Candles

“Apague as velas”, ele disse na noite do dia vinte e oito de março.

Houve um silêncio mútuo, apenas minha respiração chocando-se contra a dele, pintando nosso hálito quente na atmosfera ao nosso redor, densa como se estivéssemos dentro de uma bolha.

Não havia mundo do lado de fora, não havia ninguém além de nós. As árvores aplaudiam nosso espetáculo, as estrelas eram milhões de olhos contemplando o mais sublime amor entre um homem e uma mulher.

Sasuke havia chego à vila sem avisar, na tarde de um domingo quente e seco. Reencontrá-lo depois de três anos era como contemplar um oásis, fértil, prazeroso. Ele já era um homem, passava de um metro e oitenta, ombros mais largos, o corpo mais viril.

“Estou em casa”. Foi tudo o que Sasuke precisou dizer para que eu entendesse que seu lar seria comigo dali em diante. Finalmente, a minha longa espera tinha acabado.

Os dias passavam e tudo parecia um sonho. Quantos anos imaginei o primeiro encontro, o primeiro toque, o primeiro beijo? Chovia em Konoha, mas meu coração estava em erupção, um vulcão desperto repentinamente. Eu sabia que Sasuke ainda tinha sua pureza, uma ingenuidade infantil em relação aos laços que concretizam o amor de um homem para uma mulher.

Seu quarto estava quieto, nossas mentes barulhentas. Um milhão de batimentos cardíacos por minuto, por um beijo. Eu segurei sua mão e a guiei para o meu rosto, acariciei-me com os seus dedos, mostrei-lhe a minha tez, a quentura da minha pele em brasas, mostrei-lhe o tamanho das minhas expectativas quando levei a cálida mão à curva do meu pescoço, descendo aos poucos em sentido ao vale entre os meus seios.

— Não — repeliu-me.

— Por que? — Indaguei-o frustrada.       

— Não é certo. Não somos casados.

— Eu sou sua mulher desde que prometeu-me que voltaria — segurei seu rosto entre minhas duas mãos, admirando sua beleza como se fosse a primeira vez. Sasuke tinha sua pureza, física e de coração e pretendia conservá-la, mas eu não me importava, ele já tinha vinte anos — Você já é grandinho para ser tão tímido.

Ficando mais vermelho ainda, Sasuke delicadamente afastou-me dele, dizendo:

— É melhor voltar outra hora — declarou sério. Meu oásis desmanchou-se, uma miragem.

— C-claro — respondi apressadamente, saindo como um raio em direção à porta.

Chovia. Uma tempestade dançava lá fora uma música melancólica: eu havia sido rejeitada. Saindo da casa do Distrito Uchiha, banhei-me naquela ducha purificante, deixei a água misturar às minhas lágrimas e meu corpo sofrer com aquele choque térmico.

Eu só queria um beijo.

— Sakura — Sasuke gritou correndo atrás de mim. — Entre — Neguei. — Até a chuva passar, está muito forte.

— É melhor eu voltar outra hora — repeti suas palavras.

Antes que eu pudesse mover meus pés para seguir o caminho de casa, Sasuke puxou-me e abraçou-me. Envolveu-me em seus braços como se eu fosse um pacote. Seu coração era como o motor de um barco latejando nos meus ouvidos. Seu peito quente e rígido pelos músculos subia e descia quase sem pausas.

Sasuke guiou-me de volta, parando na varando. Em dado momento ele afrouxou o aperto ao meu redor, meu corpo lamentou a ausência do seu calor. Sasuke fitou meus olhos, eu o senti perscrutar na minha íris, na minha mente. Os pelos do meu corpo todo eriçaram-se, eu não sabia dizer se pelo frio da chuva ou do calor que Sasuke me causava. Sentia-me dubiamente congelada e em chamas.

A distância que antes ele tinha aumentado, vagarosamente, ele diminuiu.

— Sasuke...

Seu nome foi tudo o que consegui dizer tendo-o tão próximo a mim, vendo-o curvar-se e seu lábios chegarem mais perto dos meus, seus dedos gélidos e enrugados acariciarem minha bochecha e a outra mão encaixar-se atrás do meu pescoço. Seus lábios finos e avermelhados se entreabriram, suspiraram seu hálito fresco em meu rosto, e por fim, selaram os meus. De maneira singela, tímida, nos tocamos, nos trocamos.

Nosso primeiro beijo... À princípio, tímido, contido, atrapalhado. Tendo ambos sincronizados aqueles movimentos tão íntimos e distintos, eu senti que nos encaixávamos como as duas bandas de uma fruta, nos completávamos.

Eu tinha alcançado o meu oásis. Acabei com a minha sede em seus lábios, acabei com a minha angústia com o afago da sua mão entre os meus cabelos. Sasuke estava entregue, eu, sempre estive.

.

“Apague as velas”, ele disse.

Era necessário lembrar-me do nosso primeiro beijo durante a nossa primeira noite. Sasuke era imprevisível, isso era difícil de lidar, porém era um esforço que eu fazia de bom grado. Eu aceitava ser surpreendida, não saber o que esperar, não prever seu próximo passo, seu próximo movimento, seu próximo sonho...

— Eu quero uma filha enquanto sou jovem — sussurrou olhando-me nos olhos, enrolando mechas do meu cabelo no dedo — Quero mostrá-la as belezas do mundo que conheci em minha jornada.

Seu sonho era ter uma família comigo.

— Eu lhe darei essa criança. Ela irá amá-lo e admirá-lo como ninguém.

Sasuke sorriu, acariciou meu rosto, e disse:

— Apague as velas.

Soprei todas as que restavam ao redor da cama naquela choupana no meio do nada em país nenhum.

Olhos bem abertos, ambos em silêncio.

Eu poderia senti-lo até em meus ossos. Suas mãos percorreram meus membros, dos ombros à ponta dos dedos, as coxas, panturrilhas, pés... Fui explorada, mapeada e adorava na escuridão. A vidraça da janela embaçava como a minha visão a cada toque do Sasuke.

Sasuke beijou-me enquanto dava o nó definitivo em um laço que jamais poderia ser desatado. A entrega de uma pureza pueril que jamais poderia ser recuperada.

Não fui deflorada, fui aflorada, abri-me como um botão de flor prosperando. Foi a coisa mais bonita e sincera que eu tinha vivido, foi real, pois amor era intenso e mútuo.

As velas estavam apagadas

O laço estava amarrado.

Eu havia encontrado o meu oásis, com ele.