Correntes escrita por TopsyKreets


Capítulo 1
Capítulo Único




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Correntes

 

 

Corria o mais rápido que podia, mas nada adiantou. A corda alcançou o pescoço de Star muito rápido.

 

Segundos depois, novas cordas surgiram do emaranhado de terra debaixo dos pés.

Agarrando – lhe pela cintura e pernas, Star estava agora atrelada ao chão, de joelhos.

Empoçada em suor e exausta, a sujeira de suas roupas se misturavam com o sangue que escorria do canto esquerdo do lábio inferior.

 

...

 

Pensara que a mente de Marco Diaz seria divertida.

 

...

 

Estava tão errada.

 

— E eu achando que eu era perturbada – Disse, em tom de escárnio, ao seu algoz.

 

A pessoa que possuía a outra ponta da corda que apertava o pescoço de Star vinha logo atrás.

Coberta de um manto negro, escondia o rosto o tempo todo.

A voz lhe soava familiar, ainda que distorcida.

Dando a volta, ele parou na frente da princesa, tombando a jovem com o rosto na terra úmida.

Ela podia sentir a lama avançando, garganta a baixo. Inflando os pulmões.

 

Uma forma lenta e dolorosa de morrer.

 

E a presença parecia na frente de Star parecia estar degustando a cena, o tempo inteiro.

 

— Pronta para desistir agora? É só pedir.

 

Quando morava em Mewni, já havia ouvido por diversas vezes na lenda dos Ceifadores.

Carniceiros de almas, que arrastavam você para o outro plano.

De boa vontade ou não.

 

Nunca imaginara encontrar um ali. Dentro da mente de Marco.

Isso não era bom sinal.

Significava que a maldição que mantinha Marco preso no próprio subconsciente estava vencendo. Ele estava morrendo.

 

E arrastando Star junto.

 

— Você bem que gostaria, não é?

 

O Ceifador parecia intrigado com a resposta.

Não um xingamento, ou sequer uma súplica esbaforida.

 

 

Depois de tudo, um comentário sacana?

 

Sério?

 

O quão confiante ela é?

 

 

Ele deu de ombros, largando a corda.

 

— Quer saber, princesa? Já deu. Acabamos.

Estalou os dedos.

 

 

No momento seguinte, o chão ao redor de Star tornara – se uma fenda imensa.

Uma poça sem fundo de águas negras engoliu a jovem. Tentou a todo custo se soltar, mas as cordas nas pernas e cintura a arrastaram para o fundo.

Minutos depois, Star sumira.

O Ceifador se manteve ali, parado, na frente da fenda.

Queria sair da floresta escura e gélida, e voltar para torturar o prisioneiro. Mas tinha que ter certeza absoluta que ela não voltaria mais.

 

 

....

 

 

Minutos se passaram.

 

Quando finalmente desistiu, deu – se de costas, só para se surpreender mais uma vez com a teimosia exacerbada de Star Buterfly, que saíra de dentro da poça.

Ela se levantou com dificuldades. Encharcada, com algas presas às botas.

 

— Boa tentativa, grandão. Mas não pode me matar. Não estamos na minha mente, estamos?

— Posso te torturar a noite toda.

— Eu estou com a agenda livre.

 

A criatura lançou um último ataque. Uma muralha de fogo azul separava os dois, cortando a floresta ao meio.

Star analisou por um momento. Em seguida, cruzou a barreira, saindo intacta do outro lado.

 

— Minha mente torna isso real. Mas eu já saquei tudo. Não pode mais me machucar.

 

Ela parou em frente do espectro. Com um sorriso no rosto, o cansaço desaparecera.

 

— E então, vai me levar a ele ou não?

 

Ele deu de ombros.

 

— Tudo bem. Você venceu, anãzinha. Me siga.

 

Puxando um velho lampião por detrás do hábito, ele tomou a frente.

 

Ela seguia logo atrás, visivelmente incomodada pelo comentário da altura.

 

Eu tenho altura mediana, palhaço— pensava.

 

 

....

 

 

A floresta chegara ao fim.

 

Uma estrada reta e estreita, pavimentada de pedras, revelava o local do cativeiro.

Uma cabana, isolada de tudo e todos.

Star não esperou o que o Ceifador tinha a dizer. Cruzou o caminho e tomou a liderança. Atravessou a porta aos prantos.

A cabana estava quase que totalmente vazia. Velha, o tempo cobrara o preço. A madeira estava por cair aos pedaços. A tinta, descamava das paredes.

Não havia muitos móveis, apenas uma cadeira tomava conta do espaço, acompanhada de uma velha geladeira, trancada com cadeado, ao fundo.

Marco estava sentado. Sem casaco, sua camisa estava dilacerada. Cortes por todo o corpo. O joelho direito estava quebrado.

Duas costelas estavam trincadas. Cada respiração levava a uma nova onda de dor dilacerante.

 

Sangue e suor pingavam no assoalho frio.

 

— Marco! MARCO!

 

Star tentava acordar o rapaz, em vão. Passava-lhe a mão por sobre o rosto.

 

Nada. Ele estava começando a ficar gelado.

— Por favor Marco.... Responde.

 

Ela não aguentara mais. Caiu de joelhos, com os braços por sobre as coxas de Marco.

 

Não pode ser. Não pode ser tarde demais.

 

— Você não pode salva – lo. Não estamos na sua mente, estamos?

 

A confiança na fala do ceifador refletia em seu sorriso. Ele revelou a face.

 

Já não era tão mais alto, como na floresta. Agora, tinha a mesma estatura que Star.

O rosto era familiar. Tinha que ser, obviamente.

O sorriso confiante vinha de um segundo Marco Diaz. Ali parado, atrás da princesa.

 

 

— Você.... – Disse Star, em meio às lágrimas, ainda de joelhos – .... Não é um Ceifador...

— Nunca disse que era.

 

 O segundo Marco riu deliberadamente, em meio ao desespero da adolescente.

 

— Sou as inseguranças dele. Ou algo assim. E como você pode ver, acho que sou eu que dou as ordens aqui. E sabe por quê?

 

— Eu.... Não sou... Forte... o bastante...

 

O primeiro Marco, o verdadeiro Marco Diaz, começara a balbuciar.

 

Star se levantou e chegou mais perto para ouvir.

— Sinto muito... Star. Não posso mais... Desculpa....

 

Ela agarrou o amigo.

Abraçada, rezava a Deus para que pudessem trocar de lugar. Para que ela pudesse morrer no lugar dele.

Não sabia mais o que fazer.

 

—  Pode sim. Você é perfeito. Você...

Ela tentou conter as lágrimas, num esforço inútil. Mesmo assim, continuou.

— Sou eu que te trago problemas. Você fez tudo por mim. Não desiste agora, por favor...

— Eu não posso.... Salvar o mundo com você.... Não dá mais...

 

Segurou o rosto do rapaz o mais firme que conseguia, com as mãos trêmulas. Enxugou com a manga as lágrimas dele.

— Não precisa. Eu já estou salvando o mundo.

Estou salvando você.

 

 

Você é o meu mundo.

 

 

O beijou tão merecido, misturou as lágrimas dele nas dela.

— Eu nunca vou te deixar aqui sozinho. Se você morrer, eu morro junto.

 

O segundo Marco começou a tossir, logo em seguida.

Star olhou para trás e o viu balançar, como se estivesse zonzo.

 

 

Ela entendeu a ligação.

 

 

Mais uma vez, virou para o verdadeiro Diaz e o beijou.

 

De novo.

E de novo.

E mais uma vez.

 

 

A cada beijo, o espectro perdia energia. Agora mal ficava de pé. Entretanto, se recusara a cair.

 

Então, você quer jogar, não é?

 

Num relance, Star se sentou no colo de Marco.

Dor, agonia, caos, nada importava.

Passou os braços pelas costas dele e o beijou o mais apaixonadamente que podia.

Viu, em seguida, o segundo Marco cair de joelhos. Ele ainda tentou balbuciar alguma coisa, mas não conseguiu completar.

Caiu, e no instante seguinte, sumiu. Apenas o manto restara no chão.

 

Star se levantou, deixando que Marco descansasse por alguns segundos. Teriam todo o tempo do mundo, assim que saíssem dali.

Ela verificou o manto, encontrando uma chave velha, enferrujada.

Testou no cadeado da geladeira, e o abriu.

Quando olhou dentro, não havia congelados nem nada do tipo.

Era uma fenda no espaço. Com direito a uma luz branca intensa, mas forte que o sol.

 

 

A saída é a geladeira. E depois eu sou a perturbada.

 

 

Ela ajudou Marco a ficar de pé, e juntos, foram ao encontro da saída.

Assim que começaram a atravessar, rumando de volta a realidade, ouviu uma voz.

Novamente, a voz grave, distorcida, se fazia presente.

 

— .... Você acha que venceu? Pode achar que ganhou a batalha, Buterfly, mas eu sempre estarei aqui, dentro dele. Não pode comigo.... Nunca poderá...

 

— Posso sim. Vou acabar com você. Mas vai ser no meu mundo. Minhas regras.

 

 

Atravessaram de vez o portal e sumiram em meio a luz.

 

 

....

 

 

Marco acordara do sonho.

Ou pesadelo?

 

 

Não lembrava mais. Estava deitado a tanto tempo no sofá que não se lembrara de quando apagara tão profundamente.

Estava coberto com algo quente. Não uma manta, ou cobertor. O corpo de Star aquecia o dele.

Ela dormia profundamente, com um sorriso no rosto.

 

 

— Star? Está tudo bem?

 

Ela abriu apenas uma pequena fresta nos olhos. Segurou a cabeça de Marco com as duas mãos e roubou um beijo do rapaz.

 

— Está tudo perfeito. Mundo em paz. Só mais cinco minutos, por favor.

 

 

Aconchegando a cabeça no peito dele, cochilou mais uma vez.

Ainda surpreso com o beijo, Marco acho melhor deixar que ela descansasse quieta, e preferiu não se mexer.

Nem mesmo para perguntar sobre a coleira que ele estava usando. Seria a primeira coisa que faria quando ela acordasse.

Dormiram os dois, embalados nos sonhos um do outro.

 

 

 

...

 

 

 

Marco Diaz

Em caso de perda ou roubo, contactar a namorada, Star Buterfly.

 

 


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