TWD - Quinta Temporada escrita por Gabs


Capítulo 9
Seis


Notas iniciais do capítulo

"É melhor ficar esperta, se colocar a vida dos meus amigos em risco novamente, vai ser a última coisa que vai fazer"



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Sentada no barro, com meu filho em meus braços e observando meu marido remexer a terra, eu me perguntei o quão fundo estávamos no fim do poço. E ao vê-lo tirar uma minhoca do buraco que ele estava cavando, me contive para não gritar e apenas virei meu rosto, enjoada.

— Eu te odeio. – Murmurei, alto o suficiente para o caçador escutar e grunhir em resposta, enquanto eu batia levemente nas costas do meu filho, esperando ele arrotar, pois havia acabado de mamar

Os bebês, graças ao meu leite, eram os únicos que estavam se alimentando.

Todos nós estávamos a um dia e meio sem nos alimentar e beber água. Tínhamos percorrido bons, muito bons quilômetros, alternando entre andar no furgão e caminhar ao lado dele pela estrada logo que a gasolina do outro carro que tínhamos encontrado acabou e felizmente ou infelizmente, a falta de suprimento era o nosso pior inimigo.

E é por isso mesmo que agora, Daryl Dixon está cavando buracos procurando por qualquer coisa para enfiar na boca e aquela era a segunda minhoca que ele havia comido, pois a primeira eu recusei sem nem pensar duas vezes, porque apenas de ver aquilo se contorcendo a mão dele quando ele fez questão de me oferecer primeiro, quase vomitei o que eu não tinha comido.

Havia pelo menos mais sete de nós pela floresta, procurando qualquer coisa que servisse como alimento ou água. Maggie, Kylie, Glenn, Jason, Rick, Sam e Sasha estavam por aí, por perto, olhando os lugares que não tínhamos visto ainda.

Ao escutar o pequeno arroto de Theodore, eu voltei a deitá-lo em meu braço, enquanto respirava fundo. Nesse ponto, meu estomago nem se dava ao trabalho de roncar ou doer, ele apenas estava lá me lembrando de tempos em tempos que precisava de algo.

Mas minhocas...

Não.

— Vamos. – A voz de Daryl me tirou de todos aqueles pensamentos sobre minhocas e mais uma vez, eu fiz uma careta ao lembrar do que ele tinha comido, por duas vezes ou até mais – Vamos voltar até os outros.

Ele se aproximou de mim, limpando as mãos sujas de barro nas calças e estendeu seu braço em minha direção, enquanto ajeitava a besta em suas costas. Respirei fundo mais uma vez e com toda a dificuldade do mundo, me levantei do chão, com a ajuda dele.

— Deus do céu, que nojo. – Murmurei mais uma vez, me afastando propositalmente dele assim que já estava de pé e isso fez com que ele revirasse os olhos, irritado – Não me olhe desse jeito. – Falei, ao notar seus olhos azuis praticamente gritarem que eu era a rainha das frescas

— Vamos logo, princesinha. – Daryl me disse, enquanto me empurrava levemente pelas costas para começar a andar e praticamente cuspia o novo apelido preferido que ele havia inventado

Resmunguei o quanto ele era irritante com aqueles apelidos idiotas e caminhei um pouco mais na frente, escutando seus passos vindo logo atrás de mim. Nós encontramos Maggie a uns metros mais a frente, sem nada nas mãos e mais uma vez no dia, respirei fundo, contendo minha decepção.

Minha amiga estava acabada e no fundo eu sabia que ela sempre se voluntariava para buscar suprimentos sozinha para que pudesse chorar pela morte de sua irmã mais nova. Era normal agora ver seu rosto em um tom mais pálido, com seus lábios rachados, seus gestos contidos e seus poucos comentários.

Caminhamos em silencio, por mais poucos minutos até toparmos com Sasha e pararmos de andar. Ela estava de pé, chutando a lama e assim que viu que estávamos ali, balançou a cabeça negativamente. Soltei minha respiração pela boca, imaginando que a este ponto, ela não poderia ficar ainda mais seca do que já estava e me virei, para continuar a caminhar pela floresta em direção a estrada em que nosso grupo estava. Ajeitei meu filho no meu colo assim que coloquei meus pés na estrada de terra e avistei a minha família lá na frente, esperado.

— Merda. – Escutei Maggie murmurar – Já se passou um dia e meio. Eles também não encontraram nada.

— E como você sabe? – Sasha lhe perguntou

— Porque está na cara. – Murmurei, respondendo ela eu mesma

A resposta estava óbvia.

Claro que estava.

Conforme nós nos aproximávamos do restante do nosso grupo, das pessoas sentadas ao redor do furgão branco nos olhando com expectativa, já dava para saber que não tinham encontrado nada.

— Quanto ainda resta? – Escutei Maggie perguntar baixo

— 96 Quilômetros. – Sasha lhe respondeu

— Não me referia a isso.

A conversa das duas terminou por ali e quando chegamos perto o suficiente do nosso grupo, coloquei Theodore nos braços de Carol e praticamente me joguei no chão ao seu lado, cansada, com fome e com sede.

Nós não ficamos muito tempo ali, sentados no resquício de sombra de umas das árvores e logo retomamos nossa viagem, pois faltava muito chão pela frente. Desta vez, compensando o fato de eu ter andando anteriormente, agora era minha vez de ir sentada no carro e aquilo seria ótimo, pois eu não era a motorista, Sam que era.

Confesso que nos primeiros minutos, me senti culpada por estar dentro do carro, sentada no maior conforto que se poderia ter naquele banco, enquanto meu marido e parte do meu grupo estava caminhando atrás do furgão, mas assim que consegui fazer meu filho dormir aquele sentimento passou. Seria impossível, repito, impossível fazer um bebê dormir no naquele sol dos infernos que está lá fora.

Ah Georgia.... Já disse o quanto te odeio?

— Dormiu. – Carl disse baixo, estava sentado ao meu lado, com Judith deitada em seu colo dormindo um sono profundo

— Isso tudo é tão... – Comentei baixo, não cheguei a terminar, mas deixei muito bem insinuado que a situação era tão, tão ferrada

A verdade é que desde o começo, do começo de tudo isso, quando os mortos começaram a se levantar e atacar os vivos, eu nunca havia ficado sem comer como agora. Eu poderia dizer o mesmo de todos da minha família, podemos ter ficado boas horas sem nos alimentar, mas um dia e meio era muita coisa, muita coisa porque também não tínhamos água e estávamos com crianças de colo, andando no sol quente.

— Fodido. – Sam completou, sentado lá na frente, no banco do motorista

Do meu outro lado, Kylie murmurou concordando. Ela estava com a cabeça a poiada no vidro, enquanto olhava lá fora, do grupo para as árvores. Sam estava com um de seus braços pendurados do lado de fora, enquanto dirigia com uma mão só e ao seu lado nos bancos frontais, estava Rick. Lá atrás, no lugar em que Glenn e eu nos sentamos para ir até a comunidade onde Tyreese havia sido mordido, estava Noah.

— Também. – Resmunguei, encolhendo os ombros

— Já viajamos mais da metade. – Rick disse lá na frente, tentando nos animar – Falta pouco agora.  

— Claro. – Kylie resmungou, respirando fundo – Quase 85 quilômetros.

— O Rick tem razão. – Sam comentou, balançando a cabeça a cabeça levemente – Se continuarmos nesse ritmo, vamos... – Ele parou de falar subitamente e eu entendi o porquê, assim que senti o carro começar a desacelerar – Acabou a gasolina, igual ao outro.

— Então vamos junto com os outros, caminhando. – Rick nos disse, e ele também não estava muito animado

— Maravilha...

Assim que desci do carro e senti o sol diretamente no meu rosto, amaldiçoei mentalmente todos os deuses possíveis. Em um silêncio controlado, coloquei parte da manta vermelha de Theodore em cima da cabeça dele de um jeito que só afugentasse o sol e tampasse seus olhos e junto com os outros, continuei o caminho a pé, no canto da estrada, para caminhar na sombra das árvores.

Daryl estava a todo o tempo me empurrando levemente pela cintura, me incentivando a andar mais e mais. De tempos em tempos, ele checava nosso filho, mas não mexia com ele, pois por um milagre enorme, Theodore ainda dormia tranquilamente.

— Não estamos na nossa melhor forma. – Rick comentou, ao notar que o caçador tinha olhado mais uma vez para trás, para o resto do grupo que caminhava lentamente – Pegaremos eles no momento oportuno. Em algum lugar apropriado. Eles não irão a lugar algum. – Ele ajeitou sua filha em seu colo e olhou diretamente para o meu marido – Já faz três semanas desde Atlanta. Sei que você perdeu algo lá.

— Ela tá com fome de novo? – Daryl perguntou, ignorando tudo que Rick tinha lhe dito, pois, os pequenos múrmuros da neném estava começando a aumentar

— Ela está bem. – Rick lhe respondeu e logo em seguida me olhou – Ela está bem, só está meio agitada.

— Precisamos encontrar água. – Daryl disse, desviando o olhar para enxergar o que tinha mais a frente – Comida.

— Vamos achar algo no caminho. – Rick nos disse, um tanto quanto esperançoso e então olhou para o céu, diretamente para as nuvens – Eu acho que vai chover mais cedo ou mais tarde.

— Vou dar uma olhada por aí. – Meu marido me avisou, enquanto entregava uma metralhadora para Rick – Ver se encontro algo.

— Claro. – Murmurei meio baixo, afirmando com a cabeça – Apenas não... demore muito.

Daryl concordou com a cabeça e se virou, enquanto caminhava em direção a floresta.

— Eu vou com você. – Carol disse meio alto, para ele

— Não precisa. – Ele negou, sem parar de andar

— Vai me impedir? – Carol perguntou para ele, dando alguns passos em sua direção

Daryl parou por alguns instantes e olhou para ela, ele apenas respirou fundo e deu as costas, dizendo claramente para ela fazer o que quiser e por isso, Carol lhe seguiu pela floresta.

Nós continuamos caminhando por um bom tempo, tempo o suficiente para toparmos com uma pequena horda de caminhantes que estavam saindo da floresta para andarem na rua em que estávamos e graças aos céus que já estávamos a uns bons metros de distância e por isso, Rick sugeriu que seguíssemos mais juntos, andando lentamente como se fossemos um deles.

Não estávamos cobertos por vísceras e nem nada, mas mesmo assim isso tudo ainda me lembrou Atlanta, a dois anos atrás, quando Glenn encontrou Rick em um tanque rodeado por caminhantes.

Suando três litros, escutando os grunhidos próximos dos caminhantes e fingindo que estava tudo bem, continuei caminhando, torcendo para que nem meu filho e nem Judith abrissem as boquinhas e começassem a chorar.

O sol já estava baixo quando conseguimos nos afastar o suficiente dos caminhantes e nós nos permitimos colocar o plano em ação, quando constatamos que eles seriam um grande problema para nós. Deixei meu filho nos braços de Sam e me juntei à outra metade do grupo, do outro lado da ponte onde a pequena horda se aproximava. Fiquei entre Maggie e Sasha na fila da direita onde Abraham e Jason lideravam e do lado esquerdo da ponte, estava Rick, Glenn, Michonne e Kylie.

O som dos grunhidos dos caminhantes nos avisaram que a pequena horda estava finalmente se aproximando e assim como eu, todos se prepararam para o que estava por vir.

Após perceber que o primeiro caminhante estava indo em sua direção, Rick pareceu se preparar e assim que colocou suas mãos no caminhante, o empurrou da ponte. Tão fácil ver, foi fazer igual. Todo caminhante que se aproximava de nós, querendo nos pegar era jogado de cima da ponte ou caia por si mesmo, depois de desviarmos dos seus braços.

Aquela era o jeito mais fácil de nos livrarmos deles sem consumir muito esforço e acabarmos ainda mais com nossos corpos, já que estávamos muito fracos por conta da falta de suprimentos.

E logo que eu pensei que estava tudo bem na primeira remessa de caminhantes, vi Sasha passar por mim calmamente, caminhar em direção ao caminhante mais próximo e segurá-lo pela camisa, afastando-o dela e isso me fez mudar de ideia muito rápido.

Ela não estava seguindo com o plano.

— Sasha. – Michonne a chamou baixo, num tom de voz nada amigável

Para todo o meu desgosto, Sasha tirou sua faca do coldre e perfurou um dos olhos do caminhante que segurava, matando-o.

— Mantenham a ordem. – Rick disse num tom de voz nem alto e nem baixo – Flanqueiem-na. Mantenham eles controlados.

— O plano já era. – Abraham resmungou, puxando seu facão

— Porra. – Escutei Kylie xingar

Respirei fundo enquanto puxava minha faca de combate do coldre e me segurava para não bater em Sasha. Fiz a única coisa que tinha que ser feito naquele momento, seguir as ordens de Rick à risca, coisa que ela tinha que ter feito em primeiro lugar.

Conforme os grunhidos aumentavam e os caminhantes se aproximavam, desta vez ainda mais sedentos, todos nós nos ocupamos em começar a matá-los. Os primeiros caminhantes foram fáceis, pois estavam um pouco mais afastados dos outros, mas quando chegou no quarto, achei quase impossível, pois assim que um caia, outro logo surgia.

Acertei minha faca na lateral da cabeça de um caminhante e quando fui puxá-la de volta, senti alguém agarrando com as duas mãos o meu braço. Grunhi, enquanto puxava meu braço para mim e tentava empurrar o caminhante com a minha mão livre, mas ele ainda estava aproximando sua boca imunda da minha pele tão imunda quanto. Mas em um segundo ele estava me segurando e no outro, Daryl estava tirando-o de cima de mim.

Tentei controlar a minha respiração e logo me recompus, puxando de vez minha faca da cabeça do caminhante morto.

Ao nosso redor, todos os caminhantes estavam no chão, mortos.

— Que porra foi essa? – Kylie berrou, se aproximando vagarosamente de Sasha, enquanto limpava sua espécie de faca em sua calça jeans – Você quase nos matou!

— Ei. – Jason disse alto, segurando-a pelo braço, impedindo que ela chegasse mais perto de Sasha, a qual não parecia muito disposta a escutar nossas críticas – Kylie, chega, nós conseguimos.

— Foda-se você também. – A mulher loira rosnou, puxando seu braço para si, se livrando das mãos dele e depois se virou novamente para Sasha – É melhor ficar esperta, se colocar a vida dos meus amigos em risco novamente, vai ser a última coisa que vai fazer.

Sasha pareceu se limitar a revirar os olhos e deu as costas para todos nós, começando a caminhar em direção do resto do grupo no lado seguro da ponte, lá do outro lado.

— Você está bem? – A voz de Daryl chamou minha atenção, e eu mal havia me virado para lhe responder, quando senti sua mão se fechar em meu pulso, enquanto puxava meu braço para si, examinando-o

— Eu estou bem. – Respondi, puxando meu braço para mim, tentando em vão me livrar de seu aperto – D, eu estou bem.

Ele largou meu braço, claramente a contragosto e se afastou alguns passos, apenas para estreitar os olhos em direção a Sasha. Acho que depois do show da Kylie, ele entendeu que a culpa daquilo tudo era dela.


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Notas finais do capítulo

Minhocas ewwwwwwww



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