Memories escrita por Kirimi


Capítulo 3
Capítulo 2 - Draco


Notas iniciais do capítulo

Ficou enorme, eu sei. Mas eu amei muito escrever essa parte! *-*



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Depois que conversamos sobre o fato de Lucius me esconder que era um Comensal da Morte, nossa vida foi muito mais fácil. Aos poucos fomos retomando nossa vida de casado, e por fim, estávamos felizes novamente. Amber e Howie nos faziam visitas frequentes e descontraídas, bem como Bella e Rodolphus, que eram facilmente dispensáveis, uma vez que eles só apareciam para criticar minha vida e me cobrar por filhos. Quando eu rebatia a pergunta, Bella dizia que não seria uma boa mãe, e por isso ela e Rodolphus não tinham pretensão de aumentar a família.

Lucius estava se destacando não apenas no Ministério, mas como também no círculo íntimo do Lord das Trevas. Confesso que o segundo sucesso me assustava e muito: o Profeta Diário noticiava tortura, assassinato e os atribuía aos seguidores do Lord das Trevas. Quando Lucius saía para as tais reuniões, eu passava a noite em claro, desejando que meu marido estivesse longe dessas atrocidades.

Conforme o tempo foi passando, eu aprendi a esperar. Eu me tornei uma mulher paciente e independente. Eu ficava muito tempo sozinha, e muitas das vezes, tinha que tomar decisões pela casa sem sequer o conhecimento de Lucius. Evidentemente que tudo era noticiado por mim em pergaminhos e despachado diretamente para as mãos dele através das asas de nossa coruja mais veloz. Lucius aprendeu a confiar em mim e a delegar decisões de família e questões burocráticas a mim, ainda que assinadas por ele. A única coisa que me incomodava era ver a ascensão do Lord das Trevas e a crueldade com que realizava tais ações. Sempre que eu lia no jornal ou ouvia no rádio algo ruim relacionado aos Comensais da Morte, minha alma ficava em pedaços de pensar em Lucius envolvido em tudo isso, me deixava à beira de um ataque de nervos. Andie escreveu para mim, questionando e condenando os atos dos Comensais, mas eu não soube muito bem o que responder. Disse a ela que eu não tinha nada a ver com os seguidores e que eu não sabia, de fato, o que Lucius e eles faziam. Ela me disparou uma resposta dizendo que eu tinha que abandonar essa loucura enquanto era tempo e que ela e Teddy me ajudariam a recomeçar. A resposta a essas acusações selara nossa distância, já que eu disse a ela que Lucius era minha família e que eu não sairia do lado dele, mesmo que isso custasse minha vida.

No nosso quinto aniversário de casamento, Lucius e eu jantamos juntos e, como de costume, trocamos presentes. Eu dei a ele a última edição da “Legislação Mágica da Grã-Bretanha e Irlanda” e ele me deu um gato. Um presente inusitado, já que eu estava acostumada a ganhar mimos caros e que, muitas das vezes eu sabia que nunca usaria. Não pude esconder espanto, já que os únicos animais com que eu tinha contato eram as corujas e pavões que exigiam cuidado sim, mas não carinho. O filhote de gato persa branco de olhos azuis e focinho rosado me olhou com olhos curiosos e saltou para o meu colo:

— Veja só, Cissy! Ela gostou de você! – Ele disse exibindo um misto de alívio e satisfação. – Agora, essa menina precisa de um nome.

Lucius estava sorrindo. Há muito tempo eu não via um sorriso tão tolo e sincero em seu rosto, aparentemente ele ficara mais feliz com a gata do que eu. Sem ter coragem de quebrar esse momento, eu disse:

— Podemos chamá-la de Shiny? Os olhos dela me lembrar joias brilhantes. – Eu disse sorrindo e acariciando as orelhas da gatinha, que havia deitado nas minhas pernas.

— É um nome lindo, querida. – Ele se sentara no tapete, ao lado da poltrona que eu ocupava, para brincar com o bichinho. – Eu sei que é um presente diferente, Cissy... Mas também sei que você passa muito tempo sozinha aqui em casa. Shiny vai te fazer companhia e alegrar seus dias, quando eu demorar a voltar.

— Obrigada pela consideração, Lucius. Realmente agradeço.

— É o mínimo que posso fazer, depois de ter lhe feito chorar por tantas noites. E, principalmente por você esperar por mim, pacientemente.

— É claro que vou te esperar, querido. Eu te amo.

Ele se ergueu sobre um joelho e me deu um beijo no rosto.

— Eu também te amo, minha flor.

Ele se levantou e de trás da poltrona que ocupava, Lucius Tirou um cesto com uma almofada. Tocou com a varinha na frente da cama da gatinha e o nome dela ficou gravado numa caligrafia elegante. Shiny desceu de meu colo e cheirou o cesto todo e o rodeou inúmeras vezes. Lucius e eu ficamos como bobos fazendo plateia para o filhote que descobria sua casinha. Com certa dificuldade, a gatinha subiu no cesto deu duas voltas e dormiu.

— Ela é incrível, Lucius. – Eu sorri para ele – Obrigada por tê-la trazido.

Conforme meu marido previu, Shiny se tornou minha companheira. Lucius passava o máximo de tempo possível comigo e nos domingos ele não saía do meu lado, porém na maior parte do tempo, eu ficava em casa na companhia da gata e dos meus afazeres.

Na última visita de Howie e Amber, eles nos contaram entusiasmados que minha amiga estava grávida. Eu andava preocupada, já tinham quase três meses que minhas regras não vinham e estava começando a sentir mais fome que o normal. Pedi à Amber que fosse comigo ao St. Mungus para alguns testes, sem mencionarmos nada aos nossos maridos. Depois dos testes, fomos deixadas sozinhas:

— Cissy, se você realmente estiver grávida, vai ser maravilhoso! Vamos passar por isso juntas e... – Ela viu minha expressão amargurada – O que foi?

— Não sei se um bebê viria em boa hora, Amb... Estamos em guerra. Lucius trabalha diretamente para o Lord das Trevas e isso me assusta muito. O que vai acontecer conosco? – Lágrimas involuntárias escorreram dos meus olhos. – Além do mais, tenho me sentido muito cansada.

— Eu te entendo, Cissy. Não se esqueça que meu bebê tem cerca de setenta por cento de chance de herdar a maldição de sangue da família Greengrass. Mas não importa o que aconteça, estaremos sempre juntas, ok? – Ela passou o braço pelo meu ombro, num gesto protetor. – E cansaço no início da gestação é mais do que natural.

 A curandeira que me examinara voltou para sala com um pergaminho dobrado e lacrado:

— Parabéns, Senhora Malfoy. Os resultados são positivos. – Ela não sorria.

— Obrigada, mas... O que há de errado?

A curandeira respirou fundo e disse em tom profissional:

— Seu corpo está enfraquecendo à medida que o seu bebê cresce. Logo você se sentirá doente e indisposta. E o avanço da gestação pode só piorar sua condição.

Eu tentei responder, mas as palavras não me saíram da boca. Foi Amber quem finalmente perguntou:

— Ela e o bebê correm risco?

A curandeira assentiu:

— Pode ser que sua gestação não chegue até o fim. Seu bebê pode acabar por matá-la. – Eu estava estupefata com a explicação.

— Existe uma possibilidade, ainda que mínima, de ambos sobrevivermos?

— Existe sim. Mas para isso você terá que seguir um tratamento rigoroso e não se movimentar mais que o necessário a partir do quarto mês. Portanto, resolva tudo que precisa em duas semanas: a partir daí, será repouso praticamente absoluto, entendeu?

— Sim senhora. Por favor, mantenha a discrição que eu já havia pedido. Não quero que meu marido venha a saber da minha condição por terceiros.

— Como a senhora quiser – A bruxa médica me disse, enquanto me entregava um pergaminho com o início do meu tratamento.

Amber e eu nos despedimos e aparatamos, cada uma de nós para sua própria casa.

 Eu precisava contar sobre minha gravidez a Lucius. Num dos seus dias de folga, enquanto passeávamos pelos jardins que eu reprojetei e colori com as flores que eu tanto gostava, tirando o monocromático verde e infinito daquela mansão antiga e cinzenta que tinha aparência de mausoléu antigo. Lucius aprovou a mudança, mas disse que eu não deveria me esforçar de mais:

— Mas não é esforço nenhum! Eu gosto de mexer com o plantio de flores. – Eu protestei – Além do mais, vou ser cuidadosa para que você não me veja suja de terra.

Ele deu um sorriso educado, mas não sincero:

— A questão não é você coberta de terra e estrume de dragão – Disse ele com uma leve expressão de nojo no rosto – Mas é que não fica bem uma dama como você fazendo trabalhos pesados, além do mais, você anda pálida e parece enfraquecida.

— Querido – Eu sorri docemente para ele – Ninguém da alta sociedade vai me ver ajoelhada nos canteiros replantando begônias e narcisos. – Quando ele tentou argumentar, interrompi – Se alguns dos seus colegas perguntar, diga que foi Dobby a mando meu, quem refez o jardim.

Ele riu, mostrando que perdera essa batalha:

— Certo, querida. – Ele disse – Mas por favor, não se esforce demais, certo.

— Eu prometo que não vou fazer mais esforços que o necessário.

Quando entramos, fomos nos arrumar para o chá da tarde. Tudo já estava ajeitado na varanda, inclusive Shiny, que miou alegremente quando nos aproximamos, pedindo carinho enquanto rondava nossas pernas, ronronando alto. Depois que ela ganhou carícias de nós dois, entrou pela portinhola instalada na porta da frente:

— Desde quando temos uma porta de gato na porta da frente? – Lucius perguntou, analisando o trabalho que era tão bem-feito que ficava imperceptível se não houvesse movimento.

— Faz umas duas semanas que ela foi instalada. – Eu disse, despreocupada enquanto tomava um gole do meu chá.

— Excelente, querida. – Ele sorriu, enquanto adicionava leite à sua xícara – Você está finalmente transformando a mansão no seu lar, não está?

— Como assim, querido?

— Aos poucos você foi dando seus toques pessoais por toda a casa. – Ele parecia estranhamente satisfeito com o fato – Foi transformando a “minha casa” em “nossa casa” e isso me deixa muito feliz, já que você se mostrou bem relutante em aceitar essa casa como sua também. Você fez um trabalho extraordinário, Cissy.

— Eu sou feliz aqui Lucius. Muito mais que eu jamais imaginei. – Sorri, enquanto provava um dos biscoitinhos de nata, dispostos num pequeno prato de porcelana.

— O jardim ficou realmente encantador – Lucius sorriu enquanto tomava seu chá. Ele olhou em volta e maneou a cabeça em aprovação:

— Obrigada, querido – Eu respondi com um educado aceno de cabeça – Agora que ele está impecável como eu queria, posso passar as tarefas de manutenção ao Dobby, pois logo não poderei me esforçar... – Finalizei a frase tomando um gole de chá mais longo que o necessário.

— Como assim, Cissy? – Ele perguntou aturdido – Está doente? Sente-se fraca?

Eu baixei os olhos e respirei fundo:

— Eu estou grávida, Lucius...

Quando levantei os olhos, meu marido estava com uma expressão bestificada no rosto: Um sorriso bobo brotava de seus lábios finos, seu rosto comumente pálido, estava com um tom róseo estranho de euforia e os olhos cinzentos faiscavam, como diamantes expostos ao sol, perdendo a frieza característica.

— Isso é... Isso é maravilhoso, Cissy! – Ele se pôs em pé de um salto, me ergueu, me abraçou forte e rodopiou-me no ar, até que percebeu... – Você não está sorrindo... – Ele me pousou no chão, substituindo a expressão de êxtase por uma máscara de preocupação e dúvidas – O que houve, meu amor?

Eu me sentei novamente e esperei um momento para me recompor da tontura de ser girada no ar:

— A curandeira disse que meu corpo é muito frágil e que eu posso não conseguir manter o bebê até o tempo certo do nascimento – Eu baixei a cabeça, me sentindo culpada por essa situação.

Eu senti sua mão erguer meu rosto suavemente e, para meu espanto, ele ainda sorria:

— Vai dar tudo certo, querida – Ele disse com voz confiante – Vamos vencer isso juntos e nosso bebê será forte como um filhote de dragão.

Eu assenti, deixando lágrimas escorrer pelo meu rosto:

— Obrigada, meu amor – Respondi com voz embargada.

Ele pousou a mão sobre o meu ventre, ainda sem sinais da gestação, carinhosamente:

— Você vai repousar, então. – Ele disse, revestindo a ordem com gentileza – Como se deve e sem resistências, certo.

Não era uma pergunta, mas me fez sorrir e concordar assim mesmo.

Conforme as semanas iam passando, eu me sentia cada vez menos disposta. Quase não levantava da cama e sentia muitas dores. Amber me visitava com frequência, com a gestação dela própria passada da metade, linda, sorridente e sempre munida de mimos e conselhos. A Curandeira Moore também vinha, porém a cada dois dias e sempre dizendo a mesma coisa: o bebê está cada vez mais forte e eu, cada vez mais fraca. Ela ainda deixava, uma vez por semana, um relatório completo do meu estado à mando de Lucius, para que ele se mantivesse à par da situação. Ela também era responsável por cuidar de mim sempre que Lucius precisava passar a noite fora.

Shiny não saía do meu lado. A mascote só se ausentava para suas necessidades, já que sua caixinha de areia foi mantida no andar de baixo.

Conforme meu tempo foi chegando, eu sentia todas as minhas forças abandonarem meu corpo. Eu me alimentava sob a supervisão de Dobby, para que eu não fizesse a comida desaparecer com magia, uma vez que eu não sentia fome. Recebi a feliz notícia do nascimento do bebê de Howie e Amber: uma menina linda e forte (como dito na carta), chamada Daphne, em homenagem à avó paterna. Lucius e eu lemos a notícia durante o jantar que fizemos em nossa cama, cada qual com sua própria mesinha ao colo:

— Quero muito conhecê-la l, meu amor! – Eu disse, enquanto saboreava diminutos pedaços de truta.

— Depois que o nosso bebê nascer e você estiver totalmente recuperada, iremos visitar a princesa Greengrass, eu prometo - Terminou a frase tocando meu rosto de leve – E daremos à ela o presente que você quiser.

Sem pestanejar, disparei:

— Uma colher de prata. Lindamente embalada.

Lucius olhou-me sem entender minha decisão:

— Posso ao menos perguntar o porquê dessa decisão inusitada?

— Não é inusitada - Respondi, enquanto finalizada meu jantar – É uma tradição antiga que reza que a criança que ganha uma colher de prata sempre se alimentará bem e terá prosperidade.

O bebê chutou forte, em concordância, e eu verbalizei seu argumento:

— Viu querido, até ele concorda - dias e pousando a mão na esfera à minha frente. – Meu marido me mirou com sagacidade nos olhos:

— "Ele"? Quando foi que "O bebê" se tornou "ele"?

— Eu sei que é um menino, Lucius. Consigo sentir.

— Ora, mas se tem tanta certeza, temos que dar um nome a ele, não?

— Sim, claro – Eu disse sorrindo ­– Escolha bem o nome do nosso filho.

Lucius ponderou por um instante e então virou-se para mim:

— A família Black costuma dar nome de constelações e estrelas aos seus descendentes, não? – Assenti, com olhar de dúvida – Então nosso filho seguirá essa tradição. Forte como um filhote de dragão, lembra-se querida? – Um sorriso de compreensão se espalhou pelo meu rosto – Ele se chamará Draco. Draco Malfoy.

— Draco Lucius Malfoy – Eu o corrigi – Faço questão que ele carregue seu nome.

Quando olhei para o lado, meu marido parecia quase um metro mais alto, tamanho o seu orgulho.

Eu escrevi à Andie, pois sentia muito sua falta, mas não obtive resposta. Nem uma pequena nota de reação quanto à minha gravidez. Há tempos que ela não retorna minhas correspondências e confesso que fiquei decepcionada. Os hormônios da gestação contribuíam muito para o choro.

O mês de junho chegou com rajadas de vento fortíssimas. Lucius não estava em casa. Estava com eles. Suas missões como Comensal da Morte estavam cada vez mais frequentes e embora ele tente me esconder, ele tem voltado ferido. Eu passei a evitar jornais e o rádio, pela saúde do bebê, pois sempre que eu lia ou ouvia algo sobre os feitos dos seguidores do Lord das Trevas, eu ficava com os nervos à flor-da-pele e sentia ainda mais dor. Eu não perguntava a Lucius sobre suas tarefas e ele não se incomodava em me contar. Shiny e a Curandeira Moore me faziam companhia aquela noite, enquanto eu usava um onióculo para ver meu jardim ser devastado pela ventania, já que nem levantar para ir à janela eu era capaz.

— Não se preocupe, docinho – Disse ela com seu distinto sotaque galês – Quando o tempo de vento passar, a terra estará boa para receber novas flores.

Forcei um sorriso de agradecimento, mas não pude deixar de chorar pensando nos meus borrões de tinta sendo espalhados e engolidos pela imensidão verde e cinza do exterior da casa.

Foi quando eu senti a primeira fisgada de dor; sem poder me conter, soltei um gemido dolorido como de caça abatida. A Curandeira veio até mim e imediatamente posicionou uma mão em minha barriga e outra em minha testa:

— Céus, Sra. Malfoy! Está ardendo em febre! – Ela agitou a varinha e um esquilo prateado saiu de sua ponta e desapareceu – Mandei buscar uma equipe para que possamos removê-la para o St. Mungus. A senhora está tendo contrações, mesmo que sua bolsa ainda não tenha rompido.

— Mas Curandeira Moore, eu...

— Não foi um pedido. docinho – Ela disse, com seu tom severo e gentil.

Ela rabiscou um bilhete e prendeu na coleira de Shiny:

— Se o Sr. Malfoy chegar, entregue isso a ele – Ela disse à gata, como se ambas se compreendessem – Agora vá avisar o elfo doméstico! Vá!

Ela abriu a porta de meu quarto e a gatinha saiu correndo às pressas. Logo em seguida, duas enfermeiras grandes e fortes vieram me carregar até uma espécie de maca flutuante, onde eu não sentiria nenhum tipo de impacto durante meu transporte, enquanto a Curandeira Moore murmurava encantamentos desconhecidos sobre mim. Mais uma contração, mais um gemido. Quando saímos pela porta da frente, apesar do vento, nos encontrávamos numa bolha totalmente protegida, que nos acompanhou até podermos aparatar. Eu estava com tanta dor e a febre me deixava tão confusa que eu nem sequer questionei como eles conseguiram me transportar diretamente para dentro do Hospital.

No St. Mungus, eu fui guiada diretamente para um quarto branco, muito bem iluminado e aquecido. Outra contração, mais forte e dessa vez acompanhada de um grito. Minha visão estava enevoada, as enfermeiras me faziam engolir poções para baixar a febre e me faziam cheirar vapores, para que eu pudesse me manter acordada. A única coisa que eu ouvia com clareza, era a voz da Curandeira Moore:

— Docinho, fique comigo. Vamos trazer esse dragãozinho para o mundo juntas!

Eu tentava responder, mas as palavras não saiam. Mais uma contração. Eu não ia mais aguentar aquela dor. Eu só queria que tudo acabasse:

— Hey, Docinho! Precisamos de você agora. Sei que está me ouvindo. Quando eu contar três, você empurra com a maior força que puder, ok? Um... Dois... Três! Força!

Como se meu corpo soubesse exatamente o que fazer, eu empurrei até não aguentar mais e parar para recuperar o fôlego. Sentia minha mente clareando novamente e mais uma contração chegando:

— Vamos, Sra. Malfoy – Não era a voz da Curandeira Moore – Força!

Empurrei mais uma vez. E mais uma, e outra. Até voltar a ouvir meus gritos se mesclando às vozes das enfermeiras e aos comandos da Curandeira Moore:

— Estamos quase lá, Docinho! Já estou vendo a cabeleira loira do seu dragão perfeitamente coroado! FORÇA!

Eu fiz força uma última vez e senti como se todos os meus órgãos tivessem saído de dentro do meu corpo, quando um choro de bebê me sobressaltou e eu o vi: Um menino grande e rosado com uma vasta cabeleira dourada, como a minha própria. Quando a enfermeira o levou para os devidos cuidados, a Curandeira Moore dizia feitiços enquanto eu sentia meu corpo se recompondo vagarosamente:

— Você foi bem, docinho – Ela disse, por fim – Draco é saudável, e você precisa descansar.

            – Obrigada, Curandeira Moore... – Eu balbuciei antes de cair no sono.

            Não sei bem se foram horas ou minutos, mas fui acordada por uma enfermeira negra, de sorriso gentil, que trazia Draco embrulhado e limpo para mim:

            – Sra. Malfoy, eu sou a Enfermeira Zummach. Vou cuidar da senhora e de seu bebê durante os turnos da noite.

            Recebi Draco em meu colo e, com ajuda da Enfermeira Zummach, o coloquei para mamar pela primeira vez.

            – Noite? Que horas são? – Eu perguntei, desorientada, enquanto buscava um inexistente relógio no aposento.

            – São dez horas. – Ela disse, enquanto posicionava uma bandeja de refeição ao meu lado. – O parto da senhora foi bem complicado. A senhora desmaiou algumas vezes, por causa da febre. – Eu ouvi tudo em silêncio, sem saber o que responder.

            Depois que Draco sugou meu leite até a exaustão, fui instruída de como fazê-lo arrotar e logo ele pegou no sono.

            – Meu marido... – Eu disse, enquanto comia.

            – Já foi notificado do nascimento e do seu estado pela Curandeira Moore. – Ela respondeu, enquanto pegava Draco para que ele fosse levado novamente para o setor neonatal, onde ele passaria, segundo a enfermeira, a maior parte do tempo. – O Sr. Malfoy disse, que assim que possível, volta para a Inglaterra, pois está a trabalho na Irlanda. – Quando ela saiu com Draco, só desejei que o “trabalho” fosse pelo Ministério, e não pelos Comensais da Morte.

            Fiquei no hospital por três dias. Mesmo meu bebê tendo nascido de parto normal e ser saudável, eu ainda estava muito debilitada e a Curandeira Moore sequer cogitou me dar alta. Além do mais, quando recebi uma carta de Bella se oferecendo para “cuidar” de mim e de Draco, implorei à Curandeira que respondesse a ela que isso não seria possível, pois eu precisaria ainda de acompanhamento clínico:

            – Você deve se dar muito bem com sua irmã, docinho – Ela riu, enquanto respondia à Bella como eu pedi.

            – Você nem imagina, Curandeira... Ela me deixa doente.

            – Em todo caso eu não deixaria você sozinha com um bebê recém-nascido naquela casa enorme. – Ela disse, rindo espalhafatosa – Vou ficar contigo até você se recuperar e conseguir cuidar sozinha desse menino lindo.

            Fui levada para casa, onde o quarto do bebê já havia sido previamente preparado por Dobby, a mando de Lucius.

            Meu marido ainda levou mais três dias para voltar para casa. Nesse tempo, Shiny passou a conhecer o bebê e a se familiarizar com ele. Bem como mandei chamar Dobby na cozinha, para que ele fosse apresentado ao mais novo Malfoy. Quando Lucius finalmente chegou, foi imediatamente barrado pela Curandeira Moore:

            – Seja bem-vindo, Sr. Malfoy. – Ela disse, parada em frente à porta do quarto do bebê, onde eu o amamentava.

            – Obrigado, Curandeira. Posso ver meu filho? – Ele dizia, tentando passar por ela.

            – Não, senhor. – Ela respondeu, incisivamente. – Antes o senhor precisa de um belo banho e roupas impecáveis. Certo?

            Lucius odiava receber ordens. Principalmente em sua própria casa. Mas como a Curandeira Moore era de confiança, ele apenas respirou fundo e acatou:

            – Tudo bem, Ruth... – Ele disse, à contragosto.

            – Sabe que eu jamais faria isso se não fosse necessário, Lucius...

            Ele não respondeu, apenas se afastou.

            – Quando ele entrou no primeiro ano, eu estava no último, em Hogwarts. – Ela me disse, encostando a porta do quarto – Ele se meteu em confusão e acabou cheio de feridas pelo corpo, e como eu já estava estudando para ser curandeira e se ele fosse até Madame Pomfrey iria se encrencar feio, livrei a dele. Nos tornamos bons amigos, desde então. Mas eu acabei saindo da Grã-Bretanha para estudar métodos de partos de outros povos. Fiquei muitos anos fora. É bom ver que aquele moleque que brincava com plantas venenosas amadureceu. Graças a você, docinho.

            – Ele me contou essa história uma vez, mas nunca imaginei que fosse você! – Eu disse surpresa e feliz – Agora entendo porque ele confia tanto na senhora.

            Quando Lucius voltou, a Curandeira Moore nos deixou a sós e ele pode ver e carregar Draco pela primeira vez. Ele não disse nada. Só sorria, enquanto acariciava o rosto do bebê e tinha sua mão agarrada por aquelas pequenas mãozinhas.

            – Ele é perfeito, Cissy – Disse, por fim – Eu amo vocês.

Até os dias presentes, não tenho outra memória de ter visto meu marido mais feliz e emocionado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

Reviews são muito bem-vindas!

Beeeejo! ^v^



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