—Ninguém nos viu juntos...—Ele disse exatamente o que eu havia pensado—Se te levarmos para longe eles não te encontrarão! Não se preocupe, não vou deixar você morrer. —Ele segurou uma de minhas bochechas com a mão e eu me senti um pouco constrangida. Agora eu sabia dos sentimentos dele por mim, mas continuava sem entender o que eu sentia.

Eu gostava de passar o tempo com ele, ele era divertido, bom ouvinte e carinhoso. Sempre me tratou bem e com respeito, ansiava pela hora de vê-lo desde quando eu me levantava, mas talvez fosse apenas a emoção de finalmente estar fazendo algo proibido.

—Sei disso, tenho que fugir o mais rápido o possível, mas não tenho destino e sair a essa hora da noite levantaria suspeitas.

—Cuidarei de tudo, amanhã logo que o sol nascer eu estarei te esperando aqui na porta, esteja pronta. —Assenti com a cabeça e dei nele um abraço, o primeiro, e talvez, o último.

Ele levantou meu rosto e me deu um beijo realmente rápido e logo em seguida me empurrou com delicadeza.

—Sinto muito, mas eu não tenho como saber se haverá outra chance.—Ele cobriu parcialmente o rosto com uma das mãos, para esconder a vermelhidão da bochecha.

Eu me curvei e entrei para a taberna, tentando ser o mais discreta o possível.

Notei que encima do balcão haviam folhas com diversos cálculos. Dinheiro, a taberna estava com problemas financeiros. Me senti um pouco mal por abandonar o padrinho em um momento como esse, mas era necessário.

Subi para o andar dos cômodos e vi que a vela do quarto do padrinho estava acesa, ele devia tê-la esquecido assim, pelo menos era que eu esperava.

Abri silenciosamente a porta do meu quarto e sentei de frente para a janela, com tudo o que havia acontecido eu não me sentia capaz de dormir.

Embora eu não quisesse, o sono me venceu e eu adormeci ali mesmo, sentada.

Ouvi durante a noite portas batendo mas preferi não me preocupar.

Sonhei comigo correndo pela floresta, homens a cavalo estavam atrás de mim, atirando nos meus pés para que eu caísse.

Eu estava descalça e meus pés estavam cheios de espinhos, tornando a corrida extremamente dolorosa.

Minhas roupas estavam rasgadas, minha creolina havia desaparecido, eu estava praticamente nua e congelando com o frio que fazia naquela manhã.

Eu tropecei em uma raiz e fui atingida por um tiro bem nas costas. Parecia tão real que eu cheguei a sentir o cheiro da pólvora. Senti também o sangue escorrendo e manchando o meu vestido azul.

Quando um dos homens apontou a arma para a minha cabeça eu acordei.

Eu suava frio e tremia, tentei ficar de pé mas não consegui.

Normalmente seria só um pesadelo, mas dessa vez era algo que realmente poderia acontecer.

Me curvei e comecei a respirar fundo, eu precisava me acalmar, era o melhor.

Eu estava quase dormindo novamente quando ouvi a porta do quarto sendo arrombada e vi uma dezena de homens armados me cercarem acompanhados pelo meu padrinho.

—Alice Martins —Pronunciou um homem moreno com bigodes a minha frente—Você está sendo presa pela inquisição pelo crime de bruxaria.

Dois homens me colocaram de joelhos no chão me segurando pelos ombros.

Mais um pouco, apenas mais algum tempo eu eu teria fugido, mas agora não, agora minha morte era certa.

Olhei para o padrinho que tinha, assim como eu, os olhos cheios de lágrimas.

—Sinto muito — Ele murmurou—Eu vi vocês por acaso e...Eu precisava do dinheiro.

—Não—Eu disse entre soluços —Você não sente, você é um traidor. —Eu cuspi no sapato dele e levei um tapa de um dos soldados.

—Quieta, bruxa! Você queimará no fogo do inferno por ter enfeitiçado nosso príncipe! —Todos os outros homens aplaudiram.

Eu poderia fazer birra, dizer que não fiz isso...Mas não ia adiantar, eu iria morrer do mesmo jeito.

Os guardas fizeram com que eu me levantasse e rasgaram uma parte do vestido para que eu pudesse me movimentar mais rápido.

Eles me colocaram encima de um cavalo e saíram em marcha pela cidade, seguindo um homem que carregava a imagem de uma cruz.

Quando chegamos na praça principal já havia amanhecido, e várias mulheres estavam nas ruas para comprar o pão.

—Atenção, cidadãos! —O homem com bigode subiu na beirada da fonte para ter a atenção de todos—Daqui estas 4 horas, nesta praça,nós assistiremos a execução da bruxa —Ele apontou para mim —Que encantou o príncipe.

Todos que ali estavam aplaudiram.

Era humilhante, além de morrer injustamente eu ainda morreria publicamente.

Seguimos a viagem até uma prisão, onde eu fui atirada em uma cela, totalmente vazia e imunda.

Éramos só eu, os ratos, as baratas e a consciência de que em 4 horas eu estaria na praça para morrer.

Me sentei em um canto e chorei, chorei tudo o que eu tinha para chorar. Não existem palavras para descrever o sentimento de saber que vai morrer.

As últimas quarto horas da minha vida passaram correndo.

Antes do que eu imaginava um homem Me tirou da minha cela e me conduziu junto de outros 7 até a praça.

Em 4 horas eles haviam montado um enorme palco e eu pude ver como eu morreria: Guilhotina.

Suspirei aliviada ao ver a máquina. Entre tantas torturas terríveis eu estava destinada a execução mais indolor.

A praça estava cheia de cidadãos, muitos rostos conhecidos, clientes da taberna, amigas de infância...Todos iriam me ver morrer.

Na frente de tudo, acima da população estava sentada a família real.

O rei e a rainha mantinham a postura, mas eu podia ver que Nico chorava tanto quanto eu.

Dois guardas o mantinha preso na cadeira, ele não podia se mexer.

Subi as escadas até o palco e fui empurrada até a máquina.

Eu não tirei os olhos do príncipe. Eu queria estar com ele para sempre, enxugar suas lágrimas e dar nele um abraço novamente. Minhas dúvidas se foram no momento em que meu coração se contraiu por saber que seria a última vez que eu o veria, eu também o amava.

—Eu te amo—Ele murmurou.

Eu sorri e concordei.Colocaram o meu pescoço no buraco de madeira e