365 dias escrita por Cardisplicente


Capítulo 2
Número um


Notas iniciais do capítulo

O primeiro papel de trouxa a gente nunca esquece... Tampouco, Leandro esqueceria.



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Corri para tomar banho. Logo estava arrumado e com o perfume favorito de Mariana. Provavelmente, era uma ocasião importante. Talvez, ela quisesse fazer alguma surpresa. Se minha mãe aguentasse guardar segredo, eu diria que ela pegou um voo para passar meu aniversário junto comigo na próxima semana. No entanto, ela é muito agoniada.

Quando levei meu primeiro fora no colegial, minha mãe contou para toda vizinhança achando que era história mais engraçada de todas. Eu lembro que, na época, pedi para ela comprar um buquê bonito de rosas e ela apareceu com uma muda de alecrim no portão da escola, no horário do intervalo. Com onze anos, eu não tinha muita noção do que era bom senso para romantismo. Ela disse “Ah, filho, sabe como rosas são caras! Essa muda aqui foi do quintal da vizinha, mas funciona também. Qualquer coisa liga pra mãe. Mas só depois de meio-dia porque agora tenho trabalho! ”. Eu imaginava mesmo que alecrim funcionava como as rosas. Aliás, cogitei até que fossem mais únicos e especiais como o amor platônico que sentia pela loirinha de olhos claros, vulgo berço de ouro da turma. Na verdade, seria a primeira vez que eu falaria com Catarina. Eu estava mesmo me sentindo Christian Grey segurando aquela muda meio suja de terra adubada.

Ainda lembro dela ficando vermelha como se estivesse prendendo a respiração de tão emocionada ou nervosa com meu pedido precoce. De imediato ela começou com uma sequência de espirros. A princípio, nem me preocupei em prestar algum socorro, preferi entender aquilo como um “sim”. A enfermeira da escola brigou comigo alertando que era uma crise alérgica. Os pais dela, por sua vez, foram no setor pedagógico exigir que eu fosse, no mínimo, suspenso ou coisa do tipo e tudo o que a minha mãe fazia era segurar o riso ao invés de me defender ou alegar que ideia de muda era dela! Quando chegamos em casa, pedi para que ela não contasse a ninguém. Logo ela, a contadora de histórias.

Depois da suspensão, eu finalmente saí de casa. Havia prometido a mim mesmo que seguiria como se nada tivesse acontecido, que começaria do zero. Até que pisei fora de casa e dei de casa com a vizinha que soltou uma gargalhada como me viu. “Sua mãe me contou sobre a muda de alecrim”, ela confirmou. Eu poderia ter começado do zero, mas cidade pequena é assim: toda escola já estava sabendo também. De agora em diante, eu nunca mais teria meu recomeço, afinal todos já sabiam que Catarina havia sido a minha paixão número um.

Mesmo naquela época, eu não fiquei chateado com a minha mãe. Eu sabia que ela realmente não poderia comprar um buquê. Tínhamos uma vida muito simples. Ela era solteira e nunca tive contato com meu pai. Às vezes, ela ficava confusa fazendo os dois papéis. Diversas vezes, a encontrei chorando sozinha pelos cantos com contas para pagar ou mesmo acordava de noite com as orações dela por mim. Passamos por muito sacrifício juntos. Por isso, toda minha renda que sobra envio para nossa cidadezinha no interior, onde ela ainda trabalha como costureira, por sinal é a melhor.

                Quando passei no vestibular, ela trabalhou dias e noites em claro para juntarmos dinheiro para que eu pudesse me mudar pra cidade. Certa vez, eu comprei uma passagem para que ela viesse me visitar em comemoração ao meu aniversário de um ano de namoro com a Mariana e minha mãe ficou aterrorizada com o transito e violência. Agora, ela exige para que eu vá passar as férias no interior com ela, porque não quer voltar. No entanto, eu aproveito as férias para trabalhos temporários, que me ajudam a comprar os livros do semestre.

                A última coisa que eu imaginava mesmo que poderia acontecer é de um rapaz como eu encontrar o amor misteriosamente distante da realidade dele. Mariana cresceu na cidade. Nunca conheceu a sensação de pisar na lama. Quer ser famosa e viajar o mundo, enquanto minha maior ambição era pagar um plano de saúde para minha mãe daqui uns anos. Mariana é a mulher que me fez acreditar que eu poderia aproveitar mais que isso da vida. Ela me faz querer segurar sua mão e conhecer sonhos que eu nem pensava que seriam possíveis. Todavia, com ela, eu sinto que poderia fazer qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por estarem acompanhando. É tão importante pra mim! ♥
https://cronicasdagaveta.wordpress.com/



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