A Sombra do Morcego escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 7
Capítulo VII - Importantes alianças




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— Argh...

— Perdoe-me Mestre Bruce. No entanto, dada a seriedade dos ferimentos, não posso dar-me ao luxo de dar preferência a sutileza ao invés de eficiência no tratamento.

— Hummm...

Pennyworth executava os curativos da melhor forma que pode. E isto é muito a se dizer, dado que tivera uma boa carreira como médico e sabia exatamente o que fazia. Este não utilizava seu smoking como de costume. A camisa formal da qual fazia uso, sustentava resquícios de sangue. Presumi que fossem meus. As mangas dobradas até o cotovelo demonstravam mais alguns destes. O cabelo, apesar de após anos ter começado a rarear, mantinha-se arrumado para o lado. Agora, estava bagunçado. As olheiras indicavam que não dormia fazia certo tempo. Bem como as xícaras de café próximas a maca onde encontrava-me.

Após ter desmaiado no portão de uma das entradas da Caverna, Alfred contou que havia me arrastado para dentro, posto-me na maca e iniciado o cuidados. Assim que recobrei a consciência, contei-lhe o que ocorrera. Seu semblante em nenhum momento assumira uma aparência agradável, em clara reprovação a meus atos.

— É exatamente quanto a isto que tenho medo todas às vezes em que o Senhor deixa esta propriedade. – declarou assim que finalizei meu relato.

— São riscos da atividade. – retruquei observando os pontos serem dados.

— Riscos que o senhor sequer deveria estar assumindo.

— Não vamos ter essa conversa de novo. Já deixei bem claro o porquê faço isso e que não vou parar.

— Assim como igualmente deixei claro que estarei aqui pelo senhor. Mesmo que fortemente desaprovando tudo isto.

Assim que o fio dos pontos é cordado, agradeço, ergo-me da maca, pego uma camisa próxima, visto-a e sigo para os computadores. O mordomo notando minha atitude, indaga.

— Onde acha que vai?

— Trabalhar - respondo em tom seco.

— O senhor devia estar descansando!

— Haverá tempo para isto depois.

— Após duas explosões, uma bela surra, com direito a um talho em seu ombro e um corte na base de sua barriga que foi capaz de atravessar o traje, e ainda uma queda de cinco andares, acredito que o tempo para descanso seja agora! Sem falar que tem horas que não come nada!

Alfred buscava insistentemente fazer-me descansar após o ocorrido de horas atrás. Não recordava-me exatamente quantas. Nos túneis e praticamente sem equipamentos, perdera a noção de quanto tempo havia se passado.

O mordomo havia me enfaixado o torso e ombro esquerdo. Os locais onde a espada do Assassino havia ultrapassado a proteção do traje, e chegado à carne. Pequenas manchas de sangue, tanto seco quanto recente, sujavam as ataduras. Outros pontos de meu corpo contavam com curativos. Anteriormente, jamais imaginaria que as ações da noite houvessem deixado tantas marcas. A dor incomodava mais do que gostaria de admitir, contudo, não deveria ceder.

— Você venceu Alfred. – declaro voltando-me para o mordomo que com isto esboçava um leve sorriso – Vou tomar uma canja de galinha enquanto trabalho.

— Pelo amor do bom Deus Patrão Bruce! Há uma força tarefa destacada do D.P.G.C. e um assassino à solta. Ambos com uma sede de sangue terrível. Sede pelo seu sangue. – Pennyworth usa de todos os seus argumentos. Mas no fundo, ambos sabemos que esta discussão já tem seu término determinado.

— O assassino não estava atrás de mim. Antes de derrubar-me do prédio disse “Sua sorte, é não ser o alvo”. Estava caçando outra pessoa. Frank Boles, para ser mais preciso. Esta era a razão para estar lá para começar. O porquê de ter explodido o carro e poupado minha vida. Necessito encontrar Boles antes que o faça. – organizo as ideias encaixando os pontos pouco a pouco.

— Frank Boles está morto. – o mordomo pronuncia com toda a calma que sua fúria contida permite.

— O quê? – a surpresa pelo comentário é tamanha que no movimento para sentar-me a frente dos computadores na Caverna, faço uma pausa brusca. Esta força o ferimento em meu torso fazendo-me emitir um grunhido.

Alfred avança para as máquinas. Aperta alguns botões cuidadosamente transferindo a imagem para um trecho do noticiário de algumas horas antes. As filmagens exibidas neste eram visivelmente amadoras. A câmera movia-se de forma a tornar a tarefa de focalizar e compreender o que ocorria, complicada. Latas de lixo tapavam em parte as imagens. Provavelmente, o cinegrafista escondera-se atrás destas.

O assassino! Do mesmo telhado no qual o avistara após a explosão do carro de Boles este lança projéteis contra um grupo de policiais, três ao todo, que auxiliavam Frank. Os projéteis não atingem pontos vitais da anatomia dos homens da lei, no entanto, passam-se apenas alguns segundos após o acerto e estes caem. O assassino devia ter imbuído os objetos em algum tipo de toxina paralisante.

Caída a ajuda do policial beberrão, que logo notara o que estava prestes a ocorrer, este dá início a uma tentativa de fuga. Infrutífera. O assassino faz uso de um equipamento de extrema semelhança a meu próprio arpéu para prender a perna de Boles e puxá-lo para seu alcance assim que atinge o chão. Quando próximo o suficiente, o agressor segura com firmeza a cabeça de Frank. Não é possível observar mais. O cinegrafista fugira em pânico.

— Presumo que a filmagem tenha sido feita logo após este “Assassino” ter terminado com o senhor. – Pennyworth comenta ao fim da transmissão.

— Ele me atraiu. Lidou comigo e retornou para finalizar o serviço... – busco raciocinar – É uma espécie de queima de arquivo.

— Tem mais. – Alfred fecha a tela do noticiário abrindo uma página que exibia a matéria mais recente da Gazeta de Gotham.

Dois assassinos nas ruas de Gotham City?

Por Jason Mann

A três dias havíamos noticiado que Anthony Zucco, um renomado financista de nossa cidade, tinha sido assassino em pleno no Departamento de Polícia de Gotham City. E a única pista para quem poderia ter feito isso era um pequeno morcego de metal sujo de sangue ao lado do corpo. O que indicava que o vigilante conhecido como Batman, teria cometido o crime.

Nesta madrugada outra vítima foi feita. O policial Frank Boles foi executado por um homem misterioso em um beco em um bairro residencial. Três policiais cuidavam de Boles, que alegava ter sido agredido por Batman poucos minutos antes do assassino aparecer, abater seus companheiros e o próprio homem.

“Frank nos contou que o Batman tinha ido atrás dele. Batido nele. Explodido o carro dele e depois simplesmente ido embora. Nós estávamos prontos para leva-lo ao hospital quando esse sujeito surgiu. Ele utilizava uma espécie de armadura. Do telhado mesmo acertou com uns projéteis de metal a mim, o Jonathan e Nick. Caímos na hora. Mas ainda vivos. Quando acordamos, Boles já estava morto.” Contou-nos Richard, um dos homens da lei que acompanhava o falecido.

Os projéteis citados foram divulgados pela perícia como os mesmos morceguinhos de metal encontrados na cela com Zucco. Teria o Batman retornado para finalizar o serviço com Boles? É aí que está a dúvida.

No momento do assassinato, o Morcego de Gotham estava em perseguição com a força-tarefa liderada pelo Sargento James W. Gordon. O que o livra da culpa quanto a este ato. Estaria este novo assassino trabalhando com ou para Batman? Seriam adversários? Poderia este ter matado igualmente Zucco e Batman ser inocente? São perguntas que, por enquanto, não temos resposta.

 

— Os gothamitas agora têm dúvidas quanto a quem é o responsável pelas mortes. O senhor ou o misterioso novo homem. A polícia e o público manterá o foco nos dois. Algo que pode vir a ser benéfico. – Alfred comenta assim que termino de ler a matéria.

Velozmente busco abrir o banco de dados relacionado à Falcone e seus parceiros de negócios. Desde o mais alto escalão até os peixes menores no que é conhecido dentre os registros.

— Falcone contratou o Assassino para limpar a bagunça que posso fazer em seus negócios o mais rápido possível. Assim que chego a um de seus aliados, envia seu emissário para deter-me, ou garantir que nada sobre suas atividades seja descoberto. Por isso matou Zucco e agora Boles. Feito isto, me culparia. Entretanto, não contava com a possibilidade dessa filmagem e do depoimento dos policiais.

— Por que deixar os policiais vivos? – Pennyworth devaneia.

— Boa parte deles está nas folhas de pagamento de Falcone. São peças importantes e não descartáveis de seu jogo de dominação. Mas, já que estes deixaram escapar sobre o que houve, e com a gravação, suponho que sejam honestos.

— Mesmo sabendo disto, está de mãos atadas. Se qualquer um que abordar, o assassino estará lá para tirar da jogada... Então com que o senhor falar... – Alfred inicia.

— Estará sentenciado a morte. O sangue estará em minhas mãos. E sequer farei qualquer tipo de progresso em tirar Carmine do poder. – completo.

— Uma busca infrutífera.

— Enquanto o Assassino estiver por aí, sim. Não posso dar um passo sem que venha para impedir-me. Tenho que tirá-lo do caminho. Mas... Como? Não faço a menor ideia de quem seja. Observei parte de seu modo de luta, bem como seus equipamentos. No entanto... Não há nada mais.

— Sabemos que ele é um mercenário. Pago para resolver situações complicadas. Pronto para sujar as mãos.

— E do tipo existem milhares por aí. Posso utilizar os computadores para fazer uma busca nos bancos de dados das agências de segurança nacionais e internacionais.

— Pode realmente fazer isso?

— Seria necessário tempo e conhecimentos dos quais não disponho. Isso sem sequer citar o fato de que invadir tais redes atrairia a todos aqui. Impossível para mim no momento fazer isto com cautela e precisão.

— Com a força-tarefa lá fora e o Assassino, acredito que tempo para ficar aqui e esperar a poeira baixar é algo que o senhor tem de sobra, Mestre Bruce.

— Não necessariamente. Falcone já compreendeu o que estou tentando fazer. Privando-o de seus aliados. Deixando-o fraco para um golpe final. Sendo assim vai manter por perto, e sob forte segurança, qualquer um que lhe seja de valor. Quanto mais tempo esperar, mais difícil será chegar até qualquer um deles.

— A busca nos computadores não pode ser feita solitariamente? Realmente requer sua atenção?

— Sim...

Momentos de silêncio se seguem após isto. Busco formular em minha mente as mais variadas formas de abordar a situação. Todavia, todas elas resultam em falha. Não havia como realizar isto solitariamente com sucesso.

— Patrão Bruce, o senhor tem o costume de fazer anotações sobre cada uma de suas noites de patrulha e investigações. Bem como gravar alguns áudios. Desde o menor dos assaltos, até o maior dos estratagemas. Recordo-me de um em especial que pode trazer alguma luz para a situação atual. – Alfred põe suas ideias em ação. Utilizando os computadores, vaga em meio a minhas anotações em busca do que falara. Passado certo tempo, encontra o que queria.

Um registro sobre a noite na qual invadi os servidores do D.P.G.C. e fizera a conexão de seus sistemas com os da Caverna, ampliando assim o banco de dados que já possuía de três meses de observação e investigação como Batman.

— A noite em que reencontrei Edward Nigma... – deixo escapar em voz alta.

— O antigo empregado das Empresas Wayne. Que as deixara, pois acreditava que poderia fazer mais pela cidade atuando no Departamento de Polícia. – Pennyworth fez questão de recordar-me.

— Ele disse que caso precisasse de ajuda, poderia contar com ele.

— Pode ser sua solução.

— Não é algo que me agrada. Pedir ajuda a ele seria envolvê-lo em tudo isto. Pôr sua vida em risco. Caso o associem a mim, podem mata-lo... Contudo, ele é o único que conheço que seria capaz de invadir as agências de segurança e descobrir as informações que precisamos.

— Lucius é outro alguém que tenho certeza de que seria capaz. – meu mordomo traz à tona a lembrança do diretor da divisão de ciências das Empresas Wayne. Este ajudara-me a esconder meus rastros enquanto treinava no exterior.

— Sim. Seria. Mas teria de fazê-lo das próprias Empresas. E com meu Tio lá e associado à máfia, seria arriscado demais. Não desejo pô-lo nesta situação. – descarto a ideia retornando a divagação.

— Algum dos dois tem de fazê-lo, já que o senhor não pode.

— Não lhe incomoda o fato de estar pondo mais alguém em risco?

— Se o senhor estiver um pouco mais seguro com isto... Posso relevar.

A resposta soara com um peso muito maior do que poderia esperar. Ao longo dos anos Alfred sacrificara demais para manter-me em um bom e seguro caminho. Não havia demonstrado gratidão o suficiente. Permanecia a trilhar a mesma estrada em direção ao caos.

Com um profundo suspiro, tomo minha decisão.

— Irei até Nigma. Após descobrir com quem lidamos, não poderei ficar por perto para protegê-lo de quaisquer possíveis ataques, mas sei de alguém que pode.

...

James Worthington Gordon saca de seu sobretudo um cigarro e isqueiro. Com calma o acende e dá a primeira tragada. É noite. E do terraço do prédio sede do D.P.G.C., é possível observar o céu limpo, no qual algumas estrelas caprichosamente brilham. A fumaça dos bueiros, o som do trânsito logo abaixo, bem como a sirene de viaturas e ambulâncias, são elementos que compõem uma noite típica em Gotham. Devia ser isto que o Sargento buscava indo ali para fumar.

Como de costume, utilizava um sobretudo escuro por sobre um terno. Seu colete à prova de balas permanecia visível. Bem como as armas encaixadas nos coldres tanto na altura do peito, quanto na cintura. O cabelo ruivo, que no evento de caridade encontrava-se arrumado, retornara a permanecer bagunçado. Assim como a barba que insistia em conservar. Ou não se importava em ter.

Após o incidente nos túneis, imaginava que Gordon compreendia que a verdadeira ameaça, não se trajava de morcego. Pelo menos, fora isso que havia sido deixado a entender. Mesmo assim, busco abordá-lo com cautela. E pronto para uma fuga veloz caso não bem recebido. Permaneço na amurada do telhado. Logo, evoco a atenção do homem.

— Fumar é um ato prejudicial à saúde. – digo alto o suficiente para que apenas ele ouvisse. Embora sozinho no telhado, não assumiria riscos desnecessários.

Em um salto de susto, James engasga-se com a fumaça que expelia. Após um breve ataque de tosse, formula uma frase.

— E chegar de fininho nas pessoas também.

— Não imaginei que seria prudente abordá-lo de outra forma. Mesmo após o incidente nos esgotos. – salto da amurada firmando os pés no telhado. Permaneço longe das luzes.

— Imaginou certo. Não importa o que aconteceu lá... Não somos amigos. – Gordon lança o cigarro ao chão, em seguida pisando-o para apagar. Por alguns segundos, nenhum dos dois fala. Tudo o que se tem para ouvir é o som das ruas. Até que James se pronuncia.

— Aliás, obrigado por ter me salvado. Do meu próprio esquadrão... Depois daquilo, tive uma boa conversa com eles. Espero não me tornar alvo de novo. Mesmo com autoridade, o único a quem realmente respondem é o Loeb. Aquele filho da mãe!

— Falou com ele?

— Sim. Mas o desgraçado é intocável. Se precisar vai fazer a mesma coisa de novo e de novo. Até obter o que quer... Sua cabeça em uma bandeja. E como duvido que vá conseguir, vou manter a guarda alta até que alguma coisa aconteça.

Gordon suspira.

— E como anda com os ferimentos?

— Não são nada. – respondo.

— É. Acho que para você não são. Bem, duvido que tenha vindo aqui só para conversar ou ouvir um pedido de agradecimento. O que quer?

— O Assassino. Atacou três policiais. E executou Boles. Devem querer justiça. – finalmente começo.

— Boles não era muito querido no Departamento. Briguento, beberrão. Costumava deixar os companheiros na mão. Mas o único que se sujeitava sem questionar a fazer o serviço sujo dos grandes. Isso se tivesse uma boa quantia de dinheiro envolvida. Ou uma bebida decente.  – James respira e por poucos segundos contempla a noite - Com gente como Falcone e Loeb por aí, não precisamos mesmo de outra ameaça nas ruas.

— Não me considera mais uma ameaça?

— Eu talvez não. Mas a grande maioria sim... Continue.

— Posso ajuda-lo a encontra-lo.

— Sabe quem é?

— Não. Mas sei como descobrir. É um mercenário. Altamente habilidoso. Tal nível de habilidade não deve passar despercebido pelo alto escalão de segurança. Logo, deve haver registros sobre ele nos bancos de dado tanto de agências nacionais quanto internacionais de segurança.

— Quer invadir um desses locais?

— Não fisicamente. Mas remotamente. E não apenas um, mas todos.

— Consegue fazer isso?

— Iria requerer mais tempo e conhecimento do que possuo. Do que nós possuímos. No entanto, tem alguém nesse prédio que consegue. Edward Nigma.

— Nigma? Nigma foi contratado a dois anos. É o responsável pelos servidores. Com a mudança para um sistema de vigilância compartilhado para toda a cidade, uma pessoa que saiba operar bem as máquinas é essencial. Edward foi o melhor que encontramos em anos.

— Podemos utilizar seu potencial para descobrir quem é o Assassino. E mobilizar tanto a polícia quanto as agências contra ele. Deixá-lo sem saída.

Gordon acena com a cabeça. Digerindo o que estava propondo.

— Entendo o que quer fazer. Mas isso poria Nigma em risco. Além de não ser certeza de que saberemos que é esse cara. E onde me encaixo nisto? Se é que me encaixo nisto.

— Como disse, Edward estará em perigo. Preciso de alguém vigiando-o. Garantindo que nada ocorrerá com ele. Você, no caso.

— Hummm...

— É um tiro no escuro, sim. Todavia, na situação atual, é o melhor que se pode fazer.

James pensa a respeito por certo tempo. Até que toma sua decisão.

— Aceito fazer parte.

— Tome isto. – digo ao estender-lhe a mão ofertando um pequeno comunicador, um ponto, para que utilizasse em sua orelha – Poderá fazer contato comigo através disto. Encontre-me na sala dos servidores em cinco minutos. Convenceremos Nigma.

Dito isto, dirijo-me para a borda do terraço pronto para saltar e seguir para o sistema de esgoto através do qual chegaria até os servidores. Contudo, antes de fazê-lo, ouço o que Gordon tem a dizer.

— Deveria prendê-lo.

— Sim. Mas não vai. – retruco.

— Torço para não precisar.

...

— Mestre Bruce, perdoe-me por não ter dito nada antes. Mas após sua fuga pelos esgotos, Loeb destacou alguns policiais para montarem guarda nos acessos subterrâneos das principais construções da cidade. Isto inclui o D.P.G.C. Logo, o senhor deve esperar companhia no caminho até lá. – Alfred soa ao comunicador assim que alcanço os esgotos.

— Está tudo bem Penny-Um. Obrigado. – retruco sacando de meu cinto um bastão luminoso e seguindo pelo caminho.

Não demora muito e ouço o que me faria ter certeza de que as informações de Alfred estavam corretas. Próximos à escada que levava aos servidores da Delegacia, posicionavam dois homens da lei. Utilizavam proteção semelhante a equipe da S.W.A.T. Armados com fuzis de precisão e óculos de visão noturna. Devia tomar o máximo de cuidado com minha abordagem.

— Olha, eu daria tudo para voltar para Blackgate agora e ser guarda por lá. Mesmo sendo um dos piores locais da cidade para isso, pelo menos era melhor que passar o dia inteiro na droga dos esgotos! Esse cheiro de cocô nunca mais vai sair de mim! – um dos policiais reclamava em alto e bom som para seu parceiro enquanto caminhava pela passarela logo abaixo.

— Cara, poderia ser pior. Nós nem ficamos em um lugar tão ruim assim. Sabe a prefeitura? Rapaz, você não vai quer saber como é debaixo daquele lugar. É podre demais! Tive que passar por lá uma vez com a equipe de bombeiros. Um garoto tinha se perdido. Não acreditaria no tamanho dos ratos e dos... – seu parceiro argumentava até que lancei uma bomba de gás sonífero próxima a ambos. O tempo de reação dos dois não fora veloz o suficiente para que escapassem da área de efeito.

“Tanta proteção e sequer utilizavam máscaras de gás.”, penso comigo mesmo.

Rumo para as escadas. Subindo através destas, deparo-me com um alçapão aberto. Deviam ter deixado desta forma para o caso de uma fuga rápida ser necessária. Ou puro desleixo. Ao entrar, ouço vozes.

— Jim! Que bom vê-lo! Veio para uma revanche no jogo de charadas ou simplesmente fazer uma visita? – a voz de Edward Nigma soa animada logo à frente. Mesmo sendo um cômodo circular de amplo espaço, a sala dos servidores não possuía muito para locomoção de um ser humano. Nigma estaria próximo com Gordon.

— Na verdade não, Ed. Preciso de um favor seu. Nós precisamos. – diz Gordon ao aproximar-se. Posso vê-lo ficar cara a cara com Nigma. Este lhe oferece um copo de café enquanto fala.

— Nós? – repete Edward confusamente.

— Nigma. – digo quando finalmente surjo no cômodo. O homem dá um salto de surpresa, derramando parte de seu café no chão ao fazê-lo.

Edward Nigma era magro. O cabelo castanho e bagunçado permanecia mal aparado indicando certo desleixo. Conservava olheiras abaixo dos olhos de cor homônima ao cabelo. Estes se escondiam por detrás de óculos. Trajava uma camisa formal branca abarrotada por debaixo de um suéter verde surrado. Calçava luvas sem dedo roxas. Calça jeans manchada de café e rasgada nos joelhos. Coturnos pretos.

— Santo Deus! É o Batman! – Edward exclama.

— Fale baixo! – Gordon pede.

— Ah, não se preocupe Jim. Aqui embaixo ninguém me escuta. Mas, como preferir... – Nigma responde sinalizando para cima com a mão antes de voltar-se para mim em tom mais baixo – Nem acredito que está aqui. É uma honra! Já é a segunda vez que nos encontramos! Estou tão animado! Mas... Por que está aqui? – o sujeito fala em uma velocidade inacreditável. A cafeína devia ter certa culpa nisto.

— O assassino de Frank Boles e Anthony Zucco. Precisamos de ajuda para encontra-lo e detê-lo. Mas não temos informações o suficiente para isso. Presumimos que registros sobre ele possam estar nos bancos de dados das principais agências de segurança do país. – explico.

— Só que estes lugares possuem uma segurança extremamente forte. E nenhum de vocês dois tem conhecimento ou tempo o suficiente para fazer isso sem ser rastreado e ainda obter as informações necessárias.

— Exato. – Gordon confirma.

— Ora, o que estamos esperando? Vamos lá! Temos um assassino para achar! – Nigma aceita facilmente. Como se de certa forma esperasse que alguém, em algum momento, fosse lhe pedir que fizesse isso.

— Nigma, espere. Fazer isso, mesmo que da forma correta, pode lhe pôr em uma situação de grande perigo. – advirto-o.

— Eu sei. Não é problema. – Edward responde com um largo sorriso.

— Permanecerei com você para o caso de qualquer... Problema. – James assegura.

Nigma acena com a cabeça e logo dá início a seu serviço. A velocidade com a qual executa a tarefa é de se impressionar. Não retira seus olhos em nenhum segundo da tela. Duvido que sequer piscasse. Velozmente passa por sistemas de segurança do F.B.I., A.N.S., C.I.A., INTERPOL e até mesmo A.R.G.U.S. – uma das principais agências de segurança do governo dos Estados Unidos, e uma das mais perigosas.

A cada uma delas coleta mais e mais informações. Vídeos, áudios, relatórios, fotos. Tudo o que poderia associar e reunir sobre o assassino. Finalmente montando um perfil.

— Slade Wilson. – pronuncio. Era ele. O assassino. Finalmente tínhamos sua identidade.

— Uau! Esse cara é... Uau! – Nigma pouco conseguia conter o quão impressionado estava.

Slade Joseph Wilson. 42 anos. Caucasiano. 1,92 m. 102 kg. Cabelos brancos, antes louros. Olhos azuis. Ex-militar. Alistou-se aos dezesseis anos. Considerado um dos melhores. Extensa lista de medalhas e honrarias. Dispensado com honras logo após acidente que o fizera perder o movimento das pernas.

Cobaia de um projeto que visava ampliar a resistência de soldados a soros da verdade. Este, por sua vez, não saiu como o esperado, levando Wilson ao coma. Todavia, após despertar, descobrira que agora era capaz de utilizar cerca de 90% de suas capacidades cerebrais. Bem como sua força, resistência e agilidade haviam sido ampliadas próximas ao nível de super-humanos.

Tentou retornar ao Exército, contudo, fora recusado, mesmo com sua condição tendo estabilizado. Entrou em depressão. Tornou-se um renomado caçador, o que lhe trouxe grande fortuna.

— Conhecido como Exterminador desde missão de resgate, não autorizada, de um de seus antigos superiores, e amigo, em um país da África. – Prossigo com a leitura das informações.

— Cego do olho direito. Causa de tal condição, desconhecida. Não há informações sobre a família. Se é que tem uma. – Gordon faz o mesmo.

— Bem, temos nosso homem. E nenhum alerta foi dado aos sistemas. Não que eu saiba, pelo menos. – Edward se regozija quanto ao que havia feito, pondo as mãos atrás da cabeça e relaxando na cadeira onde se encontrava – Qual o próximo passo?

— Atraia todos até aqui. – digo encaixando nos servidores um dispositivo que passava toda a informação recolhida para o mesmo e logo para os computadores na Caverna.

— O quê?! – Edward exclama voltando a uma posição de tensão na cadeira.

— Envie uma mensagem para todas as agências de segurança que invadiu. Alerte-os sobre a presença do Exterminador em Gotham. – voltando-me para Gordon digo – Avise ao D.P.G.C. Convoque o máximo de homens que puder para persegui-lo. Não tire os olhos de Nigma em nenhum momento. Permaneça com o comunicador. Vou atrair o Exterminador para fora.

Retirando o dispositivo dos servidores e seguindo para o alçapão ouço Edward Nigma dizer:

— O que é que geralmente extermina, mas desta vez será exterminado?


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