POV Stiles

Acordei com o despertador apitando, minha cabeça ainda estava confusa com tudo o que aconteceu. Tomei um banho rápido, me vesti, arrumei minhas coisas e fui pra aula. Na noite passada eu tinha me atualizado com o grupo, preparamos a apresentação e ensaiamos.

Parei num foodtruck para comprar café e segui meu caminho, cheguei no auditório, sentei-me com meus colegas e conversamos enquanto esperávamos o professor chegar. Ele chegou e caminhou em silêncio até sua mesa. Abriu sua pasta, observou os nomes. A sala toda em silêncio.

— Stilinski. Seu grupo. – Ele disse. – Venham todos a frente.

Nós nos levantamos, fomos até a frente do auditório, eu e Toby colamos dois cartazes que haviam feito enquanto Jessie conectava o próprio notebook ao projetor e Marcos a ajudava. Em instantes estávamos prontos para nossa apresentação. Que supostamente seria na quarta e não na segunda-feira. Mas ele havia mandado um e-mail avisando que o nosso já estava bom o suficiente para ser apresentado e que ele queria que estivéssemos prontos para apresentar na aula seguinte.

— Comecem cada um dizendo o próprio nome, dizendo qual foi sua colaboração e se os companheiros participaram.

— Jessica Ellies. – Jessie começou. – Eu construí o material para apresentação digital e estudei o conteúdo para apresentação do trabalho e também pela minha formação. E todos colaboraram com a construção do trabalho.

— Marcos Millie. – Ele foi em seguida, menos confiante, mas igualmente sério. – Eu desenvolvi o método de apresentação do conteúdo que servisse para melhor compreensão do nosso público e também estudei o conteúdo. Todos do grupo colaboraram.

— Stiles Stilinski. – Disse o apelido mesmo, já que havia notado que era como estava registrado na lista de alunos do professor. – Eu criei o esboço inicial da ideia principal do nosso trabalho, dividi as funções no grupo, estudei o conteúdo e colaborei com a conclusão do trabalho com todos eles. Todo mundo participou.

— Tobias Felix. – Toby estava um tanto nervoso, mas era por estar falando na frente de muitas pessoas. – Eu dei a ideia inicial do nosso trabalho. Trabalhei na pesquisa sobre o nosso conteúdo para colaboração com o conteúdo que vamos apresentar e estudei. Eu estudei muito.

— Muito bem! – Ele disse. – Apresentem.

Marcos começou a apresentação explicando quais são as sete etapas da investigação científica e como essa investigação funciona. E então Toby explicou as cinco etapas da investigação criminal e como funcionava. Jessie explicou como que as duas se relacionam e eu fiz a conclusão falando sobre ambos os métodos, como foram criados e suas exceções, quando casos não seguem aquelas etapas.

O professor não fez muitos elogios. Apenas um “muito bem” quando concluímos.

— Ah e Stilinski?! – Ele chamou antes que eu chegasse ao meu assento. – Bom trabalho com o departamento de polícia de Beacon Hills esse final de semana.

Como ele sabia daquilo? Fiquei confuso e ele notou a confusão estampada na minha cara.

— Vocês são meus alunos. Cada vez que um de vocês aparece no sistema, eu recebo uma notificação. – Ele se virou para outro aluno. – Mesmo que seja só por causa de multas de transito, O’Malley.

Saí da aula satisfeito, não só com a apresentação do trabalho, mas com o fato de o professor achar que eu sou algum tipo de prodígio que já está solucionando casos. Depois que o professor tornou público meus motivos para ir à Beacon Hills meus amigos ficaram me fazendo milhares de perguntas. Os abandonei durante o intervalo, encontrei Josh almoçando sozinho e me juntei a ele.

— Almoçando sozinho também? – Ele perguntou. – Brigou com alguém?

— Eu não. Você?

— É eu meio que dei um murro num amigo.

— O que ele fez?

— É mais o que ele disse que ia fazer.

— O que ele disse?

— Que pegaria a Maya. Que ela é gostosa. – Ele ainda estava irritado.

— Você gosta da Maya. – Me surpreendi por não ter notado. – Eu não sabia.

— Nem eu! – Ele afirmou com a cara fechada meio desapontado consigo mesmo. – Quer dizer... Sempre rolou alguma coisa. Mas agora é diferente.

— Qual é a de vocês?

— Ela é afim de mim. Tipo, desde sempre. Mas eu sempre a vi mais com uma criança. E ela cresceu e eu fui obrigado a admitir que ela não era mais criança. E a gente se dá bem, tem química. A gente tem potencial.

— Mas?

— Mas a diferença de idade sempre foi uma questão. Então um dia, a gente conversou e decidimos que algum dia podemos tentar. Só que agora não seria o momento.

— Boa história! – Disse dando mais uma garfada da minha comida. – Mas você ainda acha que não é um bom momento.

— Como você sabe?

— Eu estou estudando pra ser um investigador. – Eu respondi como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

— Então você já decifrou todo mundo?

— Ainda não. Vocês são difíceis. – Lembrei dos amigos da Riley. – Eu sei que o Lucas está inseguro com o relacionamento dele com a Riley. Eu sei que ela não dá a mesma seriedade que ele pro namoro. Eu sei que a Smackle tem dificuldades de socialização e que ela traiu a única pessoa com quem ela já esteve. Eu sei que o Zay é observador, que quer ajudar todo mundo e que ele acha que não é importante no grupo. Eu sei que o Farkle é um cara legal e inteligente. E eu sei que a Maya é a melhor amiga da Riley e que elas têm algum tipo de conexão especial.

— Você vai ser bom! – Josh disse.

— Mas eu não sei porque a Riley não tem tanta confiança no relacionamento dela com o Lucas. Nem sei como o Lucas é. Nem porque a Smackle não consegue socializar. Nem porque o Zay se sente inferior. Nem sei muito dessa conexão da Maya com a Riley. E Não sei nada do Farkle, basicamente.

— Eu posso te ajudar. – Ele disse. – A Riley não confia tanto no relacionamento porque ela acha que o Lucas na verdade gosta da Maya. Eles passaram todo um ano nesse triangulo amoroso e no fim ele escolheu a Riley, mas ela acha que ele só fez essa escolha porque a Maya tinha a mim, e ela não tinha ninguém.

— E ele fez isso?

— Eu não sei. A questão é que o Lucas nunca se impôs. Ele nunca disse “é isso o que eu quero”, ele só vai com o ritmo e concorda com tudo. Ele nunca disse que não gostava da Maya de fato. A Maya disse que acha que confundiu seus sentimentos. Mas ele nunca disse nada.

— E os outros?

— A Smackle tem um tipo de autismo, ou uma síndrome. Ela se trata e está bem melhor agora. Mas antes dela ter os amigos, ela não conseguia nem mudar a expressão facial, nem abraçar ninguém.

— Essa não dava pra prever. – Ele concordou com a cabeça.

— A Maya e a Riley são melhores amigas desde crianças. Um dia a Maya entrou no quarto dela pela janela, elas brincaram, prometeram ser melhores amigas pra sempre, Maya passou a ir pra mesma escola e elas estão juntas até hoje. Passando por tudo juntas.

— Eu tenho um desses. – Pensei no Scott e automaticamente me senti mal pelo Liam, que perdeu seu melhor amigo.

— Eu tive amigos apegados, mas nada duradouro assim. – Ele disse. – E especialmente, nada como o que a Riley e a Maya têm.

— O Zay chegou por último no grupo. Talvez ele só precise de um tempo pra perceber que é tão importante quanto os outros. – Ele terminou de tomar o suco. – E o Farkle é o que é. Ele é estranho. Um gênio, muito inteligente. E também tem o maior coração. Eu admiro o carinha.

— Ele e a Smackle foi uma grande história de amor?

— Não. – Ele riu. – A grande história de amor dele é a Riley e a Maya. Pra ser sincero, a Riley. Ele é apaixonado por ela desde a primeira série. Mas ele está destinado a ser o melhor amigo.

Não pude deixar de lembrar que eu tinha uma quedinha pela Lydia desde a terceira série e entender o cara.

— Como assim Riley e Maya?

— Ele sempre afirmou que ama as duas igual. Independentemente de qualquer coisa.

 - Pra não ficar entre elas. – Eu entendi assim que ele falou. - Legal!

Eu já estava terminando meu prato e ele já tinha terminado.

— Eu vou lá mais tarde. Ver a Riley. – Eu disse antes de me levantar. – Quer ir comigo? Ver a Maya?

— Não. Valeu! – Ele disse. – Eu tenho que estudar.

Deixamos nossos pratos no local destinado, nos despedimos e seguimos em direções opostas no campus.

As outras aulas passam correndo. No fim do dia passo no dormitório só para pegar meu celular que eu tinha esquecido.

Mensagem do Scott.

Ele vai ser enterrado amanhã no fim da tarde. Você vem?

Guardei o celular sem responder. Eu queria ir. Antes de ir ao Topanga’s tentei encontrar o professor que havia me dado aula hoje mais cedo. O encontrei no estacionamento quase indo embora.

— Professor. – Ele parou para me ouvir. – Vai ter o enterro de um amigo amanhã. Em Beacon Hills e eu tenho que ir. Eu queria saber se eu vou perder algo por faltar.

— Vá em paz, Stilinski. – Ele disse antes de entrar no carro. – E eu sinto muito pela sua perda.

Respirei fundo e fui andando até o Topanga’s. Andei por uns vinte minutos para chegar. Caminhei vagarosamente, eu não queria dar aquela notícia. Os amigos estavam todos reunidos, sentados, mas em silêncio na maior tensão. Assim que entrei notei Lucas que pela primeira vez não fechou a cara pra mim. Riley veio até mim assim que me viu. Ela me abraçou com força e eu só senti que ela já sabia.

— Quem te contou? –Perguntou.

— Liam. – Ela respondeu. – Você vai? Eu quero ir!

Percebi que o grupo ainda estava do mesmo jeito, Maya e Farkle de um lado, Lucas, Zay e Smackle do outro. Eles nem se importaram em disfarçar que estavam escutando tudo.

— Stiles? – Topanga saiu de trás do balcão veio até mim e me abraçou, eu me surpreendi, mas acabei abraçando de volta. – Eu sinto muito pelo seu amigo!

A Riley tinha contado a versão da polícia pra eles.

— Eu e o Cory queremos ir pra Beacon Hills com vocês dessa vez. – Riley pareceu tão surpresa quanto eu. – Eu sei que você vai querer ir, filha. E eu e seu pai achamos que será melhor se estivermos por perto, para vocês dois.