Rosa estava há muito tempo esperando a oportunidade de sair daquela sala. Sua irmã, a famosa enfermeira Mari - conhecida por seu amor por crianças - aguardava ao seu lado enquanto os responsáveis preparavam os papéis para sua liberdade. 

A linda mulher de seus quase vinte e oito anos, alta e de longos cabelos pretos ondulados não conseguia controlar a ansiedade.  Os olhos castanhos e curiosos sequer piscavam ao ver o homem assinar e analisar os papéis que estavam na mesa. Havia passado quase dois anos sem poder sair e viver a vida como gostaria, sem poder ver as mulheres e homens que costumava se relacionar. Sentia falta dos perfumes doces que as mulheres exalavam quando saiam de sua cama e do cheiro jamais esquecido de Henrique, seu eterno amante. 

Ela sentia falta de várias coisas. Dos beijos que recebia toda noite, fosse de Henrique ou de Amanda, pois eram igualmente confortantes e sinceros. Sentia falta de ver a sobrinha, a pequena Julieta. Loirinha. Puxou o pai. Sentia falta dos abraços de boa noite quando a noite ainda não era tão solitária. 

A vida fora injusta consigo, tirou todos os prazeres que costumava esbanjar. Tirou os mimos, os amores, os encantos. Trocou tudo isso por paredes brancas, camas enferrujadas e lençóis de cor marrom. Se soubesse que amar lhe traria tantos problemas, tentaria não fazê-lo. No mínimo. 

Mas como aguentaria? Afinal, Henrique era casado. Rosa era apaixonada por ele. O perseguia para todos os lugares que ele ia. Até o dia que sua esposa descobriu e fez com que Henrique tomasse atitudes drásticas e repentinas: acusou-a de perseguição e perturbação. Para piorar, Rosa tomava remédios controlados e não fazia acompanhamentos psicológicos. Foi dada como louca, e Henrique, mas é claro, foi inocentado pela esposa como um bom marido e protetor de sua linda família. 

Tudo isso estava para trás. Rosa começaria uma nova vida longe de problemas e, principalmente, longe de Henrique. 

Viu o homem entregar os papéis que tanto lia e relia para Mari, explicando que ela tinha o dever e obrigação de ficar atenta à Rosa, que qualquer deslize iriam interná-la novamente sem pestanejar. Viu-a apertando a mão do homem e saindo pela porta e olhando para Rosa para que fizesse o mesmo. Encontrou a pequena Julieta no corredor, bom, que já não era tão pequena assim. 

Por um momento olhou para trás enquanto andava para a porta principal do prédio, lembrou de tudo que houve no tempo que ficou por lá. 

Estava louca para provar aqueles lábios jamais esquecidos de Henrique. Estava louca para experimentar um doce e pálido lábio de uma mulher. Sabia que o recomeço de sua vida dependia do quanto conseguia amar alguém.