Living in the North escrita por Saulo Poliseli


Capítulo 8
Capítulo 08 - Stefan Hatkins


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez o capítulo POV é do Stefan.

Boa leitura!



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Stefan estava passando um pano úmido em garrafas de múltiplas bebidas diferentes e as colocando no balcão à sua frente. Ele já tinha feito esse trabalho com as garrafas que ficavam nos armários e prateleiras às suas costas. James sempre dizia que as garrafas ficavam mais charmosas se as deixassem cheias de poeira, mas Stefan discordava disso e sempre as limpavam, pelo menos uma vez por semana.

Depois de ter feito isso, Stefan foi até um dos banheiros e molhou completamente o pano com a água da torneira, e depois torceu o pano para escoar a sujeira do mesmo. Deixou o pano no chão, próximo da porta do banheiro para usá-lo como um tapete improvisado. Voltou pra pia e lavou suas mãos com sabonete líquido, e enquanto fazia isso viu seu dedo indicador esquerdo faltando um pequeno pedaço. Stefan sorriu de canto e riu nasalmente ao lembrar do momento e do motivo disso ter acontecido.

Foi nos primeiros dias do apocalipse, quando as pessoas ainda pensavam que os infectados eram pessoas doentes e que o governo iria arrumar toda aquela bagunça. Stefan estava sozinho, armado com duas facas, uma delas era de cozinha e a outra de caça, e também de uma pistola glock 9mm que estava sem munição. Era noite e ele estava cortando alguns galhos de árvore para fazer uma fogueira para aquecê-lo e para iluminar o local, quando ouviu grunhidos e foi abater o infectado. Como a fogueira ainda não estava acessa, a iluminação do local no momento era precária, então quando ele segurou o morto-vivo pelo cabelo e lhe golpeou na cabeça, ele teve a façanha de cortar um pequeno pedaço do seu dedo indicador esquerdo, fazendo com a ponta do mesmo ficasse semi decepada. Stefan deu um jeito de estancar o sangramento e usou um pedaço da sua camiseta para improvisar um curativo, como se fosse gaze.

Após ter lavado suas mãos e as secado, Stefan levantou a cabeça e se olhou no espelho. Sua aparência não tinha mudado muita coisa, apenas algumas coisas aqui e ali. Seu porte físico era o mesmo de sempre, magro com músculos parcialmente definidos, os olhos pretos como petróleo, agora estava usando barba apenas no queixo mas não era grande e nem pequena, os cabelos negros e crespos estavam um pouco maiores do que era antes.

Saiu do banheiro e foi em direção da entrada do bar, abrindo a porta de enrolar para que os clientes pudesse entrar. Caminhou de volta pro balcão, abriu uma gaveta e pegou dois livros de poesias, um deles era do autor Percy Shelley e o outro era do autor Edgar A. Poe, intitulados "Ozymandias" e "Tamerlane and Other Poems", respectivamente. Stefan deu uma olhadela pra direita, onde ficava a entrada do bar, viu que ninguém estava ali e então desceu o olhar para as páginas dos livros.

— Bom dia – disse, quinze minutos depois, uma voz desconhecida para Stefan, era cliente novo. – Quero uma cerveja grande e porção de calabresa acebolada, por favor.

Além das bebidas, o bar de Stefan e James vendia salgados, doces, petiscos, conservas, e outras coisas. Alguns dias específicos eles faziam sanduíches e lanches na chapa, e até mesmo mini pizzas em um pequeno forno à lenha.

Stefan deixou o livro que estava lendo em cima do balcão e foi preparar o pedido do rapaz. Tinha uma pequena e estreita cozinha, que tinha espaço somente para uma pessoa trabalhar nela, logo atrás do balcão e ao lado do banheiro que ele tinha ido há pouco. Voltou exatos cinco minutos depois, carregando um prato com calabresas e cebolas fumegando e um copo de plástico de 500ml cheio de cerveja gelada. A cerveja era vendida de três formas diferentes, a pequena que era de 200ml, a média de 350ml, que era do mesmo tamanho de uma lata padrão, podendo ser servida na lata mesmo ou no copo se o cliente preferisse, e a grande de 500ml.

— Aqui está – disse Stefan, servindo o rapaz. – Aproveite – completou. Viu que tinha mais gente entrando no bar e então guardou o livro dentro da gaveta novamente.

Nos dias de semana em que o movimento não era tão intenso, Stefan conseguia administrar o bar sozinho, e quando James ajudava era tudo mais fácil e rápido, obviamente. Nos finais de semana e feriados, que o governo de North Hopeville os manteve, como: Ano Novo, Dia de Martin Luther King, Dia da Memória, Ação de Graças, Natal, etc, Stefan precisava da ajuda de James e também de um cozinheiro que trabalhava pra eles apenas nos finais de semana e feriados. Contudo, Stefan costumava trabalhar só na parte da manhã, quando chegava o horário de almoço e consequentemente o período da tarde, ele parava de trabalhar e deixava os deveres com um outro empregado. Algumas vezes quando o empregado não conseguia dar conta do trabalho sozinho, ele pedia ajuda para Stefan ou para James, e ambos não se importavam e nem reclamavam de ajudar o rapaz, pois eles sabiam que não era um serviço fácil de se fazer sozinho e sem ajuda.

— Um maço de cigarros e uma dose de uísque – pediu outro cliente. Esse Stefan conhecia, se chama Steve. – Obrigado, Hatkins – disse quando Stefan lhe entregou o pedido.

E aos poucos o bar foi se enchendo de gente.

Quando chegou o horário de almoço, o rapaz empregado de Stefan e de James entrou no bar. Era um garoto de dezessete anos, baixo e magro, e essas características faziam ele parecer ser mais jovem do que realmente era, tinha os cabelos cor de palha e sempre bagunçados, não existia nenhum fio de barba no rosto do rapaz, seus olhos eram grandes e sempre calorosos e alegres. Seu nome era Peter Schoenberg, de origem alemã.

Peter cumprimentou Stefan e tomou o lugar do mesmo diante do balcão. O movimento estava bem tranquilo e Peter não foi exigido durante o trabalho, e por isso não pediu ajuda para seu patrão. A maioria dos clientes estavam comprando apenas cerveja, ou outro tipo de bebida, cigarros, e fichas de sinuca. Stefan percebeu que estava tranquilo, olhou para o relógio prateado de pulso e viu que James iria chegar em breve, então caso Peter precisasse de ajuda ele poderia pedir para James. Stefan ia se retirar do bar, mas foi impedido por dois clientes que sentaram-se na mesma mesa dele e o cumprimentou.

— Boa tarde – disse um homem de cabelos castanhos-escuro, olhos da mesma cor, e barba por fazer. – Aquele rapaz ali – fez um sinal com a cabeça, indicando Peter ao balcão –, disse que você é o dono do bar.

— Sim, sou eu mesmo. Desejam alguma coisa, ou há algum problema? – perguntou Stefan.

— Não – respondeu o outro homem. Esse não tinha cabelo na cabeça, mas em compensação tinha os braços excessivamente peludos, seus olhos eram negros como a noite, e possuía uma barba espessa por todo o rosto, no estilo espartano. – Só queremos conversar. Somos novos aqui, e o rapaz do balcão disse que você está aqui na cidade há algum tempo.

— Quase cinco anos – informou Stefan. Apalpou os bolsos frontais da sua camisa e retirou dali um maço de cigarros. – Aceitam um? – Os dois assentiram e ele deu um cigarro para cada. – Quando cheguei aqui, a população era mais ou menos a metade do que é hoje em dia. Segundo o prefeito, éramos onze mil.

— A placa na entrada NH01 dizia que a população atual é de vinte e seis mil.

Stefan abriu um sorriso quando ouviu "entrada NH01". Fora nessa entrada em que ele e o todo o pessoal entrara na cidade há quase cinco anos atrás. Além dessa entrada, North Hopeville tinha outras duas que tinham apenas uma variação no nome, uma era NH02 e a outra NH03. Todas as três entradas tinha uma placa indicando a quantidade de habitantes que havia do lado de dentro da cidade.

— Então eu não me enganei. A população hoje cresceu mais do que o dobro de quando eu cheguei – disse Stefan, tragando seu cigarro e soltando a fumaça. – Quando chegaram?

— Ontem mesmo, não é, Andrew? Chegamos um pouco antes do nascer do sol, e durante a manhã e tarde tivemos que resolver e correr atrás de toda a burocracia – disse o homem careca e barbudo.

— Me surpreendi com a organização que a cidade tem. Nem parece que existe um apocalipse lá fora – disse o homem de cabelos e olhos castanhos-escuro.

— Ah, me desculpe... Me chamo Stefan. Você é Andrew – o dono do bar olhava para o homem de cabelos e olhos castanhos-escuro – , e você é...?

— Kennedy – completou e se apresentou o careca barbudo. – Cara, nesses cinco anos que você vive aqui, nenhum humano atacou a cidade?

— Já atacaram sim – respondeu Stefan, dando outra tragada no cigarro. – Mas só foram três vezes desde que me mudei pra cá, e segundo os primeiros habitantes daqui, a cidade já havia sofrido outros dois ataques – tombou a cabeça pra trás e soltou a fumaça pra cima. – Claro que eles não tem chance contra nossos policiais e guardas, ou observadores, como preferir – deu mais uma tragada. – Além do armamento ser mais pesado e também melhor, esses caras treinam como se fossem lutar em uma guerra. Até hoje nenhum policial ou guarda morreu em serviço – Stefan terminou o cigarro e apagou a bituca em um cinzeiro acima da mesa.

— E não houve nenhum dano na cidade? – perguntou Andrew.

— Não. O máximo foi alguns estragos no muro, mas nada mais que isso. Pra falar a verdade, tem gente aqui dentro que nem sabe que a cidade já sofreu ataque – Stefan guardou o maço de cigarros novamente dentro do bolso frontal da sua camisa e se pôs de pé. – Se me derem licença, tenho que ir, Andrew, Kennedy. Se quiserem mais informações sobre esses ataques, espere um amigo meu que é policial chegar. Ele se chama James, é alto e forte, tem os cabelos negros e grisalhos... Se não o identificarem, peça para que o rapaz ali no balcão, o Peter, lhe avisarem que o James chegou.

Com isso, Stefan se despediu de Andrew e Kennedy, do seu empregado e dos clientes cumprimentando todos eles, um por um, e saiu do bar. Ele foi pra sua casa, tomou um banho rápido, trocou de roupa e voltou a sair, mas dessa vez foi em direção à outro local. Caminhava a passos longos e rápidos. Não estava com pressa, nem com ansiedade, nem nada do tipo, esse era o ritmo dele caminhar. Stefan acostumou-se a andar desse jeito na época que fazia curso de administração e era sócio de uma boate com um amigo que se chamava Lewis. Naquela época Stefan estava sempre com pressa ou/e atrasado para alguma coisa, então passou a caminhar sempre de forma rápida para ganhar tempo.

Bateu três vezes em uma porta e sorriu quando a mesma se abriu. Quem o atendeu foi uma garota de cabelos pretos longos e lisos, pele branca um tanto quanto pálida, olhos azuis como o céu, lábios finos e rosados, nariz pequeno e sobrancelha bem feita, corpo baixo e magro, porém com seios fartos e nádegas avantajadas. Ela trajava uma camisa regata preta, short jeans azul-claro e uma sandália rasteira dourada e branca.

— Oi, amor! – disse a garota, selando os lábios de Stefan com os seus próprios, e o abraçando em seguida. – Tudo bem? Acabou de sair do bar?

— Oi, querida – disse ele, enquanto entrava na casa da sua namorada. – Estou bem, e você, Ellen? Sim, saí do bar faz menos de vinte minutos. Cadê a Kristen?

— Bem também – respondeu. – Está no banho, daqui a pouco ela sai – informou ao namorado enquanto sentava no sofá, convidando Stefan para fazer o mesmo.

Os dois ficaram sentados no sofá, conversando e esperando a Kristen sair do banho. Demorou mais do que todo o tempo que Stefan levou para sair do bar, ir pra sua casa, tomar banho e vir até a casa das duas, mas Kristen saiu do banho, com uma toalha enrolada na cabeça e outra toalha enrolada no busto. Ela viu que Stefan estava conversando com sua irmã no sofá e o cumprimentou rapidamente antes de entrar em seu quarto.

Demorou mais quinze minutos para se trocar e sair do quarto. Kristen foi em direção à sala de estar onde a irmã e cunhado estavam, e o cumprimentou com um beijo no rosto. Stefan olhou para ela e viu a sua namorada. Sim, isso mesmo. Ellen e Kristen eram irmãs gêmeas idênticas. Para não dizer que eram completamente idênticas, Kristen tinha uma pinta, ou nevo, na parte direita do pescoço, e isso era a única diferença que as duas tinham. Ellen e Kristen dizia que até os pais se confundiam de vez em quando.

— Ei, Stefan! Como está? Viu o James hoje? – quis saber Kristen.

— Estou bem, e você, Kristen? Não... Não vi ele hoje – respondeu. Sorriu ao ver que ela balançou a cabeça positivamente quando fez a pergunta.

James e Kristen eram namorados. Os dois começaram a namorar na mesma época que Stefan e Ellen. Nos primeiros dias de amizade e namoro, os dois rapazes tinham um pouco de insegurança de cumprimentar e beijar as garotas, com medo de confundi-las. Mas a insegurança e o medo se foram quando eles descobriram a diferença entre elas. Ellen e Kristen nunca falaram dessa diferença que elas tinham entre si para os dois, e segundo elas, nunca trocaram de lugar com a outra para enganar, no bom sentido, James e Stefan antes deles terem descoberto a pinta no pescoço de Kristen.

Stefan e Ellen se despediram de Kristen e saíram da casa, já com o céu escuro e estrelado. Stefan queria se divertir com Ellen naquela noite, pois como ele mesmo dissera pra ela enquanto caminhavam pelas ruas iluminadas por postes de eletricidade, nos últimos dias ele estava passando mais tempo no bar e em casa do que com a namorada, e queria compensar isso.

E foi o que aconteceu. Primeiro, os dois foram pro shopping e lá tomaram sorvete, se divertiram na área de brinquedos, assistiram um filme no cinema, jantaram na área de alimentação e tomaram mais sorvete, fizeram algumas compras, e diversas outras coisas. A noite correra tudo bem.


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Notas finais do capítulo

A parte que eu mais gostei de escrever nesse capítulo foi o Stefan contando para Andrew e Kennedy sobre os ataques que North Hopeville sofreram. Creio que quase todo mundo tem essa curiosidade, afinal, a cidade é grande e cedo ou tarde bandidos iriam achá-la e tentar saqueá-la.

O que acharam dessa ideia do Stefan e James serem sócios e namorarem irmãs gêmeas?



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