Living in the North escrita por Saulo Poliseli


Capítulo 5
Capítulo 05 - Ariel Levana


Notas iniciais do capítulo

Agora é a vez da Ariel ter um capítulo POV.
E nesse capítulo temos "participação especial" e citação de personagens importantes.

Boa leitura!



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Era inverno. A neve caía do lado de fora da casa em que Ariel estava, as janelas estavam embaçadas por causa da friagem e da umidade. Uma lareira pequena e simples aquecia a sala de estar de Ariel, enquanto as pessoas que andavam na rua naquele horário da noite tinham que se proteger do vento cortante e do ar congelante.

Ariel estava sentada em uma poltrona de couro e à sua frente havia uma grande mesa cheia de papéis. Ela estava se preparando para um julgamento que iria ter no tribunal em exatos vinte dias, e a mesa cheia de papéis representava o esforço e estudo que ela estava tendo para ir preparada para ganhar esse caso. Além de papéis, a mesa tinha continha canetas, uma xícara de café, documentos, lápis, borracha e outros tipos de objetos.

A judia se levantou da poltrona, passou ambas as mãos em seus cabelos bagunçados e armados, respirou fundo, pegou a xícara quase vazia e caminhou em direção da cozinha. A temperatura caiu no cômodo por ele não ter uma lareira para aquecer, e a advogada sentiu o ar gelado invadir seu pijama e tocar em sua pele quente. Ela encheu sua xícara de café fumegante e voltou para a sala de estar, sentando-se na poltrona novamente.

Depois de horas, Ariel estava debruçada sobre a mesa e dormindo. Ela não tinha percebido o sono chegar. Na manhã seguinte, Ariel acordou cansada tanto fisicamente quanto mentalmente e dolorida por ter dormido de mal jeito. A advogada foi diretamente para o banheiro tomar uma ducha quente, em seguida foi para a cozinha tomar seu café da manhã contendo pão com manteiga e chocolate quente.

Assim que Ariel terminou o seu café da manhã, alguém bateu em sua porta. Ela andou até a mesma, aproximou o rosto do olho mágico, viu que era alguém conhecido e por isso abriu a porta mesmo estando vestindo um roupão.

— Bom dia, Lizzie.

— Bom dia, Ariel – cumprimentou Lizzie, dando um beijo no rosto da amiga. – Tudo bem com você? – Ariel assentiu e indicou uma das cadeiras da cozinha para que Lizzie sentasse.

— E você, como está? – perguntou Ariel, sentando novamente na cadeira que estava.

— Bem também – respondeu Lizzie enquanto se servia de torradas e café. – E aí, como está indo as papeladas do julgamento?

E então as duas começaram a conversa e só terminaram na hora do almoço, quando Lizzie disse que tinha que ir embora e se despediu de Ariel. A rotina da judia era basicamente essa: acordava, tomava banho, tomava café da manhã junto com a Lizzie que sempre a visitava na parte da manhã, almoçava, ouvia rádio ou lia livros para relaxar durante a tarde, começava a estudar as papeladas quando estava anoitecendo, dava uma pausa pra jantar e por fim continuava a estudar até o sono chegar.

Quando estava faltando apenas sete dias para o julgamento que Ariel se preparou tanto, ela resolveu mudar a rotina monótona para relaxar e descansar mais. Agora ela fazia longas caminhadas pela cidade, passava a tarde inteira em praças ou bosques diferentes mesmo eles estando brancos e gelados por causa do inverno, dentre outras coisas que ela achava ideal para relaxar e descansar o corpo e a mente. E realmente deu resultado positivo, pois ela estava se sentindo muito bem.

Quando faltava três dias pro julgamento, Ariel resolveu pegar um cavalo e ir para longe da região onde morava. Ela trajava um casaco de lã vermelho com detalhes em dourado, touca de crochê amarela, cachecol também de crochê vermelho-sangue que além de proteger o pescoço ela usava para cobrir a sua boca, calça jeans e bota de couro, ambas pretas. Ariel montou no frísio branco igual a neve que caía do céu e cobria o chão e cavalgou pelas ruas da cidade, sem um rumo definido.

Depois do que lhe pareceu duas horas, a judia puxou as rédeas para que o cavalo parasse de andar, então desceu do mesmo e o prendeu num poste de luz que tinha ali na rua. Ela respirou fundo e quando expirou, soltou aquele típico vapor que sai da boca quando se faz frio, e então entrou numa padaria que tinha de esquina. Ariel estava fazendo seu pedido quando ouviu vozes do que parecia ser um casal.

— O Freddie está bem, querida – dizia uma voz masculina. – Ele só está resfriado por causa do frio.

— Ainda acho que devemos ir à um hospital por via das dúvidas... – agora era uma voz feminina.

— Obrigada – disse Ariel quando recebeu o seu pedido e pagou por ele.

Ela se virou para sair da padaria e não acreditou no que viu. Era Mark que estava ali na frente dela. Ele estava diferente, com os cabelos médios e bagunçados, a barba espessa e um pouco volumosa, e tinha ganhado uma cicatriz que começava na testa, atrevessava seu olho direito e terminava na bochecha direita.

— Mark?! É você?! – perguntou, olhando fixamente pro rosto do rapaz. Ela estava tremendo e deixou sua sacola de papel cair no chão com as mercadorias dentro.

— Sim... – respondeu o rapaz encarando Ariel. Depois de alguns segundos ele a reconheceu – Ariel?! Caralho, é você mesmo?! – Mark também não acreditava no que estava vendo – Não te reconheci com toda essa roupa de inverno.

— Vocês se conhecem? – perguntou Sarah, olhando para os dois. Ela pegou a sacola de Ariel e devolveu pra judia.

— Sim, querida – respondeu Mark. – Nós nos conhecemos há muito tempo, eu e ela éramos do mesmo grupo e passamos bastante tempo juntos. – ele olhou pra sua esposa e continuou: – Nós... hmm... eu e ela...

— Isso foi antes de nós sabermos da existência dessa cidade, na verdade – interrompeu Ariel, percebendo que Mark queria dizer que eles tiveram um relacionamento mas não sabia como fazer. Ela decidiu que seria melhor não contar isso pra esposa dele, pra evitar problemas. – Me chamo Ariel. Prazer em conhecê-la – disse com um sorriso no rosto e esticando o braço para cumprimentá-la com um aperto de mão.

— Sarah. Prazer em conhecê-la também, Ariel – disse a outra.

O sorriso no rosto de Ariel não era verdadeiro, e ela também não sentia prazer em conhecer Sarah. A judia não sabia até o momento, mas ainda mantinha os mesmos sentimentos por Mark, e por causa disso ela sentiu ciúmes e triste por saber que Mark continuara sua vida e construíra uma família. Ariel segurou as lágrimas e não as deixou escorrer pelo rosto.

Por outro lado, Mark estava se sentindo extremamente desconfortável, e Ariel pôde perceber isso. Ele balançava seu corpo de um lado para o outro enquanto coçava a barba ou a nuca. Mesmo sentindo ciúmes e tristeza, Ariel manteve a cabeça no lugar e não disse nada sobre o passado que ela e Mark tiveram, e ela também pôde perceber que Mark a olhava com um olhar de agradecimento.

— O resto do grupo está vivendo do outro lado da cidade – disse Ariel. – Posso te passar o endereço, se quiser. Acho que a Sarah iria gostar de conhecer seus antigos amigos.

— Ah, sim, com certeza – assentiu Sarah, sorrindo.

— Todos estão bem? – perguntou Mark, olhando de um jeito desconfortável pra Ariel.

— Dave morreu. Não sei se você viu, mas ele foi mordido lá no shopping enquanto nós lutava contra aquele pessoal... – ela respirou fundo e fez uma breve pausa. – Ele conseguiu chegar aqui dentro de North Hopeville, mas morreu no dia seguinte em que chegamos. O resto do pessoal estão bem. Você devia vê-los.

E então Ariel pediu papel e caneta emprestados para o atendente da padaria, escreveu o endereço de cada um e também outro lugar extra. Mark pegou o papel em mãos e perguntou:

— De quem é esse bar?

— James e Stefan – respondeu. – Eles abriram já faz um tempinho... É bem legal, eu costumo ir sempre que possível.

Depois disso eles conversaram por mais um tempo ali na frente da padaria, até que Ariel disse que tinha que ir embora, se despediu deles, montou no frísio e voltou a cavalgar de volta pra sua casa. Já estava começando a anoitecer e Ariel queria chegar na sua casa antes da noite cobrir o céu e o frio ficar mais intenso, e por esse motivo ela fez com que o cavalo trotasse mais rapidamente.

Quando Ariel estava há três quarteirões de distância da sua casa ela ouviu um som estranho e fez com que seu cavalo parasse de trotar. Ficou parada e quieta por alguns segundos e ouviu o som outra vez, e dessa vez conseguiu distinguir qual era o som. Era o som de choro de uma pessoa. Ariel podia muito bem ignorar e ir embora pra casa, mas o seu lado altruísta falou mais alto.

Ela desceu do cavalo, o prendeu novamente e caminhou em direção de onde vinha o som de choro. Entrou em um beco estreito e viu uma luz que vinha daquelas janelas que são da altura do chão vista do lado de fora, mas lá dentro do porão a janela está na altura normal. Agora Ariel podia ouvir outro som junto com o choro, e esse som não era ouvido do lado de dentro da cidade. Era grunhidos de mortos-vivos.

O coração de Ariel disparou e ela ficou boquiaberta, sem acreditar no que estava ouvindo. Seus ouvidos deviam estar enganados, ela devia estar cansada e com sono e por isso estava ouvindo coisas. Mas ainda assim ela queria ter certeza se realmente estava ouvindo grunhidos ou se era os seus ouvidos e cérebro lhe enganando. Ela se aproximou da janela e ficou de quatro para poder olhar lá dentro.

Seus ouvidos e cérebro não estavam enganados, lá dentro do porão tinha duas mortas-vivas amarradas em duas cadeiras diferentes e elas estavam grunhindo. Ariel tinha que avisar o prefeito ou qualquer superior imediatamente para que eles tomassem providências, ela se levantou e antes de voltar pro cavalo percebeu que o som de choro havia parado.

— O que está fazendo aqui, gracinha? – perguntou uma voz masculina. Ariel se virou e viu o homem limpando as lágrimas do rosto.

— Eu... ah... – Ariel gaguejava e não conseguia falar. – Não vou contar pra ninguém. Eu juro! – disse rapidamente e atropelando as palavras, tamanho era o desespero dela.

Mas o juramento não era suficiente para o homem misterioso. Ariel viu o homem se aproximar e levantar o braço direito, e isso foi a última coisa que ela viu.


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Notas finais do capítulo

Curiosidade inútil e aleatória: eu tinha escrito esse spin-off, no ano passado, até o meio desse capítulo, mais precisamente até a parte que a Ariel sai de casa à cavalo, depois dessa parte eu voltei a escrever o spin-off esse ano e terminei tudo em dois meses mais ou menos. Comecei a escrever em janeiro de 2016, parei no fim do mês ou no começo de fevereiro, fiquei sem escrever um tempão mas depois de uns meses eu escrevi mais um pouco, se não me engano em setembro ou outubro, e então fiquei sem escrever esse tempo todo... desde setembro / outubro de 2016 até janeiro de 2017. Terminei de escrever o spin-off no dia 24/02/2017.

Tivemos mais uma morte nesse capítulo, e não foi uma morte qualquer. Assim como o Dave, a Ariel estava presente na fanfic desde o começo da Living in Hell, e creio que esse fator é importante pra morte ser impactante. E essas duas mortes foram seguidas.

Espero que tenham gostado.



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