Entre o Céu e o Inferno escrita por Lu Rosa


Capítulo 10
Treinamento




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Genny abriu os olhos e fitou o teto delicadamente pintado. O leite morno, pela primeira vez, não tinha funcionado. Aliado ao fato que ela agora era metade anjo e metade demônio, (tudo bem, ela já era antes, mas ter conhecimento do fato não ajudava) agora ela tinha a lembrança do toque de Elijah em seus lábios. Não fora um beijo, somente uma carícia, mas a perturbara de uma maneira que ela nunca sentira. Como ela poderia encará-lo agora? Ficaria vermelha como um pimentão, como da vez que ficara admirando Adrian treinando sem camisa e fora flagrada por ele.

            Ela bufou. Não tinha jeito. Se queria manter suas essências sob controle, tinha que treinar. Ela tremia só de pensar no que aconteceria se não conseguisse. Chutou as cobertas e se levantou. Em uma cadeira, estavam vários pacotes. Curiosa, ela foi dar uma espiada.

            Eram roupas. Várias peças. Camisas, calças, vestidos... oh lingerie, ela ficou se perguntando quem teria comprado aquelas roupas para ela.

            -Vejo que você já viu as roupas... – era Freya.

            -Ah! Sim... Er... Bom dia. São lindas.

            -Espero ter acertado seu gosto. Você chegou aqui vestindo uma camisola. Imaginei que, você sendo jovem...

            -Não. Está tudo de acordo. Obrigado Freya.

            A jovem Mikaelson acenou com a cabeça.

            -Estamos lá embaixo te esperando.

            “Ai, meu Deus... Estamos...” Como encará-lo?

            Sentado em uma poltrona na biblioteca, Elijah tinha um livro esquecido do colo e os olhos fitando o vazio, a mente perdida em pensamentos. Como pudera tocá-la daquela forma? Sentir a maciez dos lábios dela foi a coisa mais angustiante pela qual já passara.  Ela era apenas uma menina que necessitava de orientação, nunca poderia pensar nela como uma mulher para desejar... para amar.

            Parecia que ele tinha um fraco pelos desamparados. Hayley estava certa. Ele não pensava nela desde que havia conhecido Genesis, por que agora Hayley era uma hibrida capaz de cuidar de si mesma. Não mais necessitava da proteção dele. Sim, tudo que precisava fazer era treinar Genesis. Quando ela estivesse por si mesma, ele deixaria de ter esses pensamentos inquietantes.

            Batidas na madeira o libertaram de suas divagações e Elijah olhou para a porta. Ali estava ela. Parada com um ar de desculpas no rosto e as bochechas rosadas como se estivesse feito algum esforço. Ou... como se estivesse encabulada. Bastou uma troca de olhar para ele perceber que o motivo das bochechas coradas tinha sido a noite anterior.

            -Er... Bom dia. Freya me disse que vocês esperavam por mim.

            Ele fechou o livro com uma pancada seca e o colocou na mesinha ao lado.

            -Sim! O quanto antes começarmos o seu treinamento melhor. – Elijah passou por ela sem fita-la e a moça o seguiu cabisbaixa.

            Ele se deteve no meio do pátio, tirou o paletó e enrolou as mangas da camisa. Genny acompanhava suas ações pensando em como havia achado o corpo juvenil de Adrian sexy? Aquilo sim era sensualidade. E o pior era que Elijah nem tinha pretensão de ser sexy. Ele fazia aquilo com naturalidade. Ela balançou a cabeça para se concentrar no que realmente era importante.

            -Me diga, Genesis. O que você sabe sobre lutar?

            -Só o que eu via os outros aprendizes fazendo... – ela respondeu de cabeça baixa, cutucando o chão com a ponta do pé como se estivesse envergonhada da sua inexperiência. – Meus pais nunca deixaram que eu participasse dos treinamentos. Agora eu sei por que. Eles tinham medo que eu incendiasse todo o Instituto.

            -Sim. Isso é um problema. Por que o controle para o seu caso é fundamental. Freya, -ele chamou a irmã que estava encostada em um dos pilares observando. – Eu acho que antes de qualquer coisa devemos ensiná-la a treinar a mente.

            -Você diz assim. – Genny fechou os olhos e se concentrou. A água que estava no tanque elevou-se até a fonte como se completasse um circuito. As chamas das velas nos candelabros elevaram-se. Genny abriu os olhos e fez um círculo com os dedos. Um círculo de água e outro de fogo formaram-se diante dos irmãos. Ela os trouxe até ela e entrelaçou os dois círculos. Uma nuvem de vapor expandiu-se ao redor dela. Quando terminou os dois olham surpresos para ela.

            -É... Magnus me ensinou a controlar minha mente. Disse que eu poderia fazer maravilhas.

            -Isso é meio caminho andado, Genesis. – disse Freya. – Mas agora você tem um desafio maior.

            -Evitar que eu machuque as pessoas.

            -Isso. – Elijah concordou. – Então... me ataque.

            Genny ficou parada.

            -Eu não consigo.

            -Vamos, Genesis. Você deve ter aprendido algo. Honre a memória de seu pai. Eu sei como ele era. Eu vi as lembranças na mente da sua mãe. Sei que ele era um guerreiro. Então vamos!

            Foi a lembrança de Jace que fez com que Genny avançasse para ele, e tentasse acertá-lo, porém sem sucesso. Ela sempre procurou não decepcionar o pai. Ela sempre treinava sozinha depois que todos iam dormir. Um dia, ele tentou mostrar ao pai e por um minuto ou dois viu o orgulho nos olhos dele. Mas, Jace, havia menosprezado os esforços dela e a deixado sozinha com suas lágrimas de decepção.

            -Você tem agilidade, Genesis. Mas sua postura está incorreta. Você precisa ser firme em seus golpes. Lembre-se: o seu oponente vai tentar matá-la. Isso não é uma competição amadora. É matar ou morrer.

            -Eu quero, mas tenho medo.

            -Medo de que, menina?

            -De machucá-lo.

            -Você não vai me machucar, Genesis. É isso que estamos treinando, lembra-se?

            -Mas e se eu me sentir ameaçada inconscientemente e minha essência se expandir? Eu posso queimar você, Freya... meu Deus, a Hope!

            Elijah se aproximou dela e pegou sua mão e a pôs sobre o peito dele. Genny engoliu em seco ao lhe sentir as batidas.

            -Está vendo? Sinta o bater e tente se harmonizar com ele. Sinta a cadencia, como uma música. Você pode manipular a água, o fogo. Então seja fluida como a água e inconstante como o fogo. Leve, lépida, como o ar. Firme e arrojada como a terra, Genesis. Mentalize e direcione a sua essência, na hora em que você sentir ela se expandir. Ela será a sua força, a sua velocidade. Você não precisará mais das runas de poder. Você será a própria runa.

            Genny sentiu seu corpo se aquecer. A essência fluía através do corpo dela como uma onda de calor. Elijah sentiu a mudança na mesma hora e se afastou. Ela franzia a testa no esforço da concentração. Ela queria ter o controle, ela tinha que ter o controle sobre si mesma.

            As lâmpadas começaram a piscar, espelhos se trincavam e novamente as chamas das velas aumentaram de tamanho.

            Freya que assistia ao treinamento sentiu que algo estava acontecendo e se preparou para conter o que estava vindo. Lhe pareceu que Genesis flutuava no ar e que duas ondas de energia expandiam de suas costas lembrando um... par de asas?

            Mas, ela as viu apenas por um segundo, o bastante para lhe deixar assombrada. Em mil anos ela já havia visto de tudo, mas um anjo personificado? Freya entrou numa espécie de transe e imagens começaram a passar pela sua cabeça em velocidade acelerada. Uma fonte jorrando sangue... uma terra fértil e linda se transformando em desolada e árida. Olhando tudo, estava um rapaz lindo, mas quando ela viu suas mãos... não eram mãos, eram garras! E Genesis estava de joelhos diante do corpo de Elijah e de seus olhos vermelhos corriam lágrimas de sangue.

            Quando as imagens cessaram, Freya tremia como se estivesse tendo uma convulsão.

            Contrariando as suas expectativas, Genesis conseguiu controlar sua essência, mas caiu de joelhos exausta. Elijah foi até ela e se ajoelhou também.

            -Muito bom, Genesis! Você não nos matou.

            Ela deu um sorriso fraco concordando com a cabeça. Ele a ajudou a se levantar.

            -Venha. Você precisa descansar. Mais tarde tentaremos de novo para que você não se exaure tanto.

            Freya continuou parada onde estava. A visão lhe era dolorosa demais. Tinha que fazer algo a respeito.


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