Mágoas do Passado escrita por Liudi


Capítulo 4
Capítulo 4




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Pov. Jane

   Eu estava no Central Park. Mesmo tendo vindo muito poucas vezes aqui, é impossível não reconhecer o lugar. Eu estava sentada debaixo de uma grande árvore e mais à frente Amy e Ben corriam livremente, o riso deles ecoava. Sorri satisfeita com a cena.

   A grama que eu estava sentada estava bem verdinha, já que era verão. Me distrai por alguns segundos e um grito ecoou.

   Era Amy gritando. Me virei rapidamente já me levantando pra ir em sua direção. Um homem encapuzado estava com ela e Ben, ele tentava levá-los a todo custo. Mas mesmo esperneando meus filhos não conseguiam se soltar.

   O homem então começou a correr com eles entre os braços e quanto mais eu tentava me aproximar mais longe eu ficava. Nessa hora Bem gritava junto com a irmã, eles imploravam que eu os socorresse.

   Eu tentei segui-los, mas eles simplesmente desapareceram. Os gritos deles ainda ecoavam em meus ouvidos enquanto eu os procurava pelo parque.

   Até que eu os encontrei. Meus filhos estavam deitados no chão, com uma enorme poça de sangue escorrendo deles. Meus joelhos fraquejaram diante dessa cena, meus estomago estava em nós, minha cabeça girava e meus pulmões se recusavam a respirar.

   Meus filhos estavam mortos. A minha única reação pra continuar lutando se foi.

   De uma forma inexplicável a raiva me dominou. Concentrei toda essa raiva e ataquei o causador da morte dos meus filhos. Assim que me aproximei o suficiente ele se virou deixando o capuz cair, revelando seu rosto que continha um sorriso pra lá de sádico.

   Era ele, Keaton era o assassino de meus filhos. Como se já não bastasse todo o inferno que passei nas mãos dele, agora ele tirara a vida das duas coisas mais preciosas pra mim.

   A minha raiva voltou, dez vezes mais inflada dessa vez. E quando dei por mim já lutávamos corpo a corpo. Eu estava em claramente em vantagem e despejei minha raiva sem dó em Keaton, que mesmo perdendo me provocava. Ele me contava como tinha matado meus filhos, sem tirar uma vez sequer o sorriso do rosto.

   Derrubei-o no chão e comecei a sufocá-lo. Ele já estava quase completamente sem ar quando eu me distrai, no meio da nossa luta fomos parar perto dos corpos dos meus filhos, os olhos sem vida de Ben me tiraram o foco por dois segundos. Foi o suficiente pra Keaton reverter nossas posições e sacar uma arma, que até o momento eu nem sabia que ele possuía, no momento em que ele apertou o gatilho eu acordei.

   Abri meus olhos desesperada, não era a primeira vez que eu sonhava com coisas do tipo. Depois dos três meses que passei na CIA nunca mais me vi livre de pesadelos. Mesmo em uma frequência menor, eles sempre apareciam.

   Mesmo horrorizada com tudo que vi no pesadelo me obriguei a normalizar a respiração. Sabia que se continuasse assim logo teria um ataque de pânico.

   Ouvi um alguém mexendo na porta e sabia que eu tinha gritado, mal terminei de concluir esse pensamento e Ian colocou a cabeça pra dentro do quarto.

    - Outro pesadelo? – Perguntou calmamente. Acenei afirmativamente e ele não disse mais nada só entrou no quarto e me abraçou. Ele sabia que eu não gostava de falar sobre os pesadelos, não com ele pelo menos.

   Duas vezes por semana eu visitava a Dra. Jamerson, Camile Jamerson era a minha psicóloga e minhas consultas com ela faziam parte do meu plano de recuperação. Era ela quem me ajudava a lidar com todas as coisas ruins que tinham me acontecido. Desde a morte dos meus pais biológicos até os 3 meses que passei com a CIA.

   Olhei pro relógio e ainda era 3:30 da manhã, Ian devia estar dormindo. Hoje era o terça e às terças ele abria e fechava sozinho a cafeteria já que todas as manhãs eu tinha que levar as crianças pra escola e terça e quinta eu tinha consulta com a Dra. Jamerson.

   - Ian, você pode ir dormir agora. O pesadelo já passou, já estou melhor agora. – Disse me soltando do abraço e olhando fixamente em seus olhos, enquanto eu acariciava sua cicatriz.

   - Tem certeza Jane? Se quiser posso ficar aqui com você. – Disse relutante em fazer o que eu tinha dito.

   - Tenho certeza sim, pode ir dormir. Hoje você fica praticamente sozinho no café, precisa estar descansado. Prometo que durmo um pouco depois que levar as crianças pra escola.

   Ele sabia tão bem quanto eu que depois de um pesadelo desses eu não conseguiria voltar a dormir. Enquanto Ian ia pro seu quarto eu estava no banheiro lavando meu rosto.

   Assim que terminei fui ver meus filhos. Eu sabia que era só um pesadelo, que não tinha sido real, mas enquanto eu não vê-los não vou me acalmar totalmente.

   Entrei no quarto do Ben e automaticamente suspirei aliviada. Ben dormia tranquilamente, ele estava largado na cama com as pernas pra fora. As cobertas estavam jogadas no chão.

   Então eu o endireitei na cama, o cobri novamente, beijei seus cabelos e sai.

   Assim que saí no corredor dei de cara com Amy que saia do banheiro.

   - Oi meu amor, levantou pra ir no banheiro? – Enquanto me agachava para ficar mais ou menos da sua altura. Acariciei sua bochecha enquanto ela acenava com a cabeça afirmativamente. – Quer que eu te ponha pra dormir novamente? – Perguntei já com ela no colo.

  - Quero sim mamãe, você me abraça até eu dormir? – Perguntou fazendo sua melhor carinha pidona, seus olhos verdes brilhavam e eu não pude e nem quis negar.

   Fomos pro seu quarto, eu ajudei-a a deitar na cama e deitei logo em seguida. Amy deitou em cima do meu peito e eu fiquei lhe fazendo cafuné.

   Fiquei na cama mesmo depois que Amy dormiu. Se tem uma coisa que eu amo é ficar com meus filhos, mesmo que eles estejam dormindo. Faço de tudo por eles, não quero nunca que eles se sintam como eu me sentia naquele maldito orfanato na África do Sul. Quero que eles tenham a melhor infância possível e todo o amor que possam receber. Acabei me perdendo nesses pensamentos e dormi.

   Quando acordei novamente eram 7:30, apesar de ainda estar cansada, por causa da noite mal dormida, eu sabia que tinha que levantar.

   Retirei Amy de cima de mim com cuidado e levantei da cama, já estava saindo do quarto quando um bilhete na mesinha de cabeceira me chamou atenção. Era de Ian.

 

        “Hey sis. Já fui pro café, mas antes de sair fim o café da manhã e coloquei o despertador ai pra você. Eu até ia te acordar, mas você e a Amy estavam tão bonitinhas dormindo que desisti.

      Tenha um bom dia sis, nos vemos mais tarde.

       Ps: Dá um beijo nas crianças por mim.”

     

   Ian era mesmo um fofo, não sei o que eu teria feito da minha vida nesses últimos 4 anos se ele não estivesse comigo.

   Fui tomar banho agradecendo por ter um irmão tão maravilhoso, e assim que terminei chamei as crianças e os ajudei a se arrumarem.

   Era 8:15 quando saímos de casa, a creche deles ficava pertinho de casa, por isso fomos a pé. E depois de deixá-los na creche eu fui trabalhar.

   O dia passou voando e quando dei por mim já era 20:00, eu tinha acabado de sair da minha consulta com a Dra. Jamerson. O trânsito estava um pouco tumultuado e então eu aproveitei pra conversar um pouco com a Patterson.

   Desde semana passada, quando nos encontramos novamente, nós estamos conversando por mensagens. Foi no mínimo gratificante poder manter contato novamente. Patterson era, ela é a única amiga que eu já tive. Mesmo já tendo recuperado boa parte das minhas memórias não precisa ser um gênio pra saber que Remi não teve nenhum amigo verdadeiro.

   Patt e eu colocávamos o papo em dia quando eu recebi a ligação de um número desconhecido. De começo eu estranhei, mas depois resolvi atender. Estava curiosa, afinal não conseguia pensar em ninguém que estivesse tentando falar comigo e eu não tivesse o número. Então eu parei o carro no acostamento e atendi o telefone.

     - Alô, quem fala? – Perguntei enquanto observava os carros no trânsito. Eu estava bem calma, mas assim que a voz do outro lado respondeu eu quase tive um troço.

     - Jane... – Disse a pessoa suspirando. – Jane por favor não desliga.

     - Como você conseguiu o meu número? – Eu o interrompi. – Me diz Weller. Quem deu meu número pra você?

     - Jane, se acalma. Por favor, o que tenho pra falar com você é importante. – Disse Kurt numa tentativa falha de me fazer escutá-lo.

     - ME ACALMAR? VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE MANDAR EU ME ACALMAR WELLER, NÃO DEPOIS DE TUDO O QUE ACONTECEU. – Berrei exaltada, eu não conseguia acreditar na audácia dele. – EU VOU FALAR SÓ UMA VEZ, ME DEIXA EM PAZ. FODA-SE  SEJA LÁ O QUE VOCÊ QUEIRA, ISSO NÃO É DA MINHA CONTA. ESQUECE QUE EU EXISTO! AFINAL VOCÊ É MUITO BOM NISSO, JÁ QUE VOCÊ CONSEGUIU ME IGNORAR POR MESES. – Gritei ainda mais alto a última parte e até que foi bom tirar esse peso das costas. Weller se calou com meus gritos e sem querer dar a oportunidade pra ele começar a falar novamente desliguei meu celular e retirei o chip.

   Droga, pensei comigo mesma. Qual o problema com esse homem? Ele achou mesmo que eu esqueceria toda a humilhação que ele e o team (menos a Patt) me fizeram passar?

   As lagrimas banhavam meu rosto, lagrimas de raiva. Raiva pela audácia dele de me ligar, mesmo depois de tudo o que aconteceu, de todas as coisas que aconteceram, depois de todas as palavras ditas e das não ditas também.

   Raiva também de como, por mais que eu tentasse reprimir, eu gostei da sua voz falando meu nome. De como senti falta disso. De como tentando com todas as minhas forças odiá-lo, eu não consigo.

   Chorei agarrada ao volante mais alguns minutos, até que consegui me acalmar.

   Acho que entrei em piloto automático, pois não me lembro como, só lembro que cheguei em casa.

   Abri a porta de casa e constatei que a mesma estava vazia, fui até a cozinha e encontrei um bilhete na geladeira.

   Ian e as crianças tinham ido pra uma pizzaria não muito longe de casa. Não liguei pro fato de que era apenas terça feira e as crianças só podiam comer pizza aos fins de semana. Isso tudo era culpa do Ian, ele mimava demais os sobrinho.

   Rastejei até o andar de cima e então até o meu quarto. Não fiz questão de trocar de roupa, apenas tirei os sapatos e me joguei na cama. Queria poder me esconder ali debaixo das cobertas e nunca mais sair.

   Repassei a ligação de Kurt em minha mente até dormir e antes de dormir, tudo o que pude pedir foi para que não tivesse mais pesadelos.

  


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