Como Um Anjo escrita por Mito


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Não sei daonde surgiu essa idéia de fic, mas foi minha primeira One Shot.. espero que tenha ficado boa.



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Sempre me foi dito que sonhos não havia lugar nesse mundo. Algo cruel de ser dito, pois quando criança, nós vivemos disso. Ser um herói, um astronauta... Voar...

 

Mas ao crescermos, nos dizem para manter os pés no chão. Jogar fora suas fantasias, ter uma vida normal, sem fazer nada surpreendente. Dizem que você pode viver como preferir, mas seguindo o que a sociedade achar correto. É uma liberdade de escolha, mas limitada. Uma liberdade engaiolada.

 

Não que isso seja ruim ou (sempre) entediante. Os humanos têm uma incrível capacidade de adaptação, que lhes permite não só sobreviver à rotina como também passar a gostar dela. Não. O problema não é com a sociedade. É comigo.

 

Meu nome é Annie, e sempre fui do tipo sonhadora. Tenho 16 anos e já me machuquei muito seguindo meus sonhos. Não apenas fisicamente, claro, mas o mínimo requerido de alguém tão insistente e sonhador é que nunca pense em desistir. Certo, foi um péssimo exemplo, quando eu mesma já pensei nisso várias vezes. Mas apesar da vontade enorme, sempre terminei o que comecei.

 

Por exemplo, um dia encontrei um gato no topo de um poste. Sei lá como ele subiu, mas não conseguia descer. Consegui escalar aquele poste, como já fiz em muitas árvores e muros, e ao chegar lá, entendi na hora como ele ficou preso. Lá de cima o chão parecia muito distante. Tentei descer com o gato dentro de minha camisa, com alguma dificuldade, pois ele parecia não querer abandonar seu poste. Por sorte eu usava calças Jeans, pois uma pequena aglomeração se formou lá embaixo. Diziam que eu iria cair, mas (e me perdoem pelo palavreado) porra, do que adianta falar isso AGORA? Já estava na metade do caminho. Tem gente que mais ajuda do que atrapalha mesmo.

 

De qualquer modo, quando estava a quatro metros do chão, um pássaro nos sobrevoou e assustou o felino. Ele me arranhou no peito com força o suficiente para tirar sangue. Involuntariamente, apertei o local machucado com uma das mãos. Me lembro de ter acordado no hospital com o braço que pressionava o ferimento, quebrado. Fiquei sabendo mais tarde que o gato estava bem, e isso me deu uma satisfação tão grande que quase nem ouvi meus pais me dando bronca. Eu havia conseguido, tinha feito o que nenhuma outra pessoa havia tentado por achar que era impossível.

 

Me pego pensando nisso como se fizesse séculos, mas na verdade eu tinha 14 anos na época. Nesse tempo que se seguiu, realizei mais sonhos, quase como se isso fosse minha razão de viver. Talvez fosse. Desafiar o impossível me fazia sentir viva de modo como nenhuma outra coisa fazia.  Estou perseguindo agora meu último sonho. Digo último, porque após este, todos os outros perderão o brilho. Esse seria o “Um Sonho”, assim como o “Um Anel”. Existem mais deles, mas só esse importa: O céu.

 

Quem nunca sonhou em voar é um humano vazio. Na verdade, arrisco que tal pessoa não existe. Esse sonho existe desde que o homem olhou para o céu pela primeira vez. Com ou sem asas, cruzar os céus em altas velocidades sem uso de intermediários é quase como uma vontade universal.

 

Eu vivi a minha vida inteira realizando sonhos pequenos, apenas esperando esse momento. Pesquisei relatos de gente que tentou o mesmo, mas os únicos que encontrei foram os que fracassaram em suas tentativas. Isso me abriu duas possibilidades:

1 – Impossível

2 – Por algum motivo, conseguiram, mas não puderam ou quiseram falar sobre.

 

O impossível não é impossível, já provei isso a mim mesmo, portanto eu desconsidero a primeira hipótese. Resta-me apenas a segunda, e não paro por ai. Com mais pesquisa, descobri que a palavra “voar” é muito associada à “liberdade”. Lembram-se da “Liberdade engaiolada”?  Talvez voar seja a chave da gaiola. Parece meio viajado, mas faz completo sentido para mim, e isso é o que importa.

 

Por isso estou aqui, pronto para aprender a voar. As pessoas que passam por essa ponte me olham torto, alguns até param o carro para assistir. Meia dúzia tentam me convencer a não saltar, mas eles não entendem. Ninguém entende. Talvez nem mesmo eu entenda, mas agora que estou a (literalmente) um passo do meu sonho, não posso ter dúvidas.

 

Olhando daqui de cima, me lembro do poste. Claro, isso deve dar uns 10 dele, para mais, mas o sentimento é o mesmo. Fico pensando que forma meu sonho irá tomar. Eu particularmente amo asas de anjos, mas voar com as asas castanhas de um falcão também seria incrível. Nunca havia pensado nisso, mas talvez eu goste mais se for surpresa.

 

Dizem que o primeiro passo é o mais difícil. Besteira. O ultimo passo é a transição entre todo o esforço gasto no seu sonho e sua realização. A ilusão de ter realizado um grande sonho é amarga depois de um tempo, pois as pessoas param de correr atrás de outros. Por isso, sabendo ou não, o ultimo passo é o pior. É a ponte entre a felicidade da realização do sonho e a tristeza pelo fim dele.

 

Parece que estou aqui a horas, mas na verdade foram poucos minutos. Não há necessidade de enrolar mais... Hora de cruzar a ponte.

 

A ultima coisa que ouvi foram os gemidos e gritos dos transeuntes. Após isso, apenas o vento, a liberdade... O braço que eu havia quebrado latejava um pouco, como se ele se lembrasse do incidente do poste. Mas era uma dor ignorável diante daquele grande momento. Sentia como se estivesse voando, tão embora soubesse que estivesse indo em direção ao duro chão.

 

Sentia medo, frio, meu corpo tremia, mas ao mesmo tempo, estava excitada. Conseguia ver o chão cada vez mais perto, mas ao mesmo tempo, sentia como se o tempo tivesse congelado. Eu estava fora do meu corpo, e olhava para mim mesma como se fosse um mero espectador. Cheguei até mesmo a pensar “mas que menina idiota” até lembrar de que era esse tipo de pensamento que engaiolava os adultos.

 

Fechei os olhos.

 

A vida não passa diante de seus olhos quando você vai morrer. Não inteira. Mas os bons momentos aparecem como em um cinema antigo, em preto e branco e sem som. O ultimo momento em que assisti foi o pulo da ponte. Mas agora eu não via mais o chão. Não...

 

Eu via asas brancas. Não estava mais naquela cidade, mas tampouco sabia onde estava. Apenas sabia que eu deveria continuar a subir, e subir. Sempre subindo, até onde minhas asas agüentassem.

 

E como um anjo...

 

 

...Alcancei o céu.

 

 


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Notas finais do capítulo

O fim foi a parte mais difícil... Não sabia expressar o que queria dizer, e na verdade acho que nem cheguei perto do que eu tinha em mente. Mas mesmo assim, lendo de novo, acho que ruim não ficou. Só queria ter deixado mais intenso no fim, mas tenho dificuldades nesse gênero de fic xD.

Por favor, deixe um comentário, seja bom ou ruim. São eles que me fazem continuar escrevendo.



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