República I - Spin-off escrita por Larissa Gomes


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Saudades, amoras... Torço para que curtam esta pequena aventura carnavalesca.
Boa leitura! :)



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Era o primeiro carnaval dos trigêmeos... Tão miúdos ainda. Faziam há alguns meses a alegria da casa, das fazendas Falcão e Napoleão. Os avós não conseguiam ser menos que melosos para com os pequeninos. O cabelo avermelhado de Tessália fazia abrilhantar o olhar de quem quer que fosse. Os cachinhos imponentes de Pedro, apesar da diminuta cabecinha, nem se fala. E havia, ainda, aqueles olhos de puro anil... Heitor. O mais novinho dos três sempre fora de uma doçura e bochechas rosadas incomparáveis.
— Mãe, me ajuda com o Pedro? – A ruiva de cabelos presos pedia à Dona Tê (visita constante), visto que três pacotinhos se remexiam simultâneamente acima da cama do casal. – Ele não para quieto pra eu conseguir tirar esta fralda, ara! – Ria-se. Não se deixava incomodar pelo trabalho. Ao contrário... Havia descoberto se divertir muito no papel de mãe.
Além disso, contava com um número considerável de braços para auxiliar em momentos necessários. A pessoa com quem mais gostava de compartilhar tais tarefas, entretanto, não lhe estava disponível naquele primeiro dia de feriado.
Apesar da semana comemorativa, Ferdinando Napoleão, seu marido, trabalhava incessantemente nas terras da fazenda. Era a época de grande demanda de preparos. Ele saia ao raiar do dia, e retornava apenas ao entardecer, sempre disposto em auxiliar no último banho das crianças, que fosse.
Gina, que agora terminava de tocar a filha, organizava os pequenos, cada qual em seu pequeno berço, para tirarem a soneca da tarde. Deixou-se cair pesada na poltrona do quarto deles, rindo pela correria e silêncio que contrastavam em absurda rapidez. A paz do momento a permitia, até mesmo, observar o início do laranja de entardecer no horizonte, pela janela de cortinas alvas abertas. Aquele breve lembrete cronológico a fez sorrir novamente... Logo ele chegaria, estaria em casa para, com sorte – se um dos pequenos até lá não acordasse- poderem trocar um beijo saudoso... ou, até mesmo, algo mais... Fazia tanto tempo... Gina não se recordava o quanto. Mas era muito. Desde que atingiu certa maturidade da gestação, para falar a verdade. Desde então, com a adaptação dos pequenos, seu tempo de mulher e com a correria de Nando com o campo, o ato era implicitamente adiado. Agora, a ruiva dava uma gargalhada, tentando conter o tom, colocando os miúdos dedos na boca, para não acordar os pequeninos. Lembrava-se da última tentativa, por volta de uma semana atrás...

{...}

Naquele fim de tarde, Nando chegara como era de costume, saudoso. Encontrara Gina sozinha, o que era de um verdadeiro milagre, sentada na sala de estar, em frente ao piano, meramente ilustrativo. Ela nunca soubera tocar... Tentava, mas logo se irritava em ter de admitir que não conseguia ser tão boa quanto Nando.
Se apoiava no fecho sobre as teclas, lendo alguma coisa, que o engenheiro não conseguiu decifrar. Ele penetrou no ambiente silenciosamente, e ela, que se encontrava de lado à entrada, em nada reparara. Ele notou que a mão que continha o anel de formatura que lhe dera, estava solitária e inerte, enquanto a outra sublinhava as linhas que o olhar faminto dela decifrava. Resolveu que seria interessante iniciar o contato de forma surpreendente e sutil, e, aproximando-se, colocou a mão direita por cima da dela, fazendo-a dar um breve pulinho, com o olhar surpreso o fitando. Logo, a face surpresa deu lugar a um doce sorriso.
— Ara, Napoleão! – Ela riu, soltando o ar preso com o susto.
Ele sorriu, e agachou-se, ficando com a face na altura da dela, pretendendo vê-la de perto, sentir seu aroma, seu hálito quente com o qual sonhara o dia todo, no campo.
— Posso saber no que estava tão presa? – Ele questionou doce. Beijou-lhe de leve os lábios. Afastou-se em seguida, e aguardou a resposta.
— É só o jornal regional... – Ela levantou o exemplar, o mostrando. – Fala sobre os festejos do feriado... Parece que, pela primeira vez, vamos ter uma festa de carnaval aqui na vila... Sempre é na cidade das antas...
— Ah, é? E onde vai ser realizada a festa? – Nando perguntava mais por curiosidade. Geralmente, era seu pai a dar festejos grandes na região. E, sabendo que não seria Epaminondas, ficou curioso.
— Eu não conheço bem... É uma residência que fica praticamente na divisa da cidade... Não deve ser um grande pedaço de terra... Mas deve ser uma boa casa, o convite é para toda vila.
— Na divisa...? – Nando começava a traçar alguma informação conhecida.
— É, de uma tal de família... – A ruiva olhou novamente o folhetim. - Vaz... Será que seu pai conhece? Ou o meu?
Ferdinando admirou-se, pegando o jornal.
— Mas eu mesmo os conheço, minha querida... Minha nossa... Retornaram, então. É uma família bem antiga da região, que há vários anos foram formar a filha no exterior...
Gina notou a atenção com a qual Nando lia a notícia. Ele devia mesmo conhecê-los.
— Bom, eu vou te deixar com sua leitura por aqui, frangotinho. Preciso preparar o banho dos trigêmeos. Logo eles acordam...
— Dormiram, foi? Bem imaginei... Você toda pra mim é realmente novidade. – Ele brincou.
— Estavam agitados demais hoje! Você nem acredita nas artes que fizeram! – Ela sorriu.
Ferdinando observou a cena, apaixonado. O amor por sua família, compartilhado pela ruiva, é claro, era de fato uma coisa linda de se ver.
Aquele sorriso dela também era... Tão descontraído, tão largo, tão único... Tão saudoso. Ele se lembrou de quando ela soltava aquele riso no ápice do prazer que costumavam alcançar juntos. A ergueu pela mão, e beijou a boca risonha, surpreendendo-a. Aquele beijo fora diferente do que ele dera na chegada. Tinha desejos claros, era molhado de uma forma indecente e possuía uma força que ele há algum tempo não empregava. A língua dele também se permitiu dançar em seu interior de um jeito que há tempos não fazia. Roçava-se por cada canto úmido.
— Nossa... – Ela se afastou um pouco, a fim de respirar. As bochechas haviam ruborizado pelo calor que o ato havia despertado em si.
— Não se lembra mais que eu sei como gosta de ser beijada? – Nando utilizou aquela voz há algum tempo também adormecida. Rouca... Arrastada.
Colou a boca no ouvido dela para segredar algo.
— Aliás, faz tanto tempo... Eu acho justo lhe fazer lembrar que sei de outras coisas que gosta, Gina... – Ele a empurrou com seu peso contra o corpo do piano. Os corpos colados demonstravam a ela que a vontade dele também estava acesa.
— Nando... – Ela queria aquilo tanto quanto o marido, precisava, aliás. Mas tinha medo que o momento não fosse dos melhores. – Os bebês estão para acordar...
— Ara, menininha... Eu também careço de um cuidado seu, sabia? – Ele continuava com a voz rouca, a boca úmida colada no ouvido dela. – Eu to com tanta saudade sua, Gina... Que não sei nem do que sou capaz de fazer quando ter você... – Ele afastou os cabelos do colo dela, e beijou-lhe o pescoço de forma indecente.
— Eu também to... – O ponto mais necessitado dela pulsava. – Eu também quero... – A voz gemida, de prazer, fazia Nando soltar suspiros longos em sua carne.
— Então me permita Gina. – Ele desceu a mão direita, agora, pela cintura curvilínea que a regata simples não escondia. Passou pelo quadril adornado por um confortável short, e acabou por esfregar a palma da mão esfomeada na coxa esquerda dela. Apertou-a descaradamente, fazendo-se erguer, e o abraçar.
Gina sentiu o atrito que a faz gemer mais alto, desta vez.
— Shiiii... – Ele lembrou-a de que os pequenos poderiam acordar. A casa era grande, e os sons agudos ecoavam.
Aquele alerta dele a fez derramar-se por baixo das roupas.
— Deixa eu te se sentir, amor? Tô com tanta saudade do seu calor... – Ele pediu já invadindo o shorts dela, enfiando-se pela roupa íntima, molhando os dedos com todo o suco que ela se permitia prover em tesão. – Ahhh Gina... – Ele se segurou, cessando até mesmo os beijos, ou se desfaria.
Gina sorriu devassa. Um orgulho absurdo era saber que ainda o tirava do juízo mesmo sem nada fazer. Apenas com seu calor, sabor e voz.
— Quer fazer, papai? – Ela ousou.
Ele não estava crendo na maldade dela em o fazer tão excitado.
— Ara, sua diaba... – Ele beijou-a violentamente, agora. Mordia seus lábios deixando-os inchados.
Gina, não satisfeita com tanta maldade, ainda permitiu-se provocar mais, colocando a mão no eixo mais sensível e inchado dele. Apertou e gemeu ao fazer, mostrando que estava disposta a tantas formas de saciar-se quanto Nando.
— Abre... – Ele insinuou ao zíper. Queria as carícias dela.
— Com certeza... – A ruiva realizava o pedido quando ouviu um choro provindo acima das escadas.
— Aaaaaaara... – Nando praticamente chorou.
Mesmo.
A vontade dele realmente lhe doía, agora. Justo hoje a casa precisava estar vazia? Sem nenhuma das avós ou avôs?
Gina suspirou, notando que o irmão seguira o primeiro choro, que reconhecia ser de Tessália.
— Eu vou com você, amor... – Nando tratou de retirar a mão do corpo da ruiva, e fechar o zíper que ela começara a abrir.
— Ahhhh... eu não digo, é um bom papai... – Ela, já conformada com o fim do ato, provocou-o, piscando pela provocação. Subiu correndo, à frente.
— Você é uma diaba, Napoleão! – Ele fingiu brigar com ela, seguindo pela escada.

{...}

Agora, com a face ruborizada apenas pela saudosa lembrança, a ruiva pensava nas possibilidades de concluir aquela brincadeira naquele dia. A verdade é que, desde então, não conseguiram novamente entoar um ritmo de namoros... O máximo eram beijos. E, nas noites, quando tentavam algo, ou eram interrompidos por um choro, ou um golpe absurdo de cansaço pelos dias agitados.
Começou a planejar... Quem sabe, planejando, não davam um jeitinho? Começou a organizar um leigo plano em mente quando ouviu alguém tocar a campanhia.
— Catarina! – Ela sorriu ao constatar. A avó postiça não vinha há dois dias ver os pequenos... Certamente, estava morta de saudades.
Desceu as escadas, certificando-se, antes, de que os três ainda dormiam.
— Já estou indo! – Gritou. A sala a atravessar era amplamente larga. O vestido azul marinho que lhe caía até os pés, balançava imensamente com seu ágil caminhar.
Quando abriu a porta, no entanto, não era Catarina a observar-lhe com grandes olhos castanhos.
— Olá... – Uma voz doce, fresca, cumprimento com um sorriso agradável.
Gina não esperava uma desconhecida, organizou alguns fios revoltos atrás das orelhas, envergonhada por estar tão a vontade aos olhos de uma moça tão exuberante, alinhada.
— Olá...- A ruiva ainda mantinha-se daquela personalidade sua. Desconfiada. – Quem é você? – E sem ligar para rodeios.
— Ah! – As bochechas, apesar da pele levemente dourada, enrubesceu. – Me desculpe! Eu sou Helena! Muito prazer! – Estendeu-lhe a mão, sendo gentil e cordial.
— Gina... – A ruiva a seguiu. – O que deseja, Helena? – A ruiva realmente não era de enrolar.
Helena, apesar de ter passado muito tempo no exterior, em campos de muita cordialidade, entendia a postura da ruiva. Naquela vila todos sempre foram assim, mais... Rústicos.
— Eu... Bom, eu voltei para a vila há alguns dias e... Bom... Fiquei sabendo que um velho amigo meu havia se casado, e morava aqui, agora...
A ruiva sentiu um leve aperto. Ignorou. Não se permitia ser uma tola ciumenta... Não havia motivo.
— Bom... Ele casou mesmo... – Riu. – É meu marido... Mas ainda não voltou do campo... – Ela ponderou o que deveria fazer. Sabia como Nando era cortês, e, pensando em como o marido trataria a amiga, resolveu oferecer – Quer entrar? Pode esperar ele me acompanhando em um... café...? - Céus, não tinha tipo ara cerimônias.
— Ora, que gentil, Gina... Eu adoraria esperar, mas preciso organizar algumas coisas ainda esta noite... Será que posso vir amanhã? Qual seria o melhor horário para falar com o Nando?
“Nando.”
A ruiva umedeceu os lábios. Apenas antigos amigos o chamavam assim, e ela não gostava de desconhecer amizades do rapaz. Mas, ainda assim, brigava internamente com o ciúme.
— O NANDO – frisou sem notar. – Sai muito cedo para o campo... – A ruiva iria concluir.
— Pois vejo que ele continua apaixonado pela terra... Encantador! – A moça, de cabelos muito alvos, concluíra em tom mais alto do que pretendido.
— É... Ele é engenheiro agrônomo. – Gina resolveu mostrar que ouvia.
De repente, a loira percebeu que não estava fazendo as coisas do modo mais suave. Não queria ser mal interpretada.
— Ah, que feliz fico em saber! – Fez uma vênia com a cabeça, sorrindo. – Sabe Gina... – Resolveu esclarecer logo. – Eu sou amiga de infância do Nando... Fomos amigos por alguns anos.
A ruiva fez um semblante de desentendimento...
— Ora... Mas eu também sou... E... Desculpe-me... Não me recordo de você. – Foi sincera. Queria entender.
— Mas, você sempre morou aqui? – Helena também queria entender.
— Sim, sou Gina Falcão... – Esclareceu um tanto orgulhosa.
Os olhos escuros da loira esbugalharam-se.
— Falcão...! – Agora ela compreendia. – Ora essa, mas eu me lembro de você... Como mudou, virou mulher! – Gina fez um semblante de desagrado. – Quero dizer, uma bela mulher... – A moça se corrigia.
— Como me conhece? – Gina ainda não se lembrava dela.
— Gina, nós estudamos juntas durante alguns anos... Bons anos, aliás. – A moça sorriu. – Eu não me lembro de conversarmos, e a turma era grande... Mas, se se lembra do Nando, se lembra de mim, vivíamos grudados! – Um olhar saudoso.
Foi então, que a ruiva lembrou.
— Ah...! Eu me lembro! – Helena... “Helena de troia” não é? – A moça ficara conhecida pelo apelido, apenas, pela ruiva.
— Sim, eu mesma! – Ria-se do apelido. – Que bobeira!
A ruiva lembrava-se com certo desprazer daquela época. A verdade é que, depois de terminarem de forma dura a amizade verdadeira e longa que tivera com Ferdinando, Gina teve de encarar mais alguns problemas na vida escolar. Em primeiro lugar, o fato de ver aquele que era seu melhor amigo tocar sua companhia pela de outras crianças. Dentre estas crianças, aquela que um dia fora a moça à sua frente. Sempre tão delicada, doce, angelical... Gina se recordava de algumas coisas mais agora. Lembrava-se que, já mais jovens, enquanto ela mesma se via perdida entre os maldosos apelidos que davam a sua forma e aparência ‘masculinas’, Helenas desabrochava aos olhos dos meninos da escola. Era motivo de discursos infindáveis de amor, e de pequenos conflitos, até. Por isto, tendo recebido o apelido, durante anos, de “Helena de troia” como se os meninos fossem capazes de queimar reinos para cortejá-la. Lembrou-se vagamente, também, que dentre os rapazes que sempre cercavam a loira, mantinha-se Ferdinando. Ainda como um amigo, mas visto como estorvo pelos outros mocinhos.
— Bom... – Helena notou a ruiva um tanto distante. – Eu volto outro dia, então... Em algum dia do feriado o Nando pretende ‘folgar’?- Questionou.
— Bom, ele pretende não ir nos três últimos dias... Vamos ficar um pouco em família... Pode vir depois de amanhã.
— Ah, meu Deus! – A moça uniu as mãos em frente à face. – Vocês têm filhos? – Perguntou eufórica.
Gina sorriu. Começava a ter mais empatia pela moça.
— Sim, trigêmeos... – Sorriu mais orgulhosa ainda.
— Ah, que lindo! – A voz de Helena foi suave. – Nando sempre quis ter filhos... – Soltou nostálgica.
Gina voltou a se incomodar por colocações da moça. Até que ponto haviam sido íntimos?
— Bom, de qualquer forma, volto depois de amanhã, minha querida! – Piscou lentamente. Tinha uma postura inegavelmente elegante.
— Tá certo! Eu aviso ao Nando que veio... Que vem... – A ruiva pontuou.
— Eu agradeço Gina! E, apesar do convite ter sido realizado publicamente, peço que compareçam na festa de carnaval que darei aqui na vila, em minha residência.
“Ah, ela é uma Vaz, agora faz sentido!” A ruiva lembrou-se da reação do marido ao saber que a família estava de volta.
— Claro, faremos o possível! Obrigada! – Gina sorriu educadamente, começando a fechar a porta. – Uma boa noite, Helena!
— Boa noite, Gina! – A moça respondeu, começando a descer as escadas da varanda.

[...]

A ruiva estava preparando o banho dos pequenos, logo após se despedir de Helena. Abaixava-se para sentir a temperatura da água disposta na banheira, quando sentiu duas mãos fortes apertando-lhe a cintura. Ergueu-se com um sorriso já reconhecendo quem era, virando o pescoço levemente de lado, ofertando-o para receber um beijo.
Recebeu.
— Boa noite, amor... – A voz de Nando demonstrava um carinho absurdo, não importava o dia.
— Boa noite, frangotinho... Como foram as coisas? – Questionou curiosa. Gostava de ouvir Nando falar sobre o trabalho na terra. Ela sentia falta de poder estar lá com ele. Era uma forma de amenizar.
— Foi tudo bem, menininha... Só teve um problema... – Ele virou-a de frente para si. – Eu não tinha minha companheira lá... – Sorriu doce, amava vê-la enrubescer com seus afagos.
Assim ela fez... A bochecha rosada.
— Você sabe o quanto eu queria estar lá... - Ela abaixou a cabeça, saudosa. Mas... Tudo tem seu tempo.
Nando achava incrível a forma como a maternidade a tinha feito rever prioridades e compreender de forma suave os momentos da vida.
— Tem sim, amor... Logo você e até os pequenos estarão comigo no campo... – Nando brincou. Abraçou-a. – Sempre quis uma família unida, em amor e compreensão com a terra que tanto nos dá...
Gina, apesar de apreciar a frase dita pelo engenheiro, não conseguiu deixar de lembrar-se da visita de Helena. Mais precisamente, depois das palavras ditas por Nando “sempre quis ter uma família”... Resolveu contar para Nando sobre a visita, conforme já pretendia fazer, e, ainda, questionar algumas coisas que ficaram em sua mente.
— Me ajuda a trazer as crianças? – Questionou à ele, conversariam enquanto realizavam as tarefas.
— Claro! – Nando disse animado, partindo a beijar cada um dos pequenos, levando-os, com o carrinho, até o banheiro.
Gina tratava de dar banho em Pedro, enquanto Ferdinando fazia o mesmo com Heitor. A banheira utilizada era demasiadamente grande para tanto.
— Nando, hoje uma amiga sua esteve aqui... – Gina iniciou a narrativa.
— Uma amiga? – Nando ensaboava o pequeno pezinho, curioso em saber de quem se tratava.
— Sim, a que mora naquela casa que comentamos outro dia... Helena...
— Helena Vaz? – Ferdinando retirou os olhos do bebê e observou Gina, surpreso.
— Sim... – A reação dele havia deixado-a desgostosa. – Porque tanta surpresa? Ela me disse... E eu até me lembrei, que foram bons amigos.
Ferdinando estava se entregando por bobagem. Resolveu se recompor.
Não que houvesse algo a esconder, mas, alguns detalhes, não achava ser necessário contar a Gina, assim, do nada.
— Me desculpe, amor... – Ele agora jogava a água morna na barriga de Heitor.
— Não... Tudo bem. – Gina devia a si mesma, certa maturidade. – Bom, ela veio, queria te ver e nos convidou para a tal festa.
— Hum... Você quer ir menininha? – Ele observou Gina, realmente gostaria de saber sua posição.
— Se você achar interessante... Parece que terão muito para colocar em dia... Ela volta depois de amanhã... Quer mesmo te ver.
— Ara, Gina... – A esta altura, o rapaz enxugava Heitor, sobre o trocador montado no banheiro. – Deve ser porque realmente fomos muito amigos, e, além disso, depois que ela foi para a Itália, nunca mais nos vimos...
Gina sentiu o peito apertar... Por pena. Uma amizade ser interrompida assim deve ter doído. Começava a compreender a pressa da moça em ver Nando e a surpresa dele pelo retorno.
— Vocês devem ter sofrido um bocado, não foi? – Ela questionou, suave, terminando agora de trocar Pedro, e vendo Ferdinando levar Tessália para o banho.
O engenheiro gelou-se com a pergunta.
— Porque diz isso?! – Pensou que ela estivesse sendo um tanto irônica.
— Ara, Nando! Se eram amigos... – Gina não compreendeu aquela reação. Uma ideia nova passava pela mente. – Eram amigos, apenas, Nando?
O engenheiro engoliu seco, sentindo o olhar dela, atrás de si. Repreendeu-se mentalmente por ter sido o causador do questionamento.
— Seu pai é um tonto, Tess! – Segredou à ruivinha que sorria ao ser ensaboada. Fora um cochicho.
— Nando?! – Gina já pressentia, pela demora, qual seria a resposta.
— Ara, Gina... Eu... Ara...
— Ara o que, Nando? – A ruiva começava a se irritar. - Tá com medo de me contar que tiveram um namorico, é isso? – Jogou como se nem se importasse. Importava-se. Mas preferia mentir pra si e pra ele, que não.
Já que era pra dizer, Ferdinando resolveu corrigir e contar logo.
— Bem... Mas ou menos, menininha... A gente namorou, mas já era adolescente.
Gina riu.
— Ara, Nando... Nossa! Que diferença... – Pegou Tessália das mãos do engenheiro e começou a secá-la.
— Ah, a diferença entre namoro de criança e adolescente é significativa, meu amor... – Queria deixar em aberto para a ruiva perguntar logo e ele já contar de vez tudo o que queria.
— Nossa... – A ruiva, que não tivera experiências destas antes da faculdade, resolveu questionar. – Eu posso entender quais diferenças? – Brincou. Já levava a conversa a níveis leves.
Nando a ajudou a arrumar Tess no carrinho e levar as crianças para o quarto, novamente.
— Bem... Criança não beija né, Gina... – Nando começou por aí, com o olhar um tanto perdido, afinando a voz, como quando ficava incerto do que dizia.
— Ara... Tá certo... E vocês, então, se beijaram? – Apesar de uma pontadinha fina em seu peito, Gina sabia que não devia dar grande sentido a algo feito à pelo menos hà 12 anos atrás.
— Ela... Na verdade... foi a minha primeira, Gina... – Nando já achou certo pontuar.
“O primeiro beijo. Nossa...” Gina se colocou pensando. O primeiro beijo dela havia sido com Nando, o próprio marido. Será que o sentimento que nutria pelo fato era o mesmo que Nando nutria pelo que tinha protagonizado com Helena?
“Nãaaaao...” Ela estava vigilante sobre si. Eles nem deviam saber o que faziam, na época.
Resolver ter certeza.
— Quantos anos vocês tinham? – Agora, era Nando que se preparava para o banho, aproveitando para não ter de cruzar com os olhares de Gina, enquanto contava aquilo tudo. Achou até curioso o tom dela ter permanecido normal. Abriu o chuveiro e respondeu, com a porta entreaberta. Ela estava no quarto.
— Eu tinha 17... Ela tinha 16. Foi logo na semana em que ela foi embora. – Concluiu.
— Nossa... pensei que tivesse sido bem mais precoce, pela sua fama na faculdade, Nando... – Brincou a ruiva. – Só foi beijar aos 17?
O moço, no chuveiro, engasgou.
“Por isto o tom estava normal.”
Ele permaneceu alguns instantes sem responder.
Gina entendeu como uma necessidade dele se concentrar no banho.
Achou que já sabia o suficiente, e resolveu que poderiam conversar mais na janta, a qual ela iria começar a preparar.
Quando Nando ouviu a ruiva sair do quarto, imaginou que ela já havia sanado sua curiosidade, ou ao menos, assim pensava. Agora, permanecia em uma dúvida cruel... Esclarecia ou não que a interpretação de Gina sobre Helena ter sido sua “primeira” estava errada? Será que existiam, de fato, alguns segredos que permaneciam melhores se guardados...?
Não sabia.
Gina desceu até a cozinha e começou a tirar alguns ingredientes do armário. Aquela era a noite de Nando cozinhar, mas, sabendo do cansaço do marido, ela resolver ajudar, adiantando alguma coisa.
Enquanto estava sozinha, a ruiva refletia sobre o quão sem motivo havia sentido, ainda que de forma leve, algum incômodo sobre o passado de Ferdinando com Helena. Eles haviam trocado um afeto puro, é verdade, mas que estava no passado.
— Menininha... – Ela foi surpreendida pela chegada do engenheiro à cozinha. – Hoje a janta é minha... Que roubo é este? – Brincou.
— Fala de novo que eu não ajudo mais! – Ela brincou também. – Só estou te ajudando, frangotinho.
— Eu sei, parceira! – Chamava-a assim, às vezes, pois eram o que emanavam, um ao outro: parceria.
— Bom, agora é com você... – Ela o chamou com o dedinho até a frente do fogão, sentando-se em uma banqueta, do outro lado do balcão, que separava a cozinha entre a parte funcional e a área da mesa para jantares íntimos, pois claro, os sogros exagerados haviam formulado uma imponente sala de janta, mais à frente, na residência. – E eu quero com sabor, hem? – Ela provocou.
— Ara! – Ele fingiu cair.
Começando a cozinhar e exibindo novamente o quanto estavam ligados a uma relação de parceria, amizade, e, claro, amor, Nando sentiu-se mais uma vez na obrigação de esclarecer à Gina a quão íntima fora a relação com Helena. Também tremia só de imaginar a ruiva descobrindo por outros meios acidentais.
— Gina... Sobre a Helena...
— Nando, fica tranquilo com esse assunto. Sério, eu já entendi. – Resolveu mostrar o quanto estava bem resolvida. – Sendo jovem, até mesmo eu ficaria, em seu lugar, encantada por ela... É uma bela mulher hoje... Avalie mais nova.
— Realmente... Ela sempre foi muito bonita, mesmo, menininha... – Nando jogou uma olhadela e viu os olhinhos baixos de Gina. Sabia que a fala dela não desejava reinteração. – Mas... a menina mais bonita da escola, eu só fui beijar à poucos anos, numa república, lá em São Paulo. – Olhou novamente, e, percebeu um risinho tímido dela.
— Você é um bocó. – Ela respondeu, ainda que doce.
— Sabe menininha... – Ele precisava contar. – Você sabe que, quando falei da Helena ter sido minha primeira, me referia a...
— Eu sei Nando, primeiro beijo... – Ela torceu um bico. – Nando, eu juro, não tenho ciúme... Mas não quero passar a noite falando disso.
— Não foi isso, amor... – Nando soltou, jogando o macarrão que fazia no recipiente para servi-lo.
Gina não compreendeu. Levantou-se para pegar a louça, esperando que o engenheiro continuasse, então, a conclusão.
Nando, por outro lado, aguardava um sinal dela.
Terminaram de colocar a comida e louças à mesa, olhando um para o outro, como se esperassem. E realmente esperavam.
— Ara, Nando, continua! – Gina se irritou com a ausência dele. – Não foi isso o quê?
Nando notou o tom dela já alterado. Tremeu por dentro, em receio.
— Senta, minha querida... A gente pode conversar jantando... – A comida a acalmava. Tinha lá seus truques com sua jaguatirica.
Gina sentou-se, ao lado de Nando, como costumavam fazer naquela mesa.
— Gina... – Ele reiniciou, enquanto puxava uma porção de macarrão do recipiente, colocando em seu prato. – O que eu quis dizer, é que a Helena foi a primeira menina... – Gina também se servia, ouvindo. – A primeira mulher... – Esta mudança de termo fez Gina para de servir-se. – Com quem eu fiz amor.
Ele terminou a fala junto ao prato, colocando-o na mesa, para, somente então, encarar o olhar que tinha evitado ao esclarecer. Quando subiu o olhar, no entanto, Nando não sabia mais se fora aquela uma boa ideia.
Gina estava estática, perplexa, nada menos.
Ridiculamente, cenas de Ferdinando e Helena, ambos nus, em momentos de carícias afagos e juras de amor, passavam pela mente fértil de Gina.
— Eu... Eu preciso ir ver as crianças... Com licença. – A ruiva se ergueu da cadeira, e, direção a saída da cozinha, sendo segurada por Ferdinando, no pulso. Ele se ergueu e a acompanhou, diretamente no olhar.
— Ara, não faça isso, Gina... – Quase implorou. A voz dele era extremamente calma. Não queria atiçá-la a uma discussão, apenas ficar ali com ela para esclarecer o que fosse necessário.
Gina se perdeu naquele azul, que agora lhe parecia tão lascivo.
— Nando, você entende que eu preciso de ar? – Ela mantinha-se calma. Percebia que a coragem dele merecia algum valor.
— Mas, meu amor... Foi há tanto tempo... Éramos tão impulsivos, tão... – As cenas começaram a clarear ainda mais na mente de Gina.
— Nando, não... Por favor. – Ela soltou-se e resolveu subir as escadas.
Observar os rostos serenos embalados pelo doce sono dos filhos a fazia sentir-se mais próxima da paz, e era disso que seu coração precisava agora.
A verdade sempre fora, ao fundo, presente em seu coração. Gina imaginava que Nando havia sido possuidor de vários corações, de belas garotas… Sabia do rapaz namorador que fora o marido. Mas… Ah, era diferente agora! Ver aquela moça, aquela bela mulher, na verdade, que voltara a realidade de Ferdinando, percebendo esta ter um íntimo de ligações e semelhanças com o moça a machucava. Dava medo. A ruiva notara desde o primeiro momento o quão aquela gentil dama se assemelhava ao marido nos trijeitos, termos e postura. Tinha algum receio, que ainda não assimilava por completo como permitira entrar, de que o Nando voltasse a notar o quão eram diferentes os dois, podendo ter um comparativo.
Tola.
Ela sabia que estava sendo, inclusive, se criticava em igual veemência de pensamentos. Afinal, era ela a estar casada com ele. Ainda assim, reeceios não abandonavam aquela mente que tão bem os teimava alimentar.
— Gina… - Ela escutou o marido chamando, na beirada da porta do quarto das crianças. Um leve som, delicado fora.
A moça caminhou suavemete em direção à pequena sacada do quarto, transpassando as cortinas brancas.
Ferdinando, mesmo que receoso, resolveu acompanhá-la. Atravessou o quarto e foi ter com sua amada.
— Menininha… Não precisa ficar magoada assim… - Buscava confortar-lhe a alma que percebia ter pertubado com o segredo. – Foi há tanto tempo, Gina. – Ele levou a mão direita ao ombro desnudo pelo vestido sem alças.
Um leve arrepiar na pele dela, agora clara, banhada pela alva luz do luar de verão. Um golpe de brisa afagou a face, deixando um pequeno trecho gelar pela lágrima que escorreu com o contato dele.
— Ferdinando… Eu… - Ela ergueu a mão esquerda e enxugou a face, os resquícios, para poder virar-se à ele. Virou. – Eu não estou magoada. Você pode se assossegar. – Tentou manter a voz tranquila, clara.
— Então por qual razão me deixou sozinho? Por qual razão está aqui sozinha, cabisbaixa… Chorando, Gina? – Ele diste esta útima constatação logo que pode perceber, observando o nariz levemente avermelhado dela. – Ara, menininha… - Acariciou sua mandíbula de leve, com dedos macios. Sempre lhe doía ver sua Gina triste. Sendo sua culpa, então… Arderia-se por dentro se fosse capaz, apenas em busca de martirizar-se.
— Eu já disse, estou perfeitamente bem, Nando… - Ela o olhou nos olhos, pela primeira vez, no diálogo. – Só precisava digerir esta história… Foi uma surpresa, e eu ainda ando muito sensível… - Agradecia por poder ainda culpar um pouco as mudanças hormonais. – Mas eu sei… - Riu-se, deixando demonstrar uma despretenção. – Não teria sentido me magoar… Faz muito tempo, como você bem disse. – Sorriu com lábios comprimidos ao final. – Só me diz… Onde foi? Prometo que é a última coisa que pergunto, e então, esqueço o assunto.
A pergunta fez Nando notar que ela se importava, sim, mais do que deveria com o fato passado. Mas, Nando, por hora, acreditou nela e resolveu sanar quaisquer dúvidas existentes.
— Foi no quarto, Gina… Normal. – Esclareceu rapidamente.
— Napoleão, seu mentiroso! – Ela conteve a altura da voz, mas a raiva era perceptível, demais. – E você me disse uma vez que eu fui a única menina e mulher à entrar no seu quarto?! Ara, você é um falso. Fingido! – Acusou.
— Ara Gina, você ficou maluca?! – Ele estava entre o riso pelo orgulho de a ver demosntrar o ciume outrora velado, e nervoso por ser erroneamente acusado. – Eu nunca que menti pra você! – Foi no quarto dela, menininha… Na casa dela. – Esclareceu. – Como eu já disse, há muitos anos atrás... - Ele voltou a encarar claramente os olhos escuros dela. – Agora, me promete que já chega desta história.
A ruiva o observou de volta. De fato, não compensava mais se desgastar por coisa tão antiga… Respirou fundo e concluiu.
— Tudo bem Nando… Já foi, mesmo. – Balançou a cabeça, concedendo o encerrar.
A própria moça buscava acreditar no que dizia. Era exatamente o que pretendia sentir quanto ao fato.
— Humm… Me promete que já não se importa? – Ele questionou, levando um beijo ao topo da cabeleira rubra, abaixando-lhe um pouco o pescoço, aproveitando o toque que lhe concedia.
— Sim. – Gina confirmou, abraçando-o pela cintura com os braços. Um abraço forte, para comprovar a si mesma que o presente importava muito mais que o passado, e que ele, neste presente, estava ali, todo para ela.
O abraço de Gina fez Nando sentir o perfume dela tão perto. Tão tentadoramente perto. Beijou-lhe novamente o pescoço ofertado na posição. A ruiva notou a forma que o beijo ocorreu mais úmida, mais pretenciosa. Dobrou mais ainda o pescoço, ofertando uma parte ainda maior de sua pele que ainda cintilava pela lua.
— Ahhh. – Gemeu baixinho ao receber uma mordida maliciosa, seguido de um forte aperto em sua cintura.
Nando reparava que ela estava ainda tão saudosa quando ele lhe permitindo matar consigo as vontades assombrosas ali mesmo, se a fosse proposto.
E por que não?
Empurrou-a de encontro ao guarda-corpo da sacada, enquanto partiu a burcar os lábio quentes dela. Quando os encontrou, não tardou em aprofundar o beijo, um tanto mais lento, mais degustador. Utilizou das mãos que a seguravam para puxar o tecido leve do longo vestido.
Gina notava e aprovava a vontade do marido, a ideia dele, tudo aquilo. Não havia melhor momento para sentir-se sua depois de tanto tempo. Para sentí-lo seu, depois de tanto tempo. Soltou os lábios da boca do engenheiro e, afastando os dreads, encontrou um pescoço tão disponível quanto o seu fora. Ele, a esta altura, procurava uma forma de manter o tecido erguido por uma só mão, enquanto a outra não falhava em colocar o polegar por cima do tecido úmido da calcinha dela.
— Nando… Eu quero tanto. – Ela suplicava, confessa.
Estava sendo um martírio sentí-lo tão perto e, contrariamente, distante.
Orgulhoso das reações que a causava, Nando circulou o polegar incessantemente no ponto urgente dela, fazzendo-a jogar o colo para traz, fora da sacada, tendo gemidos afogados pela brisa um tanto maior. Ele não tardou, vendo o colo tão exposto, beijou-o e lanbeu-o de maneira desesperada, como se o gosto da pele lhe fosse uma droga necessária. O polegar que não cessava, agora, parou. Ela ergueu o rosto, estupefata pela ausência. Viu ele buscar o olhar absurdado dela, malicioso. Ele á sorriu nefasto, sabendo a necessidade dela, até mesmo a sentindo pelo calor próximo à sua mão. Até que, então, com o olhar furioso dela ainda preso em seu, nefasto, mergulhou em sua fenda longos e destemidos dedos. A reação dela fora absurda. O prazer, também. Gemeu em aberto, gritou, na verdade, vontando a jogar a cbeça para traz, enquanto ele lhe voltava a lamber o colo. Os dedos, por sua vez, dançavam no interior enxarcado daquele corpo tão fogoso. As mãos de Gina apoiavam-se no guarda-corpo, ela não conseguia mais manter a mínima compostura. Fechava, inconcientemente as pernas, com a mente buscando o manter o mínimo de descência fora da cama, mas isto apenas tornavam os dedos do marido ainda maiores destro de si, destroindo qualquer nível de autocontrolo.
— Ferdinando… - Ela buscava voltar a estar ereta, sentia o àpice e queria beijá-lo durante o mesmo.
— Fala, mamãe… - Ele retribuiu a brincadeira de outrora, dela. Deixando-a ainda mais molhada pela forma trocista que disse, como se fosse possível.
— Ahhhhh Nando! - Ela gemeu ainda mais alto, prestes a alcançar o àpice, quando, por sua própria culpa, notou ter extrapolado o tom.
Um choro assustado emanou por detrás das cortinas. Ela havia acordado um dos pequenos.
— Ahhhhhh – O gemido agora, era de total decepção. Ferdinando suspirou incrédulo, nos lábios dela.
Não seria ainda daquela vez.

[…]

Quando, em um íntimo de esperança, Nando retornou ao quarto dos pequenos, após ter ido levar a última mamadeira vazia à cozinha, para tentar reiniciar as carícias de onde haviam parado, encontrou a ruiva já adormecida, na poltrona, com Tess ao lado, no berço, segurando o dedo materno com os seus, pequeninos, pela fresta do leito.
Apensar de lamentar pelo novo adiantamento, o coração de Nando não poderia estar mais repleto. A cena doce era a responsável por isto.

[…]

O dia seguinte havia passado de forma atribulada. As avós haviam ido visitar Gina, animadas em apertar as bochechas dos pequenos e em mostrar para Gina modelinhos de diminutas fantasias que havia preparado para os mesmos.
— Fantasias? – Gina questionou, sem compreender.
— Mas é claro, fia… A vila toda vai no baile dos Vaz, e nós faz questão de nossos netos serem os mais aprumadinhos! – Os olhos de Dona Tê brilhavam.
— Ara mãe… Mas eu não sei. – A ruiva ainda não estava certa de querer ir à casa de Helena. – Eles são tão pequenos ainda… Será que não faz mal? – Argumentava.
— Que mal o quê, Gina! – Catarina colocou-se, entusiasmada, na conversa. – Eu levava a Pituca pra tudo quanto é canto, ainda mais novinha que estes três! – Apontava para os pequeninos, dispostos em um cantinho preparado no chão, onde as senhora estavam reunidas.
— Ah, mas isto é verdade! – Dona Tê complementava. – Eu te arrastava comigo mais o pai até pra roça, desse tamanico, Gina… - Sorriu, pois constatou uma mudança curiosa na filha. – Quem diria, hem, fia? Ocê, cheia dos cuidados… - Catarina seguiu o riso.
— Ara, mãe! Eu num to nada cheia dos cuidados… Só fico um pouco preocupada, ué… Por mim também levava logo os três comigo e o Nando pro campo… Não vejo a hora de voltar a lida! - Concluiu saudosa.
— Mas caaaaalma… - A mãe já se arrependia de dar ideias. – No meu caso era necessário, Gina.. Ara! Não vai levar meus pardalzinho pro Sol ainda não… Coitadinho dos meu neto… - E colocou-se a agarrar Pedro, toda protetora.
— Mas era só modo de dizer, mãe! – Gina riu com o desespero da senhora. Já estava se contradizendo e nem notava.
— Bom, pra roça eles não tem que ir mermo, mas pra festa eles vão, né Gina?! – Catarina puxava Tess para pertinho de si. – Nós vamo lhe ajudar a cuidar deles, ocê fique sussegada… Ai, já pensou? A Tess vestidinha ansim, com um vestidinho todo aprumado de princesa?!
— Ara, mas princesa? – A mãe disse desgostosa.
— Mas… Ara… Era o que nós tinha pensado, Gina… - Catarina esclarecia. – O que ocê tem em mente?
— Ah… - A ruiva começou a matutar, junto às avós, já dando-se por vencida em ir a tal festa.

[…]

— Aiii, olha esta banhia, Tê… Vai ficar uma formusura! – Dizia a sogra.
Gina ria em ver o desepero das senhoras em realizar tudo com a máxima perfeição.
O vestidinho verde de Tess, que iria vestida de Merida, já estava quase pronto. Gina ria ainda mais ao se recordar da mãe fazendo cara de espanto ao saber que existia uma princesa tão moleca quanto a filha, e tão similar à ela também. Para ficarem em conjunto, haviam decidido fazerem fantasias de Rei e Príncipe aos rapazinhos. Poderiam, de fato, ser os irmãos da princesa.
Quando Nando chegou ao fim da tarde, apenas conseguiu encantar-se e rir, ao ver o trio incomparável que possuia. As fantasias o fizeram babar ainda mais nas crias… Como se isto fosse possível.

[…]

— E você, menininha? – Nando e a esposa estava preparando alguns lanches na cozinha. – Vai fantasiada do que, já que decidiu que vamos a festa?
Gina riu, em momento lagum havia pensado nisso.
— Ara, eu vou de Gina… - Brincou, mas falava sério não pretendia buscar nada para si. O preparo dos pequenos já a deixava cansada.
— Ah, mas, então, vai de rainha? – Nando soou lisonjeiro. – Mãe de todos aqueles de bebês reais que estão na sala…
Gina sorriu com a graça.
— Ah, e você bem gostaria que eu fosse, não é Nando? – Resolveu usar um humor ácido. – Pra poder ser chamado novamente de ‘Rei’. – Terrível.
— Ara, Gina! – Nando se ofendeu, como ela previa. Ela soltou uma gargalhada malvada. – Você venha aqui que vai ver! – Colocou-se a ameaçá-la com uma colher cheia de maionese.

[…]

Já era a tarde do dia da festa. Ferdiando, como havia planejado, tirava o dia de folga, e aproveitava para curtir os trigêmeos na varanda sobre uma ampla coberta estendida no chão. A mãe deles, enquanto isto, encontrava-se no quarto, praticamente mantida à força, enquanto a mãe e a sogra a faziam experimentar vestidos para a fantasia que pretendiam improvizar. Haviam achado absurda a ideia da moça aparecer sem apetrechos na festa.
O vento batia suave, trazendo o cheiro de terra úmida ao olfato do orgulhoso papai, que observava, completamente enamorado, Pedro em suas primeira tentativas de engatinhar, inspirando a irmã a o seguir. Heitor, era incrível, sempre tão sereno, era o único que apenas observava as àrvores mexendo, curtindo calmamente o momento.
De repente, em questão de segundos, Nando notou um elegante carro chegar nas terras da propriedade, parando em frente ao sobrado. Colocou-se de pé, sem sair do lado dos pequenos. Uma bela moça de pele e cabelos alvos, então, desceu do automóvel, vestida com um um leve short branco e bata de alças delicadas, em um belo tom de azul.
— Nando! Olá!! – Helena correu em sua direção, assim que o viu.
Subiu as escadas da varanda em um ritmo de pura ânimo e o abraçou de forma terna. Ferdinando permaneceu um tanto quanto estático. Sorria por finalmente rever a amiga, mas não sabia se era sensato corresponder tamanho afeto físico.
— Oi, Helena… - Ele sorria, enquanto ela, agora, se afastava, retirando o cabelo loiro da face.
— Nossa! Me perdoe! – Sorriu um tanto envergonhada, notando a falta de jeito dele com seu comprimento extremamente animado. – Eu só… Nossa! Faz tanto tempo que não lhe vejo, meu querido… Você está ótimo.
— Obrigada, Hê… Você também. – Ele retribuiu a cortesia, dando, em seguida, uma olhadela para os pequenos perto de si, acima da manta.
Helena seguiu a olhada dele e não se conteve ao observar os trigêmeos encantadores, que ali estavam.
— Oh! Minha nossa! São os teus pequenos, não é? Oh, como são lindos, meu querido! – Aproximou-se das crianças, ajoelhando-se no chão, para estar mais próxima, observando-os, encantada. – Eles tem tanto de si… Cada qual de seu jeito, claro. – Comentava.
Ferdinando, claro, ficou com o peito cheio de orgulho por apresentar suas encantadoras crias.
— Helena, esta mocinha linda chama-se Tessália. – Ele apontou para a mocinha de tufinhos ruivos na cabeça. – É minha princesa.
Helena afagou-lhe os dedinhos que remexiam.
— Este rapazote… Hei, não saia da manta, tua mãe me mata se cair daqui... – Nando dizia, buscando Pedro de sua empreitada de aprender a mover-se – É o astuto Pedro. – Pegou-o no colo, levando-o até perto da amiga, que deu um beijinho na moleira perfumada. – É terrível.
— Lembra-me você, então. – Helena brincou.
— Isto é porque não conheceu bem a mãe dele. – Nando sorriu.
— E este pequenino, que não tira os olhos de ti, encantado, é Heitor… Um verdadeiro lorde, devo dizer.
— Heitor? – Os olhos de Helena brilharam, ao constatar.
Ferdinando sentiu o estômago gelar. Não se lembrava de certos acontecimentos de sua juventude intensa.
{…}
O jovem casal ainda ofegava graças as novas sensações as quais seus corpos acabavam de ser apresentados. Naquela cama larga, de lençois perfumados, ambos sorriam pela arte realizada.
— Nando… Eu não queria ter que ir embora… - A moça deixava o sorriso, para confessar.
Ferdiando suspirou. Doía-lhe a alma lembrar que sua menina partiria para tão longe assim que os pais retornassem da capital.
— Eu também não queria que fosse… Mas, pelo menos agora, serei eu perpétuo em sua história… Assim como você na minha.
A moça, em seu peito apoiada, sorriu leve.
— Queria eu ter, de fato, uma parte sua perpétua em mim, agora, em meu ventre. – Soltou, um sonho bobo de menina.
— Ara, Helena… - Ferdinando abriu os olhos esbugalhados. – Não diga uma coisa destas… Eu não me perdoaria em atrapalhar sua vida, tão jovem… Ainda falta muito pra isso… - Começou a transpirar, ficando nervoso com a possibilidade.
— Nando, eu só compartilhei um desejo, fique tranquilo, ora! – Ela riu pelo compassar do coração, já acelerado dele. – Fizemos tudo direito, não teremos um pequeno.
Nando aliviou-se. De fato, havia tomado as devidas precauções.
— Um? – Questionou. – Quer um menino?
— Sim… Com o nome parecido com o meu. Sempre pensei em Heitor. – Ela confessava outra vontade íntima.
— É um belo nome, mesmo… - Ferdinando gostava de nomes fortes, clássicos. – Mas fique calma, um dia terá seu Heitor, Hê… No tempo certo. – Ele suspirou. – Eu também almejo ter meus filhos, mas daqui há muito tempo.
— Quem sabe não volto e partilhamos o sonho? – Helena perguntou.
— Bom, por hora, vamos apenas partilhar o presente… Já que este está para acabar em breve…- Ele voltou a beijá-la.

{…}

— Sim, sempre gostei deste nome. – Ferdinando buscava encerrar o assunto, fingindo-se não lembrar. Como, de fato, não lembrara, quando deu o nome ao filho.
— Ora, Nando! Isto é tão engraçado… - Pediu licença com o olhar e pegou o rapaizinho no colo. - Você não se lembra?! Este era o nome que queria dar a meu filho, eu lhe disse uma vez!
Naquele exato momento, escutando as últimas falas da conversa, Gina se colocou à varanda, com um olhar não menos que descrente.
[…]

Após comprimentar da forma mais gentil possível a visitante, Gina ofereceu-lhe um café, que ela, por azar, aceitou. Colocou os filhos para dentro, com a feliz ajuda das avós solícitas para banhar-lhes. Encaminhou junto à Ferdinando (que ainda suava frio) a convidada até a pequena sala de estar, na qual ficava o piano.
— Eu vou buscar o café. – Pontuou.
Iria sozinha, até mesmo para aliviar o coração com o que acabara de descobrir. Mas, logo, sentiu que Ferndinando a seguira, desesperado.
— Gina… - Ele cochichou, assim qu entraram na cozinha.
— Ferdinando, por favor, não. – Ela pontuou clara.
Inferno, o choro lhe subiu pela garganta.
— Ara menininha… Eu, eu não sei o que te dizer… - Ele realmente não sabia como proceder.
— Então não diga coisa alguma, Nando! Só me deixa demostrar alguma educação e fazer um café para sua amiga em paz.
— Gina, ela é mais uma conhecida, agora… - Resolveu tocar no assunto. – Uma colega que me apresentou um nome do qual eu gostei há anos atrás… - Engoliu seco.
Gina o observou irada. Seria ele capaz de tanto cinismo em desmerecer tanto tal fato?
— Ah, claro. Com a qual planejou tem um filho que por acaso, teve comigo, não é? – Ela já não estava com toda sua razão.
— Mas Gina que absurdo está dizendo? – Ferdinando tentou pegar-lhe as mão. É só um nome.
— Não, Ferdinando… É o nome do MEU FILHO. – Ela puxou a mão.
— NOSSO FILHO, Gina. – Pontuou.
— E era assim que você queria, Nando. Nosso?
— Gina, olha o absurdo que está dizendo! – Ele começava a perder o controle.
— Você por acaso já notou o quanto possui de ligação com esta moça, Nando? Acha realmente que devo me sentir confortável a uma mulher que chega em minha casa em um dia e que, no outro, descubro não ser apenas aquela com a qual meu marido se deitou pela primeira vez, mas, também, com a qual planejou ter uma família, com um filho com o mesmo nome que deu ao meu?
— Ao nosso, Gina… - Ferdinando abaixou a cabeça. Não tinha notado o quanto tudo aquilo a havia magoado. – Olha, Gina, me perdoe por não ter te contado, mas eu, realmente, não via motivo.
Não havia mesmo. Mas Gina, sentia-se magoada, não havia como negar.
— Nando, eu… - Ela respirou, terminava de fazer o café. – Vamos conversar a sós, mais tarde, por favor.
— Eu não quero que fique com a Helena em sua casa se isto não lhe faz bem. Vou perir para que ela vá… - Estava realmente disposto.
— Não precisa… - Gina tentava buscar o lado racional. – Ela não tem culpa de nada disso. É muito gentil, aliás. – Doia admitir. – Vou servir o café que oferecemos. – A ruiva saiu á sala de estar, onde encontrou a moça sentada, em frente ao piano.
— Se importar de eu tocar um pouco? O de casa ficou por tanto tempo sem uso que está completamente desafinado.Sinto tanta falata de tocar…– A loira questionou a Gina, assim que a viu entrar na sala.
— Claro, fique à vontade… - Pontuou.
Vendo que Nando estava próximo à entrada da sala, a moça ainda proferiu.
— Nando, vamos ver se se recorda desta música… - O peito de Ferdinando gelou absurdamente.
— Ahhhhh Helena! – Falou absurdamente rápido, antes que ela iniciasse. – Que acha de tomarmos o café antes? Pode esfriar, minha cara. A Gina o fez com tanto carinho.
A ruiva observou o marido, com olhos desconfiados. Não entendia a reação do engenheiro.
— Bom, está certo… - Helena era educada, atendendo a orientação do anfitrião.
[…]
— Pois bem! – A moça concluia já estando na porta. – Espero vocês a em casa mais tarde, está bem? – Queria confirmar, mais uma vez.
— Claro, nós estaremos lá… - Ferdinando sorria, educado como sempre.
Gina confirmava, balançando a cabeça, com o riso mais sincero que conseguia. Estava pouquíssimo animada com a comemoração.
— Então estamos combinados! – A loira começou a descer as escadas da varanda, quando virou-se rapidamente para trás. – Ah! Vou dar um jeito de afinar o piano para a noite de hoje, Nando! Poderemos tocar juntos a música! – Referia-se a música que havia se esquecido de tocar após tomar o café.
Aquela ultima comprovação de parceria fez o estômago de Gina embrulhar-se. Assim que a moça entrou no carro, a ruiva pois-se a subir as escadas em um ritmo absurdo.
Ferdinando apenas fechou os olhos, ainda parado na porta. Respirou fundo, exalando o perfume de terra molhada, em algum lugar, próximo dali uma tempestade era anunciada. Sabia que não estava em seu pleno direito de exigir tamanha compreensão da ruiva. A daria alguns momentos sozinha, para, então, tentar conversar.

Gina buscava não demostrar a sua mãe ou a Catarina que estava em um desentendimento com o marido. Não tinha paciência para conselhos conservadores como “Homem é assim mesmo” ou “ Você precisa apoiar o seu marido, mesmo ele estando um tantinho errado”. Com ela não era assim. Não mesmo. E então, para não discutir, fingia que nada havia acontecido, as ajudando á, até mesmo, concluir a fantasia também improvisada de Nando, que fazia par com a sua.
— Ai fia, ocês dois vão ficar lindos por demais! – Dona Tê dizia, mais animada que a filha.
— Ara, se vão! A deusa grega e seu hércules. – Catarina dizia com tremenda interpretação.
— Mas eu já disse… Acho que vocês estão exagerando um pouco… As crianças são mais importantes, ara… - Sugestionava, pouco animada com a festa.
— Ara, fia… Mas você há de querer as vezes se mostrar mais… - Dona Tê corou. – Diferente aos olhos do seu marido… Faz bem pro casamento, menina! – Deu um riso completamente tímido.
Catarina, muito mais debochada, riu sem cerimônia, completamente maliciosa, balançando a roupa com decote.
Gina não conseguiu deixar de rir pela cena.
“Quem sabe…” Começava a ver, finalmente, uma boa razão para ir a tal festa.
A ruiva desceu as escadas, em busca de Ferdinando. Quando a mãe a pediu para chamá-lo, a fim de experimentar a fantasia. E lá ela foi… Não queria, realmente, admitir o desentendimento.
— Napoleão? – Falou dura. Vendo que o marido lia algo, de costas para ela, que estava no pé da escada, sentado no sofá da sala principal.
— Oi, menininha… - Levantou-se de imediato. Não imaginava que ela viria de encontro à si. – Ara… - Disse magoado. – Não me chame assim, Gina… - Encaminhou-se de frente à ela.
— É este o seu nome, não é? – Ela provocou, ríspida.
— Ara Gina! Claro que é… Mas eu não mereço um descaso deste. Menininha… Eu não lhe fiz nada. Não por mal… Por favor, vamos conversar sobre tudo isto…
Gina suspirou. Os olhos azuis dele era infernalmente sinceros.
— Olha, Nando, eu não quero, realmente, brigar com você perto do horário da festa… Não podemos conversar depois?
— Não! – Ele subiu um degrau, ficando acima dela. – Eu não admito passar mais um segundo sequer lhe magoando involuntariamente. Vamos resolver isto tudo de uma vez, Gina… Nenhum de nos merece estar passando por isso…
A postura de Nando havia mudado como em poucas vezes a ruiva havia visto. Ele estava pontual, claro e dominador na conversa. Realmente resolvido sobre o que desejava: Terminar o assunto.
— Quer conversar, doutor?! – Ela não gostava daquela postura. Apenas em horas mais íntimas, e de forma secreta.
— Quero, minha cara. – Ele manteve-se duro.
— Está bem, diga… - Ela resolver demosntrar quem tinha a razão ali. – Quer começar pelo que? – Caminhou até o sofá, sentando-se. – Quer falar sobre o que? Sobre sua ex namorada, o nome do meu filho que era pra ser o nome do seu filho com sua ex namorada, ou sobre a festa tenho de ir na casa de sua ex namorada, onde perdeu a virgindade com quem mesmo…? Ah, é… A mesma ex namorada…
Ferdinando fechou os olhos. Por falta de paciência, também, mas mais por pena dela… Raiva de si. “Olha só o tanto de coisa que a remoi…” Ele pensou ao findar da fala da esposa.
Sentou-se no sofá a frente, soltando um pesado respirar.
— Gina, eu pretendo falar sobre tudo isso.
— Está bem. Mas saiba que a mãe vai vir lhe chamar se demorar. – Ela mostrou desdém a fala dele.
— E eu vou pedir pra ela subir e dizer que estou resolvendo um assunto muito mais sério, com a minha mulher, mãe dos meus filhos. – Ele foi completamente sério.
A postura de Gina mudou de imediato. Ela sentou-se até mesmo mais ereta no sofá. Ferdinando percebeu, com satisfação. Queria mesmo ter com ela um conversa séria, sem tempo para orgulho, desdém ou trocadilhos.

— Bom, Gina! Agora você me permite falar o que penso sobre tudo isto? – O doutor estava se fazendo presente ali. Ferdinando estava com uma postura nada rotineira, séria.
— Pode falar… - Ela tinha uns olhinhos de criança ansiosa. Não queria demonstrar, claro, mas ela a conhecia demais. Apesar de tentar mostrar indiferença quanto a sua postura ele sabia que ela estava surpresa.
— Gina, em primeiro lugar, me responda uma coisa… Você se arrepende de ter ganho meu sobrenome? – Foi sucinto.
— Como? – Ela não esperava aquilo.
— É isto mesmo que você entendeu Gina… Você se arrepende de ter se casado comigo? – Ele inquiriu, sem retirar os olhos azuis dos dela.
— Ferdinando que pergunta mais descabida… - Ela ficou sem jeito. – Eu… - Ela apenas balançou a cabeça em negação. É claro que não se arrependia, e a mais leve ideia dele se arrpender a fazia ter náuseas.
— Bom, então, agora, posso começar… - Ele respirou mais fundo, e se inclinou para frente, mais próximo à ela, apoiando os cotovelos nos joelhos. – Gina, eu nunca em minha vida, fique sabendo, me arrependi ou arrependerei de algo que tenha vivido ao seu lado. Tudo o que já passamos e ainda vamos passar juntos, me faz ter a certeza do quanto tudo que vivi antes de te conhecer serviu apenas para me preparar como uma melhor pessoa para te servir, e para ser seu da melhor forma que eu puder. Eu sei, Gina, não tenho o melhor dos passados, e, comparado ao seu, me assemelho em muito à um devasso que não te merecia, nem de longe, como minha esposa e mãe dos meus… Mas… Santo Deus! Como a vida me foi maravilhosa possibilitando isto. Não há um dia em que eu não olhe para você dormindo, nossos filhos, nossa casa, e não agradeça por ter se metido a ir morar naquela república! – Os olhos dele marejavam. Mas a voz mantinha-se firme. – Gina, eu não posso lhe esconder tudo o que já fiz nesta vida, pelo contrário, me encontro disponível para te contar tudo o que quiser saber dela, pelo simples fato dela lhe pertencer. Toda ela, todo eu… Mas Gina, se tem algo que não posso fazer, ou pretendo fazer, é mudar estes fatos passados. Primeiro porque eu realmente não consigo e, segundo, porque eu simplesmente não o faria, mesmo se pudesse… Cada um dos meus erros, acertos e passos me trouxeram de volta pra minha casa, que, desque pequeno, sempre foi seu peito. Eu nasci pra lhe amar, Gina. E se hoje eu tenho a família mais incrível deste mundo e de todos os outros, é por todo o ciclo que percorri pra te reencontrar. – Agora, até um soluço lhe escapou, forçando uma pausa. – Bom… E é por isso que me dói tanto te ver tão magoada por coisas passadas… Eu quero que você entre em meu coração, com tudo isto que eu lhe conto, e perceba o quanto o passado consegue ser tão importante e, ao mesmo tempo, sem sentido, para nós, hoje. Eu sei, é loucura, contraditório, e até mesmo, absurdo… Mas é o que se passa em mim, Gina, e o que eu quero lhe ver compreendendo, ao saber que eu nunca mais pretendo lhe ver mal por coisas que tenha feito antes deste nosso presente, antes desta nova vida, a qual eu construi, junto de você.
Gina estava paralisada. Algumas lágrimas umideciam-lhe o rosto, mas ela nem mesmo conseguia buscar enxugar. Apenas penetrava nos olhos e, através das palavras, coração de Ferdinando, sentindo de um modo que apenas ele a conseguia fazer sentir: Plena.
— Nando… Nem sei o que… - Ela enxugou, sem jeito, uma lágrima. – Ara, você não devia ter feito isto comigo… - Ela fingia braveza… Até estava mesmo, ele a tinha dominado.
— Não diga nada, menininha… Aliás, diga só uma coisa… Que agora tem ciência do quanto eu lhe pertenço… Mas, uma ciência, plena, Gina… De que eu sempre fui preparado exclusivamente pra ser o que sou hoje. Seu.
Ela piscou algumas vezes, aquilo tudo era de uma intensidade absurda.
Gina compreendia tudo que ele tinha dito, e o peito lhe transbordava amor pleno. Mas uma ponta de algo ainda conseguia lhe trazer um frio na espinha que ela não compreendia… Como, após tanto amor derramado, confesso?
Resolveu que não teria nada mais justo do que demosntrar à Nando o quão era recíproco o pertencimento.
Beijou-lhe.
Na verdade, jogou-se nele, sobre o corpo dele, no sofá à frente, autêntica, do jeito que era somente dela. Que o fazia ainda mais apaixonado (como se fosse possível).
— Giiiiiiina, cadê o Nando, menina? – Dona Tê apontou-se no alto da escada, gritando pelo casal.
Nando e Gina riram, escondidos, amontoados no canto do sofá.

— Menininha, essa saudade prescisa acabar hoje… - Ele cochichou à ela.
Ela riu, sapeca.

[…]

A noite já havia chego e os trigêmeos estavam lindamente aprontados em suas delicadas fantasias, lá em baixo, com o pai e os avós, esperando Gina descer.
Ferdinando estava estonteante, diga-se de passagem. A fantasia de Hércules lhe fazia juízo, com o corpo altamente definido do moço. Os olhos azuis, então acendiam-se com o dourado dos ornamentos depositados na cabeça, junto aos dreads.
Dona Tê e Sr. Pedro estavam muito engraçados. As fantasias de Vovozinha e lenhador os caíra super bem. Enquanto isto, Catarina era a Chapeuzinho Vermelho e Epa, quem diria, o lobo. Claro, os senhores ficaram relutantes com o fato de terem de ir fantasiados, mas logo, com o argumento de que seria o primeiro carnaval dos netos, e os mesmos mereciam tudo dentro dos conformes, os avôs corujas se renderam, aceitando o ‘triste’ destino.
Quando Gina despontou no alto da escada, Catarina soltou um gritinho. Todos, logo, observaram para onde o olhar dela apontava. Ficaram completamente embasbacados. Era como se viajassem no tempo, de fato, observando uma deusa grega.
— Pelos céus… - Ferdinando a observou mais do que maravilhado, estava incrivelmente bestificado com a beleza da esposa.
Gina tinha um vestido branco e leve, de apenas um ombro, e que acabava bem acima do joelho, de forma solta. A cintura era marcada por um ornamento dourado, que a deixava com ainda mais curvas. O cabelo fervia em si. Soltos os cachos por baixo, mas presos alguns em cima, com uma leve coroa fina, em tons dourados e algumas pedras que cintilavam. Nos pés, sandálias também douradas, que subiam com suas cordas de amarra até as coxas, de forma completamente tentadora aos olhos nada castos do marido. O rosto só continha os cílios destacados, e pontos de luz em locais estratégicos. O bastante para compor a pintura que ela compunha.
— Vocês parem de me olhar assim, se não eu subo, agora… - A ruiva não gostou de tornar-se o centro das atenções. Via o marido praticamente babar, em público.
Desceu as escadas e cochichou, ao ouvido de Nando, que já se encaminhava ao fim da mesma.
— Se recomponha, Nando! – Ria-se por dentro.
— Uf! – Ferdinando deu um pulinho, puxando o ar. Estava difícil controlar algumas reações fisiológicas.

[…]

Quando chegaram à festa, praticamente toda a vila já estava lá. Gina ficou impressionada com o tamanho da casa, e com os detalhes arquitetados para o evento. Uma sala digna de casarões ingleses do século retrasado. Tudo estava de acordo com o tema, carnavalesco. E, ao centro do salão, havia um piano de calda, igualmente magnífico, que fazia Gina perder-sena realidade temporal, acreditando ter caído de fato em um romance daqueles que pegava Juliana lendo, de vez em quando.
— Nossa… - Ela soltou, observando o lustre, acima de si.
— Os pais de Helena sempre foram apegados em adornos clássicos, menininha. Você se encantaria em ver a biblioteca da mansão. É impressionante. – Nando queria ser gentil. Mas, acabou por demonstrar mais intimidade com a casa e família da moça que a Gina de fato pretendia saber.
Respirou. Já haviam resolvido.
— Gina!! – Helena os encontrou, e veio comprimentá-los, de imediato. Gina achou gentil ela chamar por seu nome. Fora cordial, como sempre.
Infelizmente, a ruiva sentiu um ciúme que indevido, mas não pôde ignorar o quanto Helena estava bonita.
Os cabelos loiros estavam ornamentados em cachos soltos, e ela, para infelicidade de Gina, estava com uma fantasia parecida com a sua, mas, longa, e mais decotada.
— Helena de Troia! – Ferdinando soltou, fazendo referência à fantasia da moça.
— Só poderia, não é?! – Ela brincou. – E veja só! Estamos os três muito bem harmônicos. – Sorriu.
Apesar do incômodo bobo, Gina foi gentil, e sorriu, igualmente.
— Bom, vocês podem, por favor, ficar a vontade! – Helena observou ao redor do casal. – Mas… onde estão os pequeninos? – Questionou, curiosa em vê-los fantasiados.
Nando riu e apontou para o outro lado do salão, onde os avós exibiam os netos ao público geral. Helena observou e seguiu o riso. Logo após, foi chamada por uma senhora, pedindo licença, e retirando-se.
— Bom, minha deusa… Quer beber algo? – Nando ofereceu, encantador.
Gina riu com a brincadeira.
— Eu aceito, meu Herói. Mate minha cede, por favor. – Ela fingiu entrar na brincadeira. O som ambiente era alegre, contribuía.
— Mato todas as vontades que tiver, minha cara. – Nando piscou provocante, se retirando até o bar local para pegar alguns drinks.
Gina abaixou a cabeça, enrubescida.
— Moça? – Uma gentil senhora de alvos cabelos e elegante porte chamou Gina.
— Pois não… - Gina sorriu simpática.
— Minha querida, você sabe me dizer se aquele rapaz que saiu daqui agora é o Ferdinando Napoleão? – Questionou.
— É ele mesmo… - Gina respondeu.
Antes que pudesse questionar qualquer coisa, viu a senhora bater de leve no braço de um senhor, que estava perto.
— Olha só Oscar, é o menino Napoleão! – Apontou para que o marido visse Nando. – Eu lhe disse que ele se tornaria um belo homem! Deveríamos ter deixado ele se casar com nossa Helena quando tivemos a chance… Observe como tem porte…
Gina sentiu seu estômago embrulhar.
— Sabe… - A senhora, que não fazia ideia de quem seria Gina, lhe confidenciou, orgulhosa. – O Napoleão pediu a mão de nossa Helena, quando o dois ainda eram bem jovens. Estava disposto a casar-se para não a levarmos ao exterior… Era um completo apaixonado em nossa filha! – Sorriu nostálgica.
— Vocês me deêm licença, por favor! – Agora o estômago de Gina não apenas ebrulhava. Ela realmente sentiu que estava prestes a vomitar, tamanho o nervosismo.
Saiu em disparada pela porta da sala, descendo as escadas da varanda, indo se refugiar, sentada, na beirada escura de um chafariz.
— Meu Deus… - Ela apoiava os braços, abraçando o estômago, balançando-se para frente e para trás.
Não achava sensato se desfazer em choro… Também pensava se era sensato detestar Ferdinando do jeito que estava acontecendo. Havia sido há tanto tempo, e eles já haviam se resolvido tão bem quanto ao assunto “Helena”. Mas… “Ara, que cretino!” Ela pensava ao notar que ele havia mantido este pequeno ‘segredo’ fora da história toda. Sentia-se presa… O choro queria vir, mas ela não podia deixar, ou seria denunciada.
Respirou fundo.
Precisava voltar para aquele salão. De algum forma, precisava.

[…]

Enquanto isto, Nando voltava para o local onde havia deixado Gina, incrédulo de a mesma ter desaparecido do salão. Seus olhos caçavam-na a cada canto.
— Ferdinando!! – A senhora Vaz colocou-se a chama-lo quando o notou regressar. – Ah, olá meu querido! Como está lindo! – Ela o abraçou, carinhosa.
— Ah, olá, senhora Vaz! Que prazer revê-la. – Ferdinando ficara surpreso com a reação da senhora. – Como vai, Sr. Vaz, ele questionou, dando um aperto de mão firme ao pai de Helena.
— Muito bem, mas não tanto quanto o moço! Me parece muito bem… - O homem gentil colocou.
— Imagina! – Nando foi cortês. – Os senhores por um acaso viram uma moça ruiva, que estava aqui?
A senhora, que deconhecia o vinculo de Nando com a moça, pensou que esta fosse apenas uma pretendente, e, de acordo com o que planejava, retirou a mesma da ‘jogada’.
— Oh, não… eu sinto muito… Mas, me diga uma coisa, Nando, já viu a Helena?! – A senhora varria o salão com o olhar. Encontrou a filha. – Helena! Helena, venha aqui!
Ferdinando não compreendia bem o que acontecia ali.
— Sim, mãe? – Helena chegou, doce como sempre.
— Ora filha, você já viu o Ferdinando?! – Insinuou.
— Ora, claro, mãe! – Riu-se. – É meu convidado especial, aliás.
A senhora, encheu-se de esperanças.
— Ah! Que feliz fico em saber! – Observou o piano ao centro do salão. – Oh, Helena, toquem aquela música em conjunto… Aquela canção que vocês tocavam tão bem…
— Bem… - Helena ficou um tanto sem jeito.
— Sra. Vaz, eu ficarei honrado em tocar, mas antes preciso procurar minha…
— Bobagem, quem está aqui irá ficar, ainda mais se tocar… Por favor, Nando. Peço-lhe…
— Toquem, meninos! – Sr. Vaz contribuiu com a pressão.
— Acredite em mim, Nando, será mais fácil se fizermos logo! – Helena cochichou ao amigo.
Convencido de que seria mesmo, Ferdinando não teve muita escolha. Colocou-se com Helena sentado em frente ao belo piano, no centro do rebuscado e abarrotado salão.

[…]

A esta altura, tendo se recordado de toda a conversa que tivera com Nando naquele mesmo dia, Gina adentrava forte e decidida no recinto, quando a cena de Nando, ao lado de Helena, tocando a canção que ele falhamente a tentava ensinar tocar no piano, a destroçou internamente.
“Era essa a canção deles…”
O salão todo se admirava com a parceria incrível que o casal ali sentado demonstrava na música. Gina chorava ritmadamente, agora. Não conseguiu controlar a vontade, escondida, atrás da porta do salão.
Os sons se misturavam com pensamentos horríveis em sua mente.
Dentre eles, o que mais se destacava era uma consciência plena de que a parceira correta para Nando, a responsável por partilhar seu dueto, não deveria ter sido ela… Mas sim, aquela com ele tão bem partilhava as teclas.
Céus, como era injusto. Tudo lhe passava pela mente. Sua casa, filhos, história com Nando… Teria o destino sido assim tão malvado a ponto de fazer-lhes acreditar ser o final feliz de ambos, quando era apenas um último conflito antes do último e, de fato, final feliz de Nando… Helena.
Gina sentia-se toda corroer. E o pior daquilo tudo é que não sentia-se com raiva de Ferdinando. Sentia até mesmo que ele fora, sem perceber, enganado pelo destino.
“Seria mais justo sair de sua vida…” A ruiva pensava em como o engenheiro, mesmo que percebendo do equívoco que fora em sua vida, negaria, apenas para não magoá-la..
Gina ouviu o findar da música, e colocou-se a espionar novamente o salão, sendo pega pelo olhar furtivo de Nando, que fugiu aos elogios que rasgavam a si e Helena, para saber o que estava havendo com a ruiva. Atravessou o espaçoso do salão em um pulo, praticamente.
Gina respirou fundo e secou o rosto. Tomaria suas atitudes na manhã seguinte, não ali… Por hora, se manteria o mais normal possível.
— Gina… - Nando se aproximou. – O que faz aqui? Por que não me aguardou, como eu pedi? Aconteceu algo?
Gina piscou lentamente, buscando forças para um cinismo que não era seu.
— Não, Ferdinando… Me perdoe… Eu só… Vi ver o jardim. – Concluiu com dificuldade.
Nando não acreditou em pleno na história. A forçou.
— Gina, o que houve, me diga?! – Ele começava a ficar nervoso. – Alguém lhe incomodou?!
Aquilo fora demais ao peito da ruiva, ela precisou responder.
— Além de você?! Tocando sua canção de amor com Helena? – Riu, nervosa. – Não, Ferdinando!
— Ora essa, Gina! Que absurdo… O que quer dizer com isto?! – Ele não compreendia, afinal, estavam bem.
— Absurdo é você se enganar achando que eu sou seu destino quanto o tem tão claramente exposto. Ela é sua lama gêmea, Nando! Será que não vê?! São plenamente parecidos, por Deus! São… São um a continuidade do outro… - Começou a chorar. – Eu não posso lhe atrapalhar ainda mais, Nando… Você não vê?! A intrusa aqui sou eu! – Tudo aqui destruía com o coração de Gina. Ela não aguentava mais observá-lo. Colocou-se a correr para dentro da casa, pelas laterias, subindo a escada que dava para os quartos.
Ferdinando a seguiu em pleno desespero.
— Gina! – Chamava em súplica. Não compreendia tudo o que havia acabado de escutar.
Helena, observou a cena de longe, sem compreender. Resolveu tentar ajudar, e seguiu Nando até o longo corredor, no qual o encontrou tentando abrir uma porta, inutilmente.
— Nando, o que houve?! – Questionou assustada, vendo seus olhos vermelhos.
— Helena… Eu… - Ele caiu sentado, ao pé da porta.
A amiga se abaixou, perto dele, queria compreender.
[…]

Naquele quarto amplo, Gina sentia-se largada, sobre a cama. Escutava, ao fundo, Nando bater algumas vezes e forçar a maçaneta. Depois, quando ele cessou, ela chorou ainda mais.

[…]

— Helena, por favor, não compreenda mal… Eu considero muito sua importância em minha história, mas é tudo irrelevante, você compreende?! A Gina não consegue notar isso… - Ferdinando, a esta altura, havia feito um breve resumo da história pra a amiga, sentada ao seu lado. Ambos no corredor.
— Mas é claro que eu compreendo, Nando… Meu Deus, eu nunca que pretendi causar isto! – Ela suspirou, e culpa. – Nando, e se você mostrasse à Gina meu namorado? Ela já deve estar chegando… O vôo da Itália atrasou.
— Olha, eu posso tentar… Mas ela se quer abre a porta, Helena… E creia em mim… Quando a Gina coloca algo na cabeça, é difícil fazê-la compreender que está errada.
— É justamente o tipo certo de garota para si! – A amiga riu. Nando sempre fora teimoso. Merecia alguém igual.
— E eu não sei?! – Ele suspirou. – Eu sou completamente desta mulher Helena… Como ela pode duvidar?
— Ah, Nando… São coisas do coração. Nem sempre sabemos explicar. Helena tentava confortá-lo.
De repente, a amiga reparou em um item que Nando trazia no peito.
— O que é isto, por falar em coisas do peito…- Brincou a moça, apontando o item.
Nando observou o colar, tão deles, completamente nostálgico.
— Meu colar de lembranças, de momentos que guardo comigo, para sempre… - Clareou.
— Nando… Este medalhão é do seu casamento, não é? - Helena questionou sobre um, em especial.
— Uhum… - O peito do moço apertou ainda mais. Ele tocou com um carinho inenarrável na peça.
Foi então, que, Helena teve uma ideia.
— Nando… - Iniciou. – Você tem alguma coisa referente à nossa primeira vez, aí? – Questionou, sabendo a resposta.
Nando ficou completamente sem jeito.
— Bom… eu ainda não o usava com tanta veemência quando jovem Helena… - Inventava uma desculpa.
— Ora essa, Nando, deixe de coisa! – Ela sorriu. – Não foi algo tão importante para si. Importante sim, mas… Não como estes momentos. – Ela sorriu. – Nando, isto demonstra, ainda mais, o quão singular é a Gina à si… Percebe?
Nando sorriu, era a mais pura realidade.
— Sim… Mas eu sei bem disto, Hê. – Suspirou. – É ela – Fez um gesto com a face, apontando a porta do quarto – que não entende isto de uma vez.
— E que tal refazer uma lembrança, tonando-a especial por ser com ela, com a Gina podendo comprovar isto?!
— Como assim?! – Ferdinando questionou sem entender.
— Nando, não sei se notou, mas esta é a porta do quarto onde fizemos amor… E, eu acho que o local bem merece uma lembrança em seu colar… Se estiver nele com a pessoa certa. – Sorriu a moça, concluindo.
A ideia maravilhou Nando.
— Mas Helena, não pretendo lhe ofender.
— Nando, hoje em dia este é o quarto de visitas…. E, mesmo que não fosse, seria apenas trocar os lençóis. – Riu. – Eu faria muito mais que isto pelo amigo que me és… Saiba você. – Concluiu.
— Você é realmente uma amiga especial, minha cara Helena. – Nando a agradeceu.
Deram um abraço terno. Completamente maduro.
— Mas, como a faço abrir a porta para mim? – Nando questionou.
Helena, sem muito precisar pensar, colocou-se de pé.
— Gina? Você está aí?! – Falou alto, a porta de carvalho não permitia menores sons adentrarem no recinto. – Sua mãe lhe chama, parece que um dos bebês precisa de si.
Concluiu.
Ferdinando, em pura expectativa, ouviu a chave girar no feicho e a amiga sumir pelo corredor.
Quando Gina abriu a porta, não teve como evitá-lo de adentrar o recinto.
— Ferdinando, eu já disse, não quero falar com você agora! – Disse alto. Ele trancava a porta.
— Me deixe sair! – Ela buscar passar por ele, que estava entre ela e a porta.
— Não deixo, Gina, você vai me ouvir.
— Não vou coisa alguma! Meus filhos precisam de mim!
— NOSSOS filhos, Gina. E eles estão bem… Helena disse aquilo à pouco para me ajudar.
Gina não compreendia a parceria.
— Como?! – Questionou, deixando um pouco a postura dura.
— É exatamente isto que eu lhe disse, Gina… Ferdinando colocava-se dominante, percebendo a redução dela. – Ela quis me ajudar, como bons AMIGOS que somos, a resolver um problema muito sem cabimento com minha MULHER. Aliás, dois problemas… - Ele começou a encaminhar-se para a ruiva, fazendo-a caminhar de costas em direção à cama.
Olhares de desejo permeavam aquele corpo tão indescentemente vestido dela. A veste dele, por sua vez, fazia Gina sentir-se absurdamente submissa a suas palavras.
— Que… - Ela engolia seco, caminhando ainda, lentamente. – Que problemas seria estes?
— Primeiro, Gina… O fato de você perceber que, não existe nada entre mim e a Helena, que está, neste momento, recepcionando o namorado que chegou à festa. – Ele notou o respirar profundo que Gina deu com a novidade. – E notar também que, apesar deste quarto ter abrigado minha primeira vez com ela… - Gina observou os arredores, localizando-se com a informação. – Não possui, nenhuma lembrança neste colar… Ou, pelo menos, não possuía, até a noite de hoje…
— Co-como assim?! – A ruiva encontrava-se com as pernas já coladas na beirada da cama. Ele chegava perto, prensando-a ainda mais.
— Agora eu me refiro ao segundo problema também, Gina… Que é a necessidade que eu tenho de fazer amor com minha esposa… E refazer as lembranças deste lugar, com a única pessoa que me permitiria isto.
A boca da ruiva abria um pouco mais. Ela precisava respirar.
Pena, não de tempo.
Ferdinando rumou, impetuoso, para os lábios deliciosamente abertos dela.
Beijou-a com uma força bruta, de necessidade sedenta, em busca de salvar sua súplica de desejo.
— Meus céus, Gina… - Ele agarrou-lhe o cabelo, puxando o pescoço para chupar sua pele onde quer que a boca tocasse. – Eu não tenho mais como te provar o quanto te desejo, o quanto preciso de você… - Era um gemido de prazer e súplica. – Por favor, me diz o que mais quer de mim?
Ela absorvia aquela súplica e desejo de forma absurda. Sentia-se tão dele quanto ele confessava ser seu, mais uma vez.
— Nando… - Ela começou o segurou pelos dreads, jogou-se em um riso com lágrimas, que não conseguia conter. – Eu te amo tanto! Te desejo tanto… Não consigo. Eu não posso ficar sem você… - Sugou-lhe o pescoço, gemendo junto à ele.
— Você nunca vai precisar ficar sem mim, Gina. Eu só existo com você… - Ele a deitou com grande vigor, na cama. – Eu existo em você, Gina… - Ele puxou a alça única do vestido, revelando os seios dela. – Me deixa estar em você…
Gina não conseguia mais resistir a vontade dele. Queria despí-lo e tê-lo preenchendo o vazio tão suplicante em seu corpo.
E assim fez.
— Tira, Nando… - Ela pediu. – Tira tudo isso… - Implorava.
Ele a respeitou, retirando toda a roupa de si, e, em seguida, puxando todo o vestido dela.
Gina estava nua, após tanto tempo, disponível aos olhos, toques e corpo dele. Foi necessário um momento para apreciar aquela que lhe pertencia.
— Você não faz ideia do quanto eu te desejo, menininha… - Nando pegou seu próprio membro em mãos, massagendo-o como uma ameaça... Deliciosa ameaça…
— Por favor… - Ela há muito, implorava. Contorcia-se em puro fogo na cama, sob o olhar também inflamado do marido.
— Pede, Gina… - Ele abaixou-se, colando o corpo no dela. E os lábios, ao ouvido dela. – Pede mais…
Ah, ele não era capaz de saber o que se passava nela.
— Eu te suplico… - Ela sorriu devassa, levando a mão direita, em desespero, ao membro dele. Nando, amando o jogo, retirou-se da mão dela.
— Ferdinando! – A ruiva puxou o rosto dele, que estava ocupado dentre seus seios, ameaçando-o. – Eu prometo que não vai gostar da minha vingança… - Brincou, aflita de desejo.
O engenheiro, dada tamanha ameaça, massageou o ponto dela com seu mais necessitado.
— Ahhh… - Ela sentiu que logo teria o que desejava. – Mais… - Pediu, novamente.
— Tudo… - Ele foi propositalmente ríspido na fala, enfiando-se completamente nela.
O gemido foi, até mesmo, mudo. A vontade de ambos os fez contorcer.
— Ohhhh… - Gina respirou aliviada, enfim, tinha aquilo que lhe pertencia, novamente. Ele.
Arranhou-o de forma impiedosa, enquanto ele entrava e saia de seu vale estreito, de forma igualmente impiedosa.
Beijavam-se entre palavras de amor e desejo, trocando súplicas entre si.
— Eu sou tão seu, Gina. – Ele enfiou-se ainda mais ao dizer, como se fosse possível. – Sente como sou? A ouvia gemer, em reposta.
Em dado momento, utilizou as tiras da sandália – que ela não retirara- para pegar impulsos ainda maiores em suas investidas.
— Te amo tanto… Ahhhh… - Gina sentiu-se aproximar do clímax ao dizer. – Eu…
— Diga, mamãe… - Ele sabia o que o apelido faria ao interior sensível da moça.
— Ahhhhhhh, Napoleão…! – Entregou-se a ele. Não resistiu. Ele a tirava de si em todos os sentidos.
— Ahhhhhh Giiiiina… - Ele se enfiou nela uma última vez. – Gostosa. Concluiu.
Gina sorriu, devassa. Sentiu-se contrair novamente, de surpreendente.
[…]

— Acho que a gente precisa voltar pra festa… - Ela disse sapeca, desenhando no peito dele o nome dos filhos. Bobeira, mas fazia.
— Precisamos mesmo… Foi este o único motivo de eu não ter rasgado tua roupa, como fantasiei assim que a vi com ela… - Confessou o rapaz.
— Ara! – Ela o observou, surpresa com a ousadia.
Ele sorriu, e começou a auxiliá-la a se vestir.
Quando chegaram novamente ao salão, ouviram questionamentos sem fim por parte dos avôs.
— Ara que nós somos marido e mulher e não lhe devemos mais satisfação alguma. – Nando disse em um misto de brincadeira e provocação. – Algumas das crianças, chorou? – Questionou.
— Não, dormem feito anjos, mesmo nessa barulheira… - Catarina respondeu, ainda risonha pela colocação do entiado.
— Bom, então, reitero minha posição. – O engenheiro concluiu. Me concede uma dança, antes de irmos embora, parceira? – Nando questionou a amada.
— Sim… - Gina, que ainda ria pela ousadia do marido, o acompanhou, levantando.
Sentiu-se ser puxada em uma direção diferente do salão, e percebeu que Nando tinha um plano.
Notou que ele a levava para o jardim, em direção a mesma fonte em que esteve sentada. Felizmente, por um bom motivo, agora.
— Menininha… Me concede sua coroa? – Ele a retirou, com cuidado, da cabeleira rubra. Com muito cuidado, retirou uma das pedras cintilantes, da mesma, entregando com um carinho absurdo, a mão da moça. – Este é o seu…
— Ele pegou outro para sí. – E este, é meu… Amanhã mesmo estarão em nossos colares… Quero me lembrar não apenas da primeira festa de nossos filhos, mas, também, da forma como aproveitamos-a, esclarecendo muitas coisas… Sendo a principal, o quanto eu te pertenço…
— Eu já disse que lhe amo? – Ela permitiu-se ser tão romântica quanto o marido.
— Eu não me importo em ouvir outras vezes… - A beijou delicadamente. – Mas confesso, seria uma boa forma de demonstrar, vestindo esta fantasia manhã a noite… - Ele brincou… Nem tanto.
— Você não presta, doutor! – Ela fingiu cair.
Seriam sempre assim. Amigos, amantes, parceiros… Destino.


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Notas finais do capítulo

Bom amoras...
Espero que me perdoem pelos erros. E que tenham gostado, claro.
Milhares de beijos! :)



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