estar em casa logo! - Garanti confiante, mesmo sem saber quais haviam sido as recomendações médicas.

Ele permaneceu em silêncio.

— Você não devia estar se culpando pelo o que aconteceu, Liam! 

A gente te colocou como isca. Te usamos como moeda de troca. - A voz dele estava embargada. - E quando aquela vã parou na frente da escola eu soube. Eu soube que tínhamos feito a escolha errada, Riley. Não devíamos ter concordado com isso. 

— Não aconteceu nada. Eu estou bem. - Tentei dissuadí-lo, mas falhei.

Não aconteceu nada?! Riley, você está em uma cama de hospital, o joelho quebrado, manchas roxas pelo corpo, arranhões e cortes, com não sabemos quantas drogas no seu sangue e sua família inteira esgotada emocionalmente.

— Mas eu tô bem. - Reafirmei. - Eu, o Derek e a matilha.

Nós somos sua matilha. Não deveríamos deixar que te machucassem. Se algo de pior tivesse acontecido com você, Riley… - Ele parou de falar para medir suas próximas palavras. - Eu não sei o que eu faria. O que seria de mim, Riley?

— Mas você não me perdeu. Eu estou aqui.

Eu já perdi gente demais esse ano, Riley. Você não ouse entrar para essa lista! Está escutando? Você não ouse!

— Eu não vou a lugar nenhum! - Eu falei com uma certeza que eu nem sabia de onde veio. Mas eu tinha certeza. No que garantisse a mim, eu estaria na vida do Liam para sempre. 

Ele apenas se despediu com um boa noite depois disso e eu deitei sabendo que agora poderia dormir com mais tranquilidade, porque agora eu tinha essa certeza martelando na minha cabeça: Eu não vou a lugar nenhum!


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Notas finais do capítulo

É isso, guys. O próximo capítulo vai contar dessa semana inteira que a Riley vai ter que passar no hospital, então não percam! Espero que gostem e que continuem acompanhando! ♥



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