Uma Tarde de Outubro

ou sobre como Lily Potter estava rodeada por doidos

Lily soube, assim que aceitou se casar com James, que não estava se casando somente com ele. Não, era pedir demais que conseguisse um casamento convencional se tratando de um maroto.

Ela tinha de aceitar que Sirius Black, Remus Lupin e Peter Pettigrew vinham juntos no pacote.

Lily tinha de entender que eles estariam em todo lugar. Sem exceções. Tudo bem, suas amigas também eram presença constante; Porém, havia uma grande diferença entre elas e os amigos de seu marido. Marlene e Dorcas conheciam aquela pequena palavrinha chamada privacidade.

Naquela manhã de quarta, um 31 de Outubro, o dia estava o que Lily podia chamar de perfeito. O sol brilhava no céu, não havia nenhuma missão a vista e James e Lily estavam tendo uma daquelas raras tardes em que podiam relaxar no sofá e assistir algum filme trouxa (normalmente o “filme trouxa” era Star Wars – que James adorava e sempre a obrigava a assistir mais vezes). Um dia perfeito. Perfeito para Lily contar o que vinha guardando para si a alguns dias.

— James... — começou, quando os créditos do filme começaram a rolar pela tela. Ele, porém, não pareceu prestar muita atenção, bem mais interessado em afundar o rosto em seu pescoço e distribuir beijinhos por sua clavícula. Céus, ela sabia que James fora um biltre arrogante em boa parte de seus anos em Hogwarts, e que ela havia demorado bastante tempo para aceitar que ele mudou, mas se soubesse o que James conseguia fazer com os lábios, teria aceitado aqueles convites para sair muito tempo antes. Com alguma dificuldade, Lily mordeu o lábio com força antes de voltar (tentar) falar — James... eu preciso...

— Lily — ela pode sentir todos os poros de seu corpo se arrepiarem com aquela voz rouca ao pé de seu ouvido — Por Merlin, vamos aproveitar que a Ordem deu um descanso e aproveitar a noite...

Instantaneamente, Lily teve qualquer coisa que precisava falar varrido de sua mente. Jogando a cabeça para trás para que os lábios de James tivessem melhor acesso a seu pescoço, a ruiva se agarrava aos cabelos de James enquanto sentia a mão dele escorregar por debaixo da regata que usava.

— Jam-

CRACK!

O casal gritou em uníssono. James caiu no chão. Lily, ainda gritando, deu um pulo para encarar o invasor – também chamado de Sirius Black, que tinha simplesmente aparatado no meio da sala.

— Opa, aqui não é a porta. — notou.

— Mas que merda, Sirius Black? — Lily gritou, o rosto se avermelhando.

— Oi, Lily! — exclamou Sirius, em sua maior cara-de-pau, sem a mínima noção do perigo quando se aproximou da ruiva irritada e lhe deu um abraço — Quanto tempo! — “nos vimos ontem” ela teria resmungado, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, Sirius desfez o abraço — cadê o Prongs?

James se levantou, resmungando de onde havia caído.

— Mas que merda, Padfoot?

Sirius deu um longo suspiro.

— Casais. Ficam tanto tempo juntos que até falam as mesmas coisas.

Mas porque mesmo é que Lily gostava de Sirius?

Quando começava a escurecer, Lily resolveu que era hora de começar a preparar o jantar. Gritou um “Jantar pra três?”, na esperança que Sirius entendesse o recado e fosse embora, mas foi recebida por confirmações animadas de seu marido. Se controlou para não bufar, conformando-se (mas, Merlin, ela tinha algo importante para contar!)

Tudo o que precisava pousou em cima da mesa com um floreio de sua varinha. Lily escolhia com o que queria começar, quando James entrou na cozinha, risonho.

— Sirius está conversando com o gato — disse, dando de ombros enquanto abraçava Lily por trás e depositava um beijo em seu ombro — Vai cozinhar com magia hoje?

— James. — interrompeu, virando para ele e encarando-o, séria — Eu, de verdade, preciso te contar uma coisa.

O maroto captou a seriedade no olhar dela, desfazendo o sorriso e se apoiando na mesa do jantar.

Lily abriu a boca, incerta por onde começar, mas não chegou realmente a falar algo, pois nesse instante a campainha tocou.

— Aposto que são Moony e Wormtail! — Sirius disse alegre, entrando na cozinha também, sem perceber [ou ligar] se estava interrompendo algo — Eles estavam comigo e provavelmente ficaram preocupados quando eu sumi do nada para vir aqui.

Céus, Lily tinha de se acostumar urgentemente com os amigos de seu marido. Afinal, eles estariam em todo o lugar.

— Oi Lils. — Remus cumprimentou, com Peter atrás de si. Remus sorria, como se pedisse desculpas.

— Remus, Peter, oi, entrem. — se abraçaram e Lily abriu passagem para que eles entrassem — James está na cozinha, e o marido de James está lá também.

Remus teve a decência de parecer constrangido.

— Desculpe. Eu virei as costas e um segundo depois escutei a aparatação. — Lily nem teve tempo de revirar os olhos antes do sorriso de Lupin se tornar maldoso — Apesar de que, tudo isso se resolveria se vocês retirassem Sirius das permissões da casa. Desde que ele passou a poder aparatar aqui dentro...

— Seu namorado passa mais tempo com meu marido do que com você, Remus, eu entendo o seu sofrimento.

Remus bufou, parecendo decepcionada. Depois, riram. Trocaram um sorrisinho cúmplice.

Lily tinha de se acostumar com os amigos de seu marido, porém não era como se fosse muito difícil. Em Hogwarts, os marotos sempre pareciam estar em todos os lugares [não muito diferente de agora] — nem sempre presentes fisicamente, porém Hogwarts sempre parecia ter um assunto diferente para comentar sobre os quatro garotos. Durante quatro anos, sempre fora muito indiferente ao grupo, tendo sua própria vida para cuidar ao invés de ficar observando o que quer que “Potter e sua trupe” estivessem fazendo. Porém, lentamente, eles foram se tornando cada vez mais presentes em sua rotina. Remus Lupin, que se mostrara alguém muito interessante enquanto faziam as rondas da monitoria (e suas misteriosos desaparecimentos uma vez por mês com desculpas cada vez mais esfarrapadas); Sirius Black, que Lily não sabia como alguém podia ser tão insuportável (e como eles ficaram estranha e incrivelmente próximos durante as inúmeras detenções que Black sofria com ela); Peter Pettigrew, tímido como só ele era, pedindo ajuda com as lições; E, é claro, James Potter, com suas cantadas baratas e uma irritante obsessão que havia adquirido por ela naquele ano.

E então, de repente, Lily estava procurando Remus para conversas casuais e frequentes - porque agora eles eram amigos. E Sirius conseguia, sem fazer esforço nenhum, arrancar sorrisos e empurrões carinhosos dela – porque de algum modo, eles encontraram um no outro o amor que não podiam dar para os verdadeiros irmãos. Peter, com seu jeito atrapalhado, despertava um sentimento de proteção em Lily – e ela confiava nele. E, é claro, tinha James e seus cabelos, seus olhos, seu sorriso – e toda aquela personalidade apaixonante.

— Lils — Peter saiu da cozinha para chamá-la — James vai explodir a cozinha por que botou na cabeça que consegue cozinhar como você.

Com uma risada leve, Lily foi salvar sua cozinha.

Uma hora depois, quando todos estavam de barriga cheia, os cinco se acomodaram na sala de estar, conversando e rindo, como a muito não faziam.

— Sirius! Pelo amor de Merlin! Largue a gata! — a ruiva exclamou pelo o que parecia a milésima vez — Para alguém que deu tanto chilique quando nós pegamos a Lua para cuidar, vocês não desgrudam!

— Pra falar a verdade, ele nunca superou vocês terem arrumado outro bicho de estimação que não ele — Moony comentou, rindo enquanto abraçava o namorado para que ele largasse Lua. A gata soltou um miado irritado e pulou para o colo de Wormtail — Esses dias encontrei ele resmungando por que ele não pode mais dormir na casinha porque Lua fica lá. — brincou

— Eiiii, Moony, você não pode revelar esse tipo de coisa... — Sirius sussurrou alto, fingindo-se de indignado — mas essa gata não sabe o que a espera. Qualquer dia desses, jogo ela na rua e tranco a porta.

— Não se atreva, Black!

— Acho melhor ouvir, Pads, esses dias ela quase me matou por eu ter quebrado uma xícara velha. Isso porque somos bruxos e existe o Reparo.

— E acho melhor não quebrar de volta, ou dorme no sofá.

— Você não pode me colocar para dormir no sofá, ruiva. — “eu posso” Remus sorriu, no que Sirius convenientemente ignorou.

— Mas posso te matar, Black.

— Se você deixou Prongs vivo, não vejo porque mataria o Pads — Peter apontou.

— Só não matei o James por conveniência.

— Sei.

Eles ficaram em silencio quando perceberam que James havia ficado calado – o que não era lá muito comum. Ao olharem para o maroto, Lily notou que ele a encarava.

— Você não tinha algo para me contar, Lils?

A ruiva arregalou os olhos verdes, quando todos os olhares se focaram nela. Havia se distraído tanto que havia se esquecido do que queria contar.

Céus, que tipo de pessoa ela era para esquecer algo assim?

— Eu falo depois.

— Vocês estão vendo o que eu estou vendo? — Sirius exclamou, falando alto — Eles estão escondendo coisas da gente!

— É algo que não posso contar para eles? — James perguntou, parecendo assustado, arregalando os olhos.

— Que tipo de coisa é essa que nós não ficaríamos sabendo? — Peter estava desconfiado.

Lily trocou um olhar exasperado com Remus.

— Prongs, eu gostaria de falar que vim primeiro e mereço saber qualquer coisa sobre você!

— Céus...

— Nisso eu tenho que concordar, Progns nunca mais chamou Pads de “querida”. Agora a querida é a Lily.

— Talvez porque eu seja casado com ela e não com o Sirius?

— Todos vocês estão de prova que por sete anos eu fui a querida até James chegar a um ponto de colocar um pôster de Lily no quarto para fica-la admirando enquanto dorme.

— Isso nunca aconteceu.

— Mas chegou perto. — Remus sussurrou, porém saiu alto o suficiente para que os cinco ouvissem.

— Moony!

— Vocês estão saindo do assunto! — Sirius se levantou do sofá dramaticamente. Peter queria rir atrás de si, mas pelo bem de toda a cena que o Black estava fazendo, se esforçava para ficar sério — O ponto é: eu sou parte integrante deste casamento e não mereço ser deixado de fora de qualquer que for o assunto.

— Eu não lembro de ter aceitado me casar com você, Sirius.

Ele levou a mão ao peito, teatralmente, indignado.

— Você não disse isso ontem a noite, James Potter. — todos reviraram os olhos — Moony, Wormtail, vamos embora. Eu já fui humilhado o suficiente!

Lily já convivia com os amigos de seu marido a tempo o suficiente, mas sentia que nunca se acostumaria. Eles estariam em todo o lugar. Duvidava se um dia se acostumaria o suficiente para que eles não a levassem a explodir.

E, no mesmo momento que Remus escondia o rosto com uma das mãos e puxava Sirius para que ele sentasse novamente, ela explodiu mais uma vez.

— James. — ela olhou séria para o moreno antes de dar o mesmo olhar para o outro moreno ao lado. — Sirius. — respirou fundo — Eu estou grávida.         

Os segundos que vieram a seguir poderiam ser considerados os  mais tensos — e silenciosos — da vida de Lily

— Você está... o que? — foi James quem se pronunciou primeiro, a voz aguda.

— Gravida, James. — Remus parecia tão estupefato quanto qualquer um, porém foi aquele que se recuperou mais rápido para ter uma reação decente. Se levantou e se aproximou da ruiva, um sorriso largo (e raro) no rosto — Parabéns, Evans.

— Potter — James corrigiu automaticamente, um sorriso brotando devagar em seu rosto, enquanto assimilava a noticia — Eu... vou ser pai.

Lily virou para James. Os dois se olharam, lagrimas já começavam a brotar nos olhos de Lily.

Se aproximaram. Se abraçaram.

— Nós vamos ter um bebê, Jay.

O maior desceu as mãos até a barriga dela, os olhos castanhos muitos arregalados.

— Nós vamos ter um bebê. — repetiu, como se isso deixasse mais real. — Um bebê!

Todos na sala riram, muito alegres com a noticia. Todos... menos um.

— Nós... — Sirius parecia não ter palavras — O que?!

O casal se virou para Sirius e Lily estava um pouco apreensiva. Nunca sabia muito o que esperar de Sirius Black.

— Sirius, uma criança vai nascer. — Remus articulou lentamente, como se explicasse para alguém pequeno.

Sirius, no entanto, não pareceu prestar atenção. Olhava Lily como se ela tivesse lhe aberto um novo mundo.

— Nós vamos ter um bebê. — murmurou, tão baixo que os Potter não ouviram. Depois, mais alto: — NÓS VAMOS TER UM BEBÊ!

E antes que Remus pudesse fazer qualquer coisa para impedi-lo (coisa que normalmente fazia [mas que com certeza não faria agora nem se quisesse]) Sirius deu um pulo e se juntou ao casal ainda abraçado, pulando.

— Nós vamos ter um bebê! — ele deu um beijo no rosto de Lily antes de soltar e abraçar Peter e depois beijar Remus, parecendo uma criança feliz.

— Sim, Sirius, nós já sabemos. — Peter piscou, dando aquele sorriso cheio de dentes.

— Eu vou ser o padrinho!

— O pai dele é James Potter, que tipo de criança ele vai se tornar com Sirius Black como padrinho? Que tipo de mãe eu seria se permitisse isso?

— O tipo de mãe que um dia aceitou se casar com essa coisa — Peter apontou para James

— Um Prongs Junior!

— Ou uma Lily Junior. — Remus lembrou — Pode ser uma menina, Padfoot.

— Então, Merlin, seria algo como... Prongsnitch?  Por que com certeza, nenhuma Lily Junior. Sem ofensas, mas Evans criança deveria ser assustadora.

Lily nem se preocupou em se fingir de irritada, estava contente demais.

Lily precisava urgentemente se acostumar com os amigos de seu marido... Mas a quem mesmo ela queria enganar?

Amava todos aqueles malucos.