Poison escrita por Dama do Poente


Capítulo 1
It's You


Notas iniciais do capítulo

Eu achei essa história no meio de vários arquivos, e a reli até conseguir terminá-la. Sequer a revisei, estou postando impulsivamente aqui, e espero que gostem dela mesmo assim: afinal, foi feita de coração!



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Especial era o adjetivo mais utilizado para me descrever. Eu era especial por ser um bom filho, um bom amigo, um bom estudante, mas a verdade é que eu sempre fui e seria especialmente estúpido. Todos os meus professores, e os grandes artistas, sempre defenderam que a arte nunca vem da felicidade, e eu, como o grande estúpido que sou, ignorei todos os avisos e acabei me vendo preso numa desventura sem fim.

Eu nunca fui um santo, e isso sempre foi um fato e esteve em meu destino: a arte, por si só, é uma forma poética de se pecar e revelar todos os segredos da alma, coisa que eu fazia a cada pincelada dada em uma tela qualquer. Mas, meu pecado principal foi ter provado de seus lábios, que passaram a ser meu veneno favorito, do qual eu não conseguia encontrar um antídoto; eles eram doces como chocolates, porém cruéis como a trama da vida. Apaixonar-me foi um dos maiores erros que cometi em minha tenra juventude.

Meu segundo maior erro foi ter me apaixonado justamente por ela. E ter tentado negar os sentimentos que tomavam conta de mim. Ela me dominou por completo, substituindo a arte, que sempre fora a única paixão de minha vida. A pintura foi meu primeiro amor, porém Thalia seria a responsável por minha loucura: se Van Gogh arrancou a própria orelha, eu queria ter o poder de voltar no tempo e arrancar meus próprios olhos, apenas para não poder vê-la e para não cair em seus encantos.

Seus olhos azuis eram a prisão em chamas onde minha sanidade agora repousava, e eu sabia que sempre que falava dela a tendência era cair no melodrama, mas não havia nada que eu pudesse fazer para evitar: eu era um artista, e minha sensibilidade apenas vinha à tona quando pensava nela.

― Quantas telas você já jogou fora hoje? ― a voz de meu melhor amigo me tira de meus devaneios, como costumeiramente acontecia em meus dias de tormenta.

― Dezenas... Talvez centenas. ― respondi Will, afastando-me da tela que acabara de rasgar, deixando o pincel e a aquarela de lado enquanto o seguia para fora do quartinho que usava como estúdio. ― Por que não consigo terminar isso?

― Pressão? Estresse? Sabemos bem que você é péssimo com prazos, assim como sabemos que meu único dom artístico é assobiar em oitavas que nem mesmo meu pai conhece. ― ele dá de ombros, seguindo para a cozinha.

Permiti-me relaxar por um segundo, tentando me lembrar dos meus pontos de sanidade, que poderiam muito bem ser resumidos naquele único apartamento de três quartos, que eu dividia com meus melhores amigos desde o fim do ensino médio. Will e Reyna eram os únicos que ainda captavam minha atenção no dia-a-dia. Eu estaria perdido se não tivesse Reyna para reclamar da bagunça, e Will para reivindicar um quarto só para si, já que eu passara a ocupar o dele desde que transformara o meu em um estúdio.

― O problema dele é tentar pintar algo irreal... ― Reyna se intromete, encarando-me com sua expressão mais soberba possível. ― Representá-la como um anjo caído não faz o menor sentido.

― Não faço ideia do que você está falando. ― murmuro, tentando evitar seus olhos castanhos.  

Eles seriam capazes de revirar minha alma e arrancar cada segredinho sórdido que eu pudesse ter.

― Nossa, estão sentindo? ― Will grita de repente, assustando-me.

― Sentindo o que? ― Reyna e eu perguntamos confusos.

― O cheiro da mentira! ― ele explica, e em seus olhos claros há apenas o exaspero ― Você não tem vergonha, não? Somos seus melhores amigos, e você insiste em não nos contar as coisas? Olha, sinceramente, a vontade que tenho é de bater em você até que assuma que gosta daquela garota e que essa frigideira tenha sua cara estampada no fundo.

Não pude evitar abrir um sorriso de escárnio diante daquela declaração. Quisera eu que uma surra me ajudasse, que me fizesse enfim ter coragem para assumir-me diante de toda a situação. A covardia diante de tudo era o meu terceiro maior erro, e eu sabia que jamais pararia por aí.

Meu problema não era assumir que eu gostava de Thalia: todos com bons olhos já sabiam disso, estava estampado em mim, e ficava claro toda vez que estávamos juntos. Meu problema era saber como demonstrar... Ela era digna de todas as grandiosidades, mas eu não me sentia capaz de lhe dar isso, uma vez que todas as minhas tentativas falharam miseravelmente.

Ignorei o fato de que Will estava prestes a cozinhar o jantar e resolvi sair de casa, antes que o restante de minha sanidade me abandonasse de vez. Caminhei sem rumo pelas ruas da cidade, sem sequer observar os que passavam por mim; estava entorpecido por meus próprios sentimentos e pela neve que caía ao meu redor. Parte de mim não tinha certeza do caminho que tomava, porém a parte consciente sabia exatamente o que estava fazendo, e quando dei por mim, estava frente a frente com minha sina.

― O que faz aqui? ― um sorriso brincava em seus lábios rosados quando cheguei à cafeteria em que Thalia trabalhava.

Ela estava parada atrás do balcão, na frente da placa com o slogan da cafeteria ― A vida é curta. Esteja acordado para vivê-la ―, conversando com Annabeth, sua melhor amiga e companheira de trabalho. Era comum eu acabar me intrometendo na conversa, ora para perturbar Thalia, ora para discutir teorias diversas com Annabeth, contudo, dessa vez, conversar não se passava em meus planos.

Não respondi Thalia, não com palavras pelo menos, apenas agi. Inclinei-me sobre o balcão, e delicadamente puxei seu rosto de encontro ao meu, deixando-me ser tragado e consumido por meu veneno favorito: seu beijo doce e amargo. Todas as tormentas que me afligiam passaram no momento em que seus lábios macios deslizaram sobre os meus ásperos, mordicados de tanto pensar nela e falhar ao tentar representá-la. Mas estando com ela, eram seus lábios que eu mordiscava, com delicadeza, tentando sentir tudo o que aquele momento poderia representar.

― Eu achei que você era meu maior pecado, um anjo que caiu nos jardins da minha vida, mas a verdade é que você é a luz que faltava no meio do caos em que eu vivo! ― sussurrei, sabendo que mais uma vez exagerava em minha forma de falar, porém sem ligar para isso: era através da arte que eu melhor me expressava, fosse pintando, fosse falando. ― Eu pensei em mil formas de lhe mostrar o quanto te amo, mas a verdade é que elas jamais se comparariam a isso.

― Você estava procurando uma forma de me dizer o que eu já sabia, ragazzo? ― Thalia me mostra então seu melhor sorriso irônico, como se ela soubesse de muito mais coisas do que eu... O que, geralmente, era verdade. ― Quando você estava aprendendo sobre o amor, eu já sabia uma coisinha ou duas, amore! Estava curiosa para saber quando você perceberia...

― Vai começar a dizer que isso é porque eu sou novo demais, não é? ― pergunto, já me arrependendo de tanta pompa e circunstância.

Thalia podia ser apenas 3 anos mais velha que eu, mas ainda assim era mais decidida do que qualquer pessoa na faixa dos vinte e poucos anos. Eu ainda tentava entender sobre as tramas da vida, enquanto ela já estava ali, ditando regras, e esperando que todos ao seu redor notassem o que ela já estava vendo.

― Um pouquinho, sim, mas a verdade é que nada acontece da mesma forma para todos, Nico... E eu não estaria com você se não fosse para acontecer coisas como essa declaração ― seu sorriso se torna doce enquanto ela mira seus olhos muito claros nos meus. ―, embora precise dizer que não era necessária: jamais duvidei de seus sentimentos por mim, mesmo quando você insistia em me retratar de formas inusitadas.

― Como sabe sobre os quadros? ― perguntei, embora já desconfiasse da resposta.

― Will estava preocupado com sua saúde mental! ― ela responde, e eu só sinto minhas bochechas esquentarem.

Era incrível como ali, em meio a um momento deveras constrangedor, eu me sentia extremamente bem, apenas por tê-la em meus braços. Meu coração batia de forma regular, meus pensamentos fluíam normalmente, e eu já sentia a pressão em meu corpo relaxar. Era como ser um viciado, e ela minha droga favorita.

― Eu deveria pedir desculpas? ― pergunto em dúvida.

― Se me deixar ver essas artes, eu posso te perdoar... ― ela propõe a barganha, beijando-me levemente na bochecha ― Mas agora, eu preciso atender a mesa 13.

Olhei na direção da tal mesa, e surpreendi-me ao vê-la decorada demais para um simples café. Os tons de vermelho ali nada tinham a ver com as cores do estabelecimento, e só então reparei que a roupa de Thalia tampouco tinha a ver com o uniforme simples que costumava usar ali.

― Qual o seu primeiro pedido, senhor Di Angelo? ― ela me pergunta divertida, puxando uma cadeira para que eu me sentasse.

E dessa vez eu não cometeria erros, não quando todas as chances estavam bem ali na minha frente. Dizem que, quando a vida te dá um limão, se deve fazer uma limonada; naquele momento, a vida me dava uma oportunidade indispensável, e eu não hesitaria mais.

― Quer namorar comigo, Thalia Grace?!


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Notas finais do capítulo

Não me matem pelo final... Vocês já sabem qual é a resposta dela! Mas e a de vocês, o que me dizem sobre a história? Gostaram, odiaram? Digam suas opiniões nos comentários, e eu os responderei com todo amor!!
Muito obrigada por lerem!!
Beijoos e até uma próxima!



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