Renascer escrita por Luna


Capítulo 9
Hyde Park




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— Para onde estamos indo?

Pansy fez que não o ouviu, já era a terceira vez que ele perguntava e ela estava começando a se irritar com a sua curiosidade absurda. Ela só continuava a andar sabendo que ele estava logo atrás, se arrependeu em não ter ido com calçados mais confortáveis, suas sandálias eram lindas, mas não serviam para andar por muito tempo. Ela até pensou em transfigurá-las, mas tinha muitas pessoas por perto e não queria se desviar do caminho e acabar levando uma azaração do auror que os estava seguindo.

— Por que simplesmente não aparatamos para esse lugar?

Pansy parou de andar e se virou para o moreno. O cabelo dele estava bagunçado, mais bagunçado que o normal, por conta do vento. Ele aparentava cansaço e já tinha o casaco na mão, embora ainda fizesse frio.

— Se eu aparatasse com você nesse momento o Ministério iria soltar um alerta e você pode não acreditar, mas não quero uma horda de aurores batendo na minha porta.

— Eles não fariam isso. – Harry riu em descrença, mas a postura de Pansy não mudou e ele percebeu que ela falava sério.

— Você é muito mole, já estamos chegando.

Harry achava que a mulher não tinha qualquer senso de distância, já que ainda demorou quase dez minutos para eles chegarem até o local que ela desejava e Harry se arrependeu de tê-la irritado durante todo o trajeto. Eles estavam em um parque e aquele era um dos lugares mais belos e pacíficos que ele já tinha visto.

— Venha. – Pansy o chamou para adentrarem mais e ele a seguiu em silêncio.

Sentaram-se em um banco de madeira que ficava a frente de um lago. Não tinha muitas pessoas no local, alguns jovens sentados juntos, pessoas passeando com seus cães e outras descansando como eles estavam, apenas aproveitado o lugar.

— Que lugar é esse?

— Hyde Park. Um dos mais lindos de Londres, posso mostrar os outros para você depois.

— Como você descobriu esse lugar? – Harry perguntou surpreso.

Pansy não parecia a vontade, ele já tinha percebido que ela sempre puxava o colar quando ele perguntava algo que ela não queria responder, seus olhos vagavam para longe provavelmente imaginando uma forma de fugir da pergunta.

— Com o fim da guerra as coisas ficaram difíceis para pessoas como eu. – Ela começou, cruzou os braços para tentar esconder seu desconforto. – As pessoas não eram sutis em suas demonstrações de ódio, andar pelo Beco ou por qualquer local mágico sempre era um desastre. Depois de algumas semanas nós paramos de sair. Eu não aguentei por muito tempo, ficar presa em casa vendo minha mãe se afundar em tristeza enquanto meu pai esperava julgamento em Azkaban era deprimente,  então um dia eu sai.

— E veio parar aqui?

— Não naquele primeiro dia, mas foi nesse momento que eu percebi que no mundo trouxa eu poderia ser livre, que contradição não acha? – Ela riu pelo nariz. – Um dia eu entrei aqui, tinha mais pessoas, crianças corriam com doces nas mãos, jovens conversavam, andavam em coisas super esquisitas, com rodas e alguns são um tipo de botas que tem rodas embaixo. Era engraçado quando um deles caia.

— Chamam-se patins. – Harry disse a ela sorrindo.

— Patins. – Ela experimentou a palavra. – Você já andou em uma dessas coisas?

— Ah não. Meus tios nunca me dariam algo que fosse meramente divertido.

Pansy parou de sorrir, ela parecia entender o que Harry sentia com essas palavras.

— Então, no meio de tantas pessoas eu percebi como eu era invisível.

— E percebeu como sua existência é insignificante e isso trouxe uma nova perspectiva na sua vida? – Ele caçoou.

— Estou falando sério aqui, Potter. – A frase soou raivosa, mas ainda dava para ver a sombra de um sorriso em seus lábios. – Primeiro eu trouxe o Blaise, depois Theodore. Draco foi o mais difícil de convencer, mas Dafne conseguiu trazê-lo. Por muito tempo nós sempre nos encontrávamos aqui, depois descobrimos outros lugares. Foi bom, sabe? Fugir da loucura e perseguição no nosso mundo. Da dor espelhada no rosto das pessoas que perderam familiares, dos olhares de desprezo.

— Eu sinto muito, Pansy.

Ela voltou seus olhos para ele o analisando, ele se sentia incomodado com o olhar perfurante dela, mas não queria desviar, se sentiria fraco se o fizesse.

— Não sinta, você não tem nada a ver com isso. – Ela bufou. – Você poderia ir embora, sabia? Eu tenho muito dinheiro, você poderia pegar um desses transportes trouxas viajar para o outro lado do mundo e eles nunca o encontrariam.

— Por que você está falando isso?

— Você já nos salvou duas vezes, não precisa fazer isso mais. Você não gostaria de viver uma vida só sua, sem todo esse peso e cobranças? Sem uma varinha apontada para sua nuca, sem toda essa ameaça? Você pode ir embora.

Harry baixou seus olhos e brincava com a ponta do casaco, esperou que ela falasse mais alguma coisa, mas ambos ficaram em silêncio por tempo demais até ele quebra-lo.

— Professor Lupin me fez padrinho do filho dele. Você sabia que ele foi um dos melhores amigos do meu pai? – Ele se virou para olha-la e a viu negando com a cabeça. –Edward Lupin, o chamamos de Ted. Eu perdi a infância dele por cinco anos, ele é um bom garoto, esperto, inteligente e falastrão, lembra muito a Tonks com todo seu jeito atrapalhado, mas tem olhos gentis como Remus. Ele perdeu os pais, como eu. Mas eu não pude ter Sirius, quero que Ted tenha alguém a quem procurar quando estiver confuso ou magoado, quando estiver assustado ou gostando de alguém. Quero que ele sinta que tem uma família. Como eu poderia ir embora sabendo que o estou deixando e pior ainda o deixando em meio a todo esse perigo?

— Você é um estúpido grifinório sentimental, Potter. Vai acabar morrendo por isso.

Harry sorriu e encostou-se ao banco como ela, em uma péssima posição apoiando a cabeça no encosto.

— Vai me dizer o que viu para ter ficado tão pálido? – Pansy perguntou. – Por isso o trouxe aqui. Você parecia a ponto de vomitar naquele café.

— Lembra aquelas cobras que tem no Salão Comunal, próximo à lareira?

— Sim.

— Elas se mexem, na verdade.

— O que? – Pansy se sentou ereta e bateu no braço de Harry.

— Não para vocês bruxos simplórios e comuns sem qualquer traço do sangue majestoso de Sonserina. Palavras da cobra, não minhas. – Harry falou vendo o olhar de Pansy. – Enfim, em uma noite ela falou com o Tom, disse que estava esperando uma oportunidade para conhecer o novo herdeiro de Sonserina.

— Essa conversa deve ter sido bem interessante.

— Ela é mais irritante que todos os Sonserinos que eu já conheci. Foi assim que Tom soube de sua linhagem, depois ele só precisou buscar por uma árvore genealógica, lá ele deve ter visto o nome de Mérope.

— Depois disso sua ascensão ao poder começou?

— Sim e ele começou a procurar pela câmara secreta.

Aquilo causou um arrepio em Pansy. Ela ainda lembrava como no Salão Comunal eles brincavam sobre o monstro escondido na Câmara limpar toda a escola dos impuros, mas escondida em sua cama ela temia um dia virar um corredor e se deparar com ele.

— Como ele era antes de se tornar o monstro que eu me lembro? – Pansy sentia a vontade de perguntar desde a primeira vez que ele começou a falar sobre as memórias, mas talvez ela temesse a resposta.

— Solitário, independente, muito inteligente, indiferente às outras pessoas. Tinha cabelos ondulados e escuros, olhos sagazes, era magro em comparação os outros, talvez não se alimentasse bem no Orfanato. Sempre recebia elogio dos professores, era o melhor da turma. Ele era intimidante, mesmo para os mais velhos, deu para perceber.

— Não muito diferente de outro sonserino, pelo jeito. – Ela afastou o cabelo do rosto. – Talvez só faltasse um pouco de inteligência nos meus colegas para que eles assumissem o lugar de Lorde das Trevas.

— Você está falando sério?

Pansy riu.

— Não. – No canto da boca dela formava uma covinha quando ela sorria. – Vocês gostam de imaginar que nós somos o demônio, mas a verdade é que somos como vocês, talvez com um pouco mais de perversidade e competência.

— E com uma grande gama de bruxos das trevas.

— Isso porque sabemos o que queremos e não poupamos esforços para conseguir. – Ela falou com deboche.

— Fale isso para os prisioneiros de Azkaban. – O tom dele saiu mais pesado do que ele queria. – Desculpe.

— Não se desculpe, você está certo. – Ela deu de ombros, mas não parecia mais a mulher despreocupada de antes.

Ela se levantou e foi se afastando sem chama-lo, ele pensou em segui-la, mas achava que já a conhecia bem o suficiente para saber que deveria ficar onde estava. Tinha falado mais do que devia, uma parte sua sabia que ela estava apenas brincando, mas quando percebeu já tinha falado e aquilo deveria ter pesado nela que tinha o pai em Azkaban onde ficaria por mais dez anos. Olhou na direção que ela tomava e via a figura se tornar cada vez mais distante, apertou a madeira do banco até suas mãos doerem, levantou, mas Pansy não estava mais lá.

As palavras dele a acertaram como adagas. Ele estava certo, sabia que a culpa de seu pai estar em Azkaban era totalmente dele e de suas escolhas equivocadas, mas ainda doía imaginá-lo naquele lugar horrível. Afastou-se dele porque não queria que ele visse como ela estava machucada, esperou por um mísero segundo que ele viesse atrás dela para se desculpar novamente, era isso que grifinórios patéticos faziam. Mas ele não foi e ela ignorou o sentimento de abandono que surgiu, não se importou se estava violando os regulamentos, simplesmente aparatou dali para o lugar mais seguro que conhecia.


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